Índice
1. Resumo
Helena, Francisco e Tomás (9 anos) em 11 dias completos na Jordânia, depois de uns dias em Roma e outros em Israel, em viagem realizada em julho de 2023 . Descobrimos no local que visitámos Israel e a Jordânia na época baixa (as épocas altas são no outono e na primavera), o que nos permitiu ter algumas experiências sem a confusão das multidões de turistas … em contrapartida, houve alturas em que custou suportar tanto calor.
Entrámos na Jordânia vindos de Israel por Aqaba (no extremo sul do país, à beira do Golfo de Aqaba que desemboca no Mar Vermelho), onde alugámos um carro para seguir em direção a norte até Amã (capital da Jordânia, a pouco mais de 300km). Aqui terminámos a viagem apanhando o avião para Lisboa (com escala em Bérgamo).
Entre outros, fizeram parte do programa uma ida ao deserto em Wadi Rum (B), uns dias em Petra (C) e a passagem por locais sagrados para os cristãos (como o Monte Nebo e o rio Jordão, G).
Em enorme contraste com os israelitas, o povo jordano é bastante acolhedor, fazendo-nos sentir genuinamente bem vindos. A gastronomia que experimentámos é simples mas bastante saborosa e servida em doses generosas.
Tudo funcionou sem sobressaltos e sem nenhuma perceção de insegurança; alguma questão e todos os locais tentavam ajudar, mesmo sem falarmos nenhuma língua em comum (dificuldade ultrapassada com a ajuda do Google Translator que funcionou na perfeição).
2. Custos
Da nossa experiência, não se pode dizer que a Jordânia é um país caro mas também não será correto dizer que é um país barato. O alojamento é do mais barato dos vários sítios que já visitámos (35€ por noite, ao nível da Albânia e da Bósnia e Herzegovina), tal como os custos de aluguer de viatura, gasolina e estacionamento. No entanto, há muitas atividades pagas que, no final, pesam no orçamento.
Todas as deslocações foram feitas em carro alugado que só não usámos nos primeiros nem nos últimos dias (em Aqaba e em Amã, respetivamente). Não pagámos estacionamento em lado nenhum, parecendo-nos que os jordanos são muito descontraídos neste aspeto. No final, gastámos uma média de 41€ por dia com as deslocações.
A alimentação ficou-nos em 14€ diários por pessoa, também ao nível do que gastámos na Albânia e na Bósnia Herzegovina. No entanto, este valor resulta duma ponderação de duas realidades distintas, no que respeita às refeições de restaurante (60% dos almoços e dos jantares): nos primeiros dias, fomos a restaurantes “normais”, com preços equivalentes aos praticados em Portugal; nos últimos dias descobrimos os restaurantes dos locais, aqueles com o filtro “entre 5 e 10 JOD”, onde comíamos comida mais genuína por 1/3 do preço. No que respeita aos supermercados e mercearias, têm preços semelhantes aos de Portugal. Com o que sabemos hoje, teria sido possível gastarmos aproximadamente 10€ diários por pessoa.
O que realmente sai caro na Jordânia são as atividades. Apesar de, por regra, não terem custos para as crianças, as idas a Petra e a Wadi Rum são bastante caras. Comprámos o Jordan Pass que elimina os custos do visto de entrada no país e nos deu acesso acesso a bastantes locais (incluindo a Petra mas não a alguns relevantes como o Monte Nebo); o seu preço é elevado mas permitiu poupar algum dinheiro, apesar dos vistos na fronteira de Aqaba não terem custos (tanto quanto percebemos é a única passagem sem custos para quem vem de Israel). Tudo somado, gastámos uma média de 18€ diários por adulto, 30% mais do que gastámos em Roma.
3. Diário
dia 1 (10/7), chegada a Aqaba
Chegámos a Eilot, vindos de Jerusalém, pelas 18:30, depois de mais de 4 horas de camioneta. Caminhámos 1.400m até à fronteira que atravessámos em pouco menos de meia hora sem nenhum percalço, depois de pagar a taxa de saída de Israel (115 ILS por pessoa) e mostrar os passaportes uma mão cheia de vezes em cada lado da fronteira. Ao contrário do que pensávamos, o visto na Jordânia não tem custos nesta fronteira para estadas superiores a 3 noites no país. Noutras fronteiras, já se aplica um custo que está incluído no Jordan Pass.
Entrados na Jordânia, sentimos logo a diferença de tratamento. Desde o simples “welcome to Jordan” até ao ambiente mais descontraído e acolhedor; grande contraste face à nossa experiência na semana anterior.
Saindo do ponto de controlo fronteiriço, temos apenas duas opções: caminhar aproximadamente 10 km até Aqaba ou apanhar um táxi. Já estávamos alerta para a chamada “máfia dos táxis” que se revelou de imediato. O preço da viagem está tabelado pelo governo em 11 JOD para o centro de Aqaba. Quando nos dirigíamos para o único táxi, fomos interpelados por um sr. que perguntou para onde íamos. Tendo sido bastante específicos na resposta (se tivéssemos dito “centro de Aqaba” talvez ficássemos mais defendidos), ele disse que aí já não é o centro (o que não é verdade), pelo que o valor seriam 15 JOD. Estando cansados e sem vontade de discutir, aceitámos e ficámos a apreciar a entrega de dinheiro do condutor do táxi ao outro senhor … foi divertido ver a resposta á nossa questão se os 15 JOD incluíam a bagagem: “está na Jordânia, isto não é uma máfia” 🙂
Ainda parámos pelo caminho para levantar dinheiro e chegámos ao alojamento antes das 20:00.
