Índice
1. Resumo
Viagem de 4 semanas em julho de 2022. Viajantes: Helena, Francisco e Tomás (8 anos) a tempo inteiro; Pedro (apenas as 2 semanas na Bósnia e Herzegovina e em Montenegro).
Para as deslocações entre os diversos locais visitados, optámos por um misto de camioneta, avião e carro alugado, itinerário no Google Maps neste link.
As linhas azuis assinalam as deslocações de automóvel, as vermelhas de camioneta e a verde de avião.
Esta viagem foi dividida em 3 fases:
3 dias inteiros em Dubrovnik e deslocação para Sarajevo (de camioneta);
2 semanas na Bósnia e Herzegovina e em Montenegro, com deslocações em carro alugado;
9 dias no norte da Croácia (Zagreb e Ístria) e na Eslovénia (Liubliana). Deslocações de avião de Sarajevo para Zagreb, de camioneta de Zagreb para Liubliana e de Liubliana para Veneza (onde apanhámos o avião para Lisboa), e de carro alugado para o Lago Bled e para a península da Ístria.
A fase de que gostámos mais foi a segunda pela riqueza natural, cultural e histórica. A nossa experiência favorita foi o passeio de barco no lago Skadar, com direito a mergulhos no meio do lago, mas havia vários candidatos a atração top.
Esta zona, com epicentro na Bósnia e Herzegovina, foi ponto de convergência dos impérios romano, otomano e austro-húngaro, tendo sofrido também forte influência da República de Veneza e da União Soviética. No caso do império romano, ficava na fronteira entre os impérios do ocidente e do oriente, de que resulta a atual diversidade religiosa (cristã católica, cristã ortodoxa e islâmica, esta por via dos otomanos que dominariam a região mais tarde) e de alfabetos (latino e cirílico). Note-se que também foi para aqui que migraram muitos judeus sefarditas, depois de saírem da península Ibérica.
Tanto pela costa do Adriático, como pelos inúmeros lagos, estávamos sempre preparados para um mergulho, algo que só não esteve disponível nos dias passados nas capitais (Sarajevo, Zagreb e Liubliana).
Resumindo, muito para ver, fazer e aprender. Nos links seguintes, encontra-se mais informação sobre os países visitados: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Eslovénia e Montenegro (em elaboração).
No que respeita ao alojamento, procurámos no Airbnb e no Booking (este com mais opções de menor custo que o outro nestas zonas), o mais perto do centro que fosse possível, decisão que se revelou acertada.
2. Custos
As várias zonas visitadas têm níveis de preços bastante díspares, com Dubrovnik no extremo mais elevado e a Bósnia e Herzegovina no outro extremo (na ordem do dobro e de metade dos preços de Lisboa, respetivamente). Pelo meio, as zonas podem ser escalonadas da mais cara para a mais barata da forma seguinte: Ístria (Croácia), Liubliana (Eslovénia), Zagreb (Croácia) e Montenegro.
Existe também grande diversidade na moeda utilizada em cada país; a Eslovénia e Montenegro usam o Euro (apesar de Montenegro não pertencer à União Europeia), a Croácia usa a Kuna (HRK) e a Bósnia e Herzegovina usa o Marco bósnio (BAM). Na Bósnia e Herzegovina aceitam Euros com muita facilidade, com um câmbio de 2 BAM por €. O mesmo aconteceu algumas vezes na Croácia (embora com menos facilidade) com um câmbio de 7,3 HRK por €. Segundo nos disseram, a utilização de Euros é ilegal mas é aceite pontualmente, uma vez que este país vai aderir ao Euro a partir de janeiro de 2023.
Na generalidade, os pagamentos com cartão (incluindo contactless na maior parte dos casos) estão disponíveis, embora em Montenegro e, sobretudo, na Bósnia haja bastantes estabelecimentos que só aceitam pagamentos em numerário. Os caixas automáticos abundam nas povoações grandes e médias, pelo que não sentimos nenhuma dificuldade para levantar dinheiro.
Na Bósnia e Herzegovina e em Montenegro, comprámos cartões SIM para acesso a dados móveis por aproximadamente 10€ para uma semana (sem limite de utilização). Na Croácia e na Eslovénia, usámos os cartões portugueses que funcionam sem custos adicionais nos países da União Europeia.
Os valores médios indicados de seguida refletem a nossa experiência, tendo sido convertidos para Euros e incluem as comissões bancárias e o imposto de selo, sempre que foram aplicados.
Para cada uma das diferentes zonas, apresenta-se 3 valores com a ordem seguinte: alojamento por dia, atividades por dia por pessoa e restaurante por refeição por pessoa:
Dubrovnik: 70€ (alojamento), 32€ (atividades), 14€ (restaurantes);
Ístria: 70€ (alojamento), 8€ (atividades), 11€ (restaurantes);
Liubliana: 60€ (alojamento), 7€ (atividades), 11€ (restaurantes);
Zagreb: 45€ (alojamento), 3€ (atividades), 13€ (restaurantes);
Montenegro: 40€ (alojamento), 5€ (atividades), 11€ (restaurantes);
Bósnia e Herzegovina: 30€ (alojamento), 14€ (atividades), 8€ (restaurantes);
Relativamente aos custos de restaurante, note-se que resultam de comportamentos distintos da nossa parte, de acordo com o nível de preços de cada local:
Em Dubrovnik, na Ístria e em Liubliana, houve preocupação em escolher restaurantes mais baratos e nunca comemos sobremesa;
Em Zagreb, os restaurantes foram escolhidos com menos atenção ao preço mas sem comer sobremesa;
Na Bósnia e Herzegovina e em Montenegro, escolhemos os restaurantes e os pratos sem grande preocupação com o preço e pedimos sobremesa bastantes vezes.
O custo relativamente elevado das atividades na Bósnia e Herzegovina resulta da grande quantidade de sítios visitados, apesar do custo reduzido da generalidade das atividades. Por outro lado, em Zagreb, estes custos foram bastante reduzidos porque a quase todos os locais estavam encerrados ao público por ainda haver danos do terramoto de março de 2020 por recuperar.
Os custos de deslocação são divididos em duas categorias: ida e volta de e para Lisboa, e deslocações entre locais:
ida e volta por pessoa: 230€ (inclui os voos, a bagagem, e a deslocação de e para os aeroportos);
deslocações entre locais por pessoa por dia: 16€ (aluguer dos carros, gasolina, portagens, estacionamento, voo, camioneta, táxi, etc.).
Em termos globais, para os 4 viajantes, o alojamento, as deslocações entre locais e os restaurantes representaram 67% dos custos (em parcelas aproximadamente iguais). A ida e volta de Lisboa e de Londres (no caso do Pedro) representou 14%, sendo o resto dividido pelas atividades, snacks e supermercado (por ordem decrescente).
A proporção elevada das deslocações entre locais resulta, sobretudo, do voo de Sarajevo para Zagreb e do aluguer de carro (e custos associados de gasolina, estacionamento, etc.). Com outro tipo de planeamento, privilegiando as deslocações em camioneta, seria possível reduzir esta componente de custo para 1/3 do valor, sacrificando a ida ao parque nacional de Durmitor (Žabljak, Montenegro) e o tempo útil em alguns dos outros locais.
3. Diário
Viajámos a partir de Lisboa (Helena, Francisco e Tomás) e de Londres (Pedro). Depois de uns dias em Dubrovnik, encontrámo-nos com o Pedro em Sarajevo que nos acompanhou nas duas semanas seguintes, passadas na Bósnia e Herzegovina e em Montenegro. O Pedro regressou a Londres a partir de Sarajevo e nós seguimos para Zagreb para os últimos dias passados no norte da Croácia e na Eslovénia. No regresso a Lisboa, apanhámos o avião em Veneza, onde passámos uma noite.
dia 1 (2/7), Lisboa - Dubrovnik
Voámos de Lisboa para Dubrovnik, com escala em Zagreb, onde chegámos pelas 15:30h. Apanhámos a camioneta para a cidade velha (Airport Shuttle, 260 HRK para os 3), onde iniciámos a caminhada da porta Ploča (entrada oriental da cidade muralhada) até ao local do alojamento.
Carregados com as mochilas e com uma temperatura bem acima dos 30 graus, aprendemos à nossa custa que a zona exterior às muralhas fica na encosta duma colina: os 950m entre a porta Pile (entrada ocidental da cidade velha) e a rua sugestivamente chamada Šumetska têm uma inclinação média de 10% e aproximadamente 400 degraus … vale que as vistas eram boas.
Cansados da caminhada e de termos acordado às 4h, decidimos jantar por perto, no restaurante Food & Bar Italiana (nota 4 em 5), onde experimentámos a primeira especialidade dos balcãs: ćevapi (feitos com carne de vaca e de borrego picada, em formato de croquete), neste caso servidos com batata frita e ajvar (massa de pimentão).
dia 2 (3/7), Dubrovnik
Iniciámos o dia com uma visita guiada gratuita da GuruWalk, em que o guia nos fez um enquadramento histórico e cultural de Dubrovnik e nos deu uma orientação sobre os pontos de interesse mais relevantes.
(Nesta viagem, fizemos pela primeira vez este género de visitas, em que os participantes contribuem no final com o valor que consideram ajustado. A GuruWalk tem uma app que agrega as várias marcações e permite comunicar com o guia. Gostámos muito, pelo que voltaremos a fazê-lo mais vezes.)
Iniciámos a visita guiada fora da cidade velha perto da porta Pile (entrada ocidental) e terminámos depois de sair pela porta Ploče (no lado oriental). O trajeto percorreu a rua principal (Stradun), que interliga as duas portas referidas, com algumas incursões pelas transversais, até à praça principal (Luža) onde está a torre do relógio, a igreja de São Brás (padroeiro de Dubrovnik), a coluna de Orlando e a fonte pequena de Onofre (a fonte grande está no outro extremo da Stradun).
Estas fontes e o aqueduto que traz água do rio Dubrovacka até elas foram projetadas por Onofre, arquiteto napolitano, para abastecimento da cidade. Apesar dos danos sofridos por terramotos e pela guerra da Jugoslávia, todo o sistema está operacional, com fontes espalhadas por toda a cidade que abastecem as garrafas de água dos muitos turistas e locais que a elas recorrem.
No seguimento da Praça Luža, encontra-se a catedral, destruída pelo terramoto de 1667 e reconstruída de forma fiel à original, conforme a sua réplica construída pela República de Dubrovnik em Goa (onde a República de Dubrovnik chegou antes de Portugal).
Na cidade de Dubrovnik há dezenas de estátuas de São Brás, facilmente identificáveis por segurarem uma réplica da cidade numa das suas mãos.
Terminada a visita guiada, fomos comprar o Dubrovnik Pass antes de passarmos às atividades seguintes. O Dubrovnik Pass dá acesso, ou descontos, a um conjunto de atividades na cidade como o acesso às muralhas, entrada em museus, palácios e outros edifícios, bilhetes de autocarro, viagem de barco para a ilha Lokrum, etc. O passe diário custa 250HRK, o mesmo que comprar apenas o bilhete de acesso às muralhas, e o passe para 3 dias (opção que escolhemos) custa mais 50HRK. Está disponível apenas para adultos, uma vez que as crianças não pagam, exceto no barco para a ilha de Lokrum e no acesso às muralhas (100HRK). É bastante caro, como tudo em Dubrovnik, mas não faria sentido passar ao lado destas atrações.
Fomos então apanhar o barco para a pequena ilha de Lokrum, situada a 500m da costa. Levámos farnel, que complementámos com um gelado e um café (bem caros!). No resto do tempo, demos uns mergulhos num lago de água salgada no interior da ilha, passeámos um pouco e fomos ver umas exposições no convento beneditino.
A construção do convento beneditino fez parte do acordo de cedência da ilha a esta ordem religiosa no século XI pelo município de Dubrovnik. As exposições focavam a história e o dia a dia dos monges, as cruzadas na Terra Santa e as filmagens da série Game of Thrones tanto em Dubrovnik como em Split. A jóia da coroa desta exposição é uma réplica do trono, em que os turistas se podem sentar para uma foto.
De volta a Dubrovnik, percorremos a Stradun no sentido contrário, de leste para oeste, observando com mais atenção os pontos indicados na visita da manhã, antes de voltarmos a enfrentar as 4 centenas de degraus até ao alojamento.
Pela proximidade, preço razoável e por nos ter agradado na véspera, voltámos a jantar no mesmo restaurante e houve quem repetisse o ćevapi, sem arrependimentos.
dia 3 (4/7), Dubrovnik
Dia de visitar Kings Landing, a capital dos 7 reinos da saga “A Song of Ice and Fire”, popularizada na série Game of Thrones (GoT), cujas cenas de Kings Landing foram filmadas em Dubrovnik.
