Índice
1. Resumo
Helena, Francisco e Tomás (10 anos) em 7 dias inteiros no norte de Gales em agosto de 2024. Ficámos quase todos os dias alojados no mesmo sítio, em Ruthin (A), de onde partimos para os locais a visitar: Llangollen (B), queda de água de Pistyll Rhaeadr (C), Harlech (D), Betws-y-Coed (E), Llandudno (F), Conwy (G), Llanberis (H), Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch (I) e Holyhead (J). Na última noite no País de Gales, dormimos na ilha de Anglesey para termos mais tempo neste lugar mais distante.
Estes locais não foram visitados pela ordem indicada que representa um possível itinerário passando neles todos, conforme se pode ver no mapa.
Apesar de termos feito esta viagem na segunda quinzena de agosto, o tempo não esteve muito agradável, com temperaturas máximas inferiores a 20°C (normalmente 16°C ou 17°C), alguma chuva e muito vento. Escusado será dizer que os planos de idas à praia ficaram totalmente frustrados. Ao longo dos dias, fomos ajustando o plano de acordo com as condições climatéricas, uma vez que havia muitas atividades no exterior.
O norte de Gales tem uma área que corresponde aproximadamente a 1/4 da área do país, dominada pelo Parque Nacional de Snowdonia. A paisagem é muito verde com as montanhas omnipresentes, muita beleza natural e muitos castelos (o País de Gales tem a fama de ser o país com maior densidade de castelos). Na parte noroeste desta região, fica a ilha de Anglesey, separada do resto do território pelo estreito de Menai, com mais de 20km de comprimento e uma largura entre 200m e 2km. Anglesey parece pertencer a outro país, tão diferente é a sua paisagem, dominada por planícies.
Embora tenhamos coberto uma área relativamente pequena e tenhamos visto muitas coisas, ficámos muito longe da sensação de não haver muito mais para ver e fazer. Pelo contrário, parece-nos que essa sensação não desapareceria mesmo que lá tivéssemos estado durante um mês inteiro.
2. Custos
O norte de Gales tem um índice de custo ponderado de 67, o que traduz o facto de não ser um destino barato, tal como todo o Reino Unido. Nesta viagem, os nossos gastos estiveram ao nível dos custos na Eslovénia (66) e em Israel (67), só tendo sido superados pelos custos na Croácia (80).
Gastámos 80€ por dia em alojamento, com algum esforço de pesquisa. Ficámos quase todas as noites no mesmo local, de longe o mais barato do que qualquer outra alternativa que tenhamos avaliado. Mesmo assim, das nossas viagens realizadas até agora, os custos com alojamento no norte de Gales só foram superados em Roma e em Israel (95€ e 92€ por dia, respetivamente).
As despesas com alimentação ficaram em 19€ por dia por pessoa, valor perto da mediana na nossa experiência na Europa. No entanto, para este valor, muito contribuiu termos feito apenas 36% das refeições em restaurante.
O custo com atividades foi reduzido, 4€ por pessoa por dia, reflexo de termos realizado muitas atividades no exterior sem custos.
Nas deslocações (aluguer do carro, gasolina e estacionamento) gastámos 53€ por dia. Este valor é o mais alto que pagámos até hoje em viagens equivalentes na Europa, curiosamente exatamente o mesmo do que gastámos em Montenegro e na Estónia.
3. Diário
dia 1 (17/8), Sheffield - Ruthin
Terminámos os 2 dias passados com a Sara em Sheffield e em York a ver um jogo de futebol no estádio do Sheffield United. Tratava-se dum jogo da 2ª divisão inglesa (Championship), Sheffield United vs. Queens Park Rangers, fraquinho mas com um ambiente fantástico. O resultado foi um empate (2-2).
