Índice
1. Resumo
Um dia meio passados em Liverpool pelo Pedro e pelo Francisco num fim de semana dedicado ao futebol e em tomar contacto com esta importante cidade do norte de Inglaterra. A pretexto de assistir a um jogo de futebol no mítico Goodison Park no seu último ano de funcionamento, ainda visitámos o estádio de Anfield Road e passeámos pelos pontos principais da cidade. No segundo dia, a Sara juntou-se a nós tendo estado connosco durante a manhã e o almoço, até apanharmos a camioneta para o aeroporto.
Apanhámos um tempo magnífico, com sol e ausência de vento no sábado, encoberto e já com algum vento no domingo, com temperatura entre 10°C e 14ºC … difícil conseguir melhor no final de outubro.
2. Custos
Esta estada em Liverpool teve um custo ponderado (no local, sem contar com a ida e volta) de 104, alinhado com o custo em Manchester (103), ambos elevados por termos comido todas as refeições fora (pequeno almoço incluído).
Apesar de termos feito a reserva apenas com 3 semanas de antecedência, conseguimos um bom valor para o alojamento, 70€ por dia a menos de 20 minutos a pé da catedral anglicana, mais barato do que em Manchester (74€) e em Gales (80€).
As despesas com alimentação ficaram em 45€ por pessoa por dia, alinhado com os custos das nossas viagens a Manchester (45€) e a Londres (41€).
O custo com atividades foi de 18€ por pessoa por dia, um dos valores mais elevados que experimentámos até agora, apesar de haver atividades sem custos (por exemplo, a visita a alguns museus).
Gastamos 13€ por dia em deslocações na cidade, um dos valores mais elevados em viagens em que não alugámos carro, uma vez que os estádios de futebol estavam um pouco longe do centro da cidade.
3. Diário
dia 1 (25/10), Lisboa - Liverpool
Chegámos a Liverpool depois da meia noite, vindos de Faro. A viagem de táxi até ao alojamento foi rápida e tranquila.
dia 2 (26/10), centro e Goodison Park
Durante a viagem até Faro no dia anterior, fomos informados que a visita guiada que tínhamos agendado para esta manhã tinha sido cancelada por sermos os únicos inscritos. Assim, com a ajuda da app GPSmyCity, definimos um itinerário para essa manhã.
Ficámos alojados a 1,5km a sul da catedral anglicana que era o nosso primeiro ponto de interesse, a caminho da Royal Albert Dock. Uma vez que a catedral fica no topo dum pequeno monte (St James Mount), com a entrada virada a norte, decidimos contorná-lo no sentido direto, atravessando o jardim que envolve um dos lados do monte. Naquele sábado de manhã, pelas 9:30, éramos os únicos visitantes sem cão. O jardim é bastante bonito e está cheio de residentes permanentes, espalhados por todo o espaço sem nenhuma ordem aparente, como parece ser hábito nos cemitérios das igrejas no Reino Unido.
A catedral anglicana é enorme, a maior do Reino Unido, com quase 200m de comprimento e uma torre com 100m de altura. A sua construção é do século XX, tendo durado várias décadas, de 1904 até 1978, depois de várias interrupções (por exemplo, devido às duas guerras mundiais).
Existe uma segunda catedral em Liverpool, católica, conhecida como a Catedral Metropolitana de Liverpool. De acordo com o projeto original, da década de 30 do século XX (de que apenas se construiu a cripta devido a restrições financeiras resultantes da Segunda Guerra Mundial), esta viria a ser a segunda maior catedral católica do mundo. Concluída em 1967, tem um design moderno com forma circular e uma torre cónica que representa uma coroa; passámos lá perto no dia seguinte e fez-nos lembrar a chaminé duma central nuclear …
Acabámos por não visitar nenhuma das catedrais, terá de ficar para outra oportunidade. No caso da catedral anglicana, chegámos à entrada principal antes da abertura e não quisemos esperar, considerando que ainda não tínhamos tomado o pequeno almoço e que havia muitas outras coisas para ver.
Seguimos até à igreja de São Lucas, conhecida como a Bombed Out Church. Esta igreja do século XIX foi destruída nos bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial, tendo sobrevivido apenas a torre e as paredes exteriores. Depois da guerra, foi decidido não reconstruir a igreja que, atualmente, é usada como memorial da guerra e espaço para eventos ao ar livre.
Em frente à fachada principal, a igreja tem um aspeto normal, sendo as ruínas perceptíveis apenas das paredes laterais. O espaço estava fechado, pelo que não conseguimos visitá-lo. Havia muito lixo no exterior, o que nos fez pensar que deve ter havido algum evento no dia anterior.
Passámos na fronteira da Chinatown e seguimos pela Duke Street em direção às docas. A Chinatown de Liverpool é a mais antiga da Europa e tem o maior portão de entrada fora da China. Chamou-nos a atenção o facto dos nomes das ruas estarem escritos em inglês e em chinês.
