Índice
1. Resumo
Duas semanas passadas na Albânia em agosto e setembro de 2023 pela Helena, Francisco e Tomás (9 anos).
A imagem seguinte mostra o itinerário seguido. Começámos A viagem em Shkodër (A), no norte, que nos serviu de base para idas a Theth (nas montanhas, que fazem fronteira com Montenegro) e ao lago Koman (ambos assinalados com B). Posteriormente, atravessámos o país até ao extremo sul, passando pela praia de Shëngjin (B), Berat (C), Apolónia (D), Gjirokastër (E), Ksamil e Butrint (F), com vista para a ilha grega de Corfu. Finalmente, voltámos a virar para norte, com paragem em Qeparo (G) e tendo passado os últimos dias em Tirana (H).
Tirando os dias em Tirana, deslocámo-nos sempre de carro, tendo feito um total de 1600 km. As distâncias entre os pontos visitados não são muito grandes mas as deslocações eram, por regra, bastante demoradas. Nalguns casos pelos frequentes congestionamentos (demasiadas viaturas para tão poucas vias de circulação), noutros casos (nos locais mais remotos) porque as estradas estavam em péssimo estado, provavelmente pela exposição aos elementos naturais.
Situando-se nos Balcãs, a Albânia tem uma paisagem pontuada por montanhas, incluindo no litoral, praticamente em cima da água, à exceção do enorme vale onde está a capital, Tirana. Os pontos de interesse histórico não abundam, estando em muitos casos (como em Tirana) muito centrados no período de domínio comunista, pelo que a oferta turística se distingue pelos recursos naturais: montanha, lagos e praia.
Atualmente, a Albânia vive um período de forte expansão turística, excedendo, na nossa perceção, a capacidade da infraestrutura existente e a experiência dos vários agentes. Os preços estão a subir significativamente, em particular no sul do país com uma oferta e um ambiente no litoral que fazem lembrar o Algarve.
2. Custos
A Albânia ainda não é um país caro mas para lá caminha. O boom turístico neste país é bastante recente, desde 2021, impulsionado pelo facto de ter sido um dos primeiros países a receber turistas depois da pandemia.
Nota-se uma grande vontade em explorar e desenvolver o turismo mas, na nossa perceção, isso está a ser feito de forma demasiadamente acelerada e com foco no imediato: sente-se bastante que não se perde uma oportunidade para sacar mais qualquer coisa ao turista e apercebemos-nos do aumento de preços dum ano para o outro. Por exemplo, em 2022 a entrada nos museus em Tirana custava 5 € (como vimos em vários blogs) e em 2023 já custava 7 €. É muito comum pagar-se para estar na praia (sobretudo no sul) e não é fácil estacionar de borla.
Neste contexto, conseguimos ter um nível de despesa equivalente ao do que tínhamos tido na Bósnia e Herzegovina no ano anterior, embora com muito mais cuidado em todos os aspetos no caso da Albânia.
As nossas despesas com alimentação foram de 14 € diários por pessoa, com aproximadamente 60% dos almoços e jantares em restaurantes.
No alojamento gastámos 32 € por noite e em atividades 5 € diários por pessoa (apesar de tudo, há muito para fazer sem custos ou com custos reduzidos).
Nas deslocações, optámos por alugar carro no site www.rentfromlocals.al, que oferece carros de locais (tipicamente com mais de 10 anos) a pouco mais de metade dos valores mais baixos das rent-a-car. Escolhemos um Volkswagen Golf de 2007, tendo corrido tudo bem, apesar do gasóleo é mais caro do que em Portugal. Andámos de carro alugado todos os dias menos os dois últimos, passados em Tirana. Tudo somado, gastámos 40 € por dia nesta componente.
3. Diário
dia 1 (22/8), Lisboa - Shkodër
Chegámos a Tirana pelas 14:00, depois duma escala em Zurique que nos obrigou a acordar antes das 4:00. Ainda no aeroporto, tratámos de arranjar um cartão SIM e recebemos o carro que tínhamos reservado no site www.rentfromlocals.al.
Saímos diretos a Shkodër, a 80 km para norte, onde chegámos às 17:30. A designada “A1” é uma via rápida (não propriamente uma autoestrada) com um trânsito infernal que fizemos em pára-arranca até à cidade de Lezha, mais ou menos a meio caminho. Foi uma estreia na condução neste país onde qualquer deslocação é bastante demorada.
Shkodër é a maior cidade do norte da Albânia, encostada ao lago a que os albaneses chamam Shkodra e os montenegrinos chamam Skadar. Aproximadamente 2/3 deste lago pertencem a Montenegro, fazendo parte duma reserva natural (onde no ano anterior fizemos um passeio de barco com direito a mergulho). Do lado albanês, o lago é bastante menos interessante, estando rodeado por Shkodër e pelas estradas que seguem para norte, até às montanhas que fazem fronteira com Montenegro.
Ficámos num Airbnb bem arranjadinho num prédio perto do centro com aspeto pouco estimado. Para nosso azar, o apartamento ficava no último andar e só a sala tinha ar condicionado … passámos mal nas noites seguintes, com o calor acumulado durante o dia (todos com temperaturas máximas iguais ou superiores a 37°C).
Depois duma ida ao supermercado, saímos para jantar. Fomos ao Fisi Restaurant (nota 5), onde comemos moussaka, legumes recheados e mista de carnes; tudo muito bom, a fazer lembrar a gastronomia que tínhamos experimentado no ano anterior em Montenegro e na Bósnia e Herzegovina. As semelhanças gastronómicas com os vizinhos do norte também se revelaram na cerveja, uma vez que não perdemos a oportunidade de matar as saudades da Nikšićko (cerveja da zona de Nikšić em Montenegro). Para a sobremesa, provámos Trileçe, muito popular na Albânia (versão albanesa da sobremesa tres leches da América Latina, com topping de caramelo).
dia 2 (23/8), Theth
Depois duma noite mal dormida por causa do calor, iniciámos o percurso de quase 80 km até Theth, que demorou 2 horas. A estrada, apesar de qualidade razoável, era muito estreita. Dava à justa para se cruzarem dois carros em sentidos opostos, o que acontecia sem que as outras viaturas abrandassem, custou um pouco a adaptarmo-nos a isto. De qualquer forma, não dava para circular depressa por causa das muitas subidas e descidas, curvas e contra curvas.
O primeiro ponto de paragem planeado era a cascata que fica a 4 ou 5 km a sul da aldeia de Theth. Depois algumas tentativas para a frente e para trás, lá conseguimos identificar a ponte de madeira que permite passar para o outro lado do desfiladeiro (https://maps.app.goo.gl/WrLGVUGkGre6CDof8).
Passando a ponte, a cascata fica a uns 500 m para leste, sempre a subir por um trilho de dificuldade média-baixa. Quase na cascata, parámos para almoçar à beira do curso de água, num ponto com vista magnífica para o topo da cascata, numa direção, e para a montanha do outro lado da estrada onde tínhamos deixado o carro, na outra direção.
