Índice
1. Resumo
4 dias incompletos em Atenas, contando com os da ida e da volta, de Helena, Francisco e Tomás (10 anos) em janeiro de 2025.
Conseguimos ver os principais pontos de interesse, sempre no exterior para agrado do Tomás que, noutras viagens, não apreciou grandes quantidade de museus e de igrejas. Ficámos num alojamento local perto do estádio olímpico Kallimármaro, o que nos permitiu andar sempre a pé, com a exceção da subida à colina Lykabettus, em que optámos por apanhar o funicular.
O tempo não estava muito diferente do de Lisboa, agradável q.b., alternando alturas de vento e frio com outras de sol e temperatura agradável. Acabámos por ter uma janela de passeio mais reduzida do que no verão, por termos aproveitado pouco as manhãs por causa do fuso horário (não nos apeteceu acordar à hora em que era madrugada em Portugal) e por termos decidido voltar para o alojamento pouco depois do pôr do sol, por ficar mais frio.
2. Enquadramento histórico
Atenas é uma cidade com história milenar, cujo período áureo aconteceu há 2.500 anos. Ao longo dos muitos séculos de existência, passou por diversas fases que se resumem de seguida:
Emergência - Atenas ganhou relevância cerca de 500 a.c. como ponto de convergência das rotas comerciais, pela proximidade do porto de Pireu. Em 480 a.c., a Grécia foi invadida e Atenas arrasada pelos persas. A resposta dos gregos foi liderada pela cidade de Atenas que, depois de se libertar dos persas, teve o seu auge.
Período clássico - na segunda metade do século V a.c., os pilares da civilização ocidental desenvolveram-se em Atenas: a democracia, o teatro, a literatura, a matemática, a ciência, a filosofia, etc. O Parthenon, um templo enorme dedicado a Athena, foi construído no topo duma das colinas da cidade.
Império helénico - no final do século IV a.c., Alexandre o Grande, líder dos macedónios, conquistou Atenas e disseminou a cultura grega, tornando Atenas na capital de facto dum vasto império de cultura e de língua gregas.
Ocupação romana - no século II a.c., Atenas foi ocupada pelos romanos que, tal como Alexandre o grande, também ficaram cativados pela sofisticação da cultura grega e a integraram no seu império de que Atenas foi capital regional. Com o patrocínio romano, a cidade viu aparecer alguns dos seus templos, teatros e fóruns mais imponentes.
Decadência - com o declínio do império romano do ocidente, Atenas perdeu importância, na sombra de Constantinopla, integrada no império bizantino em que prevaleceu a língua grega e se desenvolveu a igreja cristã ortodoxa.
Ocupação otomana - em 1453, Constantinopla foi conquistada pelos otomanos que controlaram Atenas e o que hoje é a Grécia durante quatro séculos. O Parthenon foi transformado numa mesquita e a cidade, com população maioritariamente cristã, continuou a perder relevância. Neste período, a população atingiu um mínimo de 2.000 habitantes.
Democracia constitucional - depois da guerra da independência (de 1821 a 1829), os gregos viram-se livres dos otomanos e estabeleceram uma democracia constitucional. Nos primeiros 5 anos, a cidade de Nafolio foi a capital do país mas, em 1834, passou a ser Atenas. Apesar de, na altura, ser uma cidade pequena, a escolha resultou do seu papel na Grécia antiga. No século XX, num período de aproximadamente 40 anos, a população de Atenas passou de de menos de meio milhão para cerca de 2 milhões de habitantes, em resultado de 2 grande fluxos migratórios. No primeiro, depois da guerra com a Turquia (de 1923 a 1930), houve troca de população entre os dois países, em que a grande maioria de refugiados gregos, cerca de um milhão, se estabeleceu em Atenas. No segundo, depois da guerra civil (de 1946 a 1949), muitos gregos viram-se forçados a migrar das zonas rurais para Atenas em busca de segurança e de melhores condições de vida, tornando Atenas a maior metrópole da Grécia.
Ditadura militar e reposição da democracia - entre 1967 e 1974 o país viveu sob uma ditadura militar, regime autoritário com recurso à censura, perseguição de opositores e restrição de liberdades individuais. Em 1974, a democracia foi restabelecida com a realização de um referendo que aboliu a monarquia e confirmou a Grécia como uma república parlamentar.