Depois do pequeno almoço fomos conhecer a Royal Albert Dock. Inaugurada em 1846, esta doca destacou-se no sistema portuário de Liverpool por ter sido a primeira a ser construída unicamente com material não combustível (ferro, tijolo e pedra), reduzindo os riscos de incêndio. A construção dos armazéns mesmo à beira da água, que permitia a carga e a descarga diretamente das embarcações, era o outro fator distintivo desta doca.
Depois dum período de abandono, resultante do declínio da indústria portuária, esta doca foi recuperada na década de 80 do século XX. Atualmente, está cheia de atrações culturais (incluindo vários museus), atividades e estabelecimentos de comércio, de lazer e de restauração. A qualidade da construção original dos armazéns foi tão elevada que a recuperação feita 130 anos mais tarde aproveitou praticamente todos os elementos originais(!)
Dos vários museus no local, escolhemos visitar o Museu de Liverpool para melhor enquadramento da cidade. Este museu, relativamente pequeno, está num edifício com arquitetura modernista sobre uma das docas mais antigas, entretanto desativada. Além de exposições e atividades para os mais pequenos, este museu de entrada gratuita dá um vasto conjunto de informação relacionada com a cidade de Liverpool. A visita foi rápida mas muito instrutiva.
Entre outras coisas, ficámos a saber que Liverpool e Manchester mantiveram uma relação simbiótica durante a revolução industrial: Manchester tinha os recursos industriais e Liverpool os logísticos. Nesta parceria, em função da sua localização na foz do rio Mersey, Liverpool era o ponto de entrada e de saída de matéria prima e de produtos acabados por via marítima. No entanto, devido à água rasa na maré baixa, foi necessário construir docas fechadas que mantivessem o nível da água suficientemente elevado, independentemente da amplitude das marés. Com o crescimento da atividade portuária, a margem do rio foi invadida por inúmeras docas fechadas com as suas comportas que ainda hoje caracterizam a frente ribeirinha de Liverpool. Desta relação entre as duas cidades, em 1830 surgiu a primeira linha férrea de passageiros e carga que aumentou a capacidade de transporte nos 50km que as separam. No final do século XIX, a interligação das duas cidades foi reforçada com a construção Manchester Ship Canal que permitiu o acesso marítimo à cidade de Manchester.
Em frente ao museu, tivemos o primeiro contacto com as lambananas. Estas estátuas são uma mistura entre uma ovelha (lamb) e uma banana, representando a complementaridade entre a tradição agrícola local e a importação de produtos resultante das atividades portuárias. Segundo lemos, há mais de 150 exemplares de lambananas espalhados pela cidade, cada um com a sua decoração única.
Antes do almoço, fomos beber meia pint no Cavern Pub, a pensar que tinha sido aqui que os Beatles tocaram tantas vezes … afinal o local que nos interessava era o Cavern Club, do outro lado da rua. O pub é uma adição ao complexo “Cavern”, posterior ao período dos Beatles, criado para aumentar a oferta de música ao vivo. Está decorado com fotos, instrumentos e outros artefactos de artistas que atuaram aqui ou no Cavern Club, com destaque para os Beatles, claro. Mais um ponto na lista de coisas a fazer numa futura visita a Liverpool: ir ao Cavern Club.
Almoçámos um caril muito razoável no Wetherspoons e seguimos na direção do Stanley Park, a quase 4km, onde ficam os estádios dos dois clubes de futebol da cidade: Anfield Road (estádio do Liverpool F. C.) e Goodison Park (estádio do Everton F. C.), separados por 800m, um de cada lado do parque.
Passámos primeiro pelo estádio do Liverpool F. C., para vermos onde seria a entrada para a visita ao estádio e ao museu agendada para a manhã seguinte. Nas imediações do estádio, há vários murais com jogadores e ex-jogadores deste clube que são autênticas obras de arte (Salah, Alexander-Arnold Trent, Ian Rush, etc).
Depois de nos orientarmos com Anfield Road, seguimos para Goodison Park, onde iríamos assistir ao jogo da Premier League Everton vs. Fulham que começaria às 17:30.
Além do jogo propriamente dito, interessava-nos conhecer o estádio onde Eusébio marcou 4 golos no jogo contra a Coreia do Norte durante o Mundial de 1966. Este estádio, tipicamente inglês, com 4 bancadas mesmo em cima do campo, vai ser demolido no final desta época desportiva depois de 130 anos ao serviço de um dos clubes mais vezes campeão de futebol de Inglaterra, que já havia sido campeão em 1891, antes de se mudar para aqui. Curiosamente, nesse ano, o Everton jogava no estádio de Anfield Road, hoje pertencente ao seu grande rival. Depois de 8 anos a jogar em Anfield Road, uma fação do Everton F. C. decidiu construir um novo estádio em terreno próprio, em conflito com o seu presidente e dono do terreno onde estava o estádio de Anfield Road (John Houlding) que pretendia aumentar a sua renda. Vendo-se com um estádio vazio, John Houlding decidiu criar um outro clube de futebol, o Liverpool F. C., dando origem a uma rivalidade centenária.