A cascata é deslumbrante, com a água a cair pela rocha duns 50 m de altura para um pequeno lago com fundo esverdeado, pontuado com umas pedras que serviam de base para as mais diversas poses fotográficas. Tivemos a sorte de chegar numa altura em não estava muita gente (quando saímos, já estava mais lotado), o que nos permitiu desfrutar da paisagem. A água estava gelada; a Helena e o Francisco apenas molharam as pernas até ao joelho, enquanto o Tomás acompanhou uns alemães num belo (e rápido) banho.
No regresso para o carro, começou a chover com alguma intensidade. Foi tão inesperado quanto rápido; tememos ter de fazer o resto da descida pelo meio de lama mas tal não aconteceu.
Fomos dar uma volta a Theth, tendo começado por visitar uma torre de reconciliação. Estas torres eram usadas na Albânia feudal para a defesa das povoações, e para o encarceramento (por vezes voluntário) de quem violava as leis tradicionais compiladas no Kanun, enquanto as famílias envolvidas negociavam a sua pena. Desta forma, nos casos em que situação não era resolvida previamente com derramamento de sangue, procurava-se uma solução pacífica (daí o nome atribuído às torres).
A entrada na torre estava a ser “guardada” por uma rapariga adolescente que nos pediu 1,5 € por adulto para podermos entrar (o Tomás não pagou nada). Segundo percebemos, estaria incluída uma visita guiada em albanês que declinámos gentilmente.
Depois de comermos um gelado, o famoso King Obsession que nos tinha acompanhado em Montenegro no ano anterior, ainda espreitámos a igreja de Theth, imagem símbolo da zona com o seu enquadramento na paisagem montanhosa. A igreja estava fechada, pelo que não foi possível entrar, mas, mesmo assim, foi um desvio interessante.
Antes de chegarmos a Shkodër, quase 2 horas depois de termos saído de Theth, parámos no restaurante Lu & Li Pizza & Grill (nota 2) para jantar. Pedimos pizza, que estava razoável, e bifes de frango que eram, claramente, restos do almoço. Safou-se a bela Nikšićko. O serviço foi do estilo “chico esperto”, tendo-se servido uma opção de acompanhamento que não tínhamos pedido (obviamente mais cara) e apresentado preços das bebidas superiores aos que estavam na ementa. No final, ainda tiveram o descaramento de pedir gorjeta!
dia 3 (24/8), lago Koman
Saímos de casa antes das 7:00 com o objetivo de chegar a Koman a tempo de apanhar o ferry das 9:00 que nos levaria pelo lago Koman até Lumi i Shales. Lumi i Shales é descrito como a “Tailândia da Albânia” pela cor da sua água e pela vegetação envolvente, cheia de praias fluviais com pontes e cabanas de madeira.
O percurso de Shkodër até Koman tinha uma distância um pouco superior a 50 km mas a estrada estava em tão más condições que precisámos de quase duas horas para chegar ao destino. Chegados a Koman, fomos contornando as hordas de locais que queriam vender-nos todas as atividade possíveis até chegarmos à bilheteira. Entrámos no ferry pouco antes da hora de partida e iniciámos o passeio no lago.
O lago Koman é o resultado da construção duma barragem em Koman. A subida do nível da água criou este lago que serpenteia ao longo das ravinas, nalgumas zonas bastante estreitas. A paisagem é magnífica, proporcionando um belo passeio. Menos agradável foi o ruído e o muito espaço ocupado por um grupo de jovens adultas espanholas com as suas intermináveis selfies que não lhes permitiam apreciar a paisagem.
Passadas 3 horas e meia, chegámos à paragem de Fierzë, onde percebemos que tínhamos apanhado o barco errado. Na verdade, quando comprámos os bilhetes não dissemos para onde queríamos ir, pelo que acabámos por comprar bilhete de ida e volta para Fierzë. Tendo em conta o mau estado das estradas e as muitas montanhas que teriam de contornar, este ferry é bastante útil para ligar a zona central da Albânia à região montanhosa que faz fronteira com a Sérvia (Kosovo) e com Montenegro. Na ida e na volta, quase todos os passageiros fizeram a viagem num único sentido (muitos acompanhados do seu carro que também seguia no ferry); as exceções foram dois casais muito apaixonados que queriam mesmo fazer a ida e a volta de seguida e nós os três que fomos ao engano.
O Ferry iniciou a viagem de volta depois de meia hora em que comemos um gelado para disfarçar a frustração … Lumi i Shales terá de ficar para outra oportunidade.
À saída de Koman, demos boleia a dois alemães que pretendiam ir para Shkodër: o Thomas (historiador) e o outro (ficamos com a impressão que nem lhe ouvimos a voz). Estes amigos faziam uma viagem de quase 3 meses de caminhadas nos Balcãs, complementadas com boleias. Tinham chegado a Koman no dia anterior e planearam apanhar boleia para Shkodër logo de manhã. No entanto, para seu azar, tiveram de esperar umas boas horas porque de manhã só há tráfego de Shkodër para Koman, uma vez que as deslocações no sentido inverso só se iniciam depois das 16:00 com a chegada dos ferries.
Chegados a Shkodër, fomos visitar o seu castelo que fica no alto duma colina com uma vista magnífica para o lago Shkodra e para toda a zona a sul do lago. Este castelo, construído no período ilírico sobre fundações datadas do século IV a.c., tem uma implantação enorme com 3 zonas independentes (3 pátios), separadas por muralhas e interligadas por uma única passagem. No terceiro pátio está a cidadela que ocupa a zona mais alta do complexo.
Jantámos na Taverna Ulqini (nota 5), aquela que foi a primeira refeição do top 3 desta viagem. Pelo que percebemos, uma taverna é uma espécie de tasca frequentada pelos locais. O senhor que nos serviu não falava inglês e ofereceu alguma resistência a servir-nos o que estávamos a pedir, tudo com a melhor das intenções, por achar que não iríamos gostar. Pedimos o que nos pareceu ser um guisado que vimos na mesa do lado que, na realidade, era uma sopa de cabeça de vaca (paçe koke), mais outra sopa de carne (tasqebape), uns bifes de frango e uns vegetais assados. Para beber, o Francisco bebeu Nikšićko, enquanto a Helena e o Tomás beberam sumo de morango Bravo que nos acompanharia durante toda a viagem.
No que respeita à cerveja e aos pratos em geral, esta foi a última refeição com fortes semelhanças aos outros países dos Balcãs, uma vez que mais para sul, a cerveja albanesa já dominava e os pratos tinham outras influências: grega, italiana ou otomana, neste caso com um estilo diferente do do norte da Albânia.
dia 4 (25/8), praia de Shëngjin
Tínhamos planeado passar a noite em Berat, a 3 horas de carro de Shkodër, pelo que decidimos fazer uma paragem na praia de Shëngjin que ficaria, teoricamente a uma hora de Shkodër. Na prática, demorámos quase 2 horas a chegar lá devido ao imenso trânsito com vários engarrafamentos por que tivemos de passar ao longo de 50 km.