3. Custos
Da nossa experiência, os custos da nossa viagem a Atenas estão alinhados com os custos dos outros países na zona sul dos Balcãs, sendo os valores ponderados totais muito próximos: Albânia 43, Bósnia e Herzegovina 44, Montenegro 46 e Atenas 48. No entanto, ressalva-se o facto dos três primeiros refletirem os custos de viagens com aluguer de carro, ao contrário de Atenas, cujos custos com transportes foram muito reduzidos.
Os custos com alimentação ficaram em 23€ por pessoa por dia (50% das refeições em restaurante), ao nível do que gastámos na Croácia, na Eslovénia e na Estónia e consideravelmente mais caro do que na Albânia (14€), na Jordânia (15€) e na Bósnia e Herzegovina (16€).
As atividades tiveram um custo de 6€ por pessoa por dia, que corresponde à faixa de custos mais reduzidos nesta componente, ao nível dos países do Báltico e de alguns dos Balcãs, como Montenegro, Eslovénia ou Albânia).
O alojamento (em localização central que possibilitou deslocações a pé) ficou em 49€ por dia, alinhado com a Estónia, numa faixa intermédia de custos nesta componente, comparativamente com os países visitados até agora.
Em deslocações no local, gastámos 8€ por dia, valor inflacionado pela viagem de funicular na subida à colina Lycabettus, mas perfeitamente alinhado com todas as viagens em que não alugámos carro.
4. Diário
dia 1 (16/1), Kallimármaro
Acordámos antes das 4 da manhã, uma vez que o voo estava agendado para as 6:00. Aterrámos em Atenas depois das 12h locais e dirigimo-nos para a estação do metro, cuja linha M3 passa no centro de Atenas.
Quando dissemos a idade do Tomás à senhora da bilheteira, ela abanou a cabeça e gesticulou bastante enquanto dizia “seven”. Percebemos que estaria a dizer que teria de ter 7 anos para ter desconto ou para não pagar bilhete, o que deverá estar correto, mas ela entregou-nos 2 bilhetes e continuou a dizer “seven” enquanto sorria e apontava para o Tomás. Na dúvida se estaríamos efetivamente a compreender o que ela nos dizia, seguimos para o metro e depois fez-se luz: só pagámos 2 bilhetes de adulto como se o Tomás tivesse 7 anos … bom acolhimento, felizmente não apareceu nenhum fiscal.
Saímos na paragem de Evangelismos, perto do apartamento que tínhamos reservado. Como só podíamos entrar às 15h, procurámos onde almoçar na zona. Almoçámos no restaurante Akra (nota 5 em 5). Este restaurante tem um conceito engraçado, com bancadas de trabalho em todo o perímetro do espaço, onde os empregados cortam pão, preparam as sobremesas, etc., e as mesas dos clientes no meio. Num dos cantos da sala fica a cozinha com uma bancada à volta também utilizada pelos clientes. A ementa, que é sempre diferente duma refeição para a seguinte, reflete preocupações ecológicas, percetível na descrição dos ingredientes. O serviço é muito atencioso, pareceu-nos ter muita procura entre os atenienses. Como não tínhamos feito reserva, ficámos na mesa ao pé da porta, mesmo na passagem da corrente de ar de cada vez que abriam a porta.
Não é um restaurante barato mas, tudo somado, foi uma bela experiência, estava tudo muito bom. Comemos pão com azeite para entrada, seguido de esparguete com um naco de cabra e queijo de cabra, chocos com espinafres e creme de ovas, e atum com pasta fresca e molho de tomate no forno. Quando o atum chegou, já estávamos cheios e a dose era enorme; comemos um bocado com esforço, até não conseguirmos mais, e o empregado perguntou se queríamos levar o resto, em quantidade mais do que suficiente para um jantar. No final, ainda ofereceram um caracol ao Tomás, muito saboroso.
Depois de nos instalarmos no apartamento e de descansarmos um pouco, que estávamos acordados há quase 12 horas e ainda íamos a meio da tarde, fomos visitar o estádio Panatenaico, conhecido por Kallimármaro que pode ser traduzido como “beleza em mármore”, o único estádio do mundo construído totalmente em mármore. Originalmente construído no século IV a.c. para os Jogos Panatenaicos, festival desportivo em honra de Athena, foi reconstruído por duas vezes: a primeira no século II d.c. pelo patrono romano Herodes Ático e, a segunda, no final do século XIX para os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna de 1896.
