Índice
1. Resumo
Helena, Francisco e Tomás (10 anos) em viagem de 6 dias inteiros na Estónia em julho de 2024. Estes dias integraram-se numa viagem à zona do Báltico em que também visitámos a Polónia, a Lituânia, a Letónia.
Acabámos por andar sempre perto da costa. Depois de um dia em Tallinn (A), seguimos para leste até Narva (C) que fica na fronteira com a Rússia, passando pela bela praia de Võsu (B). De Narva, atravessámos o país até ao extremo ocidental (E), tendo ficado 2 noites em Kuressaare (D) na ilha de Saaremaa.
Tallinn foi a capital de que mais gostámos das visitadas nesta zona, onde se respira ambiente medieval por todo o lado. A ilha de Saaremaa também merece destaque, poderíamos ter passado lá mais alguns dias sem nenhum esforço.
2. Enquadramento histórico
O território da atual Estónia foi habitado desde a pré história por tribos que para aqui migraram vindas de nordeste. Assim, os ascendentes dos estónios têm mais afinidades com os finlandeses (genética, língua, etc.) do que com os lituanos e letões, cujos territórios foram inicialmente povoados por tribos que migraram vindas do sul.
No século XIII, as tribos locais foram cristianizadas pela ordem os Cavaleiros Teutónicos e pela ordem dos Irmão Livónios da Espada, tendo este território sido incorporado na Livónia (correspondentes às atuais Estónia e Letónia). A cidade de Reval (atualmente designada por Tallinn) foi fundada no início do século XIII por Valdemar II da Dinamarca. Posteriormente, o domínio desta cidade passou para os Cavaleiros Teutónicos e para a Liga Hanseática, tendo-se desenvolvido como um dos mais relevantes centros mercantis no Mar Báltico.
No final do século XVI, na sequência da guerra da Livónia, este o território foi dividido, passando a zona da atual Estónia a ser controlada pelo reino da Suécia. Durante a Grande Guerra do Norte, no início do século XVIII, todo este território foi disputado pelo reino da Suécia e pela Rússia (mais os seus aliados). Com a derrota do reino da Suécia, o território que lhe pertencia (i.e. a atual Estónia) foi integrado na Rússia.
No final da Primeira Guerra Mundial, a Estónia (tal como a Polónia, a Lituânia e a Letónia) conseguiu aproveitar o facto do seu território estar ocupado pela Alemanha para conseguir negociar a sua independência. Esta durou pouco mais de duas décadas, correspondente ao período entre as duas guerras mundiais.
Tal com no caso da Lituânia e da Letónia, a Estónia foi anexada pela União Soviética no contexto do pacto Molotov-Ribbentrop entre a Alemanha nazi e a URSS estabelecido no início da Segunda Guerra Mundial. Durante esta guerra, a Alemanha ocupou este território e, no período posterior, a Estónia foi anexada ao bloco soviético.
Desde 1991, na sequência da queda do muro de Berlim, a Estónia recuperou a independência, sendo atualmente um membro de pleno direito da União Europeia e da NATO.
3. Custos
A Estónia é o país mais caro dos países visitados nesta viagem, com um valor ponderado de 61. (A Lituânia tem uma cor ponderado de 58, a Polónia tem 52 e a Letónia tem 51). Mesmo assim, este valor está na mediana dos países europeus visitados até hoje, sendo bastante mais reduzido do que o país mais caro numa viagem comparável: a Croácia com 80.
Em termos relativos, conseguimos alojamento com valores reduzidos: 46€ por dia, pouco mais do que na Letónia (43€ por dia) e claramente mais caro do que na Polónia (53€ por dia) e do que na Lituânia (58€ por dia). Tal como nos restantes países desta zona, valeu a pena termos feito as reservas com 6 meses de antecedência, uma vez que a oferta aparenta não ser abundante.
Os valores gastos com atividades foram baixos (6€ por pessoa por dia), uma vez que a só uma parte reduzida implicava custos.