Optámos por deixar o carro num parque sem ninguém na entrada e sem nenhuma sinalização ou indicação de preço, a cerca de 20 minutos a pé da zona da praia para onde queríamos ir. Caminhámos à beira mar, uma vez que a areia estava tão quente que, mesmo com chinelos, era difícil de suportar. A praia de Shëngjin tem uma grande frente de mar com uma extensão estreita de areia (grossa) entre o mar e aos colinas.
Numa das colinas, há uma duna enorme praticamente em cima do mar. O Tomás ficou bastante entusiasmado com a ideia de rebolar pela duna abaixo mas, rapidamente, percebeu que tal não seria possível pela temperatura elevada da areia que o obrigava a voltar para trás e a entrar na água ao fim dos primeiros de 5 m. A água estava magnífica, embora com temperatura mais baixa do que em Montenegro e na Croácia, no ano anterior.
Quando voltámos ao parque onde tínhamos deixado o carro, estava um rapaz na entrada que nos pediu 600 ALL (~6 €) pelo estacionamento que, pelo que percebemos, seria o valor normal para um dia inteiro. Dissemos que não pagaríamos esse valor por menos de 2 horas de estacionamento e que não nos informaram do custo à entrada, nem sequer havia nenhum cartaz com essa indicação. O rapaz foi chamar um adulto que veio com a mesma conversa mas que desistiu rapidamente. Foi a nossa primeira experiência do género mas começámos a perceber como funcionam as coisas neste país.
Seguimos o nosso caminho, parando logo de seguida para almoçar. Fomos ao Bar Restorant Fredi (nota 5). Comemos no jardim, onde cada mesa está coberta por um toldo e rodeada por muito verde, o que dá bastante privacidade e torna o espaço muito agradável. A cereja no topo do bolo era um spray de água que caia regularmente, assegurando uma temperatura excelente. Tivemos uma bela refeição de grelhados que, viemos a perceber, são muito populares neste país: duas doses de carne de porco, uma com a receita “normal” e outra com com a receita tradicional, acompanhadas de vegetais grelhados, batatas fritas e salada com molho de iogurte. Estava tudo muito bom, servido em quantidades generosas a que se juntou uma dose de fígado, também grelhado, oferta da casa. Nesta refeição, estreámo-nos na cerveja albanesa: Korçu, da região de Korçë (no sudeste da Albânia).
Saímos do restaurante pelas 16:00 e seguimos para sul com uma paragem em Krujë, bastião da resistência aos otomanos, sob a liderança do herói nacional Gjiergi Skanderbeg. Já íamos com pouco tempo e entrámos pelo lado do museu que não tinha passagem para a zona da famosa torre, pelo que demos uma vista de olhos nas ruelas e decidimos seguir para Berat.
O carro tinha ficado estacionado num descampado, mais uma vez sem nenhuma indicação de preço (ou sequer de ser para estacionamento pago) nem ninguém visível a controlar o acesso. Quando lá deixámos o carro, ouvimos chamar depois de passar por uns rapazes à saída do parque mas, estando com pressa e pensando que nos queriam vender alguma coisa, ignorámos e seguimos caminho. Quando regressámos ao parque, lá estava um senhor com ar muito zangado, a dizer que o estacionamento ali era pago (30 ALL para o dia inteiro, ~3 €) e a perguntar porque o tínhamos ignorado. Percebemos que o senhor estaria dentro de um dos carros quando estacionámos e que tinha sido ele a chamar-nos. Lá argumentámos que não sabíamos que se tratava dum parque privado, que não o vimos quando deixámos o carro ali e que não iríamos pagar o valor diário por menos de uma hora de estacionamento. Depois duns momentos tensos, lá nos disse para seguirmos sem pagar nada. Não apreciámos nada este estilo prepotente de pedirem dinheiro sem transparência nem tampouco a ideia de pagar o valor do dia inteiro independentemente do tempo de estacionamento mas, definitivamente, ficámos a saber com o que contar nos dias seguintes.
Ainda estávamos a 2 horas e meia de Berat, onde chegámos pelas 21:00, tendo feito a parte final já de noite em estradas estreitas com pouca visibilidade.
Ficámos no Airbnb do Sr. Ylli, um velhote muito bem disposto que só fala albanês com muitos “no problem” pelo meio, complementados com muitos gestos. Nós retribuímos em português, também com alguns gestos e, curiosamente, entendemo-nos bastante bem. Fomos recebidos com um prato de figos e de uvas da sua horta, acompanhados dum copo de vinho típico da região. Não poderíamos imaginar uma receção melhor.
Já era tarde, pelo que passámos pelo supermercado e comemos uma refeição ligeira antes de dormir.
dia 5 (26/8), Berat
Berat é uma das mais bem preservadas cidades otomanas, património mundial da Unesco pela preservação da sua arquitetura, conhecida como a cidade das mil janelas pelo amontoado de casas na encosta das suas colinas. No topo duma dessas colinas está o castelo, cujo interior ainda é habitado e dispõe de vários restaurantes, hotéis e outros serviços.
Dormimos até tarde e saímos pouco antes do meio dia. Subimos até ao castelo pelo lado poente, por um trilho onde não circulam carros, com vista para o vale para onde a cidade se expandiu no período comunista. A subida é bastante íngreme mas valeu a pena pelo enquadramento; o calor começava a apertar mas havia bastantes árvores onde podíamos parar um pouco.
Demos uma volta no interior do castelo, uma espécie de aldeia com ruas estreitas rodeadas de 8 igrejas e 2 mesquitas, algumas em ruínas. A temperatura elevada não estava propícia para grandes caminhadas, pelo que rapidamente decidimos escolher um restaurante para almoçar.
Fomos ao Zero (nota 4) que não nos pareceu ser um restaurante permanente mas uma solução temporária para os meses de verão. Comemos moussaka, salada de pimentos e beringela e bife com batatas fritas, recheado com queijo, segundo receita tradicional.
Depois do almoço, descemos pelo lado nascente, desta vez com vista para a cidade antiga. A caminho do Airbnb, caminhámos ao longo do rio apreciando as casas típicas de Berat na encosta da colina.
Depois de umas horas a descansar e a dar bom uso ao ar condicionado, voltámos a sair. Desta vez, o céu estava carregado e chuviscava de vez em quando. Passámos para o outro lado do rio, pela Ponte Gorica, o que nos permitiu observar as casas na base da colina do castelo.
Começou a chover quando estávamos na Ponte Nova a regressar à margem norte e quando saímos da ponte a intensidade da chuva fez-nos correr para debaixo dum toldo. Estivemos ali mais de 15 minutos, a chuva era cada vez mais forte e não estávamos minimamente preparados para aquilo. Decidimos jantar no restaurante mais perto, a uns 30 m, suficientes para ficarmos encharcados.