Chegámos à bilheteira pelas 16:45, 3 quartos de hora antes do fecho, o que nos valeu um desconto por faltar menos do que o tempo normal de visita (uma hora); pagámos 2 bilhetes de criança e um de adulto. Até prova em contrário, pareceram-nos muito pragmáticos e preocupados com as finanças dos turistas, estes gregos. O senhor na bilheteira perguntou de onde vínhamos: “Portugal? Benfica?”, “claro!”, “eu sou do Rio Ave”, “porquê?”, “porque foi comprado por um milionário grego, não tinham dinheiro mas daqui a 3 anos vão ser campeões”. Anotado.
O estádio é muito bonito e está bem enquadrado com as bancadas colocadas nas encostas duma ravina. Por baixo duma das bancadas, há um pequeno museu dedicado aos Jogos Olímpicos com os cartazes e as tochas olímpicas de todos os jogos da era moderna. Os 45 minutos acabaram por ser suficientes para percorrer o espaço todo.
Saídos do estádio, atravessámos os jardins em direção à praça Syntagma, a tempo de vermos o render da guarda que acontece em frente do monumento ao soldado desconhecido, guardado pelos militares Evzone. É um monumento simples, com um pequeno túmulo no chão encostado a uma parede onde está um relevo dum soldado morto ladeado pelos nomes de batalhas relevantes na história da Grécia posteriores à independência do império otomano.
Os Evzone são uma unidade de elite do exército grego cuja farda, inspirada nos guerreiros da antiguidade, inclui uma saia com quase 400 pregas (uma por cada ano de ocupação otomana), ceroulas brancas e umas socas com pompons. Apesar da aparência ridícula e disfuncional, aos olhos do estrangeiro (os nossos amigos gregos que nos perdoem), consta que são o orgulho da sua família. Fica a dúvida sobre se conseguiriam correr numa situação de emergência …
O render da guarda acontece a todas as horas, iniciando-se 5 minutos antes da hora certa. Durante a cerimónia, os militares marcham com passada lenta e alta até chegarem aos seus postos onde ficam imóveis até à cerimónia seguinte. Pelo que percebemos, tudo isto é acompanhado por outro militar com camuflado que parece verificar o par de militares que fica de guarda em cada turno, nomeadamente a sua postura, a posição da arma, o estado da roupa, das fitas, etc.
Já bastante cansados, passámos por um supermerca§do para comprar comida para os pequenos almoços e para o jantar.
dia 2 (17/1), Acrópole
O grande objetivo do dia era visitar a Acrópole. Depois duma noite bem dormida e de nos prepararmos sem pressas, saímos de casa pelas 11:30. Na caminhada de quase meia hora, passámos pelo Kallimármaro, pelo templo de Zeus e pelo arco de Adriano.
Do templo de Zeus Olímpico, que era maior que o Parthenon, só resta uma mão cheia de colunas (enormes) das 104 originais. Começou a ser construído no século VI a.c. E só foi terminado por ordem de Adriano no início do século II d.c. Depois do seu declínio, os materiais das ruínas foram reutilizados noutros locais, como era costume.
O arco de Adriano é um arco de triunfo romano mandado construir por Adriano para separar os bairros gregos já existentes do novo bairro projetado na sua altura e batizado em sua honra: Adrianópolis.
Antes de chegarmos à colina da Acrópole, passámos ainda pelo monumento de Lysicrates, único sobrevivente dos muitos que já estiveram nesta rua. No topo destas colunas, eram colocadas estátuas de troféus atribuídos às peças de teatro representadas no teatro de Dionísio, localizado a 200m deste monumento que assinala o prémio duma atuação coral de 334 a.c., uma espécie de Óscares do período clássico. Infelizmente, só parte da estátua sobreviveu e, mesmo assim, com bastantes danos.