Seguimos, então, para Ruthin, onde ficámos sedeados nesta estada no norte de Gales. Chegámos a casa pelas 21h, depois duma passagem pelo supermercado Tesco de que fomos clientes habituais nos dias seguintes.
dia 2 (18/8), Llangollen e Pistyll Rhaeadr
Começámos o dia com o pequeno almoço no pequeno pátio nas traseiras da casa. Estava fresquinho mas agradável qb; só repetimos mais uma ou duas vezes, uma vez que não fomos preparados para aquelas temperaturas de outono.
Neste dia, decidimos ir para sudoeste, em direção a Llangollen, com a ideia de conhecer o aqueduto de Pontcysyllte.
O aqueduto de Pontcysyllte, património da Unesco, foi construído na viragem do século XVIII para o século XIX com o objetivo de fazer o canal de Llangollen atravessar o rio Dee. Naquela altura, a Grã Bretanha dispunha duma vasta rede de canais que era a principal via de transporte de matéria prima, de produtos agrícolas e de artigos comerciais. O aqueduto é uma estrutura impressionante com 38m de altura (o aqueduto mais alto da Grã Bretanha), em que a água corre por uma calha de ferro fundido sustentada por 18 pilares de pedra.
Atualmente, o aqueduto é usado por embarcações turísticas e por canoas que competem entre si para terem acesso aos 300m de passagem estreita onde só passa um de cada vez. Enquanto atravessávamos o aqueduto caminhando pela estreita passagem lateral, observámos algumas situações de canoas a terem da recuar por vir uma barco maior no sentido contrário, que ocupava o espaço todo.
Depois de termos atravessado o aqueduto para o outro lado do rio, seguimos ao longo do canal, observando as casas à beira da água e vários barcos onde se vendia snacks, guloseimas ou artesanato. Um pouco mais à frente, havia uma pequena ponte levadiça sobre o canal que estava para baixo, obrigando a que alguém desse à manivela para a subir de modo a que os barcos pudessem passar para, depois, voltar a descê-la. Ficámos a observar a situação durante um bocado e o procedimento repetia-se de cada vez que algum barco queria passar. Curiosamente, não vimos ninguém a atravessar a ponte o que faz pensar em quão ineficiente é este sistema .
Passado um bocado, voltámos para trás. Depois de atravessarmos o aqueduto outra vez, descemos ao nível do rio para uma perspetiva diferente. Apesar de estar vento e a chuviscar, foi um passeio agradável e interessante.
Quando estávamos a terminar, o sol apareceu, como que a convidar para um almoço no exterior. Assim fizemos; almoçámos no Telford Inn (nota 5), um pub dos que servem almoços com ementa especial nos domingos, chamando as famílias locais para um sunday lunch. Foi a melhor refeição que tivemos fora de casa; além duns wraps de frango, comemos beef pie (empada de carne da vaca) e Yorkshire pudding (um pão em forma de muffin com carne de borrego, salsichas e alguns vegetais), tudo bem regado com gravy (molho de carne). Até os legumes estavam bons, o que (da nossa experiência) é raro no Reino Unido; normalmente vêm demasiadamente cozidos e sem sabor. Para acompanhar, experimentou-se a Brixton pale ale que estava muito boa. Período muito agradável passado no jardim do pub.
Depois do almoço, passámos pelo Tesco que, por ser domingo, fechava mais cedo, antes da hora de chegada a Ruthin, e seguimos para a próxima paragem: a queda de água de Pistyll Rhaeadr.
Segundo tínhamos lido, esta queda de água seria a mais bonita do País de Gales, opinião que nos pareceu exagerada. O enquadramento é bonito mas gostámos mais de outras que haveríamos de ver nos dias seguintes. Não ficámos com dúvidas de que este local é bastante popular e sentimos bem a consequência de lá termos ido num domingo à tarde.