Fomos jantar no restaurante Al Sayad (nota 4), recomendado pelo nosso anfitrião. Trata-se dum estabelecimento misto, peixaria dum lado e restaurante do outro, tal como a cerca de dezena de estabelecimentos na mesma rua. Comemos sopa de lulas, camarão e vegetais, garoupa vermelha grelhada e calamares baneyh, acompanhado de tahini, salada árabe, salada fatoush e batata frita. De bebida, pedimos sumos de guava, de morango e de limão com menta. Não sendo um restaurante barato, era frequentado por famílias locais e soube bem comer peixe e uma sopa. O sumo de Guava foi a revelação da refeição, tendo sido a bebida escolhida em muitos dos dias seguintes.
dia 2 (11/7), Aqaba
Depois do esforço dos dias anteriores (subida a Masada, ainda em Israel, e viagem desde Jerusalém), este dia foi reservado para o descanso. Nesta zona, a Jordânia tem aproximadamente 25 km de costa, com Israel e o Egipto do outro lado do Golfo e a Arábia Saudita a 20 km para sul de Aqaba. Na época baixa quase não se vê turistas que, noutras alturas, deverão encher os muitos hotéis de Aqaba e frequentar preferencialmente a zona a sul desta cidade, em particular à volta de South Beach.
Dormirmos até não apetecer mais e, seguidamente, fomos até à praia Al-Ghandour (a 200 m do nosso alojamento). Éramos os únicos turistas na praia, pelo que destoámos pelos calções mais curtos e por a Helena estar com menos roupa que as outras senhoras, apesar de estar com t-shirt e saia comprida. Os locais tomam banho vestidos; os homens com calções de banho e t-shirt e as senhoras com a roupa com que também andam na rua. Apenas alguns miúdos mais pequenos tomam banho sem t-shirt. A água estava quentinha e sem ondulação.
Voltámos ao alojamento, onde tomámos um duche, e saímos para almoçar, parando pelo caminho para comprar cartões SIM. Desta vez, fomos ao restaurante Arabic Moon (nota 4), recomendado na véspera pelo condutor do táxi. Comemos kebab, carne com tomate, frango assado e húmus; estava tudo muito bom.
Voltámos para o quarto onde descansámos no fresquinho do ar condicionado, onde ficámos até à hora do jantar. Voltámos ao mesmo restaurante do dia anterior (o Al Sayad) onde repetimos a sopa, desta vez seguida de salada grega com pão e sumos e guava.
dia 3 (12/7), Aqaba - Wadi Rum
Dia de seguir para norte. Depois de levantar o carro que tínhamos alugado (um Kia enorme todo riscado e amolgado), fomos pôr gasolina. Na bomba, aconteceu o habitual durante todo o período passado na Jordânia: “De onde és? De Portugal? … Cristiano Ronaldo! Welcome to Jordan”. Neste caso, o sr. era do Iémen que, fez questão de explicar, fica depois da Arábia Saudita, onde joga o Ronaldo.
Antes de iniciarmos viagem, decidimos dar mais um mergulho; desta vez fomos em direção a South Beach tendo parado na praia número 1. Esta praia estava com bastante lixo na areia; tirando isso, estivemos no mesmo contexto do dia anterior: uma mão cheia de locais, todos vestidos.
Procurámos onde almoçar e decidimos ir ao Alkokh Café And Restaurant (nota 4) na praia número 4 que estava completamente vazia, tal como o café (época baixa). Comemos com vista para o mar, a ouvir Bob Marley (os empregados do café mudaram o estilo da música quando nos sentámos). Apesar do vento e do calor (38°), não se estava mal. Dada a pouca variedade do menu, optámos por comer hambúrguer de frango e beber mais um sumo de guava, desta vez com hortelã.
Seguimos em direção a Wadi Rum para uma viagem de comboio que é uma encenação de episódio da revolta árabe pela independência face aos otomanos, durante a primeira guerra mundial. A viagem dura aproximadamente meia hora, num comboio de carga otomano que sofre cilada dos árabes. No meio de tiros e gritos, são feitos reféns (neste caso, um turista francês foi voluntário “à força”) e os árabes retiram. A experiência, agendada na compra do Jordan Pass, foi engraçada. O regresso ao ponto de partida foi feito em jipes com lotação de 6 turistas na caixa aberta, a alta velocidade … pareceu um pouco perigoso pela velocidade e pelo vento; o boné do Tomás saltou logo de início, tendo sido recolhido por alguém que vinha atrás.
10 km mais para sul, fica Wadi Rum Village, local de encontro para as atividades seguintes. Aí deixámos o carro e seguimos de jipe para o deserto, mais precisamente para o campo base da Wadi Rum Desert Adventures. Neste campo base há 12 tendas e 10 bungallows (metade destes ainda em construção), onde os turistas dormem, mais umas instalações sanitárias e um espaço de refeições no meio de montanhas rochosas e dunas de areia avermelhada onde assistimos a um magnífico pôr do sol enquanto o Tomás rebolava pelas dunas abaixo.
Estivemos acompanhados de 3 beduínos muito atenciosos, sempre discretos e eficazes, que tomaram conta de nós, de dois casais de italianos e de vários camelos. Do programa, fazia parte um jantar tipicamente beduíno (zaarb) em que cozinharam frango com legumes colocado num buraco com brasas no chão, coberto com areia, que estava muito bom. Havia também um buffet com várias opções de acompanhamento (saladas, humus, etc.). Antes do jantar, ofereceram-nos chá preto com salva e muito açúcar “para dar energia no calor do deserto”, conforme nos explicaram. Este chá acompanhar-nos-ia nos dias seguintes (nem sempre com a mesma quantidade de açúcar).
Depois do jantar, o staff tentou puxar-nos para umas danças tradicionais à volta da fogueira, o que não durou muito, uma vez que os italianos sairam logo e eles perceberam que não estávamos com grande vontade. Assim, ficámos a olhar para o céu com uma visibilidade excelente das estrelas, via láctea incluída. O Mustafá (um dos membros do staff) esteve sempre connosco, no seu canto sem nos incomodar ou respondendo às nossas questões. Disse-nos que na época alta é uma grande confusão e que só nestas alturas conseguíamos estar ali tão tranquilamente.
dia 4 (13/7), Wadi Rum
Depois do pequeno almoço, saímos pelas 8:30 para um passeio de 4 horas de jipe no deserto, na companhia do nosso guia Ramadan (sudanês). A paisagem de deserto rochoso lembrava as imagens do deserto do Arizona em escala menor, pontuada com formações rochosas dispersas na vasta planície de areia ou de terra batida com escassa vegetação rasteira. Esta zona faz parte duma zona protegida com 74.000 ha perto da fronteira com a Arábia Saudita.