Depois de comprarmos os bilhetes, no lado sul da Acrópole, iniciámos a subida até à entrada, perto do teatro de Dionísio, que é considerado o primeiro teatro do mundo. Com uma capacidade para 17.000 espectadores, bem maior do que a do anfiteatro que se segue na subida, atualmente apenas está preservada uma fração desta capacidade.
O odeão de Herodes Ático foi construído no século II d.c. pelo aristocrata que lhe deu o nome e o dedicou à sua mulher, o mesmo que reconstruiu o Kallimármaro. Construído no estilo romano, Tinha uma cobertura de madeira e uma capacidade para 5.000 espectadores. Foi recuperado em meados do século XX e, atualmente, é usado como local de espetáculos ao ar livre.
O planalto no topo da colina da Acrópole, a cerca de 150m acima do nível do mar e de 70m acima da base da cidade de Atenas, foi utilizado desde no neolítico como fortaleza natural. Quando, em 480 a.c. Atenas foi invadida pelos persas, já haviam sido construídos vários templos aqui que foram totalmente arrasados pelos invasores. Na segunda metade do século V a.c., depois de recuperada a cidade, Pericles iniciou um programa de reconstrução da Acrópole. Atualmente, sobrevivem as ruínas de 4 monumentos desta altura: o Parthenon, o Erectheion, o Propileu e o templo da vitória de Athena (Athena Nike). Os dois últimos envolvem a escadaria de acesso ao planalto no lado ocidental da colina.
O Propileu é a entrada monumental da Acrópole, ladeada por grandes colunas dóricas. O edifício tem uma planta em “U” que envolve a escadaria, em cujas pontas estão o templo da Vitória de Athena (Athena Nike), à direita de quem entra, e o monumento de Agripa, do lado esquerdo.
O pequeno templo de Athena Nike, com 4 colunas jónicas em cada topo, foi dedicado a Athena por ter assegurado a vitória numa batalha contra os persas em 479 a.c. O ar arranjado que o templo tem atualmente resulta duma reconstrução feita já no século XXI, depois doutra reconstrução da década de 30 do século XX, considerada desastrada, que reergueu o templo que havia sido destruído no período otomano.
O monumento de Agripa é um pedestal enorme, em cima do qual foram sendo postas várias estátuas ao longo dos anos, ao gosto de quem estava no poder. Quando Atenas foi conquistada pelos romanos, Marco António colocou aqui uma estátua sua e de Cleópatra, posteriormente substituída por outra do general Agripa, ator principal na batalha de Actium em que Marco António e Cleópatra foram derrotados.
Imponente, no ponto mais alto da Acrópole à direita de quem acaba de passar pelo Propileu, eis o Parthenon, ou melhor, o que resta dele: pouco mais do que o perímetro com 8 colunas nos topos e 17 nos lados, cada uma com quase 2m de diâmetro e mais de 10m de altura. Trata-se dum templo concebido em honra de Athena, a deusa padroeira que dá o nome à cidade. Atualmente, o edifício está a ser reconstruído, muito lentamente, uma vez que se trata dum puzzle super complexo. Na medida do possível, as peças originais estão a ser recuperadas e complementadas com outras feitas à medida, retiradas da mesma pedreira; cada peça é única. Este projeto está a ser financiado pela União Europeia desde os anos 80, o que significa que a reconstrução já vai no dobro do tempo em que o templo original foi construído. (Nos Estados Unidos, em Nashville, Tenesse, há uma réplica em tamanho real que demorou 11 anos a ser construída).
No lado norte da Acrópole, fica outro edifício, o templo de Erectheion, dedicado a Athena e a Poseidon, apesar do seu nome ter sido inspirado em Erecteu, o fundador de Atenas de acordo com a mitologia. O fator mais distintivo deste templo é a varanda das Cariátides, com seis estátuas femininas utilizadas como colunas que simbolizam a servidão das cariátides (mulheres de Cária, cidade perto de Esparta), resultante de terem apoiado a Pérsia. As estátuas atualmente na Acrópole são réplicas, estando quatro das originais no museu da Acrópole e as outras duas no museu Britânico em Londres.