O acesso é feito por uma estrada estreita em que na maior parte do percurso não há espaço para dois carros se cruzarem. Fizemos os 5km finais numa longa fila, com paragens frequentes para chegar para o lado ou voltar um pouco atrás para deixar passar quem vinha em sentido contrário. Depois duma eternidade, incluindo momentos de tensão num ponto em que ninguém queria dar passagem, lá chegámos ao destino. Arranjámos um cantinho para deixar o carro e apercebemos-nos que o local estava cheio de famílias ruidosas que ocupavam todo o espaço, degradando a experiência e dificultando o objetivo de conseguir uma foto decente.
O local não estava muito agradável, pelo que fomos procurar o caminho para subir ao topo da queda de água. Apesar da sinalização ser escassa, descobrimos por onde seguir, sempre a subir e com vistas magníficas. Chegados ao topo da queda de água, lá estava mais um grupo ruidoso, embora mais pequeno do que o que estava na parte de baixo.
Voltámos para o carro e percorremos a estrada estreita de forma mais tranquila do que na chegada, no caminho de regresso a Ruthin.
dia 3 (19/8), Harlech
Escolhemos este dia para ir a Harlech, apesar da previsão de chuva, por ser aquele com melhores condições meteorológicas para os dias seguintes nesta zona: nesta semana, a costa do mar da Irlanda seria bastante castigada com vento e chuva. (A barreira montanhosa de Snowdonia atenuava a propagação destas condições para o resto do norte de Gales).
No contexto das suas campanhas militares para conquistar e controlar Gales, o rei Eduardo I de Inglaterra construiu 8 castelos neste território. Destes, 4 são atualmente património mundial (Beaumaris, Caernarfon, Conwy e Harlech), dos quais escolhemos visitar o castelo de Harlech.
O castelo de Harlech foi construído com as mais recentes inovações militares do final do século XIII: muralhas concêntricas e várias torres com múltiplas frestas de tiro para os arqueiros e diversas portas de entrada sequenciais. No caso do castelo de Harlech, a entrada era feita por 3 pontos de controlo localizados depois do enorme fosso, com portões, grades, etc., ligados por corredores estreitos onde os ocupantes poderiam ser atacados por cima ou através de frestas laterais.
Tal como os restantes castelos construídos no reinado de Eduardo I, o castelo de Harlech estava localizado à beira do mar ou de um rio para acesso por barco. Quando foi construído, o Mar da Irlanda tocava nas muralhas do castelo, fornecendo uma segunda via de entrada (ou saída) de pessoas ou mantimentos. Esta entrada não era visível de terra nem conhecida pelos inimigos e foi essencial para, por exemplo, resistir a um cerco durante 7 anos na Guerra das Rosas.
Gostámos muito de visitar este castelo, imponente e em estado muito aceitável de conservação. Estava muito vento e chovia frequentemente (a chamada chuva “molha tolos”), o que transmitia um dramatismo ao próprio castelo e, sobretudo, à paisagem a poente, dominada pelo Mar da Irlanda.
Tínhamos levado farnel na esperança de conseguir dar um passeio nas famosas dunas da praia de Harlech mas abortámos o plano com o agravar do tempo. Assim, comemos numa mesa de piquenique junto dum parque infantil e decidimos ativar o plano B: lanchar numa casa de chá.
Dirigimo-nos para a Tyddyn Mawr Tea Room (nota 4), a uns 20km. Cada vez chovia mais e as estradas ficavam mais estreitas. Finalmente, chegámos a uma casa no meio de nada, onde a dona serve chá e scones na sua sala ou no seu jardim. As fotos do jardim estavam bastante apetecíveis mas, naquelas condições, teve de ser na sala. Bebemos chá de gengibre (Helena e Francisco) e de frutos vermelhos (Tomás), acompanhados de scones com manteiga, doce e natas (1 scone para cada um). Estava muito bom. A senhora disse que estava anunciada uma tempestade para horas seguintes, pelo que decidimos não ficar ali mais tempo e voltar para a base.
