Índice:
1. Resumo
Viagem de 2 dias (excluindo os dias de ida e de volta) no final de setembro de 2021: Helena, Francisco e Tomás (7 anos).
Alugámos um apartamento via AirBnb no centro da cidade (perto do mercado central), o que nos permitiu deslocar sempre a pé.
Exceto um desvio pela ponte Margarida, devido ao fecho para obras da ponte das correntes, permanecemos dentro dum quadrado de aproximadamente 2,5km de lado, limitado entre o mercado central e o parlamento e abrangendo os centros de Buda e de Pest nas margens direita e esquerda do Danúbio, respetivamente.
As condições atmosféricas estavam excelentes, excetuando algumas horas de chuva forte numa das manhãs, andámos de t-shirt durante o dia e de camisola depois de anoitecer.
Estão disponíveis muitas bancas de informação turística espalhados pela cidade.
Há também muitas esplanadas para um copo, um snack ou uma refeição completa. No geral, gostámos da gastronomia local, apesar de terem ficado alguns pratos típicos por experimentar.
Gostaríamos de ter tido mais 3 ou 4 dias para ver e experimentar mais coisas mas deu para ficar com uma ideia da cidade e da sua riqueza histórica e patrimonial. A atividade que elegemos como top é a visita à igreja Matthias, singular pela vivacidade transmitida pelas pinturas e respetiva paleta de cores (no chão, nas paredes e no teto), e o bastião dos pescadores situado na zona envolvente da igreja com belas vistas sobre Pest do outro lado do rio.
2. Custos
Os custos de alimentação e com atividades estão num patamar equivalente aos praticados em Lisboa.
Levantámos 35.000 Florints (HUF) no aeroporto para pagar a deslocação até Budapeste, valor que se revelou excessivo para esse fim, tendo em conta os custos de utilização da única caixa ATM que descobrimos. Bastaria ter levantado 10.000 HUF para pagar o táxi (optámos por apanhar táxi de e para o aeroporto de Budapeste, entre 20€ e 25€ por viagem).
Em Budapeste, encontra-se caixas ATM com custos mais em conta, embora estejam muito menos disseminadas do que em Lisboa. Pagámos sempre com cartão bancário, exceto em compras pequenas (por exemplo, uma garrafa de água) e no labirinto (único sítio em que não aceitaram pagamento com cartão).
ida e volta (por pessoa): 116,88€
alojamento (por dia): 49,37€
atividades (por dia por pessoa): 16,08€
restaurantes (por refeição por pessoa): 13,40€
3. Diário
Nos 2 dias completos mais uma tarde e uma manhã em Budapeste, realizámos quase todas as atividades que tínhamos planeado, exceto o passeio de barco no Danúbio (por falta de tempo) e as visitas ao parlamento [P] e à sinagoga da rua Dohány [U] (por não permitirem visitas nos dias em lá fomos porque estavam a decorrer outras atividades.
O programa foi intenso de modo a aproveitarmos o pouco tempo disponível e não houve possibilidade de realizar nenhuma das atividades que tínhamos de reserva: a casa de Houdini e o Hospital on the Rock (museu sobre o impacto que a 2ª guerra mundial, a revolução de 1956 e a guerra fria tiveram em Budapeste).
Também não houve oportunidade de passear devidamente na zona dos ruin bars, em que apenas conseguimos uma passagem fugaz no último dia.
A ponte das correntes [C] estava fechada para obras, pelo que não só não pudemos atravessá-la como tivemos de fazer um desvio pela ponte Margarida [Q] para passarmos de Pest para Buda vindos do parlamento.
A cidade tem imensas igrejas, monumentos e estátuas. Tem ainda muitas praças e esplanadas, bem como belas vistas perto do rio, pelo que caminhar é uma atividade interessante tanto em Buda como em Pest.
dia 1 (25/9), Pest à beira do Danúbio
O avião aterrou à hora prevista (11:50). A primeira tarefa foi procurar uma caixa ATM para levantamento de Florints para pagamento do transporte até Budapeste. Para melhor aproveitamento do tempo, e porque tínhamos indicação de ter um custo razoável (perto de 20€ para aproximadamente 20km), decidimos apanhar um táxi.