Gastámos 21€ por dia por pessoa em alimentação (54% de refeições em restaurante), valor alinhado com os dos restantes países embora sem incluir experiências na cozinha local, para a qual não descobrimos opções com preço razoável. A única experiência mais típica que tivemos foi o almoço no Olde Hansa, mas mais pelo ambiente medieval e não ao nível dos pratos que nos pareceram ter sido pensados a pensar no turista, sem representar a gastronomia dos locais.
Finalmente, gastámos 53€ por dia nas deslocações (carro, gasolina e estacionamento) que foi o valor mais alto da viagem: mais do dobro do valor da Polónia e mais 70% do valor de Letónia.
4. Diário
dia 1 (23/7), Liepāja - Tallinn
Chegámos a Tallinn pouco antes das 15:00, depois de voo rápido desde Riga. O transporte para o centro de Tallinn é assegurado por autocarro que apanhámos sem nenhuma dificuldade. Felizmente, reparámos no aviso de que não é possível comprar bilhete ao condutor, pelo que o comprámos na máquina de venda automática.
Ficámos alojados com vista para a muralha da cidade velha, num prédio reabilitado conde funcionam vários hotéis e empresas de alojamento local. Localização top.
Depois de descansarmos um pouco, fomos dar uma volta na cidade velha, preparados para a muita chuva que estava indicada na previsão metereológica. Felizmente não passou da ameaça.
Entrámos na cidade velha pela porta Viru, de que atualmente restam apenas os torreões. No século XIX, a estrutura central foi considerada um obstáculo ao crescimento e ao desenvolvimento da cidade, pelo que foi destruída para alargar o espaço de circulação do tráfego rodoviário.
Virámos para norte e, logo de seguida, percorremos a passagem de Santa Catarina, uma rua estreita muito engraçada que parece cortar um quarteirão em direção à Raekoja Plats, a Praça do Município.
Na rua que sai da Raekoja Plats em direção à igreja de São Nicolau, descobrimos um restaurante português (”Tasca”), com muitos pratos facilmente identificáveis por qualquer português mas com uma gama de preços bastante alinhada com os valores praticados nos restaurantes à volta (bastante elevados).
Virámos então para norte, de volta ao alojamento. Num beco, estava anunciado o “Path of History” com uma série de placas no chão a assinalar marcos da história de Estónia, desde o final da idade do gelo até à atualidade … na verdade, ainda havia mais 3 placas, sendo a última relativa a 2418, data em que se celebrará 500 anos da sua independência deste país.
Saímos da cidade velha pela porta norte, a Great Beach Gate, que dava acesso ao porto de Tallinn; quando foi construída, esta porta e a enorme torre que assegurava a sua defesa estavam mais perto da água do que atualmente.
Jantámos no Peetri Pizza (nota 3), mesmo ao lado do alojamento. as pizzas estavam normais mas o atendimento foi do mais antipático que recebemos em todas as férias. Salvou-se a cerveja (Tanker) que merece nota 5.
dia 2 (24/7), Tallinn
Voltámos a entrar na cidade velha pela porta Viru, com a ideia de visitar a Torre Helleman e de passear um pouco nas muralhas. À porta da Torre Helleman estava uma indicação para entrar na porta mais abaixo, de outra torre. Assim fizemos. Esta torre não tinha o interesse que a outra aparentava ter, contendo apenas fotos antigas de Tallinn em cada um dos pisos. Algures a meio, havia uma porta que dava acesso à muralha, onde pudemos percorrer cerca de 200m. O enquadramento é interessante mas a experiência soube a pouco.
Quando saímos era quase meio dia e tínhamos uma visita guiada marcada para as 13:00. Assim, decidimos tomar uma refeição rápida no Kompressor (4), onde comemos crepes de frango e queijo feta e salada de camarão. A comida estava boa mas a cerveja (A. LeCoq Premium) não era grande coisa. O local é interessante e tem imensa procura; nós fomos cedíssimo e ainda tivemos de esperar um pouco para que se libertasse uma mesa.