O templo de Erectheion está no local onde, de acordo com a mitologia grega, aconteceu a competição entre Poseidon e Athena que decidiria o patrono da cidade: por decisão de Zeus, cada um dos dois deuses deveria oferecer um presente à cidade e os cidadão escolheriam o melhor. Poseidon fez um golpe na terra com o seu tridente e fez surgir uma fonte de água salgada; Athena plantou a primeira oliveira. Os cidadãos escolheram a oliveira porque fornecia madeira e alimento, enquanto a água salgada era imprópria para consumo. Assim, Athena ganhou a competição e a cidade passou a chamar-se Atenas em sua honra. Em frente à fachada norte, há uma marca no chão que terá sido deixada pelo tridente de Poseidon e, em frente à fachada poente, está uma oliveira, no mesmo sítio onde Athena teria plantado a oliveira original.
Na vista a nascente da Acrópole, destaca-se a colina Lycabettus no meio da mancha branca de prédios. Esta é a colina mais alta de Atenas que haveríamos de visitar dois dias mais tarde.
À saída, contornámos a colina da Acrópole pela encosta norte e parámos para almoçar no restaurante Klepsidra (nota 3). Esta foi uma das raras vezes em que a avaliação do Google está bastante desfasada da nossa opinião. Trata-se dum restaurante para turistas, com uma esplanada bem enquadrada na escadaria do arruamento mas com comida sofrível e um pouco cara. Comemos queijos e enchidos de entrada, seguidos de moussaka e carne giuvetsi (carne estufada em molho de tomate com massa orzo).
Depois do almoço, seguimos para norte, passando pelo Fórum romano e pela biblioteca de Adriano, até à praça Monastiraki.
A praça Monastiraki é, juntamente com a praça Syntagma, um dos centros urbanos de Atenas. Aqui há constante animação com vendedores ambulantes e muita oferta de restauração e comércio tradicional num raio de algumas dezenas de metros.
Num dos cantos da praça, fica a igreja da Virgem Maria de Pantanassa que foi construída no século XII integrada num mosteiro. Com o passar dos séculos, o mosteiro foi sendo demolido para abrir espaço à expansão urbana, restando apenas esta pequena igreja de que resulta o nome atual da praça: Monastiraki, ou seja, “pequeno mosteiro”. Fizemos uma visita rápida à igreja que achámos algo intimidatória: logo à entrada, havia uma barreira pela qual vimos alguns crentes a passar e um guiché com souvenirs e uns grandes sinais a proibir fotografias. A parte visível do interior, estava exageradamente carregada de ornamentos pendurados; quase todos dourados e com grande diversidade de tamanhos e formatos, a fazer lembrar uma loja de chinês.
No lado oposto da praça, fica a estação de metro de Monastiraki, a primeira no centro da cidade, que foi construída no final do século XIX. Durante a construção, foram descobertas ruínas dum aqueduto do período de Adriano (século II d.c.). Segundo consta, descendo as escadas rolantes da estação, é possível observar as escavações, algumas bastante recentes. Acabámos por não o fazer, uma vez que teríamos de pagar o bilhete do metro, o que nos pareceu não se justificar.
Apetecendo-nos fazer uma pausa, decidimos ir ao Little Kook (nota 5), de que tínhamos visto as melhores referências. Trata-se duma pastelaria que vende bolos, panquecas, waffles, etc. num ambiente de decoração natalícia cujo charme resulta de ser tão excessiva, tanto no exterior como no interior.
A panqueca e o waffle estavam e excelentes, é um ponto de visita obrigatória.
De barriga cheia, fomos caminhando em direção ao apartamento pela avenida Ermou que liga a Praça Monastiraki à praça Syntagma. A meio caminho, fica a igreja Kapnikaréa, pequena igreja ortodoxa do período medieval com implantação quadrada e uma cúpula no meio com uma cruz no topo. Construída com uma mistura de tijolo e de pedras retiradas de ruínas doutras construções, típico das igrejas bizantinas desta época, esta igreja sobreviveu às demolições feitas para a expansão da cidade em meados do século XIX. O resultado é um pouco estranho, uma vez que está rodeada por edifícios modernos, comerciais e de escritórios. A igreja estava um pouco sobrelotada com crentes e turistas, pelo que entrámos e saímos rapidamente.