Chegados ao apartamento, localizado na zona do mercado central [A](Nagy Vásárcsarnok, perto da ponte da Liberdade [B]) saímos para almoçar. Fomos diretos ao primeiro piso do mercado [A], em que há vários restaurantes com refeições completas ou snacks, para levar ou comer no local. Eram quase 14h, claramente hora de ponta, havendo grandes filas para os snacks.
Almoçámos no restaurante Fakanal [1], onde experimentámos os primeiros pratos locais: gulyásleves (sopa gulash), porkholt com nokedli (carne de porco com massa feita de farinha e ovo), kolbasz (salsicha) com batatas assadas e frango com legumes assados; para sobremesa, experimentámos os rétes (folhados parecidos com o strudel da Alemanha). Os pratos mereceram a nossa aprovação, apesar do nokedli não ser consensual. No entanto, os rétes ficaram muito abaixo da nossa expectativa; mereceria uma segunda oportunidade noutro local mas não voltámos a vê-los à venda. Entre as 12 e as 15h, este restaurante tem música ao vivo (duo de piano e violino) que resultou num ambiente agradável. Nota 4 (de 1 a 5).
Depois de passarmos pelo supermercado para comprar comida para os pequenos almoços, fomos passear ao longo do rio. A ideia era irmos até ao parlamento [P] (a aproximadamente 2,5km) mas, claramente, subestimámos o impacto de ter acordado à 5h ...
Assim, fomos calmamente da ponte da Liberdade [B] até quase à ponte das Correntes [C], onde parámos numa esplanada (Corso [2]) para uma bebida e um pouco de descanso. O sol estava quase a pôr- se, o que nos deu a oportunidade de apreciar a paisagem com vista para Buda do outro lado do Danúbio, em particular o monte Gellért e a colina do castelo. Até aí, o passeio não tinha sido muito interessante, uma vez que naquela zona dá-se claramente prioridade aos acessos aos barcos relativamente aos passeios a pé. Além disso, naquele local e àquela hora, havia muitos mosquitos.
Neste trajeto, tentámos perceber onde se apanharia os barcos de cruzeiro no rio mas sem grande sucesso. Pareceu-nos que alguns barcos funcionam como suporte a outras atividades (restaurante, hotel, discoteca); outros tinham preços e horários de saída afixados sem mais informação (trajeto, duração) e sem bilheteiras à vista. Mais tarde vimos muitos pontos de informação espalhados pela cidade mas já tínhamos decidido que daríamos primazia a outras atividades.
Estando a anoitecer, caminhámos mais um pouco até ao Monumento dos Sapatos [D], impressionante pela simplicidade e pela força da mensagem. Trata-se dum conjunto de sapatos em bronze à beira do rio, que representa os sapatos que os judeus eram obrigados a descalçar antes de serem executados e atirados ao rio. Passámos uns momentos difíceis a explicar isto ao Tomás ...
Virámos em direção a casa à procura de onde comer. Decidimos por uma refeição mais leve, pelo que parámos na esplanada do Anna Café [3] para uma salada e umas sandes com queijo de cabra, pesto, etc. que adorámos. Vimos na ementa que tinham alguns dos doces típicos da Hungria mas decidimos deixar para outra oportunidade. Nota 4.
Chegámos a casa pouco depois das 21, prontos para dormir.
dia 2 (26/9), Buda
Dormimos até não apetecer mais, sem despertador. Depois do pequeno almoço saímos de casa para o primeiro dos dois dias inteiros em Budapeste, com o objetivo de passá-lo em Buda.
Atravessámos o rio pela ponte da Liberdade [B], entrando em Buda a sul do monte Gellért, assim designado em honra de São Gerardo (Gellért em húngaro), bispo do reinado do primeiro rei da Hungria (Estevão, também ele santo) que iniciou a conversão da Hungria ao cristianismo.
O primeiro ponto de paragem planeado para o monte Gellért era a igreja nas grutas [E] (Gellérthegyi Barlang) mas, como era domingo, estava fechada aos turistas por causa dos serviços religiosos. Ficou para o dia seguinte. À entrada da igreja está uma das muitas estátuas de Santo Estêvão.