Demorámos imenso tempo no regresso, entre a chuva, o trânsito e obras na estrada, mas chegámos a Ruthin sem percalços para umas horas de descanso sem chuva nem vento.
dia 4 (20/8), Betws-y-Coed
À beira do Parque Nacional de Snowdonia, do lado oriental, fica a aldeia de Betws-y-Coed. Pequenina e bonita, esta aldeia tornou-se ponto turístico pelo acesso direto ao parque natural. Ficando na confluência de 3 pequenos rios (Machno, Llugwy e Lledr) com o rio Conwy, é realmente um local muito agradável para estar a apreciar o enquadramento paisagístico e o corrupio dos muitos visitantes de passagem para outros locais. Em galês, o nome da aldeia significa “capela na floresta”; dos registos mais antigos, do século XIII, era só isso que havia aqui.
A 3km de Betws-y-Coed, há umas quedas de água no rio Llugwy espetaculares, as Swallow Falls (Rhaeadr Ewynnol). O acesso é feito diretamente da estrada, através dum torniquete, depois de se pagar 2£ por pessoa (é possível pagar com cartão contactless). Para lá do torniquete, fica um pequeno espaço bem arranjado com bancos nos pontos de observação das quedas de água e escadas que permitem descer quase até ao nível da água. O ambiente é muito bonito e o barulho da água convida ao nosso silêncio. Havia várias pessoas que pagaram para ir ali comer a sua sandes da hora do almoço enquanto apreciavam a paisagem …
Passado um bocado, voltámos para a estrada, passando por um hotel em construção mesmo à frente do torniquete e fomos até Betws-y-Coed. Antes de irmos almoçar, fomos espreitar a Pont-y-Pair, uma velha ponte sobre o rio Llugwy com vistas espetaculares para os dois lados.
Almoçámos num pub com o nome da ponte (3). O espaço estava agradável mas a comida era a típica comida de pub, industrial e sensaborona (saudades do almoço de dois dias antes …). Comemos pizza, sandes de carne e gammon steak (bife de porco curado como o presunto) com ovo, batata frita e ervilhas.
O tempo estava a prometer chuva mas, antes de irmos para casa, ainda passámos por mais uma queda de água, as Fairy Falls, localizadas a 10km a norte de Betws-y-Coed. Claramente menos turística do que as outras quedas de água que já tínhamos visto, esta merece claramente uma visita. Entalada numa pequena ravina, pudemos apreciá-la sozinhos antes de passarmos pela ponte sobre a ravina e caminharmos um pouco pelos caminhos no meio da mata antes de voltarmos para trás.
dia 5 (21/8), Llanberis
Neste dia fomos até Llanberis, uma vila na base do monte Snwodon (o mais alto do País de Gales) à beira de dois lagos (o Padarn e o Peris). Além vários trilhos e muita natureza, os pontos de interesse incluem a pedreira de ardósia Dinorwig, o Museu da Ardósia e o Snowdon Mountain Railway, um comboio que leva os turistas até o topo da montanha.
Chegámos a Llanberis atravessando o Parque Nacional de Snowdonia, onde apanhámos a temperatura mais baixa desta semana (11ºC) e chovia com alguma intensidade. Em Llanberis estavam uns mais agradáveis 16°C com o céu muito carregado a sul (o lado das montanhas) e com boas abertas a norte. Nas horas que lá passámos, apanhámos situações diversificadas, desde alguma chuva (pouca) até algum sol, tudo com o omnipresente vento que nos acompanhou nestes dias.
Iniciámos as atividades com uma caminhada circular de 5km com passagem na pedreira. Começámos na estação de comboio junto ao Museu da Ardósia, no sentido dos ponteiros do relógio. Começámos logo a subir diversas sequências de escadas de ardósia com vistas parciais do lago Padarn (virado para norte). Tudo muito verde e muito bonito.