A visita guiada (https://www.guruwalk.com/walks/31124-tales-of-reval-immersion-tour) foi um pouco diferente das outras em que já participámos, uma vez que a guia estava a representar o papel duma personagem na Reval medieval, nome que a atual Tallinn teve até se tornarem independentes da Rússia em 1918.
Reval foi fundada no início do século XIII por Valdemar II da Dinamarca, no contexto das cruzadas do norte empreendidas contra os povos pagãos que habitavam nesta zona. Posteriormente, o domínio desta cidade passou para os Cavaleiros Teutónicos e para a Liga Hanseática, tendo-se desenvolvido como centro mercantil no Mar Báltico. No seu período áureo, Reval era objeto de ostentação e riqueza, de que a Igreja de Santo Olavo é um exemplo curioso.
Construída no século XII e dedicada a Santo Olavo (Olaf II da Noruega), considerado santo padroeiro por muitos cristãos da Escandinávia e do Báltico, recebeu uma torre enorme em meados do século XVI. Com 159m de altura, seria o edifício mais alto do mundo até à construção da Torre Eiffel no final do século XIX. Com tanta altura, a torre funcionava como um excelente pára raios, o que resultou em vários incêndios e consequentes destruições e reconstruções. Atualmente, esta torre tem pouco mais de 120m, sendo visível de toda a cidade velha.
Durante o período hanseático, surgiu a Confraria dos Blakheads que era uma associação religiosa e social dedicada a são Maurício (santo cristão africano), de onde derivou o seu nome (cabeças negras). As principais responsabilidades desta Confraria eram a organização da defesa contra invasões e pilhagens e o desenvolvimento cultural e festivo. Reval e Riga eram os seus principais pontos de presença, o que nos recordou de termos visto a sua sede em Riga (edifício imponente), embora sem termos percebido do que se tratava.
A visita guiada ignorou os períodos de domínio sueco e russo (mais de 3 séculos no conjunto), mas ainda ouvimos uns comentários menos simpáticos para o país vizinho quando passámos em frete à sua embaixada. Ao contrário do que se vê em Lisboa, o dispositivo de segurança é pouco evidente e é autorizado/tolerado que se coloquem mensagens anti Rússia, bandeiras da Ucrânia, etc. mesmo em frente ao edifício.
No final da visita guiada voltámos para o alojamento mas, depois dum descanso rápido, saímos outra vez para conhecermos a zona sudoeste da cidade. A sul da cidade velha, fica a Praça da Liberdade que celebra a independência relativamente à Rússia, conseguida em 1918. Num dos edifícios desta praça, a ocupar grande parte da fachada, estão duas grandes bandeiras da Estónia e da Ucrânia, lado a lado, simbolizando o apoio estónio dado à Ucrânia na guerra em curso.
Logo à frente, está uma sequência de 4 torres unidas por secções da muralha da cidade velha que fazem parte dum museu que também inclui os subterrâneos do bastião existente nesta zona.
Começámos pela torre Kiek in de Kök, a maior das 4, onde fica a entrada principal do museu. Nos 6 andares desta torre, há exposições sobre a história de Tallinn. Além das exposições, a vista vai ficando cada vez mais interessante à medida que se vai subindo, por exemplo para a catedral ortodoxa, a poente da cidade velha.
Num dos andares intermédios da torre Kiek in de Kök há uma saída para a muralha, por onde se pode circular até às torres seguintes. Do lado de dentro da muralha, fica um jardim, designado “Jardim do Rei Dinamarquês” por, segundo a lenda, ter sido criado pelo rei Valdemar II que fundou Tallinn (então Reval) no século XIII.
Achámos as outras torres pouco interessantes pelo que voltámos rapidamente para trás, com uma descida ao jardim, de onde se tem uma bela vista sobre a cidade velha. Logo à frente do jardim, encontra-se em grande destaque a torre da igreja de São Nicolau.
Voltando à torre Kiek in de Kök, descemos até à entrada dos subterrâneos do bastião cujos túneis o contornam em todo o perímetro até à saída na Praça da Liberdade.