Começámos então a subir o monte, por sinal bastante inclinado, em direção a norte. Pouco depois do início da subida parámos uns bons minutos num parque infantil [F] (Tomás oblige), de grande estilo, cujos escorregas aproveitavam a inclinação da colina.
De seguida, continuámos a subir até à estátua da Liberdade [G] passando por vários miradouros com vista para o rio e para Pest. A estátua da Liberdade [G] está incluída num memorial às vítimas da 2ª guerra mundial, situado no topo da colina, à entrada da cidadela, fortaleza que se encontrava encerrada temporariamente.
Seguimos pelos trilhos ao longo do rio até ao monumento de Szent Gellért (São Gerardo) [H] que, tal como a estátua da Liberdade [G], também tinha um estaleiro à sua volta. Descendo em direção à ponte Isabel [I] (presumivelmente em honra à rainha Santa Isabel), apercebemos-nos que o monumento inclui uma queda de água enquadrada na encosta da colina, com a estátua de São Gerardo no topo.
Continuámos para norte em direção ao castelo de Buda [J]. Ja com pouca lucidez devida à fome, decidimos parar para almoçar na primeira esplanada com aspeto apetecível e preços razoáveis, no Café Toscana [4]. Rapidamente, embora demasiadamente tarde, descobrimos que mesmo ao lado há um restaurante de comida húngara (Marvelosa Kavezo) ... Em vez disso, tivemos uma refeição que não deixou saudades: lasanha, canelonis e uma sandes com focaccia (a única que mereceu aprovação); nem as sobremesas nos valeram. Nota 2.
Altura de subir a colina até ao antigo palácio real de Buda, também conhecido por castelo de Buda, onde fica o Museu da História de Budapeste [J] que foi a paragem seguinte. Para chegar ao museu era necessário percorrer os pátios do castelo onde estava a decorrer uma feira de vinho (Budapest Borfesztivál). Assim, fomos acompanhados por um segurança (tanto à entrada como à saída) que se assegurou que não frequentávamos a feira sem ter pago o bilhete 😂.
No Museu da História de Budapeste [J], além das ruínas do palácio medieval, está disponível a exposição Light and Shadow que apresenta a história de Budapeste desde a sua formação até ao início dos anos 90. O nome da exposição reflete a alternância de altos e baixos que a cidade sofreu ao longo dos séculos, fruto da sua localização numa zona de pressão de todos os lados, incluindo várias fases de reconstrução quase total.
Saindo do castelo pelo lado norte, encontra-se muitas outras atrações relevantes de Buda. A primeira que visitámos foi o labirinto (Labirintus) [K], conjunto de grutas que foram sendo unidas ao longo do tempo por túneis, que foram usadas como adega, prisão e abrigo. Vlad Tepes, o empalador (conhecido por Drácula) foi capturado pelo rei Matthias e mantido na prisão do labirinto durante um ano, supostamente pelo seu passado de alianças com os otomanos. Esta atração tem pouco para ver e para contar mas a visita vale pela singularidade deste espaço subterrâneo e pelo emaranhado de túneis.
Já estava a anoitecer quando saímos do labirinto [K], pelo que demos uma volta na zona onde voltaríamos no dia seguinte. Aqui destacam-se a Igreja Matthias [L] e o Bastião dos Pescadores [M] entre os quais está mais uma imponente estátua do rei Santo Estevão. Mais à frente, está a igreja de Maria Madalena [N], que foi reconstruída depois da guerra com os otomanos e voltou a sofrer grandes danos na segunda guerra mundial. Hoje em dia apenas resta a torre sineira, enxertada numa construção mais moderna que lhe dá um ar estranho e misterioso.
Hora de procurar restaurante para jantar no caminho para casa. Voltamos a passar pelo restaurante ao lado daquele em que tínhamos almoçado mas estava fechado, pelo que seguimos para Pest pela ponte Isabel [I].