De vez em quando, parávamos para escalar rochedos, para escorregar nas dunas, etc. Havia vários jipes a fazer a mesma coisa, aparentemente muitos menos do que na época alta. No caso das dunas, transportávamos uma espécie de ski duna acima, ao ritmo de passos de 30cm seguidos por escorregadelas de 20cm, o que foi bastante cansativo com 35° e o sol já alto. A descida era divertida mas a perspetiva de nova subida desmotivava bastante a repetição da experiência. No final, resultaram uns esfolões e uns quilos de areia nos ténis e nos bolsos.
A certa altura o Ramadan deixou-nos na ponta sul do desfiladeiro Burrah, com pouco mais de 1 km que percorremos a pé enquanto o jipe foi dar a volta à montanha. Do outro lado, fomos recebidos com mais uma dose de chá feito no local para recuperarmos das 2 horas anteriores (íamos aproximadamente a meio do passeio).
Com o calor a aumentar, tal como o consumo de água, seguimos para o desfiladeiro Khazali. Com 2 ou 3 m de largura e pouco menos de 1 km de extensão (embora só a primeira metade seja percorrida com facilidade), neste desfiladeiro há imensos petróglifos feitos por nabateus e por comerciantes árabes que aqui se abrigavam do calor do deserto. Terminámos o passeio subindo ao topo duma rocha bastante alta de onde se tem uma vista panorâmica a 360° do deserto. Foi um final em grande para esta manhã muito bem passada!
O Ramadan deixou-nos na Wadi Rum Village, onde almoçámos no Rum Castle restaurant. Comemos mutabbal (pasta de beringela) com pita e mansaf, o prato nacional da Jordânia (frango com arroz e especiarias misturado com iogurte natural), acompanhado por água bem fresquinha.
Depois do almoço, seguiu-se 2 horas de viagem até Wadi Musa, vila à beira de Petra que visitaríamos nos dias seguintes. Descansámos um pouco, tomámos um duche e fomos dar uma pequena volta em Wadi Musa com paragem no supermercado. Optámos por uma refeição ligeira em casa e por ir cedo para a cama.
dia 5 (14/7), Petra
Conseguimos estacionar o carro num parque de estacionamento gratuito perto do visitor centre, luxo da época baixa. Por termos Jordan Pass, passámos à frente do pessoal que estava na fila para comprar bilhete para recolhermos os nossos bilhetes de dois dias, incluídos no Jordan Pass.
Decidimos pagar uma visita guiada. A guia era Jordana, natural de Wadi Musa, e fez a visita com quase 40° com a indumentária definida pela sua corrente do islão, incluindo luvas pretas; só tinha a cara à mostra. Era muito simpática e disponível, embora o seu inglês não fosse percetível com facilidade. Mesmo assim, permitiu que nos apercebêssemos de alguns pormenores que, doutra forma, nos passariam despercebidos, embora consideremos que faltou um enquadramento. No final, não ficou claro se valeu a pena.
Árabes nómadas, os nabateus decidiram, no século II a.c., tornar Petra na capital do seu reino pela sua localização central nas rotas comerciais terrestres. A cidade foi conquistada pelos romanos no princípio do século I d.c. tendo perdido relevância com o aumento das rotas comerciais marítimas e com um terramoto no final do século IV que destruiu muitas das suas estruturas. Depois dum período de abandono, Petra foi descoberta pelos ocidentais no início do século XIX por um viajante suíço.
Os nabateus eram bastante evoluídos na gestão da água (consta que os romanos aprenderam com eles) e na arte de esculpir pedra (de onde deriva o nome da cidade), de que resultaram edifícios enormes esculpidos nas montanhas. Estando numa zona de cruzamento de várias civilizações, os nabateus eram bastante permeáveis a influências externas, sendo visíveis elementos egípcios e (sobretudo) helénicos nas estruturas ainda de pé. Atualmente, persistem sobretudo túmulos e mausoléus, tendo as outras estruturas desaparecido quase totalmente.
Em pouco mais de 3 horas, fizemos o trajeto de quase 4 km até à zona do grande templo e da igreja bizantina.
A parte inicial consiste num caminho de quase 1 km ao longo duma necrópole, em que se destaca o túmulo das pirâmides e o triclínio por baixo dele, onde se terão realizado banquetes em honra dos finados.
Segue-se o siq, desfiladeiro que conduz à entrada da cidade: um caminho com mais de 1 km, estreito (há zonas com 3m de largura), desenhado no meio das rochas que chegam a 70 m de altura, ao longo do qual ainda estão visíveis 2 ductos em que a água era transportada para Petra, um de cada lado do siq, bem como inúmeros nichos, altares e representações de ídolos. Por aqui, corria um curso de água até Wadi Musa que foi desviado pelos nabateus.
No final do siq, que termina numa zona particularmente estreita, chegamos ao Al-Khazneh al-Fira'un (O Tesouro dos Faraós), a fachada mais famosa de Petra. Com 25 m de largura e 39 m de altura, este impressionante monumento fúnebre, crê-se que destinado ao rei Aretas IV, provavelmente foi construído na entrada da cidade para impressionar os visitantes, havendo evidências de se ter tornado local de peregrinação. O seu nome resulta duma lenda beduína, segundo a qual um faraó teria escondido um tesouro na urna do topo da fachada. Por esse motivo, houve tentativas repetidas de disparos contra a fachada, na esperança que ouro caísse, ação que apenas resultou na destruição de alguns dos elementos da fachada.
Seguimos para o centro da cidade, passando por mais túmulos (incluindo os túmulos reais), pelo anfiteatro (o maior do mundo totalmente esculpido da pedra) e por templos romanos e bizantinos, até ao Qasr al-Bint que era o templo principal da cidade antiga, ponto em que a nossa guia se despediu.
Nesta fase, já tínhamos esgotado a água que tínhamos levado e estávamos a comprar garrafas de litro e meio pela módica quantia de 2 JOD ou 3 JOD (4€), dependendo do local. Estávamos cansados e o Tomás estava fartinho de andar atrás da guia sem perceber nada do que ela dizia. Assim, fizemos muito lentamente o caminho inverso até ao visitor centre, revendo os locais com calma e rejeitando as muitas ofertas de transporte em burro ou em camelo, bem como de nos tirarem “magical pictures” por troca de algum dinheiro (um miúdo com menos de 10 anos, mais descarado, pediu 5 JOD, quase 7€, a um casal americano para lhes tirar uma foto) … aparentemente, a companhia da guia protegeu-nos destas ofertas mas agora já estávamos expostos a elas.