Jantámos no Lundra (nota 4), restaurante de fast food bastante frequentado pelos locais. O Tomás comeu pizza e a Helena e o Francisco comeram Doner. Quando acabámos, a chuva já tinha passado, pelo que voltámos para o Airbnb sem mais nenhum percalço.
dia 6 (27/8), Apolónia na Ilíria
Neste dia continuámos a seguir para sul, desta vez com um desvio para visitar Apolónia na Ilíria. Esta cidade, uma das dezenas que foi batizada em honra de Apolo, teve o seu auge desde que integrou a Macedónia, sob o domínio de Alexandre o Grande, até ao terramoto de 2 d.c., de que resultou a destruição de edifícios importantes e a perda do acesso fluvial ao mar pelo desvio do curso do rio. Durante esse período, desde o século III a.c., Apolónia na Ilíria foi um protetorado de Roma. Foi o local onde Augusto estudou, e foi daqui que partiu para se tornar imperador.
A cidade tem uma grande implantação e as escavações ainda não estão terminadas. Como estava muito calor e o mapa que nos deram não estava muito claro, andámos à volta do centro da cidade, no cruzamento das duas ruas principais onde estão as ruínas da casa do senado, do anfiteatro, do templo, da biblioteca e de zonas comerciais.
Perto da entrada do complexo fica o Mosteiro de Santa Maria, onde funciona o museu arqueológico e a Igreja de Santa Maria, tendo ambos merecido uma visita.
Almoçámos no restaurante Adriano (nota 4), à beira da estrada a caminho de Gjirokastër, onde comemos costeletas e entrecosto grelhados com salada e batata frita.
Gjirokastër e Berat têm em comum serem património mundial da Unesco pela preservação da arquitetura otomana, embora Gjirokastër seja uma cidade com maior dimensão. Ficámos num alojamento na base da colina onde as casas se amontoam, servidas por ruas íngremes e estreitas com pavimento em pedra com pouca aderência, tornando a condução num pesadelo.
Demos um passeio pela zona mais moderna da cidade, passando pelo supermercado, padaria e frutaria, onde comprámos comida para o jantar e o farnel para o dia seguinte. Jantámos as famosas almôndegas albanesas, com mistura de vaca com borrego, que tínhamos visto em vários restaurantes e que não achámos nada mal.
dia 7 (28/8), Gjirokastër e desfiladeiro de Langarica
Depois do pequeno almoço, caminhámos colina acima com o objetivo de visitar a mansão Skënduli, uma das várias mansões otomanas abertas ao público. Construída no século XVIII por Skender Skendull, patriarca duma das mais abastadas famílias do sul da Albânia, tem 3 pisos (o inferior para os animais e para armazenamento de comida e o superiores com zonas adaptadas às diferentes estações do ano), muitas janelas e chaminés de lareira (em quantidade proporcional ao prestígio e à riqueza da família) e um sistema de recolha da água das chuvas para alimentar a enorme cisterna.
Durante o período comunista, esta casa foi usada como museu etnográfico. Recentemente, voltou a estar sob controlo da família Skënduli que decidiu abri-la ao público, ainda com a configuração e muitos objetos originais. O museu etnográfico passou a funcionar mesmo ao lado, na casa onde morou o ditador Enver Hoxha, natural de Gjirokastër.
Os visitantes podem percorrer livremente todas as divisões, exceto o quarto principal que só está acessível na companhia dum guia. Este quarto era usado nos casamentos para o convívio dos homens que aqui se reuniam com o noivo. Os elementos mais importantes sentavam-se na zona mais elevada, junto às janelas; no extremo oposto, a noiva podia observar os convidados e o seu futuro marido por trás dum biombo, durante 10 minutos, antes de voltar para a outra sala onde se reuniam as senhoras.
Depois desta visita, fizemos-nos à estrada em direção a Përmet, onde fica o desfiladeiro de Langarica. Aqui, é possível caminhar ao longo do rio, parando em pequenas piscinas com água quente de fontes termais.
A zona inicial, perto da ponte, estava bastante lotada mas subindo o curso de água, havia muito menos gente. Parámos pouco depois, à sombra do desfiladeiro, para almoçar e tomar banho (naquela zona, a água dava-nos pelo joelho). A temperatura estava bastante agradável, pelo que ficámos ali um bom bocado.
Avançámos desfiladeiro acima, parando em algumas piscinas de água termal, com água quente. Numa destas piscinas, cruzámo-nos com um casal de alemães que tínhamos visto na cascata de Theth, 5 dias antes, e em Apolónia, no dia anterior. Coincidência curiosa, estarmos no mesmo sítio, no mesmo dia e à mesma hora por três vezes em menos de uma semana.
Voltámos para perto da ponte, tendo espreitado o curso de água um pouco mais abaixo, onde tínhamos deixado o carro.
De volta a Gjirokastër, voltámos a caminhar colina acima, até ao centro histórico da cidade. Esta zona é bastante animada de noite, com muitos restaurantes, bares e comércio.
Jantámos na esplanada do restaurante Rrapi (nota 4), onde experimentámos alguns pratos típicos da Albânia: sarma (folhas de videira recheadas com carne picada), almôndegas (as tais que vimos em quase todos os restaurantes), Qifqi (bolas de arroz com ovo e ervas aromáticas, fritas) e legumes assados. Não estava mau mas não nos entusiasmou.
Depois do jantar, demos mais uma volta pelas ruelas, com paragem numa geladaria, antes de voltarmos para casa
dia 8 (29/8), Ponte de Ali Pasha e Blue Eye
Começámos o dia com uma saída rápida para levantar dinheiro. No caminho, passámos por uma feira de rua, onde comprámos uns belos figos que lembravam os da avó por 2 € o kg, para comermos ao almoço.
Antes de seguirmos ainda mais para sul, voltámos a subir a colina de Gjirokastër, desta vez de carro. Foi a experiência de condução mais assustadora de toda a viagem: tinha chovido de madrugada, pelo que o piso de pedra estava bastante escorregadio. Vimos alguns carros a derrapar, bastante perigoso naquelas ruas tão íngremes e estreitas. Felizmente, não houve problema e chegámos ao ponto desejado, perto da ponte de Ali Pasha.
Ali Pasha foi um governante implacável contemporâneo de Napoleão (algumas vezes designado por “Bonaparte muçulmano”) que trouxe prosperidade para esta região pela construção de infraestruturas como fortificações, estradas e pontes. Esta ponte, a sudoeste de Gjirokastër, é uma das que teve o seu patrocínio.
Trata-se duma imponente ponte de pedra, que une as margens dum rio, que se encontra em bom estado e com um enquadramento magnífico. Para lá chegar, é necessário percorrer um trilho estreito com algumas centenas de metros à beira do desfiladeiro; o percurso é bastante seguro e termina no acesso à parte superior da ponte, local perfeito para umas belas fotos.
Aproximadamente a 30 km para sul fica uma nascente, conhecida por Blue Eye, cuja água brota no meio dum lago com bastante pressão, proporcionando uma mistura de tons de azul espetacular. Foi esse o nosso ponto seguinte de paragem. Havia bastante trânsito à chegada, com filas para entrar no parque de estacionamento (pago) que parecia estar cheio. Seguimos um pouco mais e, por sorte, descobrimos um lugar à beira da estrada que tinha acabado de vagar. Uma semana na Albânia e ainda não tínhamos pago nenhum estacionamento!
O Blue Eye está incluído num parque natural, sendo necessário pagar 75 ALL (75 cêntimos) por pessoa para entrar.