Para tal, participámos em mais uma visita guiada gratuita da GuruWalk. Durante quase 2 horas, visitámos e ouvimos histórias sobre as filmagens em vários pontos da cidade, cujo ponto alto foi a história da mudança da filmagem da cena da “walk of shame”. Inicialmente prevista para a rua que liga a catedral à Stradun, a presença duma mulher nua no exterior da catedral não foi autorizada, pelo que a equipa de produção da série optou pelas escadas de acesso à igreja de Santo Inácio, tão conhecidas dos fãs de GoT, inspirada nas escadas da Praça de Espanha em Roma.
Acabada a visita guiada, fomos dar um mergulho à praia Banje, localizada a poucas centenas de metros da porta Ploče, a leste da cidade muralhada. A praia estava apinhada mas lá conseguimos pôr as nossas coisas num cantinho e experimentar pela primeira vez o que o Tomás batizou como “temperatura adriática”.
Nesta zona da Europa, as praias de areia são uma exceção, variando normalmente entre uma espécie de gravilha e uns seixos mais ou menos graúdos. De qualquer modo, sentimos falta dos sapatos que usámos em São Miguel no ano anterior.
Almoçámos burek de carne (folhado típico dos Balcãs) e pizza comprados no caminho de regresso às cidade velha (nota 3), complementados com um gelado no Gianni, tão bom quanto caro (nota 5).
Depois do almoço estava muito calor, pelo que decidimos visitar alguns pontos de interesse em edifícios um pouco mais frescos do que a rua. Assim, fomos vagarosamente até ao palácio do reitor e seguimos, ao mesmo ritmo até mosteiro franciscano, onde está uma das farmácias mais antigas do mundo ainda em funcionamento.
A reconstrução do palácio do reitor foi entregue a Onofre, também responsável pelos projetos da Stradun, do aqueduto e das fontes. Na República de Dubrovnik, o palácio era a casa e o local de trabalho do reitor, durante o mandato de 1 mês para que era eleito. Hoje é um museu e palco de concertos devido à acústica excecional do seu átrio. No primeiro andar há uma inscrição bastante sugestiva sobre uma porta: “Obliti Privatorv Pvblica cvrate”.
Pelas 17 horas subimos às muralhas perto do mosteiro franciscano e percorremos o seu perímetro, de aproximadamente 2 km, em cerca de 2 horas. O céu estava encoberto mas, mesmo assim, a temperatura estava bastante elevada, pelo que o trajeto foi um misto de prazer e de sacrifício.
Esta é uma das atividades obrigatórias em Dubrovnik, que permite uma boa perceção de toda a cidade velha e áreas circundantes, tirando partido do facto do centro da cidade velha estar numa zona mais baixa que as ruas mais próximas das muralhas.
Olhando para os telhados, é possível distinguir as zonas alvo de bombardeamento no final de 1991 pelas tropas jugoslavas (da Sérvia e de Montenegro), detetáveis pela mistura de telhas muito díspares.
Cansados de tanto caminhar, optámos por jantar perto da porta Pile, no restaurante Fast Food Forteca (nota 3) onde comemos umas saladas (os adultos), e um hambúrguer (o Tomás). Pela primeira vez nesta viagem, o empregado de mesa não falava nem compreendia inglês. Aconteceu mais algumas vezes durante esta viagem mas surpreendeu-nos que isso fosse possível num local com o turismo tão desenvolvido como Dubrovnik.
dia 4 (5/7), Dubrovnik
Acordámos mais tarde e saímos pelas 12h, depois de tomar o pequeno almoço e de preparar farnel.
O primeiro ponto de paragem foi o forte Lovrjenac. Segundo percebemos, este local é visitado quase em exclusivo por fãs da série GoT. Este local teve um papel importante na defesa de investidas a oeste de Dubrovnik. Com formato triangular, as paredes sul e poente têm paredes com 4m de espessura. A parede nascente (virada para Dubrovnik) tem apenas 30cm, permitindo uma entrada mais facilitada no caso do forte ser conquistado por forças hostis, o que nunca aconteceu.
Além do pátio interior, onde foram filmadas várias cenas da personagem Cersei, a visita ao forte vale pela bela vista sobre a cidade velha (a nascente) e por dar acesso à praia Šulić (a poente).
A praia Šulić consiste numa pequena enseada com seixos e acesso a uma água azul turquesa que proporciona uns mergulhos inesquecíveis.
Depois dos mergulhos, seguimos mais para poente para um piquenique no parque Gradac. Comemos com vista para o mar, num ambiente bastante tranquilo, e aproveitámos para descansar um pouco.
Pelas 16h, regressámos à cidade velha procurando as ruelas do lado sul em direção à igreja de Santo Inácio, fundador da Companhia de Jesus. Trata-se de uma igreja imponente, no topo duma bela escadaria visitada na véspera na visita guiada do GoT.
Voltámos a atravessar a cidade, saindo pela porta norte (porta Buže) onde fica o teleférico que permite subir ao monte Srđ que envolve a cidade velha: quase 400m de altitude a menos de 1km das muralhas. A vista é magnífica, só por isso vale a pena a experiência.
O topo do monte Srđ tem tido, desde sempre, uma importância estratégica na defesa de Dubrovnik. Por essa razão, no início do século XIX, as tropas napoleónicas decidiram construir um forte nesse local, designado por Forte Imperial. Este forte desempenhou um papel fundamental na guerra da Jugoslávia, tendo sido cenário duma feroz batalha entre croatas e sérvios/montenegrino, em que o forte se manteve sob controlo croata. Ainda hoje são visíveis as marcas dos bombardeamento.
Atualmente, no Forte Imperial está o museu da guerra da Jugoslávia (1991-1995) em que, além de cobrir os aspetos gerais desta guerra, dá um enfoque especial ao sucedido na zona de Dubrovnik.
Depois da visita ao museu, já com o sol baixo, descemos pelo trilho, apreciando as belas vistas sobre Dubrovnik e a ilha de Lokrum. A descida foi surpreendentemente difícil, muito inclinada e com muitas pedras e pedrinhas no chão que obrigavam a seguir num ritmo lento. Demorámos quase uma hora a fazer estes 2,5km.
O trilho termina perto da nossa casa, pelo que decidimos jantar por ali. Acabámos por voltar ao restaurante italiano dos dias anteriores e por comer ćevapi mais uma vez, acompanhado do delicioso ajvar que não voltaríamos a comer mais durante esta viagem.
dia 5 (6/7), Dubrovnik - Sarajevo
Dia de deslocação de 6 horas de camioneta até Sarajevo, onde nos iríamos encontrar com o Pedro.
Antes de sairmos da casa, carregados e já com uma temperatura elevada, preparámos farnel para a viagem: fruta, sandes e uns bureks que comprámos na padaria Galeta (perto do restaurante italiano).
Apanhámos o autocarro nº 10 para o terminal rodoviário (localizado 3 km a poente da cidade velha), usando parte dos bilhetes que estavam incluídos no Dubrovnik Pass e tratámos de ir almoçar. Comemos no Bistro 49 (nota 4), em frente ao terminal, onde escolhemos pratos de caril que estavam interessantes. Experimentou-se uma cerveja do tipo ale, fabricada na Croácia, que também estava boa; não voltámos a vê-la em mais lado nenhum.
Como a partida da camioneta estava prevista para as 16h, aguardámos nas arcadas duma casa aparentemente abandonada, também em frente ao terminal, que depois nos pareceu funcionar como alojamento local. Havia uns banquinhos para nos sentarmos e/ou deitarmos e passava uma brisa muito agradável.
A camioneta partiu com uma hora de atraso, tempo recuperado quase na totalidade em prejuízo da “paragem técnica” prevista em Mostar que não chegou a acontecer. Ao contrário do definido nas condições dos bilhetes, cobraram-nos 10HRK por volume que seguiu no porão. Esta camioneta era operada pela Globotur, parceiro da Flixbus (onde comprámos os bilhetes), e o Sr. foi suficientemente agressivo para nos fazer pagar sem mais conversa. Nas restantes viagens compradas na Flixbus nunca nos aconteceu nada semelhante.
A parte inicial desta viagem foi muito agradável, ao longo da costa do Adrático, com vista frequente para múltiplas ilhas e penínsulas. Na zona de Ston, virámos para o interior e, ainda antes de anoitecer, percebemos a razão desta zona ser designada por “balcãs”, cujo nome tem origem na palavra turca para montanha, elemento omnipresente nos dias seguintes passados na Bósnia e Herzegovina e em Montenegro.
Chegámos a Sarajevo depois das 22h e fomos ter com o Pedro que já estava no Airbnb onde passámos a noite.
dia 6 (7/7), Sarajevo - Mostar
O plano para o dia era um pouco pesado: recolher a viatura que tínhamos alugado para os 10 dias seguintes, visitar o bunker do General Tito (a caminho de Mostar) e fazer uma visita guiada em Mostar, agendada para as 18h.
Depois de preparar o farnel, saímos para comprar um cartão SIM (aproximadamente 20€ para 2 semanas) e depois fomos para o ponto de recolha da viatura. Lá chegados, percebemos que a agência de aluguer está sediada no aeroporto e que já tinham estado no centro da cidade, no local indicado e à hora combinada. Resultado, uma boa espera até eles voltarem e saída de Sarajevo pelas 13h, bastante mais tarde do que o previsto. Consequências de optar por soluções lowcost; haveria mais, como viemos a descobrir nos dias seguintes.
Parámos à entrada do complexo onde fica o bunker do General Tito para comer, já sem tempo para o visitar e chegar a Mostar a tempo da visita guiada. à entrada do complexo, estava um anúncio com o horário de funcionamento, de onde ficámos a saber que tínhamos por lá passado num dos dias em que está fechado (5a feira); as visitas funcionam nas 2as, 4as e 6as às 10:00, 12:00 e 14:00, e nos sábados às 10:00 e às 12:00.
Chegámos a Mostar pouco antes das 17:00, instalámo-nos a 10 minutos a pé da ponte velha e seguimos para o centro da cidade, bem a tempo da visita guiada (mais uma da GuruWalk).
Começámos a visita percorrendo os pontos principais do centro histórico como a ponte Kriva Cuprija (ponte torta, um dos poucos locais da cidade onde a guerra teve pouco impacto), o bazar (Kujundžiluk), a ponte velha (Stari Most, que dá o nome à cidade; most, tal como cuprija, significa “ponte”), a rua dos artesãos do cobre (muito típico em Mostar e em Sarajevo, quiçá noutros locais da Bósnia e Herzegovina, embora atualmente o cobre seja importado e já não extraído localmente) ou a mesquita Koski Mehmed Pasha.
A visita começou com algum atraso, pelo que chegámos à ponte velha em cima das 18:30, hora em que houve um salto do alto da ponte velha para o rio Neretva, a que só os participantes na visita guiada que seguiam à frente conseguiram assistir. Estes eventos, atração turística para quem assiste, está aberto a quem queira ter a experiência de saltar de uma altura de máxima de 24m (dependente do nível da água) para umas águas geladas … não é para qualquer um. Quem se quiser candidatar tem de passar por uma avaliação exigente antes de ser autorizado a tal experiência, embora, frequentemente, haja quem tente fazê-lo quando lhe apetece, nalguns casos com resultado trágico. Consta que, tirando os locais, 80% dos candidatos ao salto são australianos; o facto é que no grupo da visita havia um australiano que disse já ter passado a avaliação, planeando saltar no dia seguinte!
Sheva, o nosso guia, é veterano da guerra da Jugoslávia em que decidiu participar voluntariamente aos 17 anos. Sobre este assunto, na segunda parte da visita, deu-nos um enquadramento histórico-político da guerra e relatou-nos experiências na primeira pessoa.
Por exemplo, a necessidade que a população teve de converter jardins em cemitérios, por não terem acesso aos cemitérios propriamente ditos, onde enterravam os mortos sem distinção de religião (o que nunca tinha acontecido até então) em funerais realizados à noite para menor exposição aos inimigos.
Outra história relatava o lançamento de granadas para o rio, de modo apanhar rapidamente os peixes mortos para os comerem (atividade também desenvolvida durante a noite). Ou ainda a utilização de toda a madeira disponível, incluindo a do chão dos apartamentos, para aquecimento e para cozinhar.
A visita terminou no bairro onde Sheva morava com os seus pais, perto do Bulevar, uma extensa avenida que atravessa Mostar na direção norte-sul dividindo a cidade em duas partes com dimensões aproximadamente iguais.