Descansámos um pouco em casa até ao jantar e fomos ao restaurante Beit Al-Barakah (nota 5), onde comemos esparguete à bolonhesa (para o Tomás), shawarma e frango com maqluba: prato de arroz e vegetais (neste caso, beringela e couve flor) cozinhado em camadas e servido “virado do avesso” que é o que significa maqluba). Estavam incluídas várias entradas (beringela com molho doce, pepino com pimentos e crouton, taboulet e húmus) e para sobremesa melancia e chá. Este foi dos poucos restaurantes que servia cerveja ocidental (Bavaria, sem álcool, claro).
dia 6 (15/7), Petra
No nosso segundo dia em Petra, decidimos procurar “porta dos fundos” que nos tinha sido indicada por uns taxistas no dia anterior como a melhor maneira de chegar ao Mosteiro … a maneira “tradicional” de lá chegar é por um trilho de quase 2 km, sempre a subir (com 850 degraus), a começar do Qasr al-Bint, onde tínhamos parado no dia anterior.
Começámos por ir até à entrada norte de Petra, que no mapa fica mais perto do Mosteiro do que o visitor centre (na entrada nascente). Lá chegados, percebemos que a “porta dos fundos” para chegar ao mosteiro consiste em apanhar uma carrinha em Little Petra (uns km a norte de Petra) para o início de outro trilho, com distância equivalente ao que parte de Qasr al-Bint mas que começa num ponto mais alto, logo com uma subida mais suave.
Deixámos o carro na entrada norte, que também ficava mais perto do centro de Petra, e aceitámos o serviço de transporte até Little Petra. Aí comprámos bilhete para o trajeto seguinte, numa carrinha de caixa aberta com capacidade para umas 20 pessoas. Como fomos os primeiros a chegar, esperámos meia hora até que a carrinha enchesse e, finalmente, iniciasse o percurso. Chegados ao início do trilho, começámos a caminhada de 3/4 de hora até ao Mosteiro com algumas subidas e descidas, zonas com degraus, outras em pedra e outras ainda em terra batida.
Esta caminhada foi bastante agradável, com uma bela envolvente, incluindo as vistas.
Pelo caminho, ultrapassámos um burro que transportava uma turista.
Finalmente, chegámos ao Mosteiro, tão imponente como o Tesouro mas com muito menos confusão à volta, em frente do qual há um café onde nos sentámos a descansar um pouco e a apreciar as vistas.
Iniciámos, então, a caminhada para o centro de Petra, fazendo o tal trajeto indicado como bastante difícil mas no sentido fácil, a descer, enquanto nos cruzávamos com outros turistas a arfar em sentido contrário (exceto os que subiam montados em burros). A experiência não saiu barata mas achámos que valeu a pena ter feito a visita ao Mosteiro desta forma.
Chegados a Qasr al-Bint, uma meia hora depois, parámos para comer o farnel e descansarmos um pouco na zona do grande templo.
Para a parte da tarde, decidimos fazer mais um trilho, o Al-Khubtha que liga a zona do anfiteatro a um miradouro com vista para o Al-Khazneh (Tesouro). Na fase inicial do trilho, há uma escadaria onde encontrámos uma senhora a “iniciar o seu negócio negócio” (palavras suas, tinha uns quantos objetos para venda) enquanto tomava conta dumas cabras que circulavam nas escadas. Como parámos por ali para beber água, a senhora ofereceu-nos chá (o tal preto com salva, que na Jordânia não parece beber-se mais nenhum). Acabámos por fazer negócio e seguimos o nosso caminho.
A subida é muito bonita; apesar de longa não é muito difícil. A determinada altura, tem-se uma bela vista sobre o anfiteatro e toda a zona ocidental de Petra.
Depois de chegar ao planalto, tivemos algumas dúvidas sobre por onde seguir mas percebemos que o caminho estava assinalado, na direção sul. Um pouco mais à frente chegámos ao final do percurso, onde constatámos que no melhor local, o único de onde se consegue ver o Tesouro de frente, alguém montou uma tenda a que chamou casa e decidiu servir uma bebida por 1 JOD para deixar os turistas entrar e apreciarem a vista. Talvez pela surpresa, associada ao cansaço e a algum mau feitio, aquilo irritou-nos de tal forma que procurámos o melhor local de acesso livre, tirámos a foto da praxe e voltámos para trás. Hoje pensamos que deveríamos ter pago os 3 JOD e apreciado a vista que deve ser bem melhor do que a de que desfrutámos. Note-se que no monte em frente ao Tesouro é possível subir uns metros, mais ou menos à altura da fachada para mirar o monumento; no entanto, esse acesso é cobrado (5 JOD) por um grupo de locais.
Bastante cansados pelas horas de caminhada ao calor, concluímos que era mais fácil fazer cerca de 3km até ao visitor centre do que cerca de 2km em corta mato a subir até ao local onde deixámos o carro ou pouco mais de 3km pela estrada mas também sempre a subir. Assim, a Helena e o Tomás seguiram para o visitor centre e o Francisco para o carro, na opção corta mato, contornando montanhas e ravinas.
Tendo a Helena e o Tomás passado pelo Tesouro depois das 17:30, foi possível tirar uma foto sem turistas.
A ida a Petra com temperaturas próximas de 40° é muito exigente fisicamente, embora gratificante por haver menos turistas. No final, valeu bem a pena, apesar de no primeiro dia nos ter faltado energia para fazermos o trilho que nos faltou dos 4 mais comuns: o do local do sacrifício no alto do planalto do outro lado do siq, relativamente ao trilho Al-Khubtha, de onde se consegue ter uma vista global sobre Petra.