A nascente fica a mais de 1 km da entrada. A meio caminho, fizemos um desvio para o meio do mato com o objetivo de comermos isolados da multidão. Foi um almoço muito agradável pela envolvente e, também, pelo grande nível dos figos que tínhamos comprado de manhã.
A zona da nascente estava cheia de gente. Do varandim mesmo sobre a nascente, pode-se observar o movimento da água a sair e a oscilação da mistura de tons de azul; muito bonito. Deste local, um conjunto de corajosos saltava para dentro da água gelada. Quando voltavam à tona, eram arrastados pela forte corrente; alguns não conseguiam parar numa pedra perto e iam sair bastante longe.
Demos uma volta por sítios com menos gente, apreciando a paisagem e molhando os pés muito rapidamente que a água estava bastante fria.
Seguimos ainda mais sul, para Ksamil, a uma hora de caminho. Neste país, parece que qualquer deslocação é feita em múltiplos de uma hora … neste caso, a distância em estrada é pouco mais do que 30 km.
Depois de nos instalarmos e de irmos ao supermercado, fomos dar um passeio à beira mar, espreitando as praias. Ksamil tem um ambiente parecido com o da costa algarvia, sendo a zona mais turística da Albânia. Segundo percebemos, é muito comum os turistas que visitam a Albânia passarem o tempo todo nesta zona; aqui avistámos a família com aspeto beto que fez os voos de Lisboa até tirana no mesmo avião que nós.
Ksamil fica no extremo sul da Albânia, aproximadamente a 10 km da fronteira terrestre com a Grécia e a 3 km da ilha de Corfu, pertencente à Grécia.
Jantámos no restaurante Momento (nota 3). Comemos piza, sopa de peixe e legumes assados. Não estava mal mas tinha todos os inconvenientes dos restaurantes grandes em zonas muito turísticas: serviço a despachar e demasiada confusão. A caminho de casa ainda parámos para um gelado, bem melhor do que o do dia anterior. Da nossa experiência, os gelados na Albânia são de boa qualidade e baratos (1 € por cada bola).
dia 9 (30/8), Butrint e Ksamil
Segundo a lenda, Butrint terá sido fundada pelo vidente Heleno, depois da sua fuga de Tróia no século XIII a.c., havendo referência na obra de Virgílio (”Eneida”) à passagem de Eneias por aqui na sua viagem até Itália. Inicialmente parte da civilização helénica, no século II a.c. passou para o controlo romano depois dum breve período de domínio ilírico.
Butrint fica numa pequena península com forma arredondada, com aproximadamente 200 m de raio, inserida na península maior onde também está Ksamil. Foi para aí que nos dirigimos nesta manhã, como o objetivo de visitar o seu parque arqueológico. Neste parque, encontra-se vestígios de todas estas fases de ocupação da península, incluindo um castelo do século XIII e uma torre veneziana.
No século IV a.c., Butrint tornou-se num centro religioso dedicado a Asclépio, deus grego da medicina (representado por uma cobra não venenosa enrolada num bastão, o bastão de Asclépio).
O batistério de Butrint é um dos mais bem preservados e considerado o mais sofisticado dos que chegaram aos nossos dias, em particular no que respeita aos mosaicos do seu pavimento. Estes mosaicos eram inundados frequentemente pelas subidas de água da lagoa circundante, pelo que, com o objetivo de os preservar encontram-se cobertos. De vez em quando, com o intervalo de vários anos, os mosaicos são descobertos para conservação, podendo ser apreciados pelo público durante um período de tempo limitado.
No lado norte, encontra-se uma entrada para o interior da muralha, designada por “Porta do Leão” por ter um baixo relevo dum leão a comer uma cabeça de touro. A pedra com esta figura não fazia parte da entrada original mas foi adicionada para facilitar a defesa do castelo.
No final do passeio, subimos ao castelo onde se encontra o museu, pequeno e conciso. Do alto da colina, na muralha do castelo, desfruta-se de uma bela paisagem a poente, com a estreita língua de terra que dá acesso à península de Butrint, o canal a desaguar no Mar Jónico e Corfu ao fundo. Foi um dia muito bem passado. O parque arqueológico é compacto, cheio de verde e com muito para ver, tudo com uma envolvente magnífica.
(Pela quarta vez em 8 dias, voltámos a cruzar-nos com o casal alemão que já tínhamos visto em Langarica, em Apolónia e em Theth).
De manhã, quando nos aproximávamos de Butrint, parámos numa fila a cerca de 1 km do destino. Decidimos dar meia volta e estacionar num miradouro por onde tínhamos passado, a pouco mais de 2 km de Butrint. Resumindo, ainda não foi desta vez que pagámos estacionamento na Albânia.
Voltámos a Ksamil pelas 16:00 e fomos passar umas horas na praia. Fomos à praia Paradise, a mais perto do nosso alojamento. No dia anterior tínhamos perguntado ao jovem que geria o espaço sobre os custos de utilização da praia: 200 ALL (20 €) diários, com direito a um guarda sol e a duas espreguiçadeiras. Face à densidade de espreguiçadeiras e chapéus de sol, nem perguntámos se poderíamos frequentar a praia sem pagar mas perguntámos quanto seria se chegássemos pelas 16 ou pelas 17 horas. o jovem riu-se e ficámos assim.
Chegámos à praia com a ideia de negociar o preço de utilização das cadeiras mas o jovem já não estava lá (no dia anterior ainda lá estava bem mais tarde). Perguntámos a um casal português como se pagava; eles disseram que o jovem já se tinha ido embora e recomendaram-nos a usar duas das muitas espreguiçadeiras já livres àquela hora. Aparentemente, terá sido um dia de menor afluência e o jovem achou que não valia a pena ficar por ali.
Passámos umas duas horas agradáveis. A água estava boa e também se estava muito bem nas espreguiçadeiras. No entanto, quando o sol se escondeu por trás da elevação de terreno a poente, a temperatura baixou bastante, tendo ficado desagradável. Altura de voltar ao alojamento, onde jantámos uns bifes de frango comprados no supermercado.
dia 10 (31/8), Qeparo
Seguimos para norte, percorrendo uma estrada na montanha ao longo da costa com vistas magníficas. Pouco antes de Qeparo, onde ficaríamos nessa noite, parámos na praia de Borsh.
A praia de Borsh tem uma extensão vários quilómetros de pequenos seixos com um mar tranquilo em que se perdia o pé rapidamente. Para nossa surpresa, não havia estacionamento pago, podendo-se estacionar na estrada paralela ao mar. Na praia, havia umas estruturas com palha que criavam zonas de sombra que estavam quase todas desocupadas. Procurámos onde se pagaria para utilizá-las mas não descobrimos. Assim, acabámos por ocupar uma dessas sombras e por passar um bom bocado na praia onde também comemos o farnel que tínhamos trazido de Ksamil.