Jantámos no Fatal Garden [5], terceira refeição seguida numa esplanada, voltando desta vez à cozinha húngara: Csirkepaprikás (frango com paprika acompanhado de nokedli), Töltött káposzta (carne enrolada em couve lombarda) e bajor disznótoros (enchidos com puré de batata). Estava tudo muito bom, em particular os enchidos que voltaram a surpreender pela positiva. Para sobremesa, dividimos uma gundel palacsinta (crepe com recheio de frutos secos) que também estava bom. Nota 4.
Chegámos a casa pelas 22h e fomos dormir com a notícia de empate técnico entre PS e PSD nas autárquicas em Lisboa.
dia 3 (27/9), Buda
Dia de brunch e quando acordámos chovia bastante. Tínhamos selecionado 2 locais (Cirkusz Café e Lions's Locker) mas ficavam a aproximadamente 1,5km; apesar disso decidimos avançar mesmo com a chuva. A meio do caminho abrigámo-nos numa portada que, por coincidência, dava acesso a um pátio interior pertencente a um café (Fekete [6]) que também servia brunches. Gostámos do ambiente e, já bastante molhados, decidimos ficar por ali.
Do que nos apercebemos, o brunch em Budapeste funciona muito à base de ovos, sendo mais difícil encontrar locais que sirvam panquecas. O Fekete já não serve panquecas (apesar de ainda aparecerem nas fotos do Google) mas ficámos bastante satisfeitos com a experiência: cereais com iogurte e fruta, tosta com queijo fresco, presunto e rúcula, folhado com banana e frutos silvestre e um caracol com chocolate (pedido especial do Tomás). Nota 4. (passámos em frente à porta no dia seguinte e repetimos o caracol que merece nota 5).
Quando saímos do Fekete, a chuva já tinha parado e o bom tempo voltou, tendo-se mantido assim até ao regresso a Lisboa.
Seguimos em direção ao parlamento [P], passando pela Praça da Liberdade [O] em cujo lado sul está um memorial às vítimas da ocupação alemã durante a segunda guerra mundial que tem sido fonte de contestação da comunidade judaica: o memorial contém uma estátua do arcanjo Gabriel (símbolo nacional da Hungria) a ser atacado por uma águia que representa a Alemanha nazi. A polémica resulta da alegada mensagem de inocência húngara perante os malignos alemães num contexto de colaboração dos dois países durante a segunda guerra mundial, havendo manifestações regulares no local em que são depositados objetos e fotos de vítimas do holocausto (vale a pena espreitar no Google maps).
Logo de seguida, chegamos ao parlamento [P], situado num palácio enorme e imponente muito bem conservado no exterior. Por azar, o parlamento estava fechado aos turistas porque estava a haver sessão; esteve aberto nos dias anteriores e estaria também nos dias seguintes mas os políticos decidiram trabalhar logo naquele dia 🙂.
Pretendendo voltar a Buda, e não sendo possível passar na ponte da correntes [C], demos a volta maior pela ponte Margarida [Q] (também ela Santa, sobrinha de Santa Isabel e filha mais nova do rei Bela IV que a prometeu a Deus se a Hungria se libertasse das invasões mongóis). A ponte Margarida [Q] dá acesso à Ilha Margarida, que não visitámos, e tem belas vistas para o parlamento, duma perspetiva diferente das fotos mais turísticas.
Voltámos a subir a colina, desta vez pelo lado norte, e fomos visitar a igreja Matthias [L]. Claramente, não foi um bom dia para deixar os óculos em casa, necessários para apreciar as pinturas no interior da igreja que formam um conjunto incrível de harmonia e vivacidade. Se só der para fazer uma coisa em Budapeste, é esta.
Tendo em vista experimentarmos os banhos num spa de Budapeste, decidimos tomar uma refeição ligeira no Bastião dos Pescadores [M]. Esta é uma Praça com 7 torreões unidos por uma espécie de muralha, que representam as 7 tribos magiares que fundaram a Hungria no século IX. Estando no topo da colina, tem umas vistas magníficas para o Danúbio e para Pest, em particular para o parlamento [P]. Comemos em mais uma esplanada dentro da muralha (Panorama [7]) que nos permitiu comer com vista para Pest. Comemos hambúrgueres que estavam razoáveis: nota 4, mais pelo espaço do que pela comida.