Depois dum curto descanso em casa, voltámos a jantar no restaurante Beit Al-Barakah, onde repetimos o shawarma, o frango com maqluba e a cerveja Bavaria, antecedidos das mesmas entradas do dia anterior e seguidos do chá com melancia.
dia 7 (16/7), Wadi Numeira
Em dia de transição na deslocação de sul para norte, fomos até Wadi Numeira (à beira do Mar Morto), onde flui um curso de água ao longo dum desfiladeiro. A ideia inicial era irmos para Wadi Mujib mas mudámos o plano porque não é adequado para o Tomás. Estando a 300 m abaixo do nível do mar, a temperatura subiu uma mão cheia de graus ao longo da descida de carro montanha abaixo. Chegámos pelas 13:00 com 40° e saímos depois das 16:30 com 44°.
Na chegada, decidimos estacionar num local que parecia ótimo, a prometer uma bela sombra quando o sol rodasse, mas rapidamente ficámos com o carro atascado na areia. A situação resolveu-se facilmente, retirando a areia debaixo da roda, operação que foi feita com a ajuda de 3 miúdos que apareceram imediatamente. De recompensa, demos-lhe uns snacks que tínhamos recebido no alojamento em Wadi Musa, o que os deixou bastante contentes.
Os quilómetros iniciais do desfiladeiro podem ser percorridos a pé, o que nós fizemos cruzando-nos pontualmente com uns quantos turistas. Também vimos alguns jipes, incluindo um bem longe da entrada do desfiladeiro que, alguma forma, conseguiu passar pelos estreitos e irregularidades do piso até um local onde estava um tipo acampado debaixo duma rocha à beira da água.
No princípio do trajeto há bastante lixo espalhado pelo chão e pela água mas, a partir de certo ponto, a caminhada passa a ser bastante agradável, uma vez que o trajeto é bonito e a temperatura significativamente mais baixa do que fora do desfiladeiro. A água também contribui decisivamente para uns momentos bem passados; apesar de normalmente dar pelo tornozelo (no máximo chega a meio da canela), é o suficiente para refrescar os caminhantes, tanto os mais como os menos empenhados na função.
Pelo meio, comemos o farnel sentados numa rocha a ouvir o barulho da água.
Seguimos para o local do alojamento, a uns 30 km em linha reta mas a quase 70 km por estrada que nos demorou quase hora e meia a fazer. Ficámos numa aldeia no meio de nada num quarto espaçoso, razoavelmente bem equipado e com bastante privacidade. Para o jantar serviram-nos o melhor mansaf que comemos na Jordânia, cozinhado pela mãe do nosso anfitrião, que estava incluído no custo da estada (tal como o pequeno almoço). Em termos gastronómicos, esta foi uma das duas refeições no top 3 desta viagem que tomámos na Jordânia (a outra foi em Jerusalém). Fomos muito bem recebidos mas não chegámos a conhecer a cozinheira nem houve nenhuma interação que, claramente, não era desejada pelos donos da casa.
Passámos uma noite horrível, com muito calor (o quarto não tinha ar condicionado) e com muitos mosquitos. A meio da noite, o Francisco e o Tomás foram vestir manga comprida, calças e peúgas para grande horror da Helena, que era poupada pelos mosquitos mas sofria mais com o calor.
dia 8 (17/7), Umm Ar-Rasas e Madaba
Começámos o dia com um pequeno almoço caseiro constituído por húmus, doce, ovo mexido com queijo, um molho branco parecido tahine, ervas aromáticas com azeite, pão e chá (o tal do costume). Estava muito bom, fartámos-nos de comer.
O ponto de paragem seguinte era Umm Ar-Rasas, património da Unesco, uma cidade que se desenvolveu na época bizantina em torno dum antigo forte romano, ponto de peregrinação com 16 igrejas, algumas com soalho de mosaico ainda em bom estado de preservação. Umm Ar-Rasas (antigamente chamada Mefa'a) é património da Unesco desde 2004, sendo que a maior parte da área ainda não foi escavada
Em posição de destaque, coberta com um enorme teto, está o complexo de Santo Estevão com 4 igrejas, uma capela, um batistério e 4 pátios, construído entre o final do século VI e o final do século VIII. A maior atração são os mosaicos da igreja de Santo Estevão que representam, entre outros, cenas no delta do Nilo e várias cidades nos dois lados do rio Jordão (como Jerusalém, Cesareia Marítima, Amã ou Madaba).
O pátio de acesso a 3 igrejas (Santo Estevão, Bispo Sérgio e Aedicula) foi transformado numa pequena igreja (igreja do Pátio), aumentando para 4 as igrejas deste complexo.
Chegados a Madaba, onde ficaríamos nessa noite, antes da hora de entrada no apartamento, fomos almoçar no restaurante Bawabit Madaba (nota 3). Depois de nos sentarmos, apercebemos-nos que era um restaurante ocidentalizado com música pop e ambiente internacional. Foi um dos dois restaurantes a que fomos em que praticamente só havia turistas; a exceção eram 3 jovens mulheres que se sentaram numas mesas mais ao canto a fumar shisha enquanto trabalhavam no computador. Almoçámos peixe frito, bife de frango e salada, com moutabal de entrada.
Depois de descansar um pouco, fomos comprar mantimentos para o jantar e tivemos uma experiência engraçada. Primeiro, as lojas são bastante especializadas: tivemos de ir a quatro sítios diferentes para comprar 1) fruta e legumes, 2) ovos e iogurte, 3) batatas fritas e 4) pão, Depois, ninguém falava inglês (valeu-nos o Google Translator) mas, apesar das dificuldades, todos os comerciantes se esforçaram imenso para nos indicar onde comprar os itens em falta.
Jantámos uma omolete no terraço do prédio onde ficámos, àquela hora estava uma temperatura muito agradável.
dia 9 (18/7), Monte Nebo e rio Jordão
O nosso plano incluía a visita a vários pontos de interesse em Madaba, conhecida como a cidade dos mosaicos pela enorme quantidade de mosaicos do período bizantino (a maioria dos séculos VI e VII), muitos ainda em bom estado de conservação, espalhados por vários igrejas e parques arqueológicos. No entanto, subestimámos a necessidade de descansar no dia da chegada, pelo que nos ficámos pelos serviços mínimos. Madaba merecia uma estada de 2 noites, também para explorar a sua zona comercial e a sua vivência que nos pareceram bastante interessantes.