Perto do local onde ficámos, estava um grande anúncio duma cadeia internacional de hotelaria a anunciar a construção dum hotel naquele local, com representações da praia cheia de espreguiçadeiras com a densidade já vista em Ksamil. Pelos vistos, a borla para estacionar e para frequentar esta praia vai acabar brevemente …
Seguimos, então, para Qeparo onde, já com o carro estacionado no alojamento onde ficámos, assistimos a uma pequena escaramuça entre duas vacas que se aproximaram do carro, tendo uma delas dado um valente coice na matrícula da frente. Verdade seja dita, a amolgadela daí resultante não destoava do resto do carro e nem chegou a ser assinalada quando devolvemos o carro.
Qeparo é uma pequena aldeia com dois polos: um à beira da estrada, onde ficámos, e outro no alto duma colina, a 2 km. A segunda (Qeparo de cima) foi sendo abandonada gradualmente depois do fim do regime comunista; nos últimos anos, iniciou-se uma lenta recuperação dos edifícios, havendo já alguns restaurantes e alojamentos locais.
Seguindo a sugestão da nossa anfitriã, fomos jantar a Qeparo de cima. O caminho que serpenteava colina acima era estreito e em mau estado mas a vista ia ficando melhor quanto mais se subia. Tencionávamos ver o pôr do sol lá do cimo mas esquecemos-nos que o sol se poria por trás duma das colinas. Assim, apesar de termos chegado com muita luz, o sol já se tinha escondido.
Demos um passeio no extremo norte da povoação até ficar escuro, passando por muitas casas em ruínas ou simplesmente com ar abandonado, muitas delas com uma bela vista. Seguidamente, fomos jantar no restaurante Te Rrapi (nota 5), onde comemos sopa de legumes, dourada grelhada e costeletas de borrego grelhadas, com burek de espinafres de entrada. De sobremesa, ofereceram-nos umas bolas de farinha, açúcar, ovos e azeite; simples mas bastante agradável. Não conseguiram dizer-nos o nome daquela iguaria mas percebemos que seria receita familiar. Estava tudo muito bom e com um enquadramento excelente, uma vez que comemos no jardim exterior com vista para o mar. Não foi barata mas, tudo somado, esta refeição fica no top 3 destas férias.
dia 11 (1/9), Porto Palermo
A primeira paragem do dia foi na baía de Porto Palermo, no meio da qual se destaca uma pequena península com forma redonda de aproximadamente 150 m de raio. No início do século XIX, Ali Pasha construiu um castelo na parte mais alta desta península (na altura era uma ilha) para controlo da costa Jónica, que atualmente está aberto ao público.
O castelo tem um formato triangular com três torres pentagonais nos vértices do triângulo. De alguma forma faz lembrar o forte Lovrjenac em Dubrovnik, mas com um interior bem mais interessante.
Depois da visita ao castelo, demos uns mergulhos na praia que dá acesso à península que dá a sensação de ser um lago, uma vez que a água aparenta estar cercada por todos os lados. Era quase meio dia e não tínhamos chapéu de sol, pelo que rapidamente seguimos caminho.
Ainda na baía de Porto Palermo, fomos à península que a delimita a poente, com o objetivo de ver o bunker de submarinos que atravessa a península dum lado ao outro. Deixámos o carro à beira da estrada e seguimos a pé pelos trilhos, subindo no início e descendo depois em direção ao mar.
Tanto quanto percebemos, este bunker está desativado mas está incluído numa zona de controlo militar, estando o seu acesso vedado. Aproximámo-nos pelo lado poente e lá vimos a entrada do bunker. Consegue-se entrar uns 20 ou 30 m mas as comportas estão fechadas, pelo que não é possível avançar mais.
Voltando para trás, descemos até à praia Mateus que já tínhamos avistado na ida. No topo da falésia, estavam uma tenda e 3 ou 4 caravanas (impressionante como conseguiram chegar ali passando por aqueles trilhos). Claramente, há pessoal que estaciona ali para uns dias passados entre idas à praia e apreciar a paisagem. Há também quem vá ali de propósito para umas horas na praia e ainda quem descubra aquilo por acaso, como nos aconteceu. Trata-se duma praia pequenina que obriga a descer uns 20 m num trilho íngreme mas que oferece umas águas com um azul turquesa magnífico e um enquadramento ímpar.
Entretanto, eram 14:00 e ainda teríamos de fazer a caminhada até ao carro, quase sempre a subir, pelo que nos pusemos a caminho. Fomos almoçar em Himarë, no restaurante Pastaria (nota 4), situado na avenida marginal à beira da praia. Comemos pratos de pasta (claro) que estavam bons. A cerveja que tinham era da Pan’s Microbrewery, à pressão, que foi uma surpresa agradável.
Depois do almoço, voltámos a Qeparo. Fizemos uma paragem para espreitar a entrada nascente do bunker, acessível por estrada mas com grandes sinais de zona militar e de proibição de passagem. Assim, limitámo-nos a ver ao longe.
Depois dum período de descanso e duma ida ao supermercado, acabámos as atividades do dia na praia de Qeparo; dia glorioso para o Tomás com três idas à praia. Esta praia fica a cerca de 500 m do nosso alojamento, com mato pelo meio. A praia tem um ar arranjadinho e um enquadramento bonito mas não tem areia e os seixos são bem maiores do que nas outras praias, o que se torna desconfortável.
Voltámos a casa ao anoitecer, altura em que já estava a ficar fresco, onde jantámos.
dia 12 (2/9), praia de Gjipe
Mais uma praia na lista, desta vez a praia de Gjipe que ficava na caminho na deslocação para norte em direção a Tirana. A paisagem do caminho era muito parecida com a do dia anterior, com montanhas encostadas ao mar.
O acesso à praia de Gjipe é feito por um trilho de quase 2 km que é percorrido a pé ou por viaturas 4x4 (é incrível como se consegue circular naqueles trilhos). Deixámos o carro num parque de estacionamento no início do trilho; foi a nossa estreia a pagar para estacionar: 30 ALL (3 €) para o dia todo. O trilho segue na sua quase totalidade paralelo ao mar, proporcionando uma bela vista. Ao longo do caminho, passámos por vários bunkers que foram mandados construir pelo ditador comunista Enver Hoxha, neste caso para proteger a costa.
A praia de Gjipe tem um enquadramento semelhante à praia Mateus (onde estivemos no dia anterior) mas em maior escala. Além de ter mais frente água, dispõe de alguns cafés e restaurantes e tem um parque de campismo. Fica localizada no que já foi a foz dum rio que corria por um desfiladeiro até ao mar, tudo muito bonito.
Planeando ficar na praia durante algumas horas, fomo-nos informar sobre os preços de aluguer de chapéu de sol mas deparámos com a inflexibilidade do prestador de serviço: só podíamos alugar o chapéu de sol em conjunto com duas espreguiçadeiras pelo valor de 25€, independentemente do tempo de utilização. Juntando a displicência do senhor, decidimos declinar a oferta.
Fizemos um pouco de praia entre mergulhos e banhos de sol, até decidirmos explorar o desfiladeiro. Ai, acabámos por comer o farnel e passar um bom bocado num ambiente relativamente fresco e com boa paisagem.
No regresso, parámos para um gelado e ainda demos um último mergulho antes de subir o trilho até ao carro. O caminho tinha poucas sombras, pelo que nos custou um pouco a fazer; foi um alívio termos voltado para o ar condicionado do carro.