Mais à frente, virámos para a direita em direção à catedral, um espaço grande mas sem charme, onde está sedeado o arcebispo de Atenas que é o líder da igreja ortodoxa Grega. Na praça em frente à catedral, está a estátua do arcebispo Damaskinos erigida pela comunidade judaica em reconhecimento do seu papel na defesa dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao lado da catedral, está uma pequena igreja (Agios Eleftherios) que foi a sede do arcebispado no período otomano, durante o qual o Parthenon foi usado como mesquita. Esta igreja tem um ar bem cuidado e está muito bem enquadrada no jardim e no muro que a envolvem. Não a visitámos porque estava fechada.
Seguimos para o bairro Plaka, onde percorremos grande parte da rua Adrianou, do mais turístico que vimos em Atenas, ao fundo da qual fica o arco de Adriano que já tínhamos visto de manhã, mas desta vez iluminado.
Antes de chegarmos ao apartamento, voltámos a passar pelo estádio Kallimármaro que fica muito bonito com a iluminação noturna.
Jantámos o atum que tinha sobrado do almoço do dia anterior e fomos descansar depois dum dia preenchido.
dia 3 (18/1), Ágora
O parlamento, no topo da Praça Syntagma, funciona no edifício que o rei Otto mandou construir para ser o palácio real quando, em 1834, tornou Atenas na capital da Grécia. Em 1843, houve manifestações nesta praça a exigir a instituição duma democracia constitucional, que veio a ser decretada pelo rei Otto, razão pela qual a praça passou a chamar-se “Syntagma”, a palavra grega para “constituição”.
O estilo neoclássico desta zona de Atenas, resultado direto da ação do rei Otto, é bem visível na avenida Ermou que liga o centro da cidade moderna (a praça Syntagma) ao centro da cidade antiga (praça Monastiraki). Voltámos a percorrer esta avenida onde, em grande parte, só podem circular peões, com destino à Ágora que fica logo depois da praça Monastiraki.
A Ágora (literalmente “ponto de encontro”) era o centro social, económico e cultural da cidade. Era aqui que as pessoas se juntavam para fazerem negócios, definir leis, debater assuntos do interesse geral, assistir a espetáculos, etc.
Atualmente, este espaço enorme está cheio de ruínas de estruturas outrora imponentes, quase todas irreconhecíveis. No entanto, há algumas exceções, como a igreja dos Santos Apóstolos (igreja bizantina com “apenas” 1.000 anos), a galeria de Attalos e o templo de Hefesto.
Do lado esquerdo de quem entra na Ágora, destaca-se a reconstrução da galeria de Attalos, que nos tempos áureos funcionava como mercado. A parte coberta tem mais de 100m de comprimento, com mais de 40 colunas em cada um dos dois níveis: dóricas no de baixo e jónicas no de cima, mistura comum no século II a.c.
A zona das lojas funciona atualmente como um pequeno museu que expõe artefactos arqueológicos encontrados na Ágora. Entre vasos cerâmicos, moedas e esculturas, chamou-nos a atenção um fragmento dum objeto usado para eleger os detentores de cargos públicos e os júris dos tribunais: o kleroterion. Esta eleição era feita por sorteio para evitar a influência das elites; os nomes dos cidadão eram colocados em ranhuras organizadas em linhas e colunas que eram selecionadas com um esquema de bolas brancas e pretas. Ao lado, estava exposto um ostrakan, um vaso em que eram colocados os nomes dos cidadãos ostracizados (que ficavam de fora do sorteio) por serem considerados corruptos ou incapazes de exercer a função. No exterior do museu, está exposta uma réplica de um kleroterion.
Saindo da galeria de Attalos, seguimos para poente, ao longo duma rua que atravessa um conjunto relevante de ruínas: dum lado, uma galeria mais comprida do que a de Atallos e, do outro, o Odeão de Agrippa; mais à frente, o Tholos (edifício redondo que era a sede do conselho que governava a cidade). No entanto, o edifício que se destaca é o templo de Hefesto que, além de ser um dos templos da antiguidade grega mais bem preservados, nos aparece no topo duma colina com um belo enquadramento.
Hefesto é o Deus grego do fogo e da metalurgia. De acordo com a mitologia, Athena rejeitou a sedução de Hefesto, o que resultou numa tentativa de violação. Durante a briga, Hefesto espalhou sémen pelo chão que engravidou Gaia, a deusa da terra, de que nasceu Erecteu, o lendário fundador de Atenas.