Assim, nesta manhã, antes de sairmos de Madaba, fomos visitar a igreja de São Jorge. Esta igreja ortodoxa grega do século XIX é famosa por ter um mosaico com o mapa da Terra Santa, conhecido como o mapa de Madaba, descoberto na sua construção sobre as fundações duma igreja bizantina.
O mapa de Madaba, da segunda metade do século VI, é uma das mais importantes descobertas arqueológicas da Ásia Ocidental e um dos exemplos mais antigos de cartografia, embora apenas um quarto do mapa esteja preservado. Nele está representada a área entre o delta do Nilo e o Líbano e entre o Mediterrâneo e o deserto a nascente das principais cidades jordanas.
A cidade de Jerusalém está representada numa posição central, tendo sido identificados (entre outros) a porta de Damasco, a Igreja do Santo Sepulcro, o Monte do Templo, a porta do Leão e o cardo.
Legenda:
1 - Porta de Damasco
2 - Cardo Maximus
3 - Palácio do Patriarca
4 - Igreja do Santo Sepulcro
5 - Batistério da Igreja do Santo Sepulcro
6 - Porta de Jaffa
7 - Torre de David
8 - Igreja do Monte Sião
9 - Nova igreja da mãe de Deus
10 - Monte do Templo
11 - Porta dos Leões (designada pelos cristãos por porta de Santo de Estevão)
12 - Igreja do tanque de Bethesda
13 - Palácio da imperatriz Eudocia
14 - Cidade Santa de Jerusalém
15 - Terra de Benjamim
No geral, achámos a igreja de São Jorge bastante charmosa, apesar do ar de estaleiro à volta do mapa.
Seguimos para o Monte Nebo, onde Moisés morreu depois de avistar a terra prometida.
No ponto mais alto do monte, existe um memorial a Moisés materializado num túmulo vazio feito com materiais nobres (Moisés foi enterrado em local desconhecido), alinhado com o altar na nave central duma igreja. Ao longo dos séculos, a igreja foi sofrendo alterações, sendo integrada num mosteiro que veio a ser destruído, provavelmente no terramoto de 749. Atualmente, os achados arqueológicos do memorial estão expostos num edifício moderno, conhecido como a Basílica de Moisés.
O complexo, que também inclui vários mosaicos e um centro de interpretação, é gerido pelos franciscanos, estando muito bem tratado, em contraste com outros pontos na Jordânia com bastante relevância mas que não recebem tanto cuidado nem atenção. Havia um sr. na Basílica a lavar uns mosaicos que, às tantas, se levantou para expulsar umas turistas com calções curtos; isto aconteceu algumas vezes, o que deixou o sr. bastante transtornado. Curiosamente, reparámos que o screen saver do seu telemóvel era uma imagem de Saddam Hussein (mais sobre Saddam Hussein na secção de curiosidades).
Seguimos em direção ao rio Jordão, a norte do Mar Morto para visitarmos o local de batismo de Cristo. O que pensávamos ser uma visita rápida, acabou por demorar 2 horas, uma vez que foi preciso aguardar, na ida e na volta, pelo transporte entre a receção e o local que foi visitado em grupo, ao ritmo ditado pelo guia (incluindo visita demorada à loja de souvenirs).
O local reconhecido oficialmente como o do batismo de Cristo está a umas centenas de metros do rio Jordão; consta que o rio foi desviado posteriormente. O mapa de Madaba contribuiu decisivamente para a identificação do local, com referências simbólicas a São João Batista (o veado inocente a ser perseguido pelo leão, que representa Herodes) e dois peixes (duplo significado de cristandade e de batismo), tudo alinhado com Jericó.
Mais à frente está a igreja de São João Batista, pequena e bem arranjada, com mais uns quantos mosaicos. Um deles mostra um confronto entre um veado e um leão, em alusão à crítica que São João Batista fez ao casamento de Herodes com a mulher do seu irmão e à perseguição que este moveu àquele.
Chegámos, então, ao rio Jordão. Em ambas as margens há uma zona demarcada para quem queira molhar os pés ou recolher água, devidamente guardada por militares jordanos e israelitas.
Voltámos à receção, onde estão expostas fotos de visitantes ilustres. Entre elas, está uma foto de Cavaco Silva (ao lado da de Vladimir Putin) e outra de Jorge Sampaio (em contra luz, mal de distinguem as feições).
Eram quase 16:00 e estávamos esfomeados. Parámos no restaurante mais perto (BBQ Brothers, nota 5), à beira da estrada num complexo comercial com uma dúzia de lojas, que mudou completamente o tipo de restaurantes que passámos a frequentar no resto dos dias passados na Jordânia. Com esta experiência, descobrimos a classe de restaurantes assinalados no Google como custando de 1 JOD a 5 JOD por pessoa, mais orientado aos petiscos mas igualmente bem servido.
Comemos bocados de borrego assado com pão, tomate e cebola, e frango com arroz e salada (para o Tomás). Com as bebidas, pagámos 9,40 JOD (aproximadamente 1/3 dos restaurantes “normais”), tendo ficado bastante satisfeitos.
Depois do almoço, fizemos mais 2h de carro até Al-Azraq, onde passámos a noite.
Desta vez ficámos num anexo na casa duma família drusa originária da Síria, cuja fronteira fica a 50 km de Al-Azraq. Os drusos derivam dos ismaelitas, formando uma comunidade atualmente com mais de 1 milhão de indivíduos que, no resultado da primeira guerra mundial, viram o território por si ocupado ser dividido em vários países (Síria, Líbano e Israel). Os antepassados da família que nos acolheu faziam parte duma minoria (cerca de 20 famílias) que migrou para a Jordânia.
Esta história foi-nos contada pelo Hussein durante o jantar que nos serviu na sua casa. Desta vez, comemos na companhia de toda a família: Hussein e mulher, filhas e neto. Voltámos a comer mansaf que não estava tão bom como o que tínhamos comido dois dias antes. O mansaf foi acompanhado de iogurte feito pelo método tradicional, que demora várias semanas entre a recolha do leite e o consumo (das outras vezes que comemos mansaf, foi servido com iogurte natural de produção industrial).
