Índice
1. Resumo
Francisco e Pedro num fim de semana em Manchester, a pretexto de assistirem a um jogo de futebol da Premier League (Manchester City contra Wolverhampton Wanderers). Apesar de estar previsto, a Sara não conseguiu juntar-se vinda de Sheffield por causa da greve nos comboios em Inglaterra.
O jogo, inicialmente previsto para o sábado, foi adiado para domingo, o que obrigou a alterar o voo de regresso e a pernoitar mais uma noite.
Apesar do frio (temperatura pouco acima dos 0°C com pouca amplitude térmica), apanhámos uns belos dias de sol, raros nestas bandas por esta altura do ano.
O sábado foi passado no centro de Manchester e o domingo foi dedicado ao futebol, com visita matinal a Old Trafford (estádio do Manchester United) e jogo depois do almoço.
O centro de Manchester tem a forma aproximada dum círculo com 1km de raio, pelo que a deslocação a pé é apropriada, mesmo para ir aos dois estádios que ficam a pouco mais de 1km da via circular que envolve o centro da cidade.
2. Custos
Os voos de Lisboa para Manchester são baratos em janeiro. Mesmo com a restrição de ter de voltar no primeiro voo da manhã de 2ª feira, o custo de ida e de volta por pessoa ficou em 114€. Este valor inclui os dois voos, o táxi do aeroporto para Manchester e a camioneta no sentido contrário.
Manchester tem muita oferta de alojamento, para todos os patamares de preço. Nas noites de 6ª feira e de sábado ficámos no hotel Campanile, encostado ao lado poente da via de circulação que envolve o centro da cidade, e na noite de domingo ficámos no Ibis Budget do aeroporto que custou tanto como as duas noites no Campanile. O custo por noite ficou em 74€.
Para refeições em restaurante, há opções relativamente baratas. No nosso caso, comemos no Five Guys, Wetherspoon e Rudys, tendo gasto uma média de 18€ por pessoa por refeição.
As refeições ligeiras (pequeno almoço e snack antes do jogo) custaram-nos uma média de 8,50€ por pessoa por refeição.
Fizemos duas atividades a pagar (visitas guiadas no centro da cidade e a Old Trafford) que custaram uma média de 17€ por pessoa.
3. Enquadramento
A história de Manchester pode ser entendida em 5 fases:
Manchester romana;
Manchester medieval;
Manchester industrial;
Madchester;
Boom imobiliário.
No século I d.c., os romanos criaram um forte num sítio estratégico, entre Chester e Lincoln, para suporte da sua expansão para norte. Numa zona relativamente plana na confluência de 3 rios, o local foi batizado como Mamucium, por inspiração em 2 colinas no horizonte que insinuavam a forma de um par de seios.
Na época medieval, Manchester era uma povoação com pouco relevo, cuja primeira igreja (hoje catedral) só foi construída no século XV.
Apenas no século XVIII, com a revolução industrial, chegou o protagonismo a esta cidade pelas condições atmosféricas favoráveis à fiação de algodão (humidade elevada) e pelo fácil acesso fluvial ao mar e a outras cidades. No seu auge, Manchester assegurava 80% do algodão produzido no mundo.
Durante os séculos XVIII e XIX e na primeira metade do século XX, foi um importante centro de criatividade e de inovação, nas áreas tecnológica, política e económica. A este contexto se devem (entre outros) o modelo atómico de Dalton, a rosca normalizada Whitworth, os carros Rolls Royce, o primeiro computador com memória, o surgimento do partido trabalhista inglês, a defesa do comércio livre e a inspiração para o trabalho de Friedrich Engels e Karl Marx durante a temporada que passaram em Manchester.
Depois da segunda guerra mundial, a indústria entrou em declínio, nunca conseguindo recuperar dos danos dos bombardeamentos nem do caos económico que se instalou no Reino Unido. Assim, a segunda metade do século XX foi caracterizada pela utilização das infra-estruturas industriais (sobretudo os armazéns) para a realização de festas ilegais com muito álcool e LSD. Neste ambiente, surgiu uma grande vaga na indústria musical, com o lançamento de bandas como os Joy Division, The Smiths, Simply Red, The Verve, Oasis ou James. Em função dos excessos deste período, Manchester era conhecida como Madchester.
No século XXI, os edifícios industriais entraram na sua terceira vida, sendo convertidos em hotéis, restaurantes e outros espaços de serviços. Atualmente, a cidade está a crescer em altura, tendo já múltiplos arranha-céus e muitos mais em construção … consta que há 5 anos só havia um, a Beetham Tower onde funciona o hotel Hilton Deansgate.
Em termos arquitetónicos, a cidade é muito heterogénea e pouco interessante, estando os edifícios “tipicamente ingleses” (com o famoso tijolo vermelho) concentrados à volta da zona de Picadilly. A cidade pareceu-nos ter muita vida, com duas universidades e muitas pessoas que aparentavam ser maioritariamente residentes a circularem no sábado à tarde no eixo que liga St. Peter's Square à catedral, passando por Albert Square e St Annes Square.