O ponto de paragem seguinte no nosso plano era o Rudas [R], complexo de spa com banhos turcos que merece uma sala no museu da História de Budapeste. Estes banhos foram construídos no final do século XVI, tendo sobrevivido a cercos e outras peripécias. Têm o fator distintivo e raro na arquitetura otomana de ter colunas a rodear a piscina octogonal de águas quentes. Infelizmente, esta zona dos banhos não é utilizável simultaneamente por homens e por mulheres, que só a podem usar em dias alternados. As outras piscinas têm acesso interdito a crianças, pelo que tivemos de ativar o plano B: o spa Gellért [S] localizado no outro extremo do monte Gellért e integrado no complexo do hotel de luxo Danubius Gellért.
Os preços do spa Gellért eram um pouco mais elevados que os do Rudas e o espaço aparenta ser menos interessante mas aquela hora e meia soube muito bem. Podíamos usar uma piscina com água quente e outra grande com água mais fria mas passámos o tempo todo na primeira, uma vez que era necessário usar touca na segunda que nenhum de nós tinha. Além destas e doutras piscinas destinadas a tratamento, o complexo dispõe ainda de piscinas exteriores cujo acesso nos passou despercebido ... mesmo que tivéssemos dado com ele, teríamos ficado na piscina de água quente.
Note-se que íamos preparados para ir a um spa, com fato de banho e chinelos, mas só nos apercebemos no local da obrigatoriedade de usar touca nalgumas zonas. É possível adquirir toucas nos spas mas isso deve deve ser tratado à entrada.
Saímos do spa a tempo de ir à igreja nas grutas [E], que fechava às 19:30. A bilheteira já estava fechada, pelo que não conseguimos fazer a visita guiada (consta que a história do local é bastante interessante). Apesar disso, conseguimos percorrer os cantos da igreja e apreciámos a maneira como o seu interior foi integrado nas grutas. Visita rápida mas positiva.
Regressámos a Pest pela ponte da Liberdade [B] e procurámos um restaurante perto de casa. Acabámos por escolher o Fecske Presszó [8], espaço agradável em que pudemos experimentar mais alguns pratos típicos da Hungria: repetimos a gulyásleves (sopa gulash) e adicionámos a barackleves (sopa de pêssego), experimentámos o lecsó (parecido com o ratatouille, servido com ovo) e, a pensar no Tomás, pedimos fusili com atum e tomate. A sopa de pêssego, servida fria, foi uma agradável surpresa; o resto estava bom, embora uns furos abaixo dos outros locais em que comemos pratos húngaros. Para sobremesa comemos csokis szuflé (literalmente, suflé de chocolate) que também estava bom. Nota 4, considerando a relação preço-qualidade (foi a refeição mais barata da viagem: 9470 HUF, menos de 30€).
dia 4 (28/9), Pest
Para o dia de regresso, em que tínhamos de ir para o aeroporto pelas 16h, planeámos visitar a basílica de Santo Estevão [T] e a sinagoga da rua Dohány [U], respetivamente a maior igreja da Hungria e a segunda maior sinagoga do mundo.
Depois duma tentativa falhada para utilizar um cacifo (basicamente, perdemos 1500 HUF), seguimos com o trolley para as atividades do dia, apreciando várias esculturas espalhadas pelo caminho na zona da Universidade e na Praça Isabel (onde também está uma roda gigante).
A basílica [T] é uma igreja enorme, duma opulência excessiva (muita talha dourada, mármore de muitas cores, etc.) que, também por isso, merece ser visitada. Numa das naves laterais está exposta a mão mumificada do rei Santo Estevão, a maior relíquia da Hungria que tem sido conservada e protegida pelo povo húngaro ao longo dos séculos. No entanto, o que mais apreciámos foi a subida à torre em que se pode observar o interior da cúpula e apreciar as vistas a 360º sobre Budapeste. Calhou bem termos deixado esta atividade para o último dia, uma vez que nos permitiu identificar vários pontos já conhecidos dos dias anteriores e outros, como a Puskás Aréna, localizada a uns 3 km a nascente.