Depois deste jantar agradável, tratámos de ir dormir que estávamos bastante cansados mas tivemos mais uma noite mal dormida: o anexo era muito quente e havia um ruído elevado de funcionamento de motor … para aprendermos a só ir para alojamentos com ar condicionado nestas zonas e nestas alturas.
dia 10 (19/7), construções no deserto
O castelo de Al-Azraq ficava a 10 minutos a pé do nosso alojamento, pelo que fomos visitá-lo depois do pequeno almoço. Era bastante cedo (pouco depois das 8:00), pelo que chegámos antes dos comerciantes que se plantam à entrada do castelo. Mesmo assim, havia um guia turístico que nos fez uma visita guiada pelo preço “especial” de 5 JOD.
As ruínas do castelo estão localizadas estrategicamente no oásis de Azraq e de uma das principais rotas comerciais do deserto. Feito de basalto, ainda tem as principais estruturas de pé. A entrada principal tem duas portas, também de basalto, cada uma com cerca de 1 tonelada, que ainda estão funcionais: conseguimos movê-las com algum esforço, ao contrário da porta das traseiras, do outro lado do castelo, que pesa o triplo. Lawrence das Arábias ocupou um quarto na torre da entrada durante algumas semanas durante a sua deslocação para norte.
O castelo tem uma implantação em forma de quadrado com 80 m de lado, tendo um enorme pátio interior, no meio do qual havia uma pequena igreja orientada para Jerusalém (a poente) mais tarde convertida numa pequena mesquita com a construção de um mihrab orientado para Meca (a sul).
Dirigindo-nos para leste, encontramos à beira da estrada no meio da nada o Quseir Amra, património da Unesco, um misto de forte e palácio do Califa construído em meados do século VIII, com inúmeros frescos nas paredes e tetos e uma pequena zona de banhos quentes.
Na cúpula do caldário está uma das mais antigas representações do zodíaco numa superfície esférica, parte da qual ainda percetível.
Mais à frente, também à beira da estrada e no meio de nada, está o Qasr al-Kharana, edifício do final do século VII ou do início do século VIII. Este edifício de dois andares forma um bloco com implantação em quadrado com 35m de lado, encontrando-se praticamente intacto, à exceção da cobertura de parte da zona norte.
Com uma única entrada, tem um pátio interior que dá acesso a várias “unidades de alojamento” independentes, cada uma com zona comum e quartos, padrão repetido no piso superior mas com as divisões interligadas entre si. Não havendo consenso sobre o tipo de utilização, não tem algumas das característica expectáveis num castelo com fins militares e não está em nenhuma rota comercial nem tem água suficiente para funcionar como caravançarai. Assim, pensa-se que poderá ter funcionado como ponto de encontro para negociações políticas entre governantes e comunidades tribais da zona.
A caminho de Jerash, parámos em Zarqa para almoçar, procurando o tipo de restaurante descoberto no dia anterior. Almoçámos no مطعم بهاء الدين (nota 5, não temos outro nome), onde comemos a segunda refeição na Jordânia no top 3 da viagem (a outra foi em Jerusalém): hambúrguer de frango (para o Tomás) e carne de vaca com vegetais no pote, bem condimentado, cozinhado no forno coberto com massa de pão, acompanhado de ayran, o iogurte salgado que já tínhamos provado no ano anterior em Sarajevo (onde se escreve ajran).
Chegados a Jerash, fomos descansar para o alojamento. Depois dum duche e duma ida ao supermercado, onde comprámos umas belas ameixas, o Francisco e o Tomás foram jantar ao restaurante مطاعم جيت بوئتك (nota 5), enquanto a Helena preferiu ficar e comer uma refeição ligeira. Ofereceram-nos uma sopa enquanto estudávamos o menu, tendo escolhido kebab com batata frita e legumes na dose mais pequena que eles serviam (que não conseguimos acabar), acompanhado de água bem fresquinha.
dia 11 (20/7), Jerash
Iniciámos o dia com um pequeno almoço jordano no aparthotel (muito parecido com o que tínhamos comido 3 dias antes), proposto por preço simpático, tanto mais que as crianças não pagam.
Seguidamente, fomos visitar as ruínas da antiga cidade Gerasa, hoje conhecida por Jerash, uma das mais bem preservadas no Médio Oriente. Mais precisamente, visitámos a zona ocidental da antiga cidade, onde se centravam as atividades religiosas, administrativas e económicas. Numa área com aproximadamente 500m por 1500m no alto duma colina, encontra-se (entre outros) magníficas ruas colunadas (algumas ainda com o piso original), vários arcos, 2 anfiteatros e os restos de 2 templos e de várias igrejas bizantinas. Encontra-se também vestígios de edifícios do período de domínio muçulmano anteriores ao terramoto de 749 que levou a que este espaço ficasse abandonado durante o milénio seguinte enquanto a zona oriental da cidade se desenvolvia.
Entrando pelo lado sul, chegamos rapidamente ao imponente templo de Zeus, de onde se tem uma bela vista par a praça oval e para o Cardo Maximus, ambos cheios de colunas.
Ao lado do templo de Zeus, encontra-se o anfiteatro sul, o maior do complexo, que é atualmente o palco principal do festival de arte e cultura de Jerash. Seguindo para norte, está o inacabado templo de Artemis, padroeira de Gerasa, uma vez que os recursos foram desviados para a construção do templo de Zeus que se iniciou uns anos mais tarde.
De seguida, encontra-se o anfiteatro norte, mais pequeno que o do lado sul mas mais acolhedor por ter as bancadas mais perto do palco.
Do alto deste anfiteatro, tem-se vista sobre a zona norte, ainda em fase inicial de escavação, com a porta norte ao fundo.
Do anfiteatro norte, seguimos em direção ao Cardo Maximus (rua principal, com orientação norte-sul) por uma rua (Decúmano norte) até ao tetrápilo norte, num estado de conservação invejável. Daí, seguimos para sul, ao longo do Cardo Maximus.
A meio do Cardo Maximus, está o Nymphaeum, uma fonte enorme construída no final do século II para reforçar a distribuição de água na cidade.
De volta à zona da entrada, decidimos almoçar no restaurante do complexo que foi a nossa segunda experiência num restaurante sem locais a comer. O restaurante funcionava em buffet e tinha bastante oferta de entradas e pratos quentes por um preço normal, embora bastante mais caro que o tipo de restaurante que tínhamos começado a procurar uns dias antes. Depois de um gelado, fomos espreitar o hipódromo e a exposição na entrada do complexo.