Inicialmente concebidos para abrigo dos militares e para armazenamento de munições e equipamento bélico, estes túneis funcionam atualmente como exposição de arqueologia. No final da segunda guerra mundial, em que foram utilizados como abrigos durante os bombardeamentos, estes túneis foram abandonados. Em meados da década de 80 do século XX, começaram a ser utilizados como ponto de encontro da comunidade punk e na década de 90, com a queda do regime soviético, passaram a servi de poiso para os sem abrigo que por aqui estiveram até ao inicio da recuperação do espaço que se iniciou em 2005.
Tínhamos pensado jantar no III Draakon, em plena praça do município, mas estava fechado para obras. Acabámos por ir ao Lido, cadeia de restaurantes que já conhecíamos de Riga, para uma refeição rápida que a ameaça de dilúvio persistia. A previsão meteorológica para este dia e meio passados em Tallinn incluía muita chuva; na verdade, apesar do céu ter ficado muito carregado várias vezes, apenas chuviscou durante pouco tempo.
dia 3 (25/7), Jägala e Võsu
Depois de sairmos do alojamento fomos levantar o carro com que nos deslocaríamos nos dias seguintes. Apanhámos o autocarro para o aeroporto, tratámos das burocracias e seguimos para leste.
O primeiro ponto de paragem foi a queda de água de Jägala, a cerca de meia hora de Tallinn. Trata-se duma queda de água relativamente pequena mas com um enquadramento bonito.
A principal atração consiste em caminhar na parte superior da queda de água, com a água entre as canelas e os joelhos (ou pelo pescoço, no caso do Tomás que fez questão de andar “à crocodilo”), sendo possível atravessar para a outra margem.
Continuámos mais para nascente e parámos em Võsu, aldeia bonitinha à beira mar onde só é possível estacionar o carro a pagar. Comemos o farnel no parque de estacionamento e seguimos para a praia.
A praia de Võsu tem um enquadramento espetacular, na base do “U” desenhado pela baía. Para não variar (tendo em conta a nossa experiência em praias no Mar Báltico) a água era rasa; desta vez, havia uma língua de areia no meio a que se chegava caminhando uns 100m na água, contornando muitas alforrecas. A água estava com uma temperatura ótima mas, a certa altura, começou a levantar-se um vento desagradável, sinal para seguirmos caminho.
Duas horas mais tarde, chegámos ao destino desse dia: Narva, na margem ocidental do rio com o mesmo nome que faz fronteira com a Rússia.
Jantámos em casa, destacando-se a cerveja Karl Friedrich (ale) e os kiwis gold que comprámos por nos terem parecido baratos. Afinal, o preço indicado era por unidade e não por quilo … mas os kiwis estavam muito bons, bastante melhores do que na versão mais comum.
dia 4 (26/7), Narva
Narva, atualmente a terceira maior cidade da Estónia, formou com Ivangorod (hoje na Rússia) um único agregado populacional até à queda do muro de Berlim. As duas cidades estão separadas pelo rio Narva, na fronteira da NATO localizada mais a oriente. Este rio já era uma importante rota comercial no tempo dos vikings, pelo que a cidade de Narva sempre teve um valor estratégico para as muitas potências que por aqui andaram. Segundo vários analistas de geopolítica, será por aqui que Putin planeia expandir para ocidente até ao rio Vístula, na Polónia.
Depois duma fase de grande desenvolvimento, nos períodos de domínio da Liga Hanseática e do Reino da Suécia, Pedro o Grande conquistou Narva e integrou-a na Rússia, situação que persistiu até ao final da Primeira Guerra Mundial. Ainda hoje, a maioria da população fala russo, sendo que uma percentagem muito relevante não tem cidadania estónia.
Conhecida antes da Segunda Guerra Mundial como “a pérola do Mar Báltico”, a cidade foi praticamente toda reconstruída depois deste conflito, saltando à vista a arquitetura soviética, com os prédios todos iguais.