Fomos caminhando calmamente até uma elevação, mais de meio caminho percorrido, com um bom sítio para nos sentarmos e comermos o nosso farnel. A vista era agradável e, nessa altura, o sol abriu mas soprava um vento que nos convidou a seguir sem ficar ali muito tempo.
Mais à frente, chegámos ao ponto em que o trajeto circular tinha um desvio para a pedreira, começando pelas ruínas das casas dos trabalhadores. Tratava-se dumas dezenas de casas alinhadas em duas filas com uma passagem ao meio que dava acesso à zona mais alta da pedreira. Uma das filas de casas tinha uma vista magnífica sobre os lagos.
Subimos até ao miradouro, quase no ponto mais alto da pedreira, por um caminho rodeado de blocos de ardósia que encaixavam no céu escuro numa paisagem incrível, a preto e branco, pontuada com uma ou outra árvore que emergia da pedra.
O miradouro, sobre o lago Peris, estava super ventoso; valeu pela magnífica vista para sul, com o fundo escuro sobre as montanhas do Parque Nacional de Snowdonia.
Regressámos ao percurso circular e, pouco depois, começámos a descer para Llanberis. Esta descida foi a parte mais bonita da caminhada, com linha de vista para os dois lagos. Do outro lado do lago Peris, avistámos o castelo de Dolbadarn onde haveríamos de ir mais tarde. Esta descida é bastante íngreme, o que no fez pensar que fizemos o percurso na direção melhor; caso contrário, esta parte teria sido bastante difícil e o usufruto da vista teria sido bastante menor.
Em vez de voltar para o parque de estacionamento, passámos entre os lagos e subimos a pequena colina até ao castelo de Dolbadarn.
Construído no início do século XIII, atualmente restam as fundações das muralhas e as ruínas da torre de menagem circular, ainda em estado razoável de conservação. Além das vistas para os dois lagos, o interesse desta visita é a subida à torre de 15m de altura.
Do alto da torre, conseguimos a melhor vista para o lago Padarn deste passeio. Maior mas não tão bonito como o lago Peris.
À beira do parque de estacionamento, ficava o Museu Nacional da Ardósia que ainda fomos espreitar. Este museu foi criado em 1972, 3 anos depois do fecho da pedreira, e localiza-se nas antigas instalações das suas oficinas; para aqui eram trazidos os blocos de ardósia extraídos e aqui eram transformados em produto final (sobretudo telhas).
Nesta altura, a chuva instalou-se de forma mais persistente, pelo que ficámos lá durante pouco tempo, uma vez que a circulação entre os pequenos pavilhões era feita no vasto espaço exterior, onde estavam expostos exemplos de maquinaria de extração e de processamento da ardósia. Nos pavilhões, havia exposições sobre a história da pedreira, a importância desta indústria e as condições de trabalho. Achámos particularmente interessante uma demonstração do corte dos blocos de ardósia em lâminas e posterior transformação em telhas com medidas normalizadas.
Muito curiosos são os nomes das medidas das telhas, todos femininos, com os modificadores “estreito” ou “largo” dependendo da sua largura: Senhora (16’’ de altura e 10’’ de largura), Princesa (18’’ x 12’’), Condessa (20’’ x 12’’) e Duquesa (22’’ x 12’’).
dia 6 (22/8), the Great Orme
Para este dia, escolhemos ir conhecer Llandudno, uma cidade litoral de arquitetura vitoriana, que faz fronteira com o Great Orme, uma península com aproximadamente 2km por 1,5km e 200m de elevação. Llandudno foi desenvolvida como estância balnear durante o século XIX, com uma ampla frente de praia e ruas elegantes. Atualmente, ainda é um destino turístico bastante popular, com um pitoresco ar retro.