A entrada na Basílica depende de donativo obrigatório, com o valor recomendado de 200 HUF. Pode-se adquirir bilhete para visitar o museu e subir à cúpula, podendo a subida e a descida ser feita por elevador ou por escadas.
Depois da basílica, seguimos em direção ao bairro judeu à procura de onde almoçar. Na nossa lista de gastronomia local, havia dois doces que ainda não tínhamos visto (dobos tarte e somlói galuska) e que queríamos experimentar. Assim, decidimos despachar o almoço nuns hambúrgueres e ir provar uns doces a uma confeitaria. Escolhemos o restaurante Zing Burguer [9] pela proximidade da confeitaria a que decidimos ir, Desszert Neked [10].
O hambúrguer estava muito fraco, nota 2. Fica a curiosidade de aceitarem pagamento em bitcoins.
A confeitaria Desszert Neked [10] cria doçaria própria com uma apresentação cuidada. Assim, no meio de tanta coisa, só havia 2 doces típicos da Hungria: dobos tarte (bolo em camadas com cobertura de caramelo) e rákócsi túrós (requeijão com limão com topping de doce de alperce e suspiros). Pedimos estes dois e, para completar o ramalhete, um erdei gyümölcsös saittorta (cheesecake de framboesa). Este estava excecional, a dobos tarte estava boa mas tinha um creme de chocolate entre o bolo e a cobertura claramente desnecessário e o doce de limão, apesar de bom, estava uns furos abaixo dos outros dois. Tudo acompanhado dum café, valeu bem a pena. Nota 5.
Ainda havia tempo para ir à sinagoga [U] mas descobrimos que estava tudo fechado porque havia um evento da comunidade judaica durante setembro em vários locais. Naquele dia, calhava naquele complexo que, além da sinagoga, inclui o museu judeu e um memorial às vítimas do holocausto. Deu para espreitar o memorial e o pátio do museu, usado como gueto em que morreram milhares de judeus, que agora é um cemitério cheio de túmulos e placas com os nomes de quem conseguiu ser identificado camuflados pelas árvores e pela vegetação.
4. Gastronomia
Da nossa experiência, a gastronomia húngara é dominada por carne e por paprica: por um lado, não vimos nenhum prato de peixe; por outro, há imensos pratos (bem) condimentados com paprica. Também ficámos com a sensação que os ovos são bastante utilizados por estas zonas.
Outro elemento muito presente é um acompanhamento chamado nokedli, que é uma massa feita de mistura de farinha e ovo que é colocada em água a ferver em bolinhas, dando-lhe um aspeto "desarrumado" no prato, bem característico nas fotos de pratos húngaros. A opinião sobre quão bom é este acompanhamento não foi unânime.
Os enchidos também nos despertaram a atenção, provámos uns 3 tipos diferentes e todos muito bons.
sopas
Além da sopa gulash (gulyash), o prato mais conhecido da Hungria que provámos 2 vezes com elevado nível de aprovação, identificámos mais 2 tipos de sopa:
sopa de fruta - na pesquisa prévia vimos comentários sobre sopa de cereja (meggyleves) mas experimentámos a sopa de pêssego (barackleves). Este tipo de sopa é servida à temperatura ambiente e é uma agradável surpresa;
halászlé, sopa de peixe de água doce (dizem que pescado no Danúbio) com paprika - não demos por ela nas ementas, eventualmente será sazonal ...
carne
Comemos os pratos seguintes, por ordem decrescente da nossa avaliação:
Enchidos - tanto na versão mais elaborada (prato com vários tipos de enchidos, bajor disznótoro), como na versão simples (salsicha com batata frita), encheu-nos as medidas
töltött káposzta, carne enrolada em couve lombarda - provámos acompanhado dum enchido que melhorou bastante o prato mas, mesmo sem enchido, parece-nos um bom prato;
paprika's csirke, frango assado (?) com paprica - o tempero é bom mas não nos pareceu o prato mais interessante;
pörkölt, porco estufado - prato relativamente banal.