Saímos de casa de manhã com a ideia de irmos visitar o castelo. Seguimos à beira do rio, numa cota bastante inferior à do castelo. Não nos tendo apercebido duma escada em caracol que lhe dava acesso, seguimos para norte e passámos por baixo da ponte que une as duas margens do rio em direção ao bastião Vitória, o mais poderoso dum conjunto de 7, que tem uma vista privilegiada sobre o rio e sobre Ivangorod (já na Rússia, na outra margem do rio).
Estes bastiões foram construídos no século XVII, no período de domínio do Reino Sueco, para defesa da cidade, cobrindo todo o seu perímetro. numa extensão de 4km. Dos 7 bastiões planeados pelos suecos, 6 foram preservados até à atualidade, cujos nomes são: Fortuna, Triunfo, Glória, Honra, Vitória, Paz e Esperança. O da Fama perdeu-se com o passar dos anos. A partir do bastião Vitória, é possível aceder aos seus túneis. Registámos que a última visita guiada era às 17:00 para o caso de lá querermos ir e voltámos para o centro da cidade.
Logo de seguida, passámos em frente ao edifício da antiga sede do município, que foi o único nesta cidade a ser reconstituído depois da Segunda Guerra Mundial conforme o original, contrastando com os edifícios em seu redor.
Nesta zona, a circulação na cidade é bastante condicionada pelo acesso à fronteira com a Rússia, cuja entrada é feita pela Praça de Pedro (o Grande). Vindo de norte, é necessário contornar o Bastião do Triunfo, o que fizemos por tentativa e erro … na penúltima tentativa, vimo-nos no topo do bastião com a Praça de Pedro 5m mais abaixo mas sem passagem direta.
Almoçámos no Khachapuri Georgian Cafe (nota 4), onde experimentámos algumas iguarias típicas da Geórgia. Comemos khatchapuri, (pão recheado de queijo com um ovo cru que é cozinhado parcialmente pelo calor do pão e do queijo) e uns “bolinhos” com vários ingredientes (descrição abaixo). Para acompanhar, provámos vinho tinto georgiano que não era a nosso gosto.
Provámos 3 tipos de “bolinhos”: um com cenoura assada, nozes e especiarias, outro com beterraba, repolho, nozes e especiarias e o último com beringela, nozes e especiarias. Tinham todos um sabor forte que requer alguma habituação; no geral, gostámos qb, sendo o de beringela o nosso preferido.
Depois do almoço, fomos visitar o castelo, onde funciona o museu de Narva. O castelo, construído inicialmente no século XIII pelos dinamarqueses, é dominado pela enorme torre Hermann, assim designada em honra de Hermann von Buxhoeveden, um cavaleiro e bispo de Tartu no tempo em que esta zona era controlada pela Ordem dos Cavaleiros Teutónicos. Adjacentes à torre, há dois edifícios com pátios interiores, um deles com 4 andares cujo muro exterior desce uma altura equivalente a esta até ao rio.
A visita ao castelo é interessante mas naquele dia estava bastante calor e a disponibilidade para ver exposições era reduzida. Valeu, sobretudo, pelas belas vistas do topo da torre Hermann.
Do castelo, consegue-se uma boa perspetiva sobre a ponte que atravessa o rio, que serve de passagem entre a Estónia e a Rússia. Atualmente, esta fronteira só pode ser atravessada a pé entre as 7:00 e as 23:00. Observámos bastante movimento nos dois sentidos; aparentemente, a entrada na Rússia era mais demorada, a julgar pelas filas que se instalavam ao longo da ponte.
Do lado da Estónia, estavam hasteadas 3 bandeiras: a da Estónia, a da União Europeia e a da NATO, para não deixar dúvidas aos visitantes vindos de leste. Do outro lado, via-se a bandeira da Rússia.
Ivan III (o Grande), pai de Ivan IV (o Terrível), não quis sentir-se diminuído face a tão imponente estrutura na margem ocidental do rio Narva, pelo que decidiu construir um castelo ainda maior do outro lado do rio numa povoação a que deu o seu nome: Ivangorod. É fascinante ver duas fortalezas tão imponentes separadas por escassos 100m, correspondentes ao leito do rio. A melhor vista que conseguimos desta manifestação de tensão foi dum ponto a sul sobre a praia fluvial de Narva, onde o Tomás aproveitou para dar uns belos mergulhos no final do dia.
dia 5 (27/7), Narva - Kuressaare
Dia de atravessar a Estónia de extremo a extremo, até à ilha de Saaremaa, localizada no Báltico a norte da Letónia. Parámos a meio caminho, em Tallinn, para resolver um assunto que tinha ficado pendente.
Depois de alguma hesitação, decidimos almoçar no Olde Hansa (4), restaurante que recria o ambiente das tabernas medievais, na decoração, nos produtos servidos, na indumentária e no comportamento dos empregados. Tudo por valores que só parecem afastar estes portuguesinhos (por exemplo, 78€ por um bife de javali) que, à segunda oportunidade, decidiram não ficar com a sensação de terem ido a Roma sem terem visto o Papa (algo que já aconteceu, literalmente).
Comemos borrego à moda da Livónia (borrego estufado acompanhado de lentilhas, trigo sarraceno e chucrute), pato à veneziana com molho de açafrão (com cevada, feijão, nabo e cebola confitada) e salsichas com lentilhas, cevada e chucrute. Para acompanhar, experimentámos a famosa cerveja de canela. Valeu pela experiência mas não ficámos convencidos em termos da relação preço-qualidade.
Seguimos até à costa ocidental, onde apanhámos o ferry de Virtsu até à ilha de Muhu que está ligada à ilha de Saaremaa por uma ponte. Uma hora mais tarde, chegámos a Kuressaare, capital de Saaremaa que é a maior ilha de Estónia.
Depois de nos instalarmos, fomos dar um passeio em direção ao castelo de Kuressaare, uma fortaleza rodeada por 4 bastiões e por um fosso que lhe dão um belo enquadramento. Nessa noite, havia um espetáculo de ópera no castelo, pelo que caminhámos até lá no meio de muitas pessoas vestidas de gala … apesar do acesso ser livre, não nos atrevemos a ir à ilha com os nossos calções e sandálias, tendo-nos limitado a contorná-la. Segundo percebemos, tinha chovido nesse dia e o céu ainda ainda estava carregado, o que nos aconselhou a voltar para o alojamento com uma rápida paragem no supermercado (fomos ao Kaubamaja Toidumaailm que justifica classificarmos como “espetacular” pela diversidade da oferta, pela organização e pela qualidade dos produtos).
dia 6 (28/7), Saaremaa
O dia começou com o céu nublado, a ameaçar chuva, apesar da temperatura estar bastante agradável. Conforme planeado, atravessámos a ilha da costa sul para a costa norte, até à praia Tuhkana.
Esta praia fica num local remoto, acessível depois de atravessar um pinhal. Para nossa surpresa, face ao que tínhamos lido, estavam lá bastantes pessoas mas a praia é grande e ficámos à vontade. A praia pareceu ser muito boa mas não havia sol e estava um ventinho pouco convidativo para banhos, apenas o Tomás se aventurou em experimentar a água. Passadas umas horas, comemos o farnel que tínhamos levado e decidimos ir passear para outro lado.
O próximo ponto de paragem foi o parque de moinhos Angla. Trata-se dum museu a céu aberto com vários moinhos, tratores antigos e outros artigos relacionados.
É possível entrar no interior dos moinhos e ver os seus mecanismos, atividade que é o prato forte deste museu, apesar do espaço estar engraçado no seu todo.
No final da visita começou a chover. Já estando com fome, decidimos entrar no cafezinho do parque para lanchar uns crepes com queijo e fiambre, chocolate e doce. Quando saímos estava a chover bastante, pelo que deixámos a visita às crateras para o dia seguinte e voltámos ao alojamento.
dia 7 (29/7), Saaremaa
A manhã começou chuvosa mas as condições atmosféricas foram melhorando ao longo do dia. Desta vez, fomos até ao extremo sudoeste da ilha de Saaremaa, a menos de 20km da costa da Letónia.
Aqui, numa península com cerca de 1km por 150m localizada no extremo de outra península com cerca de 30km por 10km, fica o farol de Sõrve. Construído em 1949 para substituir o que aqui estava desde meados do século XVII, este farol esteve ao serviço durante menos de 20 anos. Atualmente, é atração turística que proporciona vistas espetaculares à custa da subida de 372 degraus.
A manhã estava ventosa mas nada comparado com o que se passava no topo do farol, mal se conseguia segurar no telemóvel para tirar fotografias. Depois de descermos, caminhámos umas centenas de metros para sudoeste, até ao finzinho da ilha, com o vento a aumentar de intensidade a cada passo. Foi chegar e voltar para trás mas valeu bem a pena.
Entre o farol e o parque estacionamento, estava um labirinto desenhado com pedras, que o Tomás fez questão de percorrer até chegar ao centro. Estes labirintos são comuns na zona do Mar Báltico sem que se conheça exatamente qual o seu propósito; comparando vários do mesmo género, constata-se que eram desenhados em locais com bonitas paisagens naturais, neste caso perto do mar.
Tínhamos pensado almoçar no Tihemetsa Kala OÜ, negócio familiar que serve refeições de peixe fumado há mais de 30 anos. No entanto, quando lá chegámos, disseram-nos que o peixe já tinha acabado e que voltássemos no dia seguinte. Infelizmente, este era o nosso último dia …
Acabámos por comer um hambúrguer num shopping de Kuressaare e seguimos para a última atividade em Saaremaa: visitar as crateras de Kaali.
No centro da ilha de Saaremaa, há um conjunto de crateras que se crê terem sido criadas por um meteorito há cerca de 3.500 anos. A algumas centenas de metros da cratera principal, encontra-se mais umas quantas, no total de 9, bem mais pequenas (não mais de 5m de diâmetro). A cratera principal é relativamente pequena, com cerca de 50m de diâmetro, formando um anfiteatro natural rodeado de árvores com um lago no meio.
O acesso é livre e é possível descer ao nível do lago para apreciar o nenúfar.
Ainda fomos espreitar algumas das crateras mais pequenas mas são bastante menos interessantes, pelo que rapidamente seguimos viagem, de volta ao continente.
Para evitarmos uma deslocação demorada, com travessia de ferry, na manhã do dia de regresso a Portugal, dormimos numa roulotte a meia hora do aeroporto, localizada no meio de nada. A viagem foi mais demorada e o caminho para a roulotte foi mais complicado do que tínhamos pensado. Quando nos despachámos já passava da 20h. Fomos a correr ao supermercado que ficava a uns bons km de distância, praticamente na hora de fecho, e seguimos para o único restaurante aberto num raio de 30km (tanto quanto nos apercebemos).
Jantámos no Restro (3), restaurante à beira da estrada que cumpriu a função sem falhas. Comemos goulash, bife de frango e dumplings de carne, acompanhado de sumos e de cerveja Karl Friedrich.
Voltámos para a roullote para a nossa estreia a dormir neste tipo de alojamento. Tanto quanto nos apercebemos, a roulotte estava estimada e muito bem equipada mas não contávamos que abanasse de cada vez que alguém se virava na cama. Ainda pensámos que houvesse algum animal a chocar contra a roulotte :)
dia 8 (30/7), Tallinn - Lisboa
O momento alto dia foi o pequeno almoço tomado à beira da roulotte no meio do campo. Depois, seguiu-se a ida para o aeroporto e os voos para Lisboa com escala em Copenhaga.
5. Curiosidades
Embora tenhamos visto alguns exemplos “normais”, a maioria dos sinais de sentido proibido têm 3 dimensões: são um pouco mais alongados na dimensão lateral, cujas pontas são vergadas para trás. Este design permite que o sinal seja identificado por quem se desloca perpendicularmente à rua com o sentido proibido. Simples e eficaz.