A frente de combate entre bósnios e croatas de Mostar localizava-se na Bulevar. Na primeira fase da guerra estes dois grupos combateram o inimigo comum (a Jugoslávia, constituída na altura apenas pela Sérvia e por Montenegro). No entanto, após a retirada das forças jugoslavas, as diferenças religiosas resultaram no confronto entre eles. Ao contrário do que é referido normalmente, não existem diferenças étnicas nem raciais entre as várias fações envolvidas nesta guerra, apenas religiosas: católicos (os croatas), muçulmanos (os bosniaks, vulgarmente designados por bósnios) e ortodoxos (os sérvios e os Montenegrinos).
Ainda hoje, em Mostar, a Bulevar separa a comunidade croata (a poente) da comunidade bosniak (a nascente). A circulação é livre, frequentam as mesmas escolas (com aulas de história separadas) e há famílias com elementos em ambos os lados mas a divisão está bem presente em cada cidadão.
Para ilustrar a divisão, Sheva mostrou-nos um vídeo aéreo gravado na festa de comemoração dos 100 anos do Velez Mostar, o clube de futebol mais famoso da cidade, enraizado na parte oriental da cidade. Via-se claramente toda a iluminação e fogo de artifício dum lado e a total escuridão do outro … a Bulevar marcava a fronteira entre as duas zonas.
Jantámos no restaurante Food House, recomendado pelo Sheva (nota 4), onde nos iniciámos na cozinha bósnia. Comemos dolma (pimento recheado com carne picada) com puré de batata, bonsanski lonac (estufado bósnio, tipo jardineira) e japrak (carne picada enrolada em couve lombarda, na versão mais tradicional usa-se folha de videira). A amostra é representativa da cozinha bósnia: muito boa mas sem opções de peixe ou vegetarianas. Para sobremesa, serviram-nos Hurmašica, uns biscoitos com o recheio bastante húmido; percebemos que não é considerada uma sobremesa sofisticada (estava incluída no “menu turístico” que escolhemos) mas foi das melhores sobremesas que experimentámos nas duas semanas seguintes passadas na Bósnia e em Montenegro.
dia 7 (8/7), Mostar
Depois duma noite muito quente, tivemos uma manhã chuvosa em que aproveitámos para descansar.
Saímos para almoçar, atravessámos as pontes velha (Stari Most) e torta (Kriva Cuprija) e parámos numa mesa do restaurante Hindin Han (nota 4) situada numa varanda sobre o rio Radobolja, afluente do rio Neretva. Comemos legumes grelhados, um prato misto com dolma, japrak e almôndega com puré de batata (os dois primeiros já conhecidos na véspera), ćevapi (na versão bósnia, acompanhado de pão pita) e teleci (carne de vaca) com cogumelos e molho de pimento. De sobremesa, comemos baklava (massa folhada com mel e frutos secos) e palacinke (crepe) com nutella. Globalmente, estava tudo bom mas achámos o nível das sobremesas mais elevado do que o dos pratos.
Depois do almoço, voltámos a atravessar a ponte velha em direção à mesquita Koski Mehmed-Pasha, passando pelo Kujundžiluk (bazar na rua).
Originalmente do século XVII, a mesquita Koski Mehmed-Pasha foi totalmente reconstruída em 2001 depois de várias recuperações parciais no pós guerra da Jugoslávia. Atualmente, funciona como museu, representando a abertura do islão a todos os interessados. O seu minarete proporciona belas vistas sobre Mostar, do alto dos seus 78 degraus encaixados num perímetro de 1,30m
Localizada a 300m da ponte velha, o terreno circundante da mesquita é um bom local para observação da ponte e das duas torres, Tara e Halebija (uma de cada lado do rio), que controlavam a passagem.
Depois duma pausa para preparar o dia seguinte, fomos jantar no Grill Centar (nota 4), uma espécie de tasca em versão bósnia, que nos chamou a atenção por estar cheia de locais. Longe de ter sido a melhor refeição nesta zona dos Balcãs, foi bastante satisfatória e barata (21,50€ para os 4). Comemos pljeskavica (mistura de carne picada igual à do ćevapi na versão hambúrguer), sudzukice (salsicha bósnia), pileci fileti (bife de frango) e pileci bataci (peito de frango), tudo em quantidade generosa e acompanhado de pão pita. Para acompanhar, além de água e sumo, provámos a cerveja local (Mostarsko), do tipo lager, que era boa.
(Nota: na Bósnia e Herzegovina, em Montenegro e na Croácia, bebemos bastante cerveja local, cujo nome é formado pelo nome da cidade ou da região com o sufixo “sko”, ou equivalente; neste caso, Mostarsko, significa “de Mostar”).
dia8 (9/7), Mostar - Kotor
Dia de viajar até Montenegro, parando em dois pontos de interesse perto de Mostar: o mosteiro Dervixe Tekija e as quedas de água de Kravica.
O mosteiro Dervixe Tekija fica em Blagaj, a 12 km de Mostar, encostado a uma enorme escarpa na base da qual nasce o rio Buna, a maior nascente cársica da Europa. Consta que neste convento ainda se pratica o ritual do Zikr mas ficámos com a sensação que o espaço funciona principalmente como museu. Se bem percebemos a resposta à nossa pergunta, o convento é ponto de encontro de fiéis de todo o país num grande evento em maio, talvez seja nessa altura em que o ritual é praticado …
A visita ao edifício é muito interessante. Depois nos prepararmos - tirar os sapatos, tapar as pernas e, para as senhoras, colocar véu (material fornecido pelo local, se for necessário) - podemos circular livremente pelas diferentes salas onde os monges praticavam as suas atividades quotidianas.
Todo o espaço envolvente é bastante agradável, com espaços verdes e restaurantes nas duas margens do rio, passando uma sensação de tranquilidade. Gostaríamos de ter ficado lá mais tempo, no mínimo para almoçar, mas como tínhamos pouca folga para cumprir o plano do dia, seguimos para o destino seguinte.
As quedas de água de Kravica, também conhecidas como “Niagara da Herzegovina”, são muito bonitas e proporcionam uns bons mergulhos. No entanto, talvez por ser sábado de julho, estava sobrelotado, o que resultou numa experiência menos agradável … por uns módicos 10€ por adulto para poder entrar no espaço.
Como ainda tínhamos 4 horas de carro até Kotor, em Montenegro, estivemos lá menos de 2 horas, suficientes para uns mergulhos, piquenique e café com gelado numa das esplanadas.
A viagem até Kotor foi a primeira experiência do que seria o dia a dia durante a semana seguinte, até voltarmos a Sarajevo: estradas estreitas e cheias de curvas, com muitas subidas e descidas, em que era muito raro conseguir-se circular a mais de 50km por hora ou fazer ultrapassagens. Neste caso, ainda estivemos mais de meia hora em fila para passar a fronteira.
Na chegada à baía de Kotor, o GPS encaminhou-nos para o ferry. apesar de ser o caminho mais curto, percebemos depois que teríamos preferido contornar a baía passando por Perast (zona que visitámos no dia seguinte).
Chegados ao alojamento, uns 5km a sul de Kotor, por nos terem desmarcado a reserva feita a 500m da cidade, decidimos jantar num restaurante perto para ser mais rápido. Jantámos no Grbalj (nota 4), onde constatámos que a cozinha montenegrina é muito boa, tal como a bósnia.
Mais uma vez, o empregado de mesa não falava uma palavra de inglês, com a agravante do menu só estar em montenegrino, pelo que tivemos de recorrer ao Dr. Google para percebermos o que iríamos comer. Ao menos, trouxeram-nos menus com com alfabeto latino, em vez. de cirílico, que é o mais comum neste país :)
Escolhemos riblja corba (sopa de peixe), gulaš (gulache, servido com pasta ou com puré de batata), teleći ribić na kajmaku (carne de vaca estufada) e lešo teletina (carne de vaca cozida). Para sobremesa, comemos palacinke (crepes) com nutella. O Gulache estava muito bom, na nossa opinião, melhor do que os que comemos em Budapeste; os outros pratos não estavam tão bons. Os crepes, tal como todos os que comemos em Montenegro também tinham um nível elevado. No entanto, a descoberta do dia foi a Nikšićko, cerveja lager da zona de Nikšić (no centro de Montenegro) que, na opinião do Pedro e do Francisco está no top 3 das lager alguma vez por si provadas!
dia 9 (10/7), Kotor
O dia mais azarado das férias começou com a descoberta que os supermercados estão fechados ao domingo em Montenegro. Comemos os croissants manhosos que o nosso anfitrião nos deixou na véspera e saímos para a praia de Perast, uns km a norte de Kotor.
A praia de Perast fica na baía de Kotor, de frente para o estreito atravessado na véspera de ferry que fica a aproximadamente 1km. Mais ou menos a meio, há duas pequenas ilhas: a ilha Sveti Djordje (São Jorge) e a de Gospa od Škrpjela (Nossa Senhora das Rochas). Um cenário magnífico para mais uns mergulhos nas águas do Adriático.
O estacionamento é caro (8€), sem alternativas na estrada estreita, ou pode ficar de borla se fizermos uma viagem de barco até às ilhas pelo valor de 16€ por adulto. Começamos a perceber que Kotor joga no campeonato dos preços de Dubrovnik mas em pior, na medida em que nesta zona sentimos constantemente que somos vistos como uns Euros ambulantes que os locais tentam ostensivamente puxar para si. Também ao contrário de Dubrovnik, e do resto de Montenegro, o atendimento é frio e distante.
Hora de almoçar, planeado para a cidade de Kotor, dirigimo-nos ao carro para nova surpresa: não conseguíamos pôr o carro a funcionar. Depois de trocas de mensagens e videochamadas com o sr. da rent-a-car (que estava em Sarajevo), lá percebemos que o sistema de bloqueio da ignição não estava a funcionar devidamente (i.e. não desbloqueava). A solução indicada consistia em rodar a chave com a bateria desligada para enganar o sistema. Para tal, pedimos um alicate na esplanada da praia para desapertar a porca que prendia o cabo ao borne da bateria e seguimos para Kotor, 2 horas mais tarde do que o previsto.
Estacionámos o carro bem perto do centro de Kotor, num lugar grátis descoberto com muita sorte, e procurámos onde almoçar, esfomeados e a pensar onde iríamos arranjar outro alicate num domingo e se não teríamos de ir a pé até ao alojamento, a cerca de 5km.
Depois duma seleção rápida, comemos no restaurante Konoba Kantun (nota 3), com preços obscenos e comida supostamente sofisticada. Pareceu-nos que este seria o padrão no interior da cidade velha, onde não se viu nenhuma solução que não obrigasse a sentar para comer. Comemos pizza, grilovano povrće (legumes assados) e ćevapi; valeu-nos a Nikšićko à pressão.
Depois do almoço, demos uma volta rápida à cidade velha com a ajuda da app GPSmyCity. Começámos na Porta do Mar que dá acesso à Praça de Armas, a principal praça da cidade velha. Seguimos até à igreja de São Nicolau, a mais importante da cidade, em frente da qual fica a pequena igreja de São Lucas (a de que gostámos mais).
Construída no final do século XII, a igreja de São Lucas ainda mantém alguns dos frescos originais. No seu altar estão dois bonitos iconóstases, um do século XVII e outro do século XVIII. Durante alguns séculos, havia dois altares (um católico e outro ortodoxo) com cerimónias alternadas. Atualmente é uma igreja exclusivamente ortodoxa, onde os cidadão de Kotor eram enterrados até aos anos 30 do século XX, estando o seu chão cheio de lápides tumulares.
Passámos ainda pela catedral de São Trifão, uma duas únicas igrejas católicas em Montenegro, e pela Porta Gurdic (entrada sul da cidade muralhada).
Voltámos a atravessar a cidade velha e saímos pela Porta do Rio, a norte, perto de onde tínhamos deixado o carro. Acabámos por não subir à fortaleza de São João, na encosta nascente fora das muralhas, por termos achado melhor arranjar um alicate para podermos usar o carro.
Depois de procurarmos num centro comercial, apenas com a zona de restauração aberta, onde o pessoal estava colado ao ecrã a ver o Novak Djokovic a jogar a final de Wimbledon, safámo-nos numa esplanada onde conseguimos um alicate emprestado até ao dia seguinte por 5€ que seriam devolvidos em troca do alicate.
Conseguimos ligar o carro e voltar a casa, tendo decidido jantar no mesmo restaurante da véspera, por termos gostado e por ser o mais perto, para o caso de termos fazer o percurso a pé. Neste processo, perdemos a peça roscada que apertava o cabo no borne da bateria, pelo que deixámos de precisar de alicate.
O jantar não estava tão bom como no dia anterior mas ainda mereceu nota 4. Comemos leskovacka muckalica (carne de porco com vegetais e imensa paprika), peitos de frango com batata frita, crepe com nutella para a sobremesa e Nikšićko para acompanhar, claro.
dia 10 (11/7), Kotor - Cetinje
Decidimos tomar o pequeno almoço na esplanada onde nos emprestaram o alicate. Comemos um brunch, feito à base de ovos (para uns) e de queijo e presunto (para outros). Em Montenegro, há muita publicidade ao presunto local, em particular o de Njeguši, que achámos bom mas não nos pareceu merecer tanto entusiasmo.
Depois de comer, a Helena, o Tomás e o Pedro foram para a praia de Kotor (a 400m da cidade velha) enquanto o Francisco foi procurar rosca perdida no dia anterior, sem sucesso, tendo-se juntado nos banhos de seguida. Os dias seguintes foram feitos com o cabo encaixado no borne, esperando que a trepidação não o fizesse saltar.
A praia de Kotor tem o mesmo enquadramento da praia de Perast, com a colina do outro lado da baía, mas com maior movimentação de barcos de cruzeiro que chegam e partem de Kotor.
Pelas 13h, voltámos ao carro que tinha ficado numa zona residencial perto da cidade velha, encostado à berma numa curva mais larga, uma vez todos os lugares legítimos sem viaturas estavam ocupados por garrafões de 5l de água. Aparentemente, alguém se queixou dos vários carros estacionados naquela curva, e a polícia foi ao local. Ainda houve uma conversa muito cordial com o agente, em que nos valemos do procedimento para ligar do carro, que tínhamos perdido uma rosca, etc. Recebemos um papel escrito em montenegrino, uma metade com o alfabeto latino e a outra com o alfabeto cirílico que era “apenas um aviso”, e a sugestão de sairmos dali rapidamente.
Assim o fizemos e seguimos para o destino seguinte: Cetinje, a antiga capital de Montenegro. Inicialmente, tínhamos pensado percorrer a designada “serpentina de Kotor”, descrita como “estrada muito estreita, com 25 curvas super fechadas, cada uma revelando uma paisagem mais impressionante que a anterior”, que sobe a colina em direção ao parque Nacional de Lovćen. No entanto, ainda com pouca confiança em que o carro não nos deixaria ficar mal, decidimos dar a volta grande por Budva, sempre num traçado mais tranquilo.
A passagem por Budva foi bastante demorada, com bastantes quilómetros em pára-arranca, o que fez com que chegássemos a Cetinje pelas 15:30. Depois de nos instalarmos, e já com alguma fome, decidimos comer um gelado numa roulotte ao lado da nossa casa para irmos rapidamente ao Mosteiro, antes que fechasse, a ver se nos aguentávamos até ao jantar. Foi a enésima vez que comemos o King Obsession (nota 5), que já conhecíamos desde Dubrovnik e que esteve presente durante toda a viagem nos 3 primeiros países dos balcãs visitados (só não o descobrimos na Eslovénia).
O mosteiro de Cetinje foi construído no final do século XV por Ivan Crnojević (Ivan o Negro) na recém capital de Montenegro, por si fundada. Foi reconstruído no início do século XVIII pelo Bispo Danilo Petrović-Njegoš (fundador da dinastia Petrović-Njegoš que governou Montenegro até ao final da I guerra mundial), depois de ter sido arrasado pelas invasões otomanas. Durante todos estes séculos, o mosteiro de Cetinje foi o centro político e espiritual de Montenegro.
Circulámos pelo pátio do mosteiro, pela sua igreja e câmaras adjacentes. Neste espaço estão expostas algumas relíquias como os restos mortais de soberanos da dinastia Petrović-Njegoš ou a mão direita mumificada de São João Batista. No entanto, a visita valeu pela cerimónia que iniciou às 17h, com vários membros (pensamos que fossem padres) da igreja ortodoxa sérvia de Montenegro (a que pertence o Mosteiro de Cetinje) iniciaram um ritual com rezas, beijos em várias imagens espalhadas pela igreja e muito incenso espalhado por todos os cantos.
A mais de 1km do mosteiro, quase sempre a subir, fica o mausoléu do Bispo Danilo que merece uma visita, quanto mais não seja pela vista sobre a cidade.
No espaço envolvente do mosteiro, encontra-se ainda a designada igreja do castelo, construída no local em que se pensa ter estado o antigo mosteiro (onde está o túmulo de Ivan Crnojević), e o palácio do bilhar, construído no século XIX pelo príncipe-bispo Petar II, cujo nome deriva da mesa de bilhar colocada no seu interior, de que o príncipe era grande adepto. Depois da sua construção, o palácio passou a ser o palco de eventos políticos e culturais, substituindo o próprio mosteiro.
Eram quase 19h e estávamos cheios de fome. Jantámos no restaurante Kole (nota 5): comida excelente, muito bem servido e preços médios. Comemos pršut-sir (presunto com queijo) de entrada, seguido duns belos vegetais grelhados (miješano povrće) a acompanhar uns maravilhosos pratos de carne: pileći batak (coxas de frango assadas), njeguški file (bife de vaca frito à moda local), grćki ražnjić (espetada grega) e pljeskavica (hambúrguer com a mesma receita do ćevapi). Tudo em grande quantidade, o que obrigou a esforço extra com algumas desistências. Esta refeição ficou no top 3 das férias.
dia 11 (12/7), Cetinje - lago Skadar
Acordámos quando nos apeteceu e despachámo-nos sem pressas que só tínhamos de sair até às 12h. Preparámos o farnel enquanto o Tomás dava uns mergulhos na piscina da casa.
Quando saímos, ainda comemos mais um gelado King Obssesion (claro!). A srª da roulotte perguntou de onde éramos e, quando dissemos que éramos portugueses, ela respondeu “F. C. Porto”. Acontece que o filho dela é o guarda-redes da equipa de andebol Lovćen Cetinje que, no ano anterior, tinha jogado contra o F. C. Porto numa competição europeia.
Antes de seguir para o destino seguinte, fomos na direção de Kotor para espreitar a vista do topo da serpentina. Realmente, a vista sobre a baía é magnífica, como mostra a foto colocada no dia 9 de julho; foi uma pena não termos percorrido esta estrada …
Voltámos para Cetinje e, depois dum piquenique no jardim envolvente do mosteiro, seguimos em direção ao Lago Skadar, com escala em Sveti Stefan.
Sveti Stefan, tem uma das praias mais conhecidas de Montenegro, situadas em ambos os lados do acesso a uma pequena península (aproximadamente 200m por 100m) que, segundo lemos, funciona atualmente como resort de luxo. Passámos lá umas horas em despedida temporária do Mar Adriático, uma vez que seguiríamos para o interior. Esta praia tem conchinhas e pedrinhas pequeninas que dão uma sensação aproximada à da areia, a melhor desta viagem nesse aspeto.
Como alojamento perto do Lago Skadar, escolhemos a Etno Village Morača, um pequeno empreendimento com 4 bungallows e um restaurante, situado no meio de nada na margem do rio Morača, que desagua no Lago Skadar.
Chegámos ao restaurante Morača pelas 20:00 que, na altura, tinha 4 ou 5 mesas ocupadas, e fomos servidos às 21:40. Serviço super lento, embora atencioso, mas valeu a espera (nota 4 para esta refeição); comemos na esplanada, que estava bastante agradável (apesar de algum stress com os mosquitos), a comida estava boa e o preço imbatível (30€ para os 4).
Comemos Podgorički popeci e grilovano povrće. O segundo são os já familiares legumes assados, que é tão bem cozinhado por estas bandas; o primeiro é uma espécie de cordon bleu, típico de Podgorica (a capital atual de Montenegro), feito com carne de vaca, presunto e queijo montenegrino. Tal como no resto dos 7 dias passados em Montenegro, a Nikšićko também marcou presença.
Antes do jantar, na altura de descarregar o carro, o Francisco entrou, por engano, no bungallow do lado, onde estava uma família muçulmana (casal e duas filhas adolescentes). Seguiu-se uma retirada rápida, depois do pedido de desculpas. Este episódio haveria de ter desenvolvimento no dia seguinte.
dia 12 (13/7), lago Skadar
O programa do dia estava preenchido com um passeio de 6 horas no lago Skadar, das 12:00 às 18:00. Antes disso, tivemos mais uma tentativa falhada de ir ao supermercado; desta vez não era domingo mas era o feriado nacional de Montenegro, que assinala a data do tratado de Berlim de 1867, em que a independência de Montenegro e doutros países dos Balcãs foi acordada.
Tomámos o pequeno almoço no restaurante Morača, a olhar para o relógio depois da experiência do dia anterior, e chegámos a Virpazar à hora certa para apanhar o barco.
Os passeios de barco no lago Skadar são promovidos por empresas familiares, havendo muita oferta com grande disparidade de opções e de preço. Escolhemos um passeio de 6 horas de Virpazar até Rijeka Crnojevića (ida e volta) que custou 25€ por adulto (o Tomás não pagou). A este valor, acresce a entrada no parque nacional (4€ por adulto) que não nos foi cobrada por ser feriado nacional.
O lago Skadar (Shkodra para os albaneses) está 70% em território montenegrino e 30% em território albanês. Apesar de não ser muito grande (aproximadamente 30km por 10km), tem o comprimento suficiente para se ver a linha do horizonte, sobre a qual (para sul) se erguem as montanhas albanesas.
O lago Skadar está inserido no parque nacional com o mesmo nome, habitat com grande biodiversidade, com destaque para o pelicano da Dalmácia. Nas suas águas, cercadas de montanhas, encontra-se várias ilhas com mosteiros e fortificações, muito nenúfar e zonas de água limpa. Tanto na ida como na volta, parámos numa dessas zonas para uns belos mergulhos que foram os momentos altos dia.
A meio da viagem serviram-nos priganice (frito típico de Montenegro, parecido com os nossos sonhos) e vinho, enquanto apreciávamos a paisagem.
Antes de chegar a Rijeka Crnojevića, passámos na Pavlova Strana: curva no curso de água em forma de ferradura que contorna um monte, provavelmente a imagem mais conhecida de Montenegro. No dia seguinte, iríamos vê-la do miradouro.
Em Rijeka Crnojevića (pequena aldeia piscatória à beira do rio com meia dúzia de esplanadas) fizemos um piquenique à beira do rio com vista para a ponte Danilo, construída em 1853 pelo Príncipe Danilo (não confundir com o Bispo Danilo que reconstruiu o mosteiro de Cetinje). O Tomás deu mais um mergulho e ainda houve tempo para um gelado e um café turco antes de iniciarmos a viagem de volta a Virpazar.
Regressados à Etno Village (pelas 18:20) fomos logo tratar do jantar. O Francisco ficou no restaurante à espera dos pedidos, enquanto a Helena foi para o bungallow preparar as malas para o dia seguinte, o Pedro fez uma chamada telefónica e o Tomás se entreteve a jogar à bola, ambos no exterior entre o nosso bungallow e o da família muçulmana.
Desta vez fomos servidos mais depressa, passava pouco das 19h, e tivemos mais uma refeição do top 3 desta viagem: prženi šaran (carpa frita, peixe inteiro) e šaran u zvona (outro peixe frito que não conseguimos identificar, servido às postas), domaći sir (queijo caseiro) e grilovano povrće (os habituais legumes grelhados). Muito bom. Apesar do serviço demorado, o restaurante Morača é visita obrigatória para quem estiver na zona de Podgorica (e tiver carro para se deslocar até lá, claro).
Pouco depois de termos voltado para o bungallow, recebemos a visita do responsável pelo empreendimento, do empregado do restaurante e da cozinheira. Com a ajuda do tradutor da Google, percebemos que o casal do bungallow do lado tinha acabado de se queixar por se sentirem ameaçadas e com medo de nós. Valeu-nos que o staff do empreendimento não os levou a sério … acabámos todos a rir, a imaginar o comportamento assustador do Pedro a falar ao telefone e do Tomás a relatar os seus remates.
dia 13 (14/7), lago Skadar - Žabljak
Voltámos a tomar o pequeno almoço no restaurante Morača; desta vez comemos todos crepes com nutella ou com doce de ovos … que bem que os crepes são feitos neste país!
Seguimos pela estrada P16, que contorna o lago Skadar ligando a Albânia (a sul) a Podgorica (a norte), cheia de curvas, troços muito estreitos e belas vistas do lago e montanhas circundantes. Depois de passarmos por Rijeka Crojevića, em que tínhamos estado na véspera, parámos num miradouro com uma vista magnífica sobre a Pavlova Strana, onde também tínhamos passado no dia anterior.
Continuámos para norte e parámos em Danilovgrad para almoçar. Fartinhos de comer carne, e com o jantar da véspera bem fresco na memória, escolhemos o Picerija Restoran Obala (nota 4). Descobrimos rapidamente que “picerija” não tem nada a ver com peixe, uma vez que significa “pizzaria”. Apesar do percalço, comemos bem: palačinke piletina (crepe de frango), grčka salata (salada grega) e tuna salata (salada de atum), com a inevitável Nikšićko a acompanhar.
A paragem seguinte foi o mosteiro de Ostrog. Construído de forma encaixada na escarpa, o mosteiro ortodoxo de Ostrog é um dos mais visitados dos Balcãs, atraindo peregrinos na esperança de resolver os seus problemas rezando à beira do corpo de São Basílio cujo relicário se encontra num capela escavada na rocha.
Já passava das 16h quando saímos do mosteiro, ainda com 2 horas de viagem até Žabljak.
Depois de nos instalarmos em Žabljak, fomos jantar no restaurante Or’o (nota 4), onde comemos durmitorska večera (prato da zona de Durmitor com presunto, salsicha, queijo e batatas assadas), punjena paprika (pimentos recheados com carne), pileći file (bife de frango) e rižoto sa povrćem (risotto com vegetais).
Não víamos ambiente tão agitado desde Kotor, com muitos grupos de jovens em excursão. Žabljak é claramente o ponto de convergência de quem quer visitar o parque nacional de Durmitor, transformando esta pequena vila num local bastante turístico com o reflexo correspondente no tempo de espera e nos preços, mesmo assim claramente inferiores aos praticados na costa.
dia 14 (15/7), Žabljak
Dia de passear no parque nacional de Durmitor. Depois do pequeno almoço, caminhámos durante aproximadamente meia hora até ao Lago Negro (Crno Jezero). Pelo caminho, foi necessário pagar 3€ por adulto para entrar no parque nacional (bilhete com validade para o próprio dia).
O Lago Negro é o maior lago glaciar de Durmitor que, na realidade, é formado por dois lagos unidos por um estreito que, quando não está seco (como acontece em alguns verões), permite o fluxo de água entre os dois lagos, ora num sentido, ora no outro. Normalmente a água flui do maior para o menor, exceto na altura de degelo, que alimenta o lago menor alterando o equilíbrio do fluxo para a outra direção.
Caminhámos um pouco à beira do(s) lago(s), onde fizemos um piquenique na companhia duma menina russa e da sua mãe; a miúda comeu do nosso farnel e quase não nos deixava o suficiente para o nosso almoço. Durante o passeio, o Tomás ainda deu o mergulho habitual.
O passeio foi agradável mas o lago ficou aquém das expectativas, a milhas de qualquer um dos muitos visitados no ano anterior em São Miguel. Havendo muito espaço, nunca tivemos a sensação de sobrelotação mas os preços dos gelados e dos restaurantes lembraram-nos de quão turístico é este local.
Depois de regressar a Žabljak, percorremos de carro o “Durmitor Ring” (assinalado como a rota panorâmica número 2). São cerca de 80km em torno do monte Bobotov Kuk (2.523m de altitude), feitos em pouco mais de 2h, em estrada estreita (sem capacidade cruzamentos de viaturas em sentido contrário nalguns sítios), com muitas subidas e descidas, passando por florestas, aldeias e montanhas. Nalguns sítios, a floresta é tão densa que quase não se vê a luz do sol.
Durante o trajeto, fomos mandados para por um guarda florestal para nos cobrar o bilhete de entrada no parque nacional. Valeu-nos que ainda tínhamos connosco os bilhetes pagos de manhã.
Jantámos no restaurante Nostalgija (nota 3), onde comemos ćevapi, zažnjići (espetada) e karadordeva šnicla (cordon bleu à moda local).
dia 15 (16/7), Žabljak - Sarajevo
Antes de sairmos da zona de Žabljak, a caminho de Sarajevo, fomos ao miradouro de Curevac, indicado como tendo a melhor vista sobre o desfiladeiro do rio Tara. Este desfiladeiro é o mais profundo da Europa (1300m) e o segundo maior do mundo, depois do Grand Canyon.
Chegados ao local, esperava-nos mais um guarda florestal que tratou de nos cobrar o bilhete diário de entrada no parque nacional de Durmitor. 9€ para os três adultos com quase nenhum proveito. A vista é bonita mas não conseguimos ter a perceção do desfiladeiro nem tampouco perceber por onde passa o rio.
Seguimos para leste em direção a Đurđevića e à sua magnífica ponte sobre o rio Tara. Esta ponte, com 365m de comprimento e o tabuleiro 172m acima do curso de água, é uma impressionante obra de engenharia da primeira metade do século XX.
Estacionámos o carro e atravessámos a ponte a pé para, aqui sim, termos a melhor vista sobre o rio e sobre o desfiladeiro, embora numa zona com muito menor profundidade do que o seu valor máximo. Neste local, é possível praticar vários desportos radicais como o zip-line (da ponte via-se 3 diferentes) ou o rafting.
Continuando para norte, atravessámos a fronteira de regresso à Bósnia e Herzegovina e parámos em Čajniče para almoçar. Comemos o farnel numa praça que rematámos com um café e um crepe com nutella no café bar Exit (nota 5) que foi o melhor de toda a viagem … facto notável, tendo em conta o nível elevado de todos os crepes que comemos em Montenegro.
Chegámos a Sarajevo pelas 17h. Depois de nos instalarmos, fomos entregar a viatura que tantos olhares estranhos nos valeu enquanto executávamos o procedimento para a pôr a funcionar, especialmente nas bombas de gasolina.
Ficámos alojados a 15 minutos a pé de Baščaršija que é a praça principal de Sarajevo, antigo bazar e centro histórico e cultural da cidade. Sempre cheia de vida, nela fica a famosa Sebilj, fonte de madeira trazida pelos otomanos para distribuição gratuita de água, e uma das mais de 100 mesquitas de Sarajevo. Diz-se que ninguém sabe ao certo quantas mesquita há na cidade; entre o nosso alojamento e Baščaršija, passámos por 3, havendo outras tantas num raio de 100m de Baščaršija.
Jantámos no restaurante Aščinica Dženita (nota 4 para esta refeição porque as sobremesas estavam uns furos abaixo dos pratos). Comemos sarajevska bošča (uma espécie de strogonoff de frango), sitni ćevap (carne de vaca estufada) e sogan dolma (cebolas recheadas); estava tudo muito bom. Para beber aceitámos a recomendação de Sarajevsko não filtrada (muito boa) e para sobremesa comemos jabukovača (tarte de maçã) e kadaif (massa filó com frutos secos). Haveríamos de voltar uns dias depois para uma refeição memorável.
dia 16 (17/7), Sarajevo
Começámos o dia com uma visita guiada da Guruwalk. Partindo de Baščaršija, seguimos para leste pela rua dos artesãos de cobre (Kazandžiluk) até à Câmara Municipal (Vijećnica).
O edifício da Câmara Municipal foi destruído pelos bombardeamentos sérvios em 1992, tendo-se perdido mais 700 mil livros e manuscritos da sua biblioteca, alguns bastante raros. Depois da reconstrução, terminada em 2014, o edifício também é usado para concertos e exposições.
Este edifício foi construído no final do século XIX, altura em que a Bósnia e Herzegovina estava anexada pelo império austro-húngaro. O local escolhido para a sua construção, na entrada oriental da cidade e bem visível para quem nela entrasse ou saísse, pretendia simbolizar o poder reinante. No entanto, nele morava um senhor (chamado Benderija) que não queria sair dali mas que, depois de longas negociações, aceitou sair em troca dum saco de moedas de ouro, com a condição de lhe reconstruirem a casa, tijolo por tijolo do outro lado do rio. A nova casa passou a chamar-se Inat kuća (casa do casmurro) e, desde 1997, funciona como restaurante.
Depois de caminharmos um pouco ao longo da margem sul do rio Miljacka, atravessámos a ponte latina e parámos na esquina onde aconteceu o assassinato do herdeiro ao trono austro-húngaro, que resultou no início da primeira guerra mundial. O evento está assinalado com uma placa com uma inscrição neutra e factual: “Neste local, em 28 de junho de 1914, Gravilo Princip assassinou o herdeiro ao trono austro-húngaro, Franz Ferdinand, e a sua mulher, Sofia”.
Esta é a terceira placa colocada no local, em substituição das duas anteriores que foram colocadas inicialmente pelo império austro-húngaro e, posteriormente, pelos bósnios depois da primeira guerra mundial.
Na primeira constava (tradução livre): “Neste cruzamento, um assassino martirizou o herdeiro ao trono, arquiduque Franz Ferdinand, e a sua duquesa, Sofia Hohenberg”.
Na seguinte, estava a transcrição seguinte (tradução livre): “Deste lugar, no dia 28 de junho de 1914, Gavrilo Princip deu um exemplo de protesto contra o fardo da tirania exercida sobre o nosso povo”.
Na margem norte do rio, observa-se um interessante encontro de culturas com marcos relevantes concentrados num quadrado com 300m de lado: a principal mesquita, as duas catedrais cristãs (católica e ortodoxa) e o museu dos judeus da Bósnia e Herzegovina.
No complexo da mesquita Gazi Husrev-beg, destaca-se a torre do relógio, cuja hora lunar assinala as 12h ao pôr do sol, altura duma das 5 orações obrigatórias do Islão.
Almoçámos no restaurante Sač (nota 3) e provámos a fast food bósnia: zeljanica (folhado com queijo e espinafres), pileći burek (burek de frango), ajran (iogurte salgado, muito popular por aqui).
Depois do almoço, tivemos a nossa primeira experiência com o café bósnio no café Index (nota 5), recomendado pelo guia da manhã (Adis) que, curiosamente, também recomendou o restaurante onde tínhamos comido no dia anterior e o restaurante onde haveríamos de almoçar no dia seguinte … tudo dicas de valor. Seguindo as indicações recebidas, esforçámo-nos por seguir a norma local de apreciar o café durante, pelo menos, meia hora.
Depois do café, seguimos mais para leste, sempre a subir. O primeiro ponto de paragem foi o cemitério de Kovači, cemitério muçulmano com grande densidade de campas, todas (tanto quanto nos apercebemos) datadas do período da guerra da Jugoslávia.
Continuámos a subir até ao Bastião Amarelo, fortificação com boas vistas (sobretudo de manhã, pareceu-nos, com orientação solar mais favorável), onde existe um café com esplanada. Depois de descansar um bocadinho, subimos mais um pouco até à Fortaleza Branca, com as ruínas do local inicial de povoamento de Sarajevo que, sinceramente, nos pareceu não valer o esforço.
Voltámos para casa, para descansar até à hora do jantar, exceto o Francisco que voltou a fazer o percurso da visita guiada da manhã e passeou por um bairro na margem sul do rio, onde estão a mesquita mais antiga de Sarajevo (a Mesquita do Imperador) e a imponente igreja de Santo António, separadas por 150m. No meio das duas, os austro-húngaros também quiseram deixar a sua marca, construindo a fábrica de cerveja Sarajevsko.
Jantámos no Inat kuća (nota 4), onde comemos sarajevski sahan (carne estufada com vegetais recheados), dolme (vegetais recheados com carne) e pilav sa mesom (carne com massa de arroz). Para acompanhar, experimentámos a sarajevsko premium que foi uma decepção.
dia 17 (18/7), Sarajevo
Nesta manhã dividimo-nos para poupar o Tomás a cenas chocantes: a Helena e o Pedro foram ao museu do genocídio e dos crimes contra a humanidade, enquanto o Francisco e o Tomás foram ao museu Sarajevo 1878-1918.
O primeiro tem uma exposição bastante emotiva sobre as atrocidades cometidas durante a guerra da Jugoslávia, com algumas cenas excessivamente explícitas. O segundo foca no contexto político e social do período em que a Bósnia e Herzegovina esteve anexada pelo império austro-húngaro. É dado algum destaque ao assassinato de Franz Ferdinand, estando expostos a arma do crime e vários objetos que Gavrilo Princip usou nesse dia.
De seguida, o Tomás ficou com a Helena enquanto o Pedro e o Francisco foram à Galeria 11/07/1995 que, mais do que relatar o massacre de Srebrenica, foca no que se seguiu, em particular na dificuldade de identificação das vítimas. Achámos muito interessante, a Helena iria lá no dia seguinte.
A caminho do almoço, observámos algumas “rosas de Sarajevo” (marcas de bombardeamento no chão pintadas de vermelho) e o memorial às vítimas da segunda guerra mundial.
Almoçámos no Ćevabdžinica Zmaj Titova (nota 4), onde comemos mješana (grelhada mista). Para sobremesa, comemos: hurmašica (muito boa, já conhecida desde Mostar), tulumba (uma espécie de churro que não estava grande coisa), baklava (excelente) e jabukovača (tarte de maçã, que estava boa).
No regresso ao centro da cidade, parámos para um café bósnio no Argelini Baroque Čaršija (nota 2) enquanto esperámos que o sapateiro do lado arranjasse as sandálias do Tomás. Seguidamente, percorremos a margem do rio Miljacka com as suas múltiplas pontes (sendo a ponte latina a mais emblemática), em direção ao teleférico.
O teleférico dá acesso rápido ao monte Trebevic. Além das vistas magníficas, pode-se visitar a pista abandonada de bobsled usada nos Jogos Olímpicos de inverno de 1984. Passeámos pela zona, descobrimos uma geocache e voltámos para baixo.
Perto da saída do teleférico, demos com um pequeno museu sobre o dia a dia da população de Sarajevo durante a guerra da Jugoslávia. Este museu foi criado por uma família sobrevivente da guerra numa casa com 3 ou 4 divisões, sendo mantido pelos donativos dos visitantes. Achámos que a visita foi merecida.
Jantámos no Ćevabdžinica Željo 2 (nota 4 pela relação qualidade-preço), restaurante do clube de futebol local Željezničar, popularmente conhecido por Željo. Mais uma dose de carne, desta vez na versão pljeskavica.
dia 18 (19/7), Sarajevo
O Pedro saiu pelas 4 da manhã para apanhar o avião de regresso a Londres.
Nós saímos pelas 10:30, em direção a Baščaršija, onde vimos turistas em várias esplanadas a comer ćevapi(!) … ficámos na dúvida se seria um pequeno almoço reforçado ou um almoço antecipado.
O plano diário começava com uma visita ao museu dos judeus da Bósnia e Herzegovina, onde se conta a história da sua chegada aos Balcãs no final do século XV, em fuga da península Ibérica. É um museu pequeno, que se vê rapidamente, mas bastante interessante.
Seguidamente, apanhámos um táxi em direção ao aeroporto, perto do qual fica o túnel de Sarajevo (conhecido como o túnel da esperança, tunel spasa). Neste local há um museu no meio de nada, que tem à sua volta apenas um parque de estacionamento e um cafezinho. Antes de visitar o museu, caminhámos mais de 20 minutos ao sol para almoçar no restaurante Alpha Grill (nota 3), onde comemos bifes de frango grelhados.
O túnel foi construído durante a guerra da Jugoslávia e assegurou, durante mais de 2 anos, o abastecimento da cidade cercada pelo exército sérvio. Tem quase 900m de comprimento, 340m dos quais passam por baixo da pista do aeroporto, ligando o bairro de Dobrinja (na zona cercada) ao bairro de Butmir (em zona bósnia controlada pelas Nações Unidas).
No extremo de Butmir, o túnel começa na cave da casa da família Kolar. No final da guerra, com o abandono do túnel e o desinteresse das autoridades, Bajro Kolar e o seu filho Edis decidiram transformar a sua casa num museu. Além de muitos objetos recolhidos na zona (ferramentas, mochilas, máscaras, etc.), conseguiram recuperar os primeiros 25m do túnel que, hoje em dia, podem ser percorridos pelos turistas. Este museu foi mantido pela família Kolar até 2013, altura em que a sua gestão passou para as autoridades locais. Consideramos que a sua visita é obrigatória para quem visita Sarajevo.
Hora de regressar ao centro da cidade, pelo que seguimos o conselho de Adis (o nosso guia do primeiro dia que encontrámos no museu) de pedir um táxi no cafezinho à entrada do museu. Na realidade, não voltámos de táxi; como os transportes públicos para esta zona são escassos e distantes, os locais disponibilizam as suas viaturas para transportar os turistas pelo mesmo valor dos táxis (25 BAM).
A caminho da mesquita Ghazi Husrev-beg passámos na fronteira das zonas oriental e ocidental da cidade, devidamente assinalada no chão duma rua pedonal, que marca o contraste arquitetónico entre o estilo otomano (para oriente) e o austro-húngaro (para ocidente). Os locais dizem que visitar Sarajevo é como ir simultaneamente a Istambul e a Viena mas com menos confusão do que na primeira e mais barato do que a segunda.
A mesquita Ghazi Husrev-beg é o principal local de culto de Sarajevo. Está inserida num complexo que além, dum pátio enorme com uma fonte, inclui uma biblioteca, um museu, uma escola e o mausoléu de Ghazi Husrev-beg (governador da Bósnia no período áureo de Sarajevo sob domínio otomano).
Depois de visitar a mesquita, ainda passámos pelo museu antes de ir jantar.
Repetimos o restaurante do primeiro dia, o Aščinica Dženita (nota 5, desta vez), para a última refeição do top 3 desta viagem, quiçá a melhor de todas. Comemos grah (sopa de feijão), klepe (tipo ravioli, recheado com carne temperada com especiarias) e sarajevski sahan (vários tipos de vegetais recheados com carne). Para sobremesa, apostámos na tufahija (maçã cozida recheada com uma mistura de nozes, leite e açúcar) e palacinke (crepe) com nutella. Tudo delicioso!
dia 19 (20/7), Sarajevo
Dia dos planos furados. Com voo para Zagreb agendado para as 16:15, chegámos ao aeroporto pelas 13h sem ter conseguido fazer o check-in online. Descobrimos então que o voo tinha sido cancelado por “motivos técnicos” sem que nem a Croatia Airlines nem a Mytrip (mediador da compra dos bilhetes) nos tivesse avisado.
Enquanto fizemos tempo até que o escritório da Croatia Airlines abrisse (às 14h), avaliámos as alternativas: ir de camioneta (muito demorado, chegaríamos a Zagreb pela 1h da manhã) ou alugar um carro (muito caro, 280€ mais gasolina e portagens).
Fomos atendidos por uma senhora muito simpática que nos deu duas opções: voar no dia seguinte às 6:20, mais alojamento e refeições até lá, ou pedirmos reembolso do preço dos bilhetes. Optámos pela primeira e fomos colocados num hotel de 5 estrelas a 10 minutos do aeroporto (Radon Plaza), onde passámos o resto do dia a descansar, incluindo na piscina interior. O almoço (comido depois das 16h) e o jantar foram servidos no restaurante panorâmico, em constante rotação ao ritmo aproximado de 2 horas por volta.
dia 20 (21/7), Zagreb
Aterrámos em Zagreb às 7:15 depois duma noite mal dormida. Chegados ao apartamento, fomos dormir mais um pouco com a ideia de fazer a visita guiada da Guruwalk às 10h. No entanto, chegada a hora, a Helena e o Tomás continuaram a dormir e o Francisco foi fazer a visita guiada.
A visita começou na praça principal de Zagreb, a Praça Ban Josip Jelačić. Josip Jelačić foi uma das figuras mais marcantes da história da Croácia, de que foi vice-rei (ban) em meados do século XIX. Durante o seu mandato, promoveu a união das províncias croatas (Croácia, Eslavónia e Dalmácia), a separação do reino da Hungria, e a abolição da escravatura.
A importância desta praça resulta do facto de nela estar o edifício onde o império austro-húngaro cobrava os impostos, tendo recebido o nome atual no início do mandato de Josip Jelačić, em 1848. Depois da sua morte, foi erguida uma estátua do vice-rei que foi colocada em frente e virada para o edifício dos impostos, em sinal de desafio ao domínio húngaro. A estátua foi retirada durante o período soviético e recolocada em 1990, desta vez virada para o outro lado, curiosamente para a Bósnia e Herzegovina (consta que sem segundas intenções).
A visita guiada percorreu a cidade alta (Gornji grad), onde fica a parte medieval de Zagreb. Esta zona resulta da fusão no século XVIII de duas povoações: Kaptol (dominada pelo bispo e centrada na catedral), e Gradec (a cidade livre, onde sobressaíam os artesãos e os comerciantes).
No Kaptol, passámos pela catedral, pelo mercado Dolac (com os seus típicos chapéus de sol vermelhos) e as vibrantes ruas Opatovina e Tkalčićeva.
Num jardim colado à rua Tkalčićeva, encontra-se a estátua de Marije Zagorke, jornalista, ativista e romancista (é a autora croata mais lida).
Em Gradec, passámos pela Kamenita Vrata (porta na muralha onde há um santuário da Virgem Maria), antecedida duma estátua de São Jorge com um dragão morto a seus pés, e pela Praça de São Marcos em direção à porta sul onde fica a torre Lotrščak.
Na Praça de São Marcos, fica a igreja de São Marcos (com o seu telhado icónico) localizada entre o parlamento e o edifício sede do governo croata. O acesso à praça está vedado ao público, depois dum ataque recente a membros do governo. A própria igreja estava em obras para reparação de danos provocados pelo terramoto de março de 2020, situação comum a muitos outros edifícios da cidade (como a catedral, por exemplo) que, por esse motivo, não foi possível visitar.
Numa esquina da rua que segue para sul, encontra-se um relevo de Matija Gubec, a olhar zangado para a Praça de São Marcos, onde foi executado em 1873. Matija, aclamado pelos seus pares como “rei dos camponeses”, liderou uma revolta contra o verdadeiro rei, o que lhe valeu a colocação duma “coroa” de ferro em brasa na cabeça antes de ser esquartejado (bem que o guia da visita de GoT de Dubrovnik tinha dito que George R. R. Martin se tinha inspirado em elementos da história croata). Atualmente, é um símbolo da resistência croata e tem mais ruas com o seu nome que o próprio Josip Jelačić.
No final da visita guiada, ainda ouvimos o disparo do canhão da torre de Lotrščak, às 12:00 em ponto, como acontece todos os dias desde 1 de janeiro de 1877. O objetivo inicial deste disparo era sincronizar os sinos de todas as igrejas do centro de Zagreb, uma vez que, sem este sinal, tocavam todos em alturas diferentes.
A visita guiada seguiu pela Strossmayer Promenade, a que voltaríamos no dia seguinte, e passou pelo funicular antes de terminar no ponto de partida, a Praça Ban Josip Jelačić.
Depois de nos reencontrarmos no apartamento, saímos para almoçar. Comemos uns hamburgueres no Submarine Burguer (nota 3), uma cadeia com vários restaurantes em Zagreb. Ficámos na esplanada com umas belas borrifadelas de aspersores que compensavam o calor que se sentia. O Tomás não almoçou porque estava sem fome por ter comido imenso quando acordou. Na mesa ao lado, 4 jovens adultas espanholas estavam a gozar com o casal que não comia o pão do hambúrguer e não dava de comer à criança. Muito surpreendidas ficaram quando foram repreendidas em espanhol!
Estava muito calor, pelo que voltámos para o apartamento até arrefecer um pouco. Ao final do dia, voltámos a sair e fizemos a parte inicial do percurso da visita guiada da manhã, notando que havia muito menos movimento, em particular nas ruas Opatovina e Tkalčića. Aparentemente, estávamos entre o turno matinal (dominado pelo comércio) e o turno da noite (dominado pelos bares e restaurantes).
De volta ao apartamento, jantámos uma refeição rápida que nos soube muito bem. Por sugestão da rapariga do supermercado, experimentámos a cerveja Karlovačko, da região de Karlovac, que não estava nada mal.
dia 21(22/7), Zagreb
Saímos de casa em exploração do sistema solar que se encontra espalhado por Zagreb, originalmente formado por um conjunto de 10 de estátuas à escala de 1:680.000.000, tanto na sua dimensão, como na distância entre cada uma delas. A estátua do sol tem 2m de diâmetro, tendo a mais distante (de Plutão) sido colocada a aproximadamente 7,5km; infelizmente, esta desapareceu, pelo que atualmente o sistema total só tem as estátuas do sol e de 8 planetas.
Partindo do sol, descobrimos os 4 primeiros planetas mas já não fomos a Júpiter por ficar ficar fora de mão. Pelo caminho, cruzámo-nos com vários grupos de danças tradicionais de diferentes países a atuar pelas ruas no âmbito do Festival Internacional de Folclore de Zagreb, que se realiza anualmente há mais de 40 anos.
Perto da localização da estátua de Marte, entrámos no túnel Grič pela entrada da rua Radićeva. Este túnel, com 350m de comprimento, foi construído durante a segunda guerra mundial, tendo depois caído no esquecimento; Na década de 1990, foi palco das primeiras rave parties em Zagreb e tornou-se num espaço de exposições temporárias, com especial destaque na altura do advento. Desta vez, o túnel estava vazio mas com uma temperatura excelente, talvez uns 10°C abaixo da temperatura exterior.
Saímos no outro extremo do túnel, na rua Mesnička, e percorremos a Strossmayer Promenade em direção à torre Lotrščak. A Strossmayer Promenade é uma rua com muitas árvores com vista para a zona sul da cidade. É ponto de encontro de muitos turistas e locais com esplanadas, frequentes eventos musicais e várias instalações artísticas espalhadas ao longo da rua.
A meio da Strossmayer Promenade, está a torre Lotrščak, onde chegámos poucos minutos antes do meio dia. Com alguma sorte, conseguimos gravar o momento do disparo do canhão.
Ainda fomos espreitar a Kamenita Vrata, com o seu mini santuário à Virgem Maria. Segundo a lenda, a cidade foi totalmente arrasada num incêndio em 1731, salvando-se milagrosamente a pintura da Virgem Maria segurando Jesus que tinha sido colocada no portão da muralha. Depois do incêndio, a população construiu a capelinha, onde ainda está a pintura original da Virgem, pela qual os locais têm grande devoção .
De volta à torre Lotrščak, descemos a escada ao longo do funicular, a caminho do restaurante onde almoçámos. O funicular é objeto de orgulho para a cidade de Zagreb: construído na última década do século XIX, foi durante mais de 100 anos o mais curto do mundo com os seus 66m de comprimento. Recentemente, foi construído um com 60m na china, salvo erro, para grande pesar dos habitantes de Zagreb.
Almoçámos no restaurante La Štruck (nota 4), onde só de come uma coisa: štrukli, prato tradicional da Croácia feito com massa recheada com uma mistura de ovos com requeijão. Comemos a versão assada (também pode ser cozido), nas opções com cogumelos e com maçã e canela. Não estava super mas vale a pena experimentar. A acompanhar, provou-se a cerveja Velebitsko que não é grande coisa.
Voltámos para o apartamento até fazer menos calor. Por essa altura fomos passear para a ferradura de Lenuci, sequência de parques e jardins alinhados em forma de “U”. A ferradura foi concebida no âmbito da reconstrução de Zagreb depois do terramoto de 1880. A base do “ U”, onde fica o jardim botânico (que também visitámos), e a sua parte oriental são mais agradáveis para passear; na parte ocidental encontra-se edifícios imponentes como o do novo Teatro Nacional ou o da Academia de Artes Dramáticas.
Jantámos outra vez em casa, desta vez com a última nikšićko das férias, que descobrimos no supermercado.
dia 22 (23/7), Zagreb - Liubliana
Preparámos o farnel e saímos em direção ao terminal rodoviário para a apanhar a camioneta para Liubliana. Foram aproximadamente 3 horas de viagem na carreira da Flixbus, desta vez operada por esta empresa, que correu sem incidentes. Chegámos ao destino pelas 15h, tendo-se seguido uma caminhada de 3km até ao alojamento (como íamos passar só uma noite em Liubliana, optámos por uma solução mais barata, fora do centro).
A caminhada custou-nos bastante, com o peso da bagagem mais o calor, pelo que ficámos a descansar até ao jantar. Jantámos no restaurante Pizzerija Laterna (nota 3), mesmo ao lado, e fomos dormir. Não foi uma noite bem passada, com muito barulho (de festa na zona, chuvada forte e carros a passar na rua) e um colchão super desconfortável por ser tão fofo e estar em cima doutro tão fofo como o primeiro.
dia 23 (24/7), Liubliana - Rovinj
Depois do pequeno almoço, o Francisco foi buscar a viatura em que nos deslocaríamos nos dias seguintes. A solução lowcost situava-se numa zona industrial a 6km do nosso alojamento, o que implicou uma bela caminhada matinal.
O plano era passar a primeira parte do dia no lago Bled, localizado a uns 60km a norte de Liubliana. O lago Bled é uma das atrações principais da Eslovénia, pelo que estava cheio de gente, como seria de esperar num domingo de julho, o que também se refletiu no trânsito e na dificuldade em estacionar. Conseguimos deixar o carro no parque de estacionamento de um hotel por 10€ para 4 horas; os modos bruscos do sr. do parque deixou-nos sem vontade de arriscar voltar depois desse período.
Iniciámos uma caminhada à beira do lago, no sentido dos ponteiros do relógio, cujo perímetro é aproximadamente 6km de perímetro. O lago Bled é bonito, muito bem enquadrado nas montanhas e com água dum azul turquesa magnífico. No meio do lago, destaca-se uma pequena ilha com uma igreja e uma grande escadaria acessível diretamente da água.
Havia bastantes pessoas a nadar no lago ou a passear em diversos tipos de embarcações (como canoas ou uma espécie de gôndola). Chegados ao extremos oposto ao da povoação de Bled, subimos ao miradouro Mala Osojnica para a fotografia da praxe. A subida não é longa nem particularmente inclinada mas era muito escorregadia, não se pode dizer que tenha sido fácil. No entanto, a vista é impagável!
Voltámos à beira do lago e fizemos um piquenique numa zona de fácil acesso à água, tendo aproveitado para dar uns mergulhos. Regressámos ao carro à hora certa e seguimos para o destino seguinte, de volta à Croácia: Rovinj, à beira do Adriático na península da Ístria.
Ficámos na fronteira do centro histórico de Rovinj, numa zona em que não circulam carros. Os estacionamentos mais perto tinham custos obscenos, pelo que decidimos deixar o carro num dos 3 parques gratuitos, a 1,5km do nosso apartamento. Assim, seguiu-se mais uma caminhada em plena carga, outra vez com muito calor.
Rovinj é conhecida como a “pequena Veneza” desde o tempo em que estava inserida na República de Veneza (chamava-se Rovigno na altura). A arquitetura é semelhante à de Veneza, tendo nós apreciado particularmente as portadas nas janelas que nos permitiram dormir num quarto escuro; uma raridade nesta viagem, bendita arquitetura veneziana. O apartamento onde ficámos é para lá de centenário mas sofreu remodelação funcional em que o ar condicionado e as caixilharias com bom isolamento acústico nos deram o conforto necessário.
Saímos para jantar por ruas estreitas e cheias de curvas e de altos e baixos. Acabámos por comer na esplanada do Adria Restaurant & Pizzeria (nota 4); a pizza estava boa e o serviço foi simpático e eficaz. Depois do jantar passeámos um pouco pela zona da baía, com o ambiente e a confusão familiares da Marina de Vilamoura, onde comemos um dos melhores gelados de toda a viagem, seguramente o melhor de pistácio que já comemos.
dia 24 (25/7), Rovinj
Saímos de manhã para um passeio no centro histórico de Rovinj, localizado numa península com uma colina no topo da qual está a igreja de Srª Eufémia com a sua imponente torre sineira. Nesta zona de Rovinj, as casas estão amontoadas e alinhadas em ruas estreitas e sinuosas. Na costa sul da península, a dar para a baía, fica a Praça Marechal Tito (Trg Maršala Tita) com a torre do relógio dum lado e o Arco de Balbi do outro (uma das entradas da zona muralhada). Também na Praça Tito, fica o Museu da Cidade de Rovinj (Heritage Museum) que não visitámos por estar fechado.
Contornando a península à beira mar no sentido dos ponteiros do relógio, fica uma praia (Plaža Balota) onde parámos para uns mergulhos. Esta praia fica numa pequena enseada com água rasa, cheia de calhaus (para não variar). Tem umas escadas de acesso e umas plataformas de cimento mas tem poucas condições para ficar durante muito tempo por falta de sombra … ideal para um mergulho rápido sem sobrelotação de banhistas.
Mais à frente, subimos até à igreja de Stª Eufémia, padroeira de Rovinj, cujo sarcófago com o seu corpo está na cidade há 1200 anos, encontrando-se agora nesta igreja. Na parte lateral da igreja, está a sua torre sineira com a estátua da santa no alto dos seus 62m. Subimos à torre, claro, para desfrutar dumas belas vistas a 360°.
Nas traseiras da igreja, descemos pela rua Grisia. Estreita, inclinada, com um dos pavimentos mais antigos do centro histórico e uma bela escadaria, é uma das ruas mais típicas de Rovinj, cheia de comércio e animação.
Para o almoço, tínhamos planeado experimentar as famosas trufas da Ístria. Fomos ao restaurante La Vela Gostionica (nota 5) e comemos dois pratos de fuži, um com trufas e o outro com camarões e cogumelos, mais peito de frango para o Tomás. Fuži é uma pasta caseira com uma forma tubular que estava muito boa; seguramente foi uma das melhores refeições da viagem.
Como estava muito calor, voltámos para o apartamento e só saímos no final do dia. Desta vez fomos mais para sul, passando pela marina até à praia Mulini. Esta praia fica numa baía com um enquadramento espetacular. Talvez pelo adiantado da hora, já havia poucas pessoas na praia, que foi a melhor em que tínhamos estado nas últimas semanas. Além dum ótimo banho no Adriático, tivemos a oportunidade de ver um pôr do sol magnífico.
Tentámos jantar no restaurante Fish House, na rua do nosso apartamento, mas desistimos por causa da fila de espera com tempo estimado de hora e meia. Assim, optámos pela solução rápida, voltando ao mesmo restaurante do dia anterior. 3º jantar seguido a comer pizza, ao menos era boa.
dia 25 (26/7), Pula
O plano para este dia era visitar Pula, a maior cidade da Ístria e uma das mais antigas na costa do Adriático, situada a a uns 40km a sul de Rovinj. Mais uma viagem com muito trânsito, em particular na entrada de Pula, e com dificuldade em conseguir estacionamento (mesmo pagando bem).
Na época do império romano, Pula tornou-se um porto importante no Mar Adriático. Depois da queda do império romano do ocidente, a península da Ístria foi devastada pelos ostrogodos, tendo sido mais tarde controlada pelos eslavos, pelas repúblicas de Veneza e de Génova e pelo império austro-húngaro. No período entre as duas guerras mundiais, a península pertencia à Itália, sendo atualmente parte da Croácia desde 1947.
O centro histórico de Pula tem vários edifícios romanos, alguns deles ainda em bom estado, sendo o anfiteatro romano (designado por Arena de Pula) o mais emblemático. Este anfiteatro, datado do século I dc, é o 6º maior ainda existente (com os seus quatro andares, tinha capacidade para mais de 20.000 espetadores). Ao longo dos séculos, várias pedras e outros elementos da sua estrutura foram sendo retirados para reutilização noutras construções mas, felizmente, tal prática parou antes da sua destruição. Atualmente, foi construída uma bancada para a realização de espetáculos.
Além da arena propriamente dita (onde aconteciam as lutas) e da zona das bancadas, é possível visitar a galeria por baixo da arena, onde os gladiadores e os animais eram preparados para o espetáculo; atualmente, este espaço serve de exposição de diversos objetos arqueológicos encontrados em escavações no local. Este anfiteatro é, sem dúvida, ponto de visita obrigatório para quem for a Pula.
Almoçámos um hambúrguer no restaurante The Shipyard Pub (nota 2), uma das refeições mais fracas de toda a viagem.
Depois do almoço, demos uma volta pelo centro de Pula, percorrendo alguns dos seus pontos de interesse, como a porta gémea, a porta do Hércules ou o arco do triunfo, datado do século I ac e erguido em celebração da vitória na batalha do Actium em que Octávio Augusto derrotou as forças de Cleópatra e de Marco António.
Mais à frente, com acesso através duma loja de roupa, está o mosaico do castigo de Dirce. Descoberto durante a limpeza dos destroços da segunda guerra mundial, este pavimento em perfeito estado de conservação pertencia a uma Villa romana e ilustra este episódio da mitologia grega. A sua representação é rara, havendo uma parecida no Museu do Vaticano, com o mesmo touro, a mesma mulher e os mesmos gémeos.
Seguimos até ao Fórum, que é a praça principal da cidade. Construída no século I ac, tinha originalmente os elementos típicos: templos dedicados a deuses romanos (neste caso, Júpiter, Juno e Minerva), o templo de Diana e outro templo dedicado ao imperador Augusto; atualmente, apenas este se mantém no local. No século X, o edifício da Câmara Municipal foi construído reaproveitando partes dos outros edifícios, como é perceptível olhando para a parede das suas traseiras.
Passámos ainda pela catedral, com a sua volumosa torre sineira, bem destacada do edifício principal.
Depois de voltarmos ao carro, deslocamo-nos até à praia Gortan Cove, na costa sul de Pula, onde passámos as horas seguintes. Esta praia tem uma escarpa do lado poente, pelo que fica à sombra relativamente cedo, o que foi muito agradável, tendo em conta o calor que se fazia sentir.
Jantámos no Sandwich Club, perto da praia (nota 3); comemos umas saladas e provámos a cerveja local (Favorit Istarska) que não estava má.
dia 26 (27/7), Rovinj - Liubliana
Antes de iniciarmos a viagem de regresso a Liubliana, decidimos dar um último mergulho no Adriático. Desta vez, fomos para a praia Lone, na parte sul da baía em que também fica a praia Mulini (onde tínhamos estado dois dias antes). Com vista para a igreja de Stª Eufémia e temperatura excelente (da água e exterior), foi uma despedida épica.
Tínhamos pensado espreitar Hum (conhecida como a cidade mais pequena do mundo) e Motovun (uma das várias cidades acrópole da Ístria) mas parámos a meio caminho para almoçar e percebemos que já não havia tempo para isso sem comprometer a hora de devolução do carro.
Almoçámos em Pazin, no restaurante Lovac (nota 4), num terraço com vista para a montanha. Comemos dois pratos de lulas, assadas e fritas, mais uma carbonara para o Tomás. De sobremesa, apostámos no crepe com Nutella, versão chef’s special, acompanhado de um brownie e duma bola de gelado.
Mais 2 horas a conduzir e chegámos a Liubliana a tempo de dar entrada no Hostel e entregar o carro. Desta vez, foram só 4km de caminhada no regresso ao centro da cidade.
O Hostel onde ficámos fica bem dentro do centro histórico, perto da Stari Trg (Praça Velha). Saímos para um passeio ao longo do rio Ljubljanica, passando por muitas esplanadas e apreciando as pontes e a atividade no rio. Esta zona de Liubliana tem muita agitação noturna, cheia de turistas, em particular no segmento jovem.
Jantámos no restaurante Zbornica burgers and pizza e comemos hambúrguer e pizza na esplanada. Experimentámos a cerveja Laško, uma verdadeira instituição na Eslovénia que nos pareceu banal. A temperatura estava muito agradável mas começou a chover no final da refeição, o que tornou o regresso ao Hostel menos interessante.
dia 27 (28/7), Liubliana
Tomámos o pequeno almoço no mercado. Além do leite/café e do pão/croissants, provámos um bolo tradicional da Eslovénia: orehova potica, um pão de ló com o aspeto do bolo mármore que não estava nada de especial. Tirando uma colher de sopa de rum, a receita é perfeitamente normal e não vemos nada que justifique o bolo estar tão desenxabido; provavelmente tivemos azar com o local onde o comemos.
Seguiu-se um passeio pelo centro histórico de Liubliana, alternando entre os dois lados do rio. Começámos pela ponte do dragão (Zmajski Most), “guardada” por 4 dragões (2 de cada lado do rio), seguida da ponte dos talhantes (Mesarski most, assim batizado por estar alinhada com a zona dos talhantes no mercado). Esta ponte tem umas quantas esculturas que não deixam ninguém indiferente: Prometeus eviscerado no lado norte, Sátiro atemorizado no meio e Adão e Eva no lado sul, envergonhados, banidos do paraíso (curiosamente, caminhando em direção à catedral).
Continuámos pela margem norte do rio até à Praça Prešeren, onde visitámos a igreja da anunciação, integrada no mosteiro franciscano. A sua fachada imponente, dum cor de rosa forte (originalmente vermelha que se desvaneceu com os tempos), com a inscrição “Ave, Gratia Plena!” e uma grande estátua de Nossa Senhora de Loreto no topo, domina uma das praças mais importantes de Liubliana. Voltaríamos à Praça Prešeren no dia seguinte para uma observação mais atenta.
Fomos ainda espreitar a ponte tripla, que liga a Praça Prešeren (na zona moderna da cidade) à cidade antiga. Este conjunto de 3 pontes foi-se desenvolvendo a partir duma ponte antiga datada do século XIII. Em 1842, esta foi substituída por uma nova ponte, batizada de Francisco Carlos, Arquiduque do império austro-húngaro. Francisco Carlos foi pai de dois imperadores (Franz Joseph da Áustria e Maximilian do México) e avô de Franz Ferdinand, que viria a ser assassinado em Sarajevo em 1914. Em 1929, foram projetadas as duas pontes laterais, destinadas a peões. O desenho final é interessante, tanto à escala real como visto no mapa, uma vez que cada uma das 3 pontes acompanha uma curva do rio Ljubljanica com quase 90°, ficando desalinhada das outras e desenhando 3 raios duma circunferência imaginária com centro a uns 70m ou 80m da margem sul do rio.
De volta à margem sul, visitámos a catedral (a igreja de São Nicolau), cujas portas (tanto a principal como a lateral) merecem uma observação atenta: enormes, feitas de bronze e com relevos impressionantes.
Mais à frente, fica a Mestni Trg (praça do município), dominada pela fonte Robba (Robbov vodnjak), também conhecida como Fonte dos Três Rios Carniolanos. Nela estão representados três deuses, cada um com o seu jarro a brotar água que representam a nascente dos rios eslovenos Ljubljanica, Sava e Krka, em alusão à união das três tribos e províncias que deram origem à Eslovénia.
Antes do almoço, ainda entrámos no edifício da Câmara Municipal e espreitámos os artigos expostos no átrio de entrada e o seu pátio interior que merece uma visita rápida. Almoçámos no Tunaholic (nota 3), onde comemos tubarão frito e salada de atum antes de voltarmos para o Hostel para descansar um pouco.
Mais para o final do dia subimos até ao castelo; é uma caminhada por caminhos íngremes até ao topo da colina que vale bem a pena. Além das boas vistas sobre toda a cidade, a visita é muito interessante. O castelo começou a ser construído no século XII, tendo sofrido várias ampliações e remodelações desde essa altura. Atualmente, encontra-se bem conservado com obras de recuperação com traça moderna muito bem enquadradas na arquitetura original. É um ponto de interesse obrigatório para os visitantes de Liubliana.
Durante a descida, ouvia-se música a tocar na zona para onde nos deslocávamos, o que chamou a nossa atenção. Chegados à Stari trg, lá estava um palco em que atuava a Brencl Banda, banda eslovena de música tradicional. Ficámos ali um bocado a apreciar o espetáculo, de que gostámos muito.
Jantámos no Café Romeo (nota 3) que oferece cozinha de fusão com inspiração na América latina. Comemos chimichanga de frango (com tortilha, queijo e guacamole) e gringa de vaca (com tortilha, ananás, pimento e guacamole). Estava interessante mas não nos entusiasmou.
dia 28 (29/7), Liubliana - Veneza
Para o pequeno almoço, experimentámos várias opções do que estava referido como “pequeno almoço esloveno”. O espaço era agradável, numa esplanada à beira do rio, mas a comida ficou aquém das expectativas, apesar de não estar mal. Comemos dois tipos diferentes de omelete e uma tábua de queijos com pão e azeitonas.
De seguida, começámos a caminhada para o terminal rodoviário, para apanharmos a camioneta para Veneza, de onde partiria o voo para Lisboa no dia seguinte. Fizemos esse percurso calmamente, de aproximadamente 1km, com uma paragem na Praça Prešeren (Prešernov trg).
Atualmente, a Praça Prešeren é uma das mais importantes de Liubliana, ponto de convergência de diversas artérias da parte moderna da cidade e palco de vários eventos. Nesta praça está a estátua de Prešeren, o principal poeta esloveno, com um ar nostálgico a olhar para a sua musa e amor não correspondido, Julia Primicova, cujo relevo está na fachada dum prédio no outro lado da praça.
No meio da praça, em frente à fachada da igreja da anunciação, estava uma instalação demonstrativa do chamado humor esloveno (comentário ouvido dum guia local), alusiva ao tempo chuvoso característico de Liubliana (como pudemos comprovar na véspera). Nesta zona, caíam gotas água de aspersores montados nuns cabos aéreos, que fazia as delícias dos turistas mais acalorados, sobretudo das crianças; o Tomás esteve lá o tempo suficiente para ficar todo encharcado.
A norte da Praça Prešeren, fica a rua Miklošičeva, onde está a Casa Vurnik, provavelmente o edifício mais colorido de Liubliana, considerado um dos melhores exemplos da arquitetura eslovena(!).
Chegámos a Veneza pelas 17h e ao nosso alojamento pelas 17:30. Largámos a bagagem e fomos em direção à segunda Praça de São Marcos da viagem, esta bem mais famosa do que a outra. O passeio foi muito agradável, entre ruelas, pontes e canais com várias gôndolas.
A Praça de São Marcos é grandiosa, passámos lá um bocado a apreciar a agitação.
Estando a começar a chover, parámos no ristorante da Totò (nota 4), onde comemos pratos de pasta.
No regresso ao alojamento, depois de passar numa rua estreita com pouca luz, seguia-se o que parecia ser outra rua com pouca luz … afinal era o acesso à água, ficámos a um passo de ter uma experiência inesquecível num canal de Veneza.
dia 29 (30/7), Veneza - Lisboa
Saímos de manhã em direção à Praça de Roma para apanhar a camioneta para o aeroporto, com tempo e disposição para apreciar as vistas.
Fizemos parte do percurso ao longo do Grand Canal, que passa em frente à estação de comboios de Santa Lúcia; em frente à estação, do outro lado do canal fica a bonita igreja de São Simão Pequeno com a sua escadaria que parece nascer na água.
4. Outras notas
Tínhamos lido que os locais não se sentem à vontade para falar sobre a guerra da Jugoslávia, pelo que deveríamos evitar fazê-lo. Da nossa experiência, isso já não será assim, pelo contrário. Sentimos abertura dos locais para falar sobre o assunto; não só para satisfazer a curiosidade do turista mas, sobretudo, por vontade de dar a conhecer os seus povos e a sua cultura, tão marcados por esta guerra recente, e de desfazer algumas ideias feitas sobre etnias e o seu relacionamento. Ficou bem evidente o extremo cuidado em apresentar os factos de forma neutra e de passar ao turista um único conselho: não tomar partido relativamente a este assunto, nunca se sabe com quem se está a falar e qual a sua história e traumas pessoais com a guerra.
Ouvimos falar sobre a guerra em Dubrovnik (alvo de bombardeamentos) e, sobretudo, na Bósnia e Herzegovina, que foi invadida pela Jugoslávia (Sérvia e Montenegro, na altura) e pela Croácia. Muita informação dos agredidos em contraste com o silêncio dos agressores.
Em todos estes países, vê-se muitas bandeiras nacionais nas vias públicas e sente-se bastante a manifestação do orgulho nacional. Isto é particularmente verdade em Montenegro, provavelmente por ser o país com a independência mais recente.
A bandeira da Bósnia e Herzegovina foi criada por um burocrata no rescaldo da guerra da Jugoslávia, com o objetivo de conseguir a aprovação de todos. O triângulo amarelo remete para a forma do território do país e representa as 3 partes envolvidas: bosniaks, croatas e sérvios (mais precisamente, muçulmanos, católicos e protestantes). O fundo azul representa a Europa; as estrelas representam a cooperação dos países europeus, um esforço sempre inacabado, como simbolizam as duas estrelas incompletas. O resultado é um pouco confuso e não parece entusiasmar os locais.
Os montenegrinos fazem questão de chamar “montenegrino” à sua língua. No entanto, não nos apercebemos de nenhuma diferença, em termos de escrita, relativamente ao que vimos na Croácia e na Bósnia e Herzegovina. Tanto quanto investigámos, nestes 3 países (tal como na Sérvia) fala-se servo-croata, ideia reforçada pelas legendas dos produtos de supermercado em que se indica os 4 países para o mesmo texto.
Nestas zonas, o geocaching está pouco desenvolvido. Habituámo-nos, noutras paragens, a descobrir algumas coisas interessantes que não vêm nos guias turísticos com base nesta atividade. No países visitados nesta viagem, tivemos pouca sorte neste aspeto.
Na zona sul da costa do Adriático (Dubrovnik, Sveti Stefan, etc.) e em Mostar, reinava um intenso cheiro a figueiras, a fazer lembrar o Algarve há umas dezenas de anos. Nestes locais houve muita prática de “snifar figueiras” … muito bom!