Ainda tínhamos 3 horas de viagem até Durrës, onde ficaríamos naquela noite. A primeira parte do trajeto foi feita em montanha ao longo da costa, incluindo a zona de Llogara com um troço bastante agradável, a subir em socalcos para trás e para a frente com vista cada vez melhor quanto mais se subia.
Durrës é uma cidade costeira a 30 km de Tirana, onde os habitantes da capital fazem as suas férias. Deu a sensação de ser um amontoado de prédios à beira mar sem pontos de interesse turístico. Decidimos pernoitar ali para evitar mais uma hora de deslocação até Tirana.
Por toda a Albânia, há bastantes referências à cozinha kosovar, pelo que decidimos jantar no Fast Food Kosova (nota 3). Comemos doner kebab e hambúrguer.
dia 13 (3/9), Tirana
Saímos cedo em direção a Tirana, com o objetivo de visitar o Bunk’Art, um dos dois bunkers de Tirana transformado em museu com uma forte componente artística. Este é o maior dos dois e fica no extremo nordeste de Tirana, a 5 km do centro. O complexo tem um parque de estacionamento para os visitantes, a que se acede através dum túnel. Depois, caminha-se um pouco até se entrar no bunker.
A ideia de construir este bunker resultou duma visita dos lideres militares da Albânia à Coreia do Norte em 1964. Foi construído na década de 1970 com o objetivo de garantir o comando político e militar em situação de crise, incluindo um espaço para a reunião do parlamento albanês. No entanto, nunca foi utilizado em situação real.
Depois da rutura com a União Soviética, desenvolveu-se um plano de fortificação do país que inclua a construção de mais de 200.000 bunkers, dos quais foram construídos quase 170.000. Este espaço, em particular, tinha mais de 100 quartos distribuídos por 5 pisos e foi preparado para resistir a ataques convencionais ou nucleares.
A entrada tem várias portas, umas de betão e outras metálicas, cada uma com a sua função de conter o impacto de explosões ou a entrada de elementos químicos.
O ambiente no interior é bastante húmido e desconfortável. Algumas salas reconstituem o espaço original (por exemplo, os quartos dos militares ou a suite de Enver Hoxha), outras têm exposições sobre a o período comunista pós soviético ou sobre o envolvimento da Albânia na segunda guerra mundial e outras têm instalações artísticas relacionadas com estes temas. Pareceu-nos, sem dúvida, umas das atividades obrigatórias em Tirana.
Almoçámos no restaurante Mix Pizza (nota 4) a pouco mais de 100 m do túnel de acesso ao bunker, o que nos permitiu aproveitar o estacionamento do museu que, doutra forma, nos pareceu muito complicado naquela zona.
Depois do almoço, demos entrada no alojamento que ficava a 500 m da praça central, e o Francisco foi entregar o carro ao aeroporto.
Para o final do dia, tínhamos agendado uma visita guiada na GuruWalk. A visita começou na Praça Skanderbeg, enorme, com o pavimento em forma convexa que simboliza a supremacia das pessoas relativamente aos objetos urbanos. Nesta praça está a estátua do herói nacional que lhe dá o nome e, entre outros, o Banco central albanês, o museu nacional da Albânia e a ópera.
Em termos arquitectónicos, esta praça é muito heterogénea, misturando construções do período comunista (como o hotel Internacional de Tirana) com arranha-céus ainda em construção (como o hotel Intercontinental que faz o hotel Internacional parecer minúsculo).
Num dos cantos da praça, está ainda a mesquita Et'hem Bej, atualmente um dos edifícios mais antigos de Tirana, apesar de ter sido construída no século XVIII. Neste aspeto, Tirana é uma cidade estranha, por estar a passar por um boom imobiliário (fortemente financiado pelo Dubai), em prejuízo dos edíficios mais antigos. Muitos destes foram eliminados durante o período soviético (em particular, os de caráter religioso), outros substituídos por arranha-céus em resultado da pressão imobiliária. Vê-se muitos arranha-céus em Tirana, todos com design moderno e arrojado e quase todos ainda em construção, apesar de tal passar despercebido à primeira vista, como no caso do hotel Intercontinental, cuja grua está meio escondida de quem olha da Praça Skanderbeg. Aparentemente, existe a preocupação de, rapidamente, dar um aspeto terminado à fachada e retirar o estaleiro.
Além dos arranha-céus, também abundam as instalações artísticas, destacando-se uma estrutura metálica branca num jardim, chamada “Nuvem”, que o Tomás tratou logo de trepar
Neste contexto, a visita guiada, apesar de interessante, tem um enfoque histórico no regime comunista de Enver Hoxha, depois do período soviético, ignorando de forma estranha e incompreensível a história anterior. No dia seguinte, haveríamos de ir outra vez aos pontos visitados nestas duas horas para uma observação mais tranquila.
Jantámos no restaurante Shije Fshati (nota 3), onde comemos tavë kosi (caçarola de borrego com iogurte) e qofte shtepie me mish vici (almôndegas de carne de vaca). Estávamos com grande expectativa relativamente à caçarola, indicada como um prato típico albanês. A carne estava boa mas não trouxe nenhum acompanhamento (apesar de termos visto em todo o lado que a caçarola é servida com arroz, pelos vistos não neste restaurante); além disso, a dose, anunciada para 2 pessoas, nem sequer seria uma dose generosa para uma pessoa. Acrescentando o serviço lento, não gostámos da experiência. Por outro lado, ocorreu-nos que o problema era nosso, embora tenha sido muito estranho ver dois homens, jovens adultos, a partilhar uma caçarola minúscula sem acompanhamento na mesa do lado, como se nada fosse …
Depois do jantar, voltámos a passar na Praça Skanderbeg onde ficámos a pensar em quão aberrante será ter um mamarracho iluminado, mesmo encostado à torre do relógio e à mesquita Et'hem Bej.
dia 14 (4/9), Tirana
Começámos o dia caminhando calmamente até à Praça Skanderbeg e apreciando a paisagem, em particular as novas construções. Lá chegados, entrámos na Mesquita Et'hem Bej, cujo interior tem uma decoração mais exuberante do que a maioria das mesquitas, o que a torna particularmente apreciada.
Mesmo ao lado, fica a torre do relógio. Construída no século XIX no estilo otomano, é uma das estruturas mais antigas de Tirana. Do seu topo, obtém-se uma vista a 360º sobre a cidade, destacando-se a Praça Skanderbeg, logo a seguir à mesquita. Como em muitos pontos turísticos na Albânia, perguntaram-nos de onde vínhamos; aparentemente, naquela manhã, muitos portugueses tinham já subido à torre.
Seguimos para sul, passando pelo Bunk’Art 2, outro bunker convertido em museu com instalações artísticas, bastante mais pequeno do que o visitado no dia anterior. Na mesma praça, ficam alguns edifícios de ministérios que fazem parte da pequena lista de edifícios que serão preservados. Do outro lado da praça ficava um teatro que foi demolido e está a ser reconstruído, porque sim, conforme nos contou a guia no dia anterior.