Descendo do templo de Hefesto em direção à saída, encontramos uma estátua de Adriano, o imperador romano que era grande admirador da cultura grega. Nesta estátua, Adriano está vestido com a farda militar romana, sobre a qual está um relevo de Athena por cima de uma fêmea de lobo que amamenta Rómulo e Remo. Esta imagem traduz a visão de Adriano: a preservação da cultura grega suportada e promovida por Roma.
Antes de sairmos, ainda fomos até à igreja dos Santos Apóstolos, na zona mais perto da Acrópole. Trata-se duma pequena igreja bizantina com cerca de 1000 anos. Na década de 1930, os gregos decidiram recuperar o legado histórico da Ágora que, desde o século XVIII, se tinha tornado num bairro residencial. Nessa altura, demoliram todos os edifícios, menos esta igreja, e iniciaram as escavações que ainda continuam nos dias de hoje. A igreja estava fechada, pelo que demos por terminada a nossa visita à Ágora de Atenas.
Almoçámos no O Thanasis (nota 4), numa das ruas que sai da praça Monastiraki. Comemos kebab, souflaki de porco e souflaki de frango que estavam bastante razoáveis. A experiência com a cerveja Mythos é que foi muito má, não tinha gás e foi servida com uma pedra de gelo enorme.
Depois do almoço, voltámos a contornar a colina da Acrópole, desta vez pela encosta norte com uma paragem na colina de Marte (Areópago). A colina de Marte é uma protuberância rochosa a noroeste da Acrópole, no topo da qual o apóstolo Paulo pregou aos atenienses, dizendo-lhes que os seus Deuses não eram o “Deus que fez o mundo e tudo o que nele há” (Atos 17:24)
Subimos à colina, onde o Tomás se entreteve a usar umas pedras lisas como escorrega enquanto nós apreciávamos as vistas, em particular a vista para a entrada da Acrópole.
Daqui dirigimo-nos para a colina Philopappos, à procura de mais uma bela vista da Acrópole antes do pôr do sol.
No caminho, passámos por umas grutas que estão indicadas como tendo servido de prisão para Sócrates, embora haja sérias dúvidas sobre a veracidade deste facto.
De volta à base da colina da Acrópole, seguimos no sentido direto e atravessámos o bairro de Anafiotika, a “pequena Anafi”, corresponde à zona onde se instalaram migrantes vindos da ilha Grega Anafi. Com as suas ruas estreitas, na encosta Nordeste da Acrópole, dá a sensação de ser um um espaço isolado da metrópole, sendo atualmente procurado por atenienses abastados para aí construírem a sua casa. Pelo caminho, vimos algumas pinturas em muros e fachadas que merecem uma apreciação mais atenta.
Já de noite, pensámos em ir jantar num dos muitos terraços com vista para a Acrópole, na zona de Monastiraki. A pesquisa no google indicou-nos o Couleur Locale; chegámos a ir lá acima (a vista é realmente impactante) mas tinha uma música muito alta e um ambiente duvidoso, o que nos fez desistir.
Em alternativa, fomos para casa com paragem no supermercado para comprar algo para jantar, antecedida doutra paragem no “Yum … me” (nota 4), na avenida Ermou, para mais uma boa dose de crepes e waffles. O que é preciso fazer para não ir ao supermercado com fome …
dia 4 (19/1), Lycabettus
O plano para este dia, em que tínhamos o voo de regresso pelas 20h, era subir à colina Lycabettus. Saímos de casa pelas 12:00 com as mochilas às costas e fomos caminhando até lá, onde chegámos passados pouco menos de 30 minutos. Estava um dia de sol, pelo que nem considerámos a possibilidade de subir a pé, coisa para mais de meia hora. Assim, apanhámos o funicular que nos levou até ao topo em poucos minutos. Ficámos com a impressão que este funicular não tem capacidade para dar conta do recado em época alta mas, como o espaço no topo também é reduzido, deverá estar dimensionado para controlar devidamente o fluxo de turistas. Quem não quiser esperar, que caminhe colina acima, o que no verão deverá fazer qualquer um pensar duas vezes.
Lycabettus é a colina mais alta de Atenas. No seu topo, a pouco mais de 300m acima do mar (quase o dobro a Acrópole), fica a pequena capela de São Jorge.
