Índice
1. Resumo
Helena, Francisco e Tomás (10 anos) em viagem de 4 dias inteiros na Letónia em julho de 2024. Estes dias integraram-se numa viagem à zona do Báltico em que também visitámos a Polónia, a Lituânia e a Estónia.
Chegados da Lituânia, passámos um dia em Riga (A) e depois seguimos em direção à costa da Curlândia, com paragem no pântano de Ķemeri (B), em Kuldīga (C) e em Liepāja (D).
Apesar do tempo passado na Letónia ter ficado em perda no planeamento da viagem global à zona do Báltico, acabámos por visitar alguns locais espectaculares, como Kuldīga e o pântano de Ķemeri. Este acabou por ser o ponto alto das semanas passadas nesta região. Tal como nos restantes países visitados, a praia acabou por ser uma agradável surpresa, tendo em conta a latitude elevada.
2. Enquadramento histórico
A história da Letónia é marcada pelo repetido domínio e ocupação de potências externas e correspondentes lutas pela independência.
No século XIII, as tribos locais foram cristianizadas pela ordem os Cavaleiros Teutónicos e pela ordem dos Irmão Livónios da Espada, tendo este território sido incorporado na Livónia (correspondente às atuais Estónia e Letónia). Neste período, Riga era um importante porto no Mar Báltico e um dos membros mais relevantes da Liga Hanseática.
No final do século XVI, na sequência da guerra da Livónia, o território foi dividido em três: a zona da atual Estónia e do norte de Letónia que passou a ser controlada pelo reino da Suécia; a zona sul da atual Letónia e a zona norte da atual Lituânia que passaram a pertencer à União entre Polónia e Lituânia; finalmente, a zona da costa ocidental da atual Letónia e da atual Lituânia que passou a ser o ducado da Curlândia, vassalo da União Polaco-Lituana.
Durante a Grande Guerra do Norte, todo este território foi disputado pelo reino da Suécia e pela Rússia (mais os seus aliados). Com a derrota do reino da Suécia, o território que lhe pertencia passou a ser da Rússia e o resto foi integrado na Polónia-Lituânia. No entanto, passadas algumas décadas, com a partições da Polónia-Lituânia, todo este território passou para o controlo do império russo.
No final da Primeira Guerra Mundial, a Letónia (tal como a Polónia, a Lituânia e a Estónia) conseguiu aproveitar o facto do seu território estar ocupado pela Alemanha para conseguir negociar a sua independência. Esta durou pouco mais de duas décadas, correspondente ao período entre as duas guerras mundiais.
Tal com no caso da Lituânia, a Letónia foi anexada pela União Soviética no contexto do pacto Molotov-Ribbentrop entre a Alemanha nazi e a URSS estabelecido no início da Segunda Guerra Mundial. Durante esta guerra, a Alemanha ocupou este território e, no período posterior, a Letónia foi anexada ao bloco soviético.
Desde 1991, na sequência da queda do muro de Berlim, a Letónia recuperou a independência, sendo atualmente um membro de pleno direito da União Europeia e da NATO. Atualmente, a Letónia tem uma sociedade secular, com apenas 10% de praticantes (maioritariamente protestantes). Aproximadamente 30% da população tem origem russa.
3. Custos
Os custos na Letónia foram os mais reduzidos desta viagem à zona do Báltico com um valor ponderado de 51. A Polónia (52) está praticamente ao mesmo nível, enquanto a Lituânia (58) e a Estónia (61) são destinos claramente mais caros. De todos os países europeus visitados até agora, a Letónia só é mais cara do que a Albânia (43), a Bósnia e Herzegovina (44) e Montenegro (46). Em termos comparativos, os custos na Letónia são baratos em todas as dimensões:
O alojamento custou-nos 43€ por dia, valor conseguido por termos reservado com 6 meses de antecedência, uma vez que não há muita oferta nesta gama de valores.
Na alimentação gastámos 20€ por pessoa por dia, com 56% das refeições em restaurante, em linha com os valores dos países vizinhos. Tal como na Polónia, fomos umas quantas vezes a restaurantes do tipo cantina, relativamente baratos e onde há mais facilidade em encontrar comida local.
Fizemos poucas atividades pagas nestes 4 dias, pelo que o custo nesta componente ficou em 6€ por pessoa por dia.
Nas deslocações gastámos 31€ por dia, dos valores mais baratos que conseguimos em países europeus onde alugámos carro (só superado pela Polónia com 25€ por dia).
4. Gastronomia
Apesar de não termos tido a oportunidade para experimentar muitos pratos locais, ainda ficámos a conhecer algumas boas iguarias:
Kartupeļu pankūkas (