Tínhamos deixado o carro na rua, em frente ao complexo, diante duma loja. Apesar de nos ter parecido um lugar legítimo, a saída tinha sido barrada pelo sr. da loja que nos veio cobrar 1 JOD pelo estacionamento. Reparámos num sinal em árabe que dizia que o estacionamento não era permitido a carros de turismo; não estando seguros se o nosso carro encaixava na categoria, pagámos e seguimos para Amã.
Pela primeira vez, lidámos com engarrafamentos e trânsito caótico para chegar ao centro de Amã. O nosso hotel ficava bem localizado, perto da Cidadela e do comércio e serviços, embora num quarteirão com um aspeto muito duvidoso. O prédio em si tinha um aspeto de fugir, com um hotel no primeiro andar e outro no segundo; o quarto sem ser bom estava uns furos acima do prédio.
Depois de nos instalarmos, o Francisco foi entregar o carro numa zona mais moderna da cidade, com vivendas e arruamentos com um aspeto mais ocidental.
Fomos procurar onde jantar, saindo para (apercebemos-nos depois) o lado mais manhoso. Pensando que no regresso faríamos outro trajeto, lá descobrimos o restaurante Alzamer (nota 5) onde comemos por menos de 5 JOD: sandes de humus com vegetais, ovo mexido com vegetais e hambúrguer.
dia 12 (21/7), Amã
Decidimos não usar despertador e ficar a descansar durante a manhã e só sair para ir almoçar. Fomos em direção ao centro da cidade e parámos no restaurante Hashem (nota 5, éramos os únicos turistas) onde comemos humus com carne, msabaha (humus como grãos inteiros), baba banoush e falafel, tudo acompanhado pelo famoso chá da Jordânia.
Seguimos para a Cidadela, de onde se tem vistas magníficas da cidade, com os seus edifícios monocromáticos por decreto.
Em lugar de destaque está o que resta do templo de Hércules, assim batizado por perto dele se terem encontrado um bocado duma mão e um cotovelo duma estátua enorme (fazendo a proporção) que, pelas grande dimensões, foi atribuída a Hércules.
Demos uma volta pela Cidadela, com uma paragem mais demorada no museu de arqueologia da Jordânia, pequeno mas muito bem organizado, com artigos desde o paleolítico até ao período muçulmano inicial.
Voltámos a descer ao centro da cidade, onde passeámos pela zona comercial, incluindo o mercado, tendo aproveitado para nos abastecermos para o farnel do dia seguinte.
Fomos jantar ao mesmo restaurante do dia anterior antes de voltar ao hotel para a nossa última noite na Jordânia.
dia 13 (22/7), Amã - Lisboa
Desta vez conseguimos voos com horários decentes, mesmo contando com a escala em Milão-Bérgamo. Assim, saímos do hotel antes das 8:30 e fomos até ao aeroporto num táxi contratado no hotel.
No segundo voo, aprendemos que a tripulação da Ryanair não está preparada para ocorrência de vómito no corredor. Foi constrangedor ver aquelas alminhas atarantadas, entre manifestações de riso e de nojo, sem sequer perguntarem a quem tinha vomitado se precisava de alguma coisa …
4. Curiosidades
. Por toda a Jordânia, vê-se a efígie de Saddam Hussein, sobretudo em autocolantes em carros mas também noutros suportes, incluindo o screensaver em telemóveis. Segundo nos explicou a nossa guia em Petra, Saddam Hussein é bastante admirado na Jordânia por ter feito frente aos americanos.
. “Where are you from? … Welcome to Jordan”. Ouvimos isto várias vezes por dia, desde a fronteira em Aqaba até ao táxi que nos deixou no aeroporto de Amã, às vezes com uma graçola sobre Cristiano Ronaldo pelo meio. Em zonas mais turísticas, o povo está claramente formatado para ter esta interação com os turistas que, no entanto, é feita de forma genuína, o que contribuiu bastante para nos sentirmos bem vindos neste país.
. Excetuando Amã, a condução na Jordânia é tranquila e fluida, desde que respeitemos o costume de não respeitar as prioridades: quem chega primeiro avança, exceto se não ocupar o espaço cedendo a passagem. Passados uns dias, estamos a fazer o mesmo e tudo corre bem. As estradas têm boas condições mas estão cheias de lombas, mesmo em vias rápidas, o que convida a circular numa velocidade moderada. De vez em quando, há checkpoints em que polícias armados nos mandavam parar para nos mandarem seguir depois do habitual “Welcome to Jordan”. Aparentemente, estão mais focados nos locais (carros com matrículas todas brancas) do que nos turistas (carros com faixa verde na matrícula).
. Em muitos locais, o posto de atendimento do turista está localizado a umas centenas de metros das atrações, o que obriga o turista a fazer esse percurso a pé ao sol e ao calor. Não percebemos por que razão.
. Não dormimos uma única vez em quartos escuros. Portadas, nem vê-las e o conceito de cortinado só existe para efeitos de privacidade, totalmente ineficaz contra a luz.
. Criança não paga nos alojamentos (”a sua criança fica de borla”), nas atrações e até em alguns restaurantes (os que têm custo fixo por pessoa).
. A água da torneira não é potável. Nós compramos um filtro (tipo palhinha) que nos permite beber em quaisquer condições mas rapidamente nos deixámos disso por ser pouco prático para a quantidade de água que se bebia … passámos a viver de garrafas de litro e meio.
. Os jordanos não estão sensibilizados para a questão do lixo ou da reciclagem. É comum ver pessoas a deitar lixo no chão, apesar de haver alguns sinais a proibir fazê-lo. O consumo de plástico é aflitivo para os nossos padrões: além das muitas garrafas de água vazias, em qualquer loja querem-nos passar montes de sacos de plástico.
. As tomadas elétricas estão pouco normalizadas. Antes da viagem, comprámos uns adaptadores na Amazon.com que só usámos uma vez. Na maior parte das vezes havia tomadas iguais às nossas, frequentemente misturadas (na mesma divisão) com tomadas específicas da zona ou inglesas(!)