Passámos pela Nuvem e seguimos pelo passeio da parede de Toptani, uma rua só para peões com imensa vida, de dia e de noite, cheia de esplanadas, comércio e instalações de arte. No chão, ao longo da calçada, está representado um pentagrama, remetendo para a importância da música. A parede referida no nome da rua fica num dos seus extremos e é o que resta das ruínas do castelo que, no século XIX, pertencia à família Toptani antes de ser destruído pelos otomanos. Atualmente, a área do interior do castelo é uma galeria comercial misturada com restaurantes que atravessámos dum lado ao outro.
Na zona a sul do castelo fica a catedral de São Paulo, católica, com uma estátua de Madre Teresa de Calcutá à entrada. Seguindo o padrão de Tirana, trata-se dum edifício moderno com implantação triangular e a zona de celebração redonda, no meio do triângulo.
Atravessámos o rio para a margem sul, onde fica a pirâmide de Tirana. Este curioso edifício foi concebido para ser o mausoléu de Enver Hoxha. Originalmente, tinha um ar sinistro forrado com placas escuras metálicas. O ditador acabou por ser enterrado num cemitério comum e a pirâmide está a ser reconstruída com pedra clara, destinando-se a ser um polo universitário para estudantes de tecnologias de informação. Atualmente, várias faces da pirâmide têm escadas que permitem subir ao seu topo e ter uma boa perspetiva sobre a cidade. Os edifícios de suporte ao polo universitário, à volta da pirâmide, estão arrumados numa disposição jovem e irreverente, em blocos paralelepipédicos com cores vivas sobrepostos uns nos outros.
A poente da pirâmide fica o Blloku, bairro que, durante a ditadura comunista, era exclusivo para a residência dos membros do politburo, ao qual o albanês comum não tinha acesso. Depois da queda do regime, a partir de 1991, esta zona sofreu um grande desenvolvimento, sendo atualmente um bairro residencial para a classe alta e também zona de animação com muitos bares e restaurantes.
Um dos restaurantes neste bairro, o Era Blloku (nota 5), foi-nos recomendado pela guia da visita do dia anterior e também pela srª do nosso alojamento, pelo que passou a estar no topo da nossa lista. Almoçámos lá a última refeição do top 3 desta viagem. Provámos uma série de pratos albaneses, todos muito bons. Para entrada comemos petulla të fshira à moda de Korça (panquecas com mel, requeijão e queijo feta) … delicioso!
De seguida, comemos fasule pllaqi me suxhuk kosove (feijões com linguiça do Kosovo), qofte me fëstëk e ajkë (almôndegas com pistachio e iogurte) e pilaf me pulë (arroz com frango temperado com alho e especiarias). De sobremesa, comemos tespishte à moda de Peja (bolo ensopado com frutos secos) que estava espetacular.
Na rua do restaurante, fica a casa onde vivia o ditador Enver Hoxha. É uma grande vivenda com 3 andares no estilo das vivendas do Restelo. Sem ter um aspeto de palácio, a guia da visita do dia anterior referiu enfaticamente que o interior estava cheio de luxos que contrastam com o aspeto “normal” do exterior.
Voltámos a atravessar o rio. Depois do tribunal e da torre Forever Green, que formam um par curioso pelo enorme contraste de estilos e de altura, fica a Casa das Folhas. Aqui era a sede da atividade de controlo e vigilância da população albanesa durante a ditadura de Enver Hoxha. O seu nome resulta das folhas de era na fachada que ajudam a dar um aspeto pesado ao edifício que, ainda hoje, causa arrepios a muitos albaneses. Atualmente, a Casa das Folhas é um museu com exposições de histórias e equipamentos desta face do regime.
Chegámos lá pouco antes das 16:00 mas não pudemos entrar porque, até às 16:30 estaria a ser visitado por algum VIP. Assim, fomos descansar para o nosso alojamento e voltámos pelas 18:00.
O museu é interessante mas não conseguimos vê-lo com atenção porque estávamos a ser pressionados por uma funcionária com ar sinistro que ia fechando as salas por onde íamos passando. O museu fechava às 19:00 e, pelos vistos, a funcionária queria garantir que a essa hora já teríamos saído, o que acabou por acontecer.
Fomos jantar no espaço exterior do restaurante Lulishte 1 Maji (nota 5), com música ao vivo. Comemos Fergese me mish vici (carne de vaca com molho de pimenta), patellxhan te furre me ragu (beringela assada com massa) e pizza (para o Tomás). A comida estava simples e saborosa e o enquadramento era bastante agradável.
dia 15 (5/9), Tirana - Lisboa
Este dia não teve grande história. O voo de regresso estava agendado para as 14:35, pelo que pudemos acordar a horas decentes e despachar tudo com tranquilidade. Chegámos a Lisboa pelas 23h, depois de escala em Zurique.
4. Curiosidades
Dos vários países onde já estivemos, a Albânia foi o primeiro em que sentimos que os recursos disponibilizados pelos alojamentos locais eram muito controlados. Papel higiénico, quantidade de talheres, sabonete (gel duche, nem vê-lo), era tudo em quantidade mínima. Isto apenas não aconteceu em Berat (grande Sr. Ylli), o que nos leva a pensar que será uma questão cultural.
A taxa de câmbio quase paritária, em que 1 ALL corresponde a praticamente 1 cêntimo de Euro, faz com que a generalidade dos albaneses usem as duas moedas de forma indistinta, muitas vezes em seu prejuízo. O pagamento em Euros é aceite de forma generalizada.
A condução na Albânia não nos merece grandes comentários, ao contrário do que lemos antes da viagem. Vimos algumas situações de desrespeito de prioridade, tal como acontece em Portugal, mas o mais estranho era a entrada de carros em contramão para avançarem quando o trânsito estava engarrafado (situação que observámos algumas vezes). Curiosamente, os outros condutores reagem de forma tão natural que tudo flui sem sensação de perigo.
A Albânia tem boa cerveja; nestas duas semanas experimentámos 5 marcas diferentes (e ainda a Nikšićko, de Montenegro, muito disponível no norte). As nossas preferidas são a Korçë e a Elbar. A primeira é da região com o mesmo nome, na zona sudeste do país; a segunda é mais recente, tendo recebido bastante aceitação dos albaneses. Só experimentámos a Tirana uma vez, apesar de haver muita publicidade, mas pareceu estar uns furos abaixo. A Peja não é má mas pareceu-nos mais banal. Em Himarë, serviram-nos Pan’s Microbrewery de que gostámos muito mas não demos por ela em mais lado nenhum, ao contrário das outras 4, todas muito presentes nos restaurantes e nos supermercados.
Em termos gastronómicos, há muitas referências à região de Korçë; por exemplo, muitos pratos estão assinalados como “à moda de Korcë”. Experimentámos alguns e ficámos com a ideia que esta região, onde não estivemos nesta viagem, merece uma visita no futuro.
Há também muitas referências à cozinha kosovar, provavelmente pela presença de imigrantes do Kosovo. Provámos a sua linguiça, picante qb, que pareceu muito boa.