A experiência do jogo correspondeu ao que seria de esperar dum estádio do século XIX: desconfortável (cadeiras estreitas de madeira corrida) e visibilidade reduzida (tudo de pé para ver o que se passava no outro lado do campo, cuja baliza estava tapada por um pilar). De resto, ambiente fantástico e jogo intenso que terminou empatado (1-1) com o golo do empate a ser marcado pelo Beto, já nos descontos. Sem dúvida, foi uma experiência única e, quiçá, irrepetível.
Tínhamos ainda a missão (falhada) de tentar conseguir que o Beto autografasse uma camisola da União Recreativa e Desportiva de Tires, onde ele foi colega dum amigo do Pedro. Quando entrámos no estádio, o Beto estava perto de nós mas foi logo para o outro lado e não mais voltou … plano por água abaixo.
Depois do jogo, caminhámos até ao alojamento com uma paragem no KFC para jantar. Apanhámos uma chuvinha muito ligeira mas chegámos sem problemas ao destino final num dia em que demos mais de 30.000 passos.
dia 3 (27/10), Anfield Road
Começámos o dia com um pequeno almoço no Baltic Triangle. Este bairro, em forma de triângulo, entre a catedral e as docas, era uma antiga zona industrial revitalizada no início do século XXI. Atualmente, é um bairro moderno e dinâmico, onde abundam galerias e espaços criativos, clubes e bares com música ao vivo, espaços de coworking, hubs tecnológicos e múltiplos restaurantes. As parede exteriores têm imensos murais, um com as asas do liver bird, símbolo da cidade de Liverpool.
Tomámos o pequeno almoço no 92 Degrees Coffee, um espaço enorme onde também se realiza workshops e outros eventos, e seguimos de Uber para o estádio de Anfield Road, onde a Sara foi ter connosco para visitarmos o estádio e o museu do Liverpool Football Club.
A visita ao estádio foi uma desilusão. Apesar deste estádio ter uma história tão rica e fora do comum, o Liverpool F. C. concebeu a visita como uma extensão do museu, com grande parte do percurso feito por baixo das bancadas com exposições e demonstrações dos feitos do clube. A circulação nas bancadas foi mínima: uma espreitadela na bancada principal e uma secção mínima do Kop. Para completar o ramalhete, nem sequer foi uma visita guiada por um ser humano mas sim por um audio guia, perdendo-se completamente a transmissão da paixão e da emoção que é o coração desta indústria.
Não houve nenhuma referência ao facto de ter sido construído originalmente por adeptos do clube rival, nem a jogos relevantes aqui jogados (e foram muitos desde o final do século XIX), nem à evolução do estádio ao longo dos anos. Tampouco houve referência aos Shankly Gates, construídos em 1982 em homenagem póstuma a Bill Shankly, o grande obreiro da potência futebolística em este clube se tornou a partir dos anos 60 do século XX. Por cima deste portão, está escrito o lema atual do clube (You’ll Never Walk Alone) e umas chamas que evocam a tragédia de Hillsborough em que morreram quase 100 adeptos numa meia final da taça em 1989.
O museu propriamente dito é pequeno mas bastante completo, localizado por baixo da bancada mais mítica do estádio, o Kop, por trás da baliza sul.
Do interior da bancada principal, consegue-se ver o rio e a zona onde está a ser construído o novo estádio do Everton F. C., junto às docas. Aí, ouvimos o comentário amargurado dum dos funcionários do Liverpool F. C., sobre o facto do relvado do estádio de Anfield não ter o comprimento mínimo para poder receber finais da UEFA, ao contrário do novo estádio do Everton. Assim, provavelmente, a cidade de Liverpool irá receber uma final europeia que não será jogada em Anfield Road.
Apanhámos um Uber de volta para o centro da cidade e fomos almoçar no restaurante italiano Amalia (nota 4).
Depois do almoço, fomos dar um passeio rápido na zona da Royal Albert Dock e do Museu de Liverpool. No regresso, voltámos a passar perto das estátuas dos Beatles. Já lá tínhamos estado no dia anterior, com bastante sol, ao contrário deste dia em que o céu estava nublado. Talvez por haver menos contraste entre luz e sombra, conseguimos tirar uma foto melhor que a da véspera, com os fab four a caminharem para o rio em frente às “Three Graces”, nome dado ao conjunto de três edifícios relevantes para a história de Liverpool:
Liver Building: um dos primeiros edifícios do mundo a ser construído com betão armado, para ser a sede duma seguradora, que se destaca pelas duas torres com liver birds no topo, figuras mitológicas que são o símbolo de Liverpool.
Cunard Building: edifício que mistura os estilos renascentista e barroco, foi a sede da Cunard Line, uma importante companhia de navegação.
Port of Liverpool Building: destacando-se pela sua enorme cúpula central, foi a sede da Mersey Docks and Harbour Board, organização que administrava as docas de Liverpool.
Hora de irmos para o terminal rodoviário Liverpool One, onde o Pedro e o Francisco apanharam a camioneta para o aeroporto de Manchester. A Sara passou o resto dia em Liverpool antes de voltar para Sheffield no dia seguinte.