Vimos várias vezes gulash com o mesmo tempero da sopa mas sem o caldo, pelo que nos pareceu menos apetecível.
vegetariano
Só experimentámos o lecsó, espécie de ratatouille com ovo, de que gostámos.
sobremesas
Comemos os seguintes doces típicos, por ordem decrescente da nossa preferência:
dobos tarte - bolo de camadas com cobertura de caramelo. Muito bom;
Palacsinta - crepe que comemos com recheio de frutos secos. Os crepes (palacsinta) são muito utilizados tanto para doces como para pratos salgados;
rétes - folhado recheado (do género da apfelstrüdel). Não comemos no melhor sítio mas pareceu-nos ter grande potencial;
rákócsi túrós - requeijão com limão e topping de compota. Estava bom mas não foi o nosso preferido
De todos os doces que provámos, o que nos soube melhor foi o gyümölcsös saittorta (cheesecake de framboesa) mas não está na lista por não ser típico da Hungria, mérito da confeitaria onde o comemos.
bebidas
Não procurámos bebidas típicas de Hungria mas deixamos algumas notas sobre a nossa experiência neste âmbito:
As garrafas de água são bastante caras, a rondar os 1.000 HUF (quase 3€) por 0,5l. Convém especificar se quisermos água sem gás, caso contrário, servem-nos água com gás.
Pedimos cerveja uma meia dúzia de vezes e nunca calhou uma igual. Eram todas do tipo lager e todas boas. Se o pedido não for mais específico, servem-nos 0,5l.
Também pedimos sumo de laranja natural em vários sítios, dando a sensação que é uma bebida bastante disponível.
outros
Merecem ainda menção o túró rúdi e o lángos.
O primeiro é um chocolate húngaro que, tanto quanto lemos, só se vende da Hungria para desespero dos emigrantes húngaros, que comprámos no supermercado. Vale a pena experimentar mas não nos pareceu merecer tanto entusiasmo. Recomenda-se que se coma frio.
O segundo é uma massa achatada (chamam-lhe a pizza húngara) que se come com vários topping, tipicamente com queijo, creme de nata e molho de alho. Vimos à venda no mercado e em bancas de street food na zona dos ruin bars mas não experimentámos.
5. Curiosidades
Só vimos um artista de rua mas foi top. Além do domínio em termos musicais, reparámos no ar desligado (como se não fosse nada) e na montagem dos copos sobre o cavalete sem que nenhum saísse do sítio apesar da energia das pancadas. O banquinho improvisado e o boné (naquele momento o sol já estava por trás da colina do castelo) completam um belo cenário.
A libertação de Budapeste do controlo nazi pelas tropas russas em 1945 é bastante celebrada, sendo a palavra "liberdade" usada como nome de vários monumentos, ponte, praça, etc.
Segundo lemos, os húngaros frequentam o spa com função social, como nós frequentamos o café. A cidade de Budapeste tem inúmeros spas, aproveitando as várias nascentes de água quente que brotam sobretudo na zona de Buda.
A cidade tem muitos castanheiros que, na altura da viagem, estavam carregados de castanhas bem gradas, encontrando-se muitas caídas no chão.
O uso da máscara não era obrigatório em nenhum dos lugares frequentados, sendo raríssimo ver alguém a utilizá-la ... temos a ideia que só a vimos a ser usada pelo taxista que nos levou do aeroporto para Budapeste.
A toponímia local usa frequentemente apenas o nome das pessoas; por exemplo Isabel foi imperatriz da Áustria, rainha da Hungria e canonizada mas nenhum dos títulos é usado para a designação da praça ou da ponte a que dá nome. Apenas vimos a designação "Szent" (santo) nos nomes de igrejas.
Da nossa experiência, na restauração o atendimento é simpático mas nas atividades (museus, igrejas, etc.) tende a ser brusco e distante. Contraste interessante ...
Perto da sinagoga, passámos em frente ao Champs Sport Pub [11] que tem na ementa (exposta na entrada) um único prato dedicado a um futebolista: frango à Ronaldo. Merecida homenagem, ao jogador que marcou 4 golos em 2 jogos no Puskás Aréna no Euro 2020 (incluindo 2 à Hungria) e mais 2 golos à Hungria na fase final do Euro 2016, Messi nunca conseguirá tais feitos em nenhum campeonato da Europa.