4. Diário
dia 1 (20/1), Lisboa - Manchester
Chegámos ao aeroporto de Manchester às 00:30, uma hora depois do previsto. Decidimos apanhar um táxi para o hotel, onde chegámos relativamente depressa, e fomos logo dormir que a agenda do dia seguinte seria carregada.
dia 2 (21/1), centro de Manchester
Depois do pequeno almoço e duma caminhada de meia hora, iniciámos as atividades no jardim Sackville, perto da Gay Village, mais precisamente perto da estátua de Alan Turing.
Alan Turing é considerado o pai da computação e da inteligência artificial tendo, entre outras coisas contribuído durante a segunda guerra mundial para a descodificação das cifras alemãs. A sua homossexualidade foi revelada na investigação a um assalto à sua casa, tendo sido condenado por comportamento indecoroso (como foi considerada a partilha de lar com outro homem). Morreu em 1954 de envenenamento por cianeto, consta que depois de morder uma maçã … diz o mito que o símbolo da Apple é uma homenagem a Alan Turing.
Partindo em frente à estátua, iniciámos a visita guiada da GuruWalk. Esta visita incidiu nas 3 últimas fases da história de Manchester, desde a revolução industrial até ao presente, acrescentando algumas curiosidades. Por exemplo, num país com uma cultura cervejeira tão forte, é estranho ver uma instalação dedicada a uma bebida não alcoólica criada no início do século XX por um membro da igreja Metodista, feita à base de fruta: Vimto, de seu nome, tem um grupo de fãs no Reino Unido e clientes fiéis nos países árabes. No entanto, a maioria dos ingleses não aprecia a bebida e não perde a oportunidade de dizer que o seu nome é um anagrama para “vomit” …
A visita guiada percorreu alguns dos pontos mais relevantes de Manchester, como a Gay Village (à beira do canal Ashton), St Peter’s Square (com a estátua de Emmeline Pankhurst, ativista sufragista) e a biblioteca central.
A dar para a praça de St Peter’s fica o icónico hotel Midland, onde Henry Royce e Charles Rolls decidiram juntar-se para construir automóveis e David Beckham teve a primeira saída com Victoria Adams. Consta que Adolf Hitler gostou tanto do aspeto deste edifício que deu ordens para o poupar nos bombardeamentos de Manchester, pois queria que ele fosse a sede da ocupação Nazi … efetivamente, nenhuma bomba acertou no hotel.
Mais à frente, em direção ao Town Hall, encontra-se uma estátua de Abraham Lincoln que assinala o agradecimento do presidente dos Estados Unidos ao apoio que Manchester deu à causa anti esclavagista com a interrupção da importação de algodão, na altura dependente do trabalho de escravos.
Seguimos por Albert Square e por St Annes Square, onde fica o Royal Exchange Theatre (um teatro construído no interior do antigo edifício do mercado do algodão e dos produtos têxteis), até perto da Catedral onde a visita terminou.
Em junho de 1996, o IRA colocou uma bomba na zona da catedral, tendo avisado com uma hora de antecedência. A bomba foi descoberta rapidamente mas, desconhecendo a sua potência e temendo não conseguir desarmá-la a tempo, as autoridades decidiram evacuar a zona e deixá-la explodir. Num raio de 500m, ficou tudo arrasado (a própria catedral sofreu danos avultados), exceto uma caixa de correio que escapou ilesa e foi recolocada na Corporation Street.
A visita guiada acabou perto das 14:30, pelo que optámos por um almoço rápido (um hambúrguer no Five Guys, nota 4 em 5) para aproveitarmos a tarde antes dos fecho dos museus, às 17:00.
Depois de visita rápida à catedral, seguimos até ao Museu da Ciência e da Indústria, localizado no edifício onde ficava a estação da primeira linha férrea de passageiros do mundo, que ligava Manchester a Liverpool. Este museu tem uma exposição interessante do contributo local para o avanço científico e industrial; entre outras coisas, estão expostas uma réplica do Baby (primeiro computador com memória) 100% operacional, vários instrumentos inventados para a mecanização da fiação e da tecelagem de algodão, e um dos primeiros Rolls-Royce (fabricado em 1905) que foi conduzido por Henry Royce durante um ano.
O Museu tem muitas outras áreas com exposições temporárias e com atividades interativas, pensadas para crianças e jovens, que não tivemos tempo de visitar. Os museus em Manchester são gratuitos, havendo mais dois que chamaram a nossa atenção para uma visita futura: o People’s History Museum (focado no contributo local na área das ciências sociais) e o Greater Manchester Police Museum and Archives.
Voltámos ao hotel, onde estivemos a fazer tempo no bar, antes de irmos jantar ao Wetherspoon (nota 4 em 5), onde comemos pratos à base de caril.
dia 3 (22/1), Old Trafford e Ethiad Stadium
O dia começou com uma visita guiada ao estádio do Manchester United, Old Trafford, agendada para as 10:00. Entrámos pela bancada Sir Alex Ferguson e atravessámos o museu até ao local onde começava a visita guiada.