Como em todas as igrejas visitadas em Atenas, não era permitido tirar fotos no interior. No entanto, uma casal de turistas perguntou ao senhor que guardava o espaço se poderia tirar uma foto, ao que ele acedeu indicando que só poderia ser uma. Vendo isto, pedimos autorização para também tirar uma foto, tendo recebido resposta positiva.
Segundo a tradição ortodoxa, as igrejas não têm cadeiras, pelo que os crentes ficam de pé em sinal de respeito. As senhoras do lado esquerdo e os homens do lado direito, à mesma distância do altar, simbolizando a igualdade perante Deus. O iconóstase também segue a tradição ortodoxa, com imagens de Jesus Cristo e de São João Batista do lado direito e de Maria com Jesus ao colo do lado esquerdo. Frequentemente, do lado esquerdo, também está uma imagem do santo a que a igreja é dedicada mas, neste caso, não há imagem de São Jorge.
A vista da colina é brutal, é como ver uma maquete de Atenas em 360°. Foi um dos pontos altos desta viagem, apesar de termos estado lá às 13:00, que corresponde à pior iluminação dos pontos de maior interesse. Numa futura ida a Atenas, tentaremos ir lá acima de manhã (com o sol a banhar a Acrópole) ou de noite (com a Acrópole destacada com a iluminação).
Tínhamos selecionado dois restaurantes para almoçarmos mas um estava fechado e o outro estava cheio, pelo que acabámos por repetir a ida ao Akra. O nosso amigo de há 3 dias ainda esteve uns bons minutos a ver onde conseguia encaixar-nos e lá nos pôs na esplanada, junto a um aquecedor a gás. O dia não estava muito frio e estava-se bem lá fora. Repetimos o esparguete com carne de cabra e queijo de cabra (que estava marcado a mais 5€ do que na 5a feira anterior) e galo grelhado com molho de vinho e tomate, pasta e queijo de Limnos. Desta vez, não cometemos o erro de pedir 3 pratos, de modo que demos conta do recado e ainda experimentámos uma sobremesa de chocolate com gelado. Tudo muito bom, como seria de esperar.
Depois do almoço, fomos até à zona da praça Syntagma à procura dum supermercado para comprarmos mantimentos para a viagem e passámos pelo palácio presidencial, em frente ao qual um grupo de guardas Evzone estava a fazer exercícios. Chamou-nos a atenção, o facto de estarem vestidos de branco, ao contrário dos que tínhamos visto a guardar o monumento ao soldado desconhecido que estavam vestidos de preto.
Desta vez apanhámos o autocarro X95 para o aeroporto cuja viagem demora mais 20 minutos e custa metade do que a deslocação de metro.
5. Curiosidades
A palavra grega para laranja (portokali) tem origem no nome do nosso país, por ter sido introduzida na Europa pelos portugueses. Quando vimos um pacote de sumo de laranja no supermercado com a palavra “portokali”, veio à cabeça a ideia parva de ser sumo de laranjas do Algarve; descobrimos rapidamente que havia uma enorme variedade de sumos de “laranjas do Algarve” … por acaso, o sumo que comprámos era feito com 100% de laranjas da Lacónia que, provavelmente, são tão famosas como as do Algarve;
O tempo em que os semáforos estão verdes para os peões é ridiculamente reduzido, a ponto de quase nunca conseguirmos atravessar antes do sinal mudar para vermelho. Para dificultar mais a situação, as motas ficam paradas em cima das passadeiras durante esse período, enquanto esperam pelo sinal verde para si, o que obriga os peões a atravessar em slalom;
Os prédios de Atenas têm uma altura bastante uniforme, sendo raríssimo ver um prédio sem varandas e sem terraço no topo. Uma vez que predominam as cores claras, as vistas de qualquer ponto alto oferece uma mancha esbranquiçada a perder de vista;
O queijo está omnipresente nos supermercados, que têm secções enormes com inúmeras variedades, sendo também muito utilizado na confecção de refeições e de entradas ou de petiscos. Não tínhamos a ideia da Grécia ter uma grande cultura de queijo, a investigar no futuro;
Os nomes das ruas estão escritos com os dois alfabetos, latino e grego.