O nosso plano era fazer uma caminhada no Great Orme, visitar a mina de cobre no seu interior e dar um passeio por Llandudno mas, comprovadamente, era demasiadamente ambicioso para um único dia. Ainda por cima, chegámos a Llandudno quase à hora do almoço. Como resultado, cobrimos cerca de metade do Great Orme, não fomos às minhas de cobre e vimos muito pouco de Llandudno. Fica na lista para outra viagem.
Iniciámos a caminhada perto da paragem do Great Orme Tramway, um elevador/teleférico vitoriano, parecido com os elevadores/elétricos de Lisboa mas com uma extensão bastante maior (mais de 1km)
Seguimos para poente e começámos a subir com vista para a foz do rio Conwy. Parámos para almoçar a meio da subida, com esta vista magnífica e com um vento desgraçado que, curiosamente, já não se fazia sentir no planalto.
Do topo da subida, consegue-se uma bela vista da ligação de Llandudno à península do Great Orme, com o Mar da Irlanda dos dois lados: a baía de Colwyn do lado esquerdo e a foz do rio Conwy do lado direito.
Mais no interior da península, fica o outro extremo do Great Orme Tramway. Contornámos a estação e seguimos para o lado oriental.
Neste lado da península, havia imensas ovelhas, algumas bem descaradas que se aproximavam e ficavam a olhar para nós. Provavelmente, a sua preferência por esta zona tem a ver com a inexistência de vento, em claro contraste com o lado ocidental.
Antes de iniciarmos a descida, vimos um cemitério com vista para o mar. Além do enquadramento paisagístico, chamou-nos a atenção um conjunto de sinais a proibir o lançamento de cinzas naquele local por questões de impacto ambiental neste espaço de reserva natural e de preservação do património arqueológico. O que nos intrigou foi o porquê de, aparentemente, este local ser escolhido para o lançamento de cinzas com frequência que justifique tantos avisos. Segundo lemos, nesta zona já eram enterrados os trabalhadores da mina de cobre desde o tempo da pré história. Não percebemos se seria neste exato local mas, provavelmente, o facto de cá estar um cemitério pode atrair quem procura onde lançar as cinzas dum ente querido.
A descida para Llandudno pelo lado oriental é bastante agradável, uma vez que atravessa o jardim botânico. Daqui, já é visível o cais de Llandudno; construído no século XIX, é o mais comprido do País de Gales com 700m de extensão.
dia 7 (23/8), Anglesey
Nesta manhã, deslocámo-nos até ao extremo noroeste do País de Gales, localizado na ilha Holy Island, ligada à ilha de Anglesey por via rodoviária. A própria ilha de Anglesey, com uma forma aproximadamente circular com um raio de cerca de 15 km, está ligada ao resto de Gales por duas pontes sobre o estreito de Menai, na sua zona mais estreita (que tem um pouco mais de 200m), perto de Bangor.
O objetivo era visitar o farol de South Stack, perto de Holyhead, de onde partem os ferrys para a Irlanda. Este farol foi construído no início do século XIX na ilha rochosa de South Stack.
(Esta zona parece uma matrioska de ilhas: a ilha principal da Grã Bretanha dá acesso à ilha de Anglesey que se liga à ilha Holy Island, por onde se acede à ilha South Stack, onde está o farol).
O objetivo deste farol era ajudar os navios a navegarem nestas águas do Mar da Irlanda, cheia de ilhas rochosas, para onde convergem várias correntes. Depois de se registarem 50 naufrágios num período de 2 anos nas proximidades deste rochedo, South Stack foi considerada um bom sítio para construir o farol pelos seus 60m de altura acima do mar. No entanto, estando separada da Holy Island por um canal com 10m de largura (na zona mais estreita), obrigou um conjunto de corajosos a navegar até South stack e subir a escarpa para poderem construir uma ponte sobre o canal. Atualmente, o acesso à ponte do lado de Holy Island é feito por cerca de 400 degraus que descem o penhasco íngreme até esta ponte.
Nós comprámos os bilhetes no parque de estacionamento, apesar de também ser possível comprá-los já em South Stack, depois de atravessar o canal. No entanto, esta opção só é exequível para quem pagar em numerário, o que obrigou uma jovem que chegou lá só com soluções de pagamento eletrónico a voltar a subir os 400 degraus sem ter podido entrar na ilha.
Atravessar a pequena ponte que liga a Holy Island a South Stack mete algum respeito, tanto pelo vento (sempre o vento, muito, todos os dias e a toda a hora) como pelas águas revoltas por baixo dos nossos pés.
A visita ao farol foi muito interessante. No r/c há uma exposição com a história dos faróis na Grã Bretanha, seguida de visita guiada ao topo do farol. Aí, uma guia conta a história deste farol específico. Até à automatização do farol, há 40 anos, os faroleiros moravam aqui com as suas famílias, contribuindo todos para a causa. Por exemplo, a função das crianças era limpar a parte exterior dos vidros em que se acumula sal, de modo a manter a eficácia do farol. Soa simples mas não devia ser pera doce, a julgar pelo muito vento que estava naquele dia de verão e pelo que imaginamos serem as condições climatéricas noutras alturas mais agrestes do ano …
Já passava da hora do almoço e ainda tínhamos de subir os 400 degraus antes de procurar restaurante. Pior do que nós, estavam uns quantos tipos a escalar o penhasco, com uma rapidez incrível.
Almoçámos em Holyhead, no Langdons Restaurant And Bar (nota 4). A comida era médio mais mas o ambiente e o serviço estavam bastante agradáveis. Comemos no interior, com o sol a banhar-nos perto da janela e com vista para a marina.
Depois do almoço fomos para a parte sul da costa de Holy Island para um passeio à beira mar procurando encontrar dois arcos formados pelas rochas: o Arco Negro (Bwa Du, cuja rocha é escura) e o Arco Branco (Bwa Gwyn, cuja rocha é clara). Chegámos lá por estradas e caminhos estreitos e deixámos o carro perto duma casa enorme, mesmo em cima do penhasco, com uma vista espetacular.
A caminhada foi muito agradável, apesar do inevitável vento. Ainda descobrimos uma cache, colocada em memória de Tyger, o cão herói. Em 1819, o barco onde seguia com o seu dono afundou-se a meia milha da costa; os náufragos foram guiados por Tyger até à costa no meio do nevoeiro. Um dos homens fez a parte final do percurso agarrado à coleira de Tyger que, depois de o deixar em terra, ainda arrastou outro até lugar seguro. Todos os homens sobreviveram mas Tyger morreu de exaustão, tendo sido enterrado aqui, onde foi colocada uma lápide com uma inscrição: “Tyger, 17 de setembro de 1819”.
Desta vez, não voltámos para Ruthin. Dormimos num hotel por cima dum pub perto de Llangefni, perto do centro da ilha de Anglesey: Holland Arms Hotel. Acabámos por jantar lá (nota 3), não estava nada de especial mas cumpriu a função.
dia 8 (24/8), Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch e Conwy
Antes de sairmos de Anglesey, ainda queríamos fazer 2 coisas: passar em Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch e ver a ponte de Menai.
Tanto tanto nos apercebemos, Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch não tem nada de interesse, exceto o seu nome insano. Esta é a povoação com o nome mais comprido do mundo, que em português pode ser traduzido como “Igreja de Santa Maria no Vale da Aveleira Branca Perto do Redemoinho Forte e da Igreja de São Tisílio, Perto da Gruta Vermelha”. Consta que este nome foi inventado no século XIX com o objetivo de atrair visitantes … objetivo superado!! No dia a dia, os locais referem-se à povoação como Llanfair PG (batoteiros).
Acabámos por ceder ao chamamento deste nome, apenas com objetivo de tirar uma foto … objetivo também superado, uma vez que tirámos 2 fotos! Antes de seguimos viagem, ficámos bastante impressionados com o merchandising centrado no nome do lugarejo que justificou a construção dum enorme espaço comercial no parque de estacionamento da estação de caminhos de ferro, onde há 5 lugares reservados para as camionetas turísticas. Na meia hora em que lá estivemos, estes lugares estiveram sempre ocupados; ainda vimos uma camioneta a sair enquanto outra esperava que o lugar ficasse livre. Espreitámos o interior do espaço comercial cheio de turistas americanos que compravam montes de objetos escritos com “Llanfair…” como se não houvesse amanhã.
Avançámos para Menai, povoação à beira do estreito com o mesmo nome, que separa a ilha de Anglesey da ilha principal da Grã Bretanha. Aqui fica a ponte de Menai, uma das duas que liga estas duas ilhas
A ponte de Menai é uma bonita ponte suspensa do início do século XIX, com 30m de altura e pouco mais de 400m de comprimento. Foi construída para melhorar o transporte de pessoas e de mercadorias de e para Holyhead, ponto de ligação à Irlanda.
Demos um pequeno passeio por baixo da ponte, na margem norte do estreito, antes de caminharmos até ao tabuleiro para apreciar as vistas e descobrir mais uma cache. Estava vento e uma chuvinha irritante, pelo que não ficámos lá muito tempo e seguimos para Conwy.
Em Conwy estava sol e uma temperatura agradável, o que nos deixou uma última memória bastante diferente da dos dias anteriores.
O castelo de Conwy é considerado como o pináculo dos vários castelos construídos por Eduardo I. Não o visitámos, uma vez que já tínhamos esgotado a quota de castelos para esta viagem, mas confirmámos que, mesmo visto de fora, tem um aspeto imponente.
Demos um passeio à beira do rio Conwy, que dá o nome à cidade onde desagua. O enquadramento é bonito, com alguns barcos atracados e algumas famílias a tentar apanhar caranguejos com uns baldes que nos pareceu serem alugados numa loja em frente. De resto, muitas famílias a passearem ali num sábado solarengo.
Nessa rua, à beira do rio, fica a “Casa Mais Pequena da Grã Bretanha”, entalada entre uma torre e outra casa com dimensões normais. Esta casa tem aproximadamente 1,80m de largura, 3m de profundidade e 3m de altura. Tem 2 andares: o r/c com uma zona de estar e o 1º andar com um quarto foi habitada; não tem cozinha nem casa de banho.
Construída no século XVI, foi habitada até 1900. Neste ano, o seu último habitante (um homem com 1,91m) foi despejado depois da casa ter sido considerada inadequada para habitação humana.
Almoçámos no M&J Bistro, numa refeição que não deixou memória e visitámos a “Casa Mais Pequena da Grã Bretanha” depois do almoço e depois duma meia hora na fila que a procura era bastante grande.
Neste noite dormiríamos nos arredores de Birmingham, a 2 horas e meia de carro, para estarmos mais perto do aeroporto onde iríamos apanhar o avião para Lisboa na manhã seguinte.
Jantámos no MeriGo Piri Piri Stechford (4), restaurante halal onde comemos um frango assado muito bom.
4. Curiosidades
Há muitos lugares cujos nomes têm origem numa igreja ou templo que existisse no local. Sendo “Llan” a palavra galesa para igreja, há assim imensas terras cujo nome começa por “Llan”, designando o espaço à volta dessa igreja ou templo. Nesta viagem passámos por alguns locais começados por “Llan”, o que nos deu conhecer os nomes de alguns santos galeses associados àquelas zonas:
Llangollen, “Igreja de São Collen”
Llanberis, “Igreja de São Peris”
Llandudno, “Igreja de São Tudno”
Llangefni, “Igreja de São Cefni”
Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch, “Igreja de Santa Maria no Vale da Aveleira Branca Perto do Redemoinho Forte e da Igreja de São Tisílio, Perto da Gruta Vermelha”