Chegámos às 9:55; deram-nos um tablet multilingue (sem opção para português) e ouvimos uma introdução de 2 minutos do nosso guia enquanto ele olhava frequentemente para o relógio … às 10:00 em ponto iniciámos a visita. Devido à grande quantidade de visitas, está tudo planeado ao minuto para não abrandar o fluxo de visitantes: “têm 2 minutos para tirar fotos, temos de seguir para a próxima zona que o grupo seguinte vem já aí” (ouvimos isto umas quantas vezes).
O estádio de Old Trafford tem mais de 100 anos, tendo vindo a receber melhorias e expansões ao longo do tempo, apesar de algumas restrições. Por exemplo, a bancada Sir Bobby Charlton é a mais pequena, não sendo fácil aumentar a sua capacidade porque está encostada a uma linha de comboio. Talvez por isso, o todo tem um aspeto estranho e algo desalinhado, apesar de imponente, com zonas de circulação e de suporte (bares, sala de imprensa, etc.) acanhadas e zonas para os comentadores de TV literalmente penduradas na cobertura.
Os bombardeamentos da segunda guerra mundial causaram danos irreversíveis no estádio. Depois da guerra, foi decidido reconstruir o estádio em torno do túnel de acesso ao relvado, que foi uma das poucas estruturas que se mantiveram intactas. Atualmente, este túnel não é utilizado pelas equipas mas mantém-se orgulhosamente aberto, localizado entre os bancos de suplentes, como símbolo de resiliência deste clube centenário.
O nosso guia é um fervoroso adepto do Manchester United, foi bastante divertido ver o seu entusiasmo transmitido no seu sotaque mancuniano; só por isso, a visita já valia a pena.
Também foi curioso perceber os seus sentimentos contraditórios face a algumas alterações que o treinador atual (o holandês Erik Ten Hag) fez a tradições de largas décadas (situação muito complicada para a mentalidade britânica). Por exemplo, o alinhamento da equipa do lado direito do túnel de acesso em vez do lado esquerdo (que, no início da época, provocou cena caricata protagonizada pelo capitão da equipa) ou a troca dos bancos de suplentes … sentiu-se bem a dor do adepto ao ver elementos da equipa adversária sentarem-se na cadeira usada por Alex Ferguson durante 26 anos.
De seguida, voltámos ao museu para uma visita rápida. Saímos pouco depois do meio dia e apanhámos um táxi para o estádio Ethiad, localizado no outro lado da cidade, onde às 14:00 começaria o jogo da liga inglesa City vs. Wolves.
Parámos na fila dum “estabelecimento de restauração” em frente do estádio para comer “qualquer coisa” antes do jogo. Tivemos o bom senso de não afundar o pitéu em nenhum dos vários molhos disponíveis, destoando claramente da prática corrente.
Entrámos para o estádio antes das 13:00, onde bebemos meia pint para disfarçar o sabor do repasto antes de irmos para a bancada.
O jogo cumpriu as expectativas (ver aqui o resumo), apesar dos portugueses do City estarem todos no banco (Rúben Dias, João Cancelo e Bernardo Silva, este entrou na segunda parte). Do lado dos Wolves, jogaram 6 portugueses (José Sá, Nelson Semedo, Rúben Neves, Matheus Nunes, Daniel Podence e João Moutinho).
O ambiente no estádio estava fantástico, com os típicos cânticos ingleses e um espectador na fila de trás muito ativo nos comentários, muito mais entusiasmante que a envolvente no estádio do Tottenham.
De resto, foi um privilégio ver jogar uma das melhores equipas do mundo, treinada por um dos melhores do mundo (Pep Guardiola) e assistir ao espetáculo de Erling Haaland a encurtar em 3 golos a distância para Ronaldo, em apenas 60 minutos, a caminho do estatuto de maior marcador de golos de todos os tempos.
Quando saímos do estádio, apercebemos-nos de como enregelámos sentados nas bancadas, sensação ultrapassada em 15 minutos da caminhada de 4km até ao hotel, onde tínhamos deixado as mochilas. Nesta caminhada, voltámos a atravessar a cidade e a passar nalguns pontos já conhecidos do dia anterior, com uma pequena paragem no Aldi para um snack rápido.
Decidimos jantar no Rudys (nota 3), a caminho da estação de Oxford Road, onde pretendíamos apanhar o comboio para o aeroporto. No entanto, devido à greve nos comboios, seguimos na camioneta de substituição.
Pernoitámos no Ibis Budget do aeroporto, uma vez que o voo de regresso estava previsto para as 5:25 do dia seguinte. Foi a primeira experiência neste conceito de hotel, com 2 camas num quadrado de 2,5m x 2,5m mais uma casa de banho; nenhum espaço para malas e circulação difícil no espaço disponível por troca do dobro do valor dum hotel melhor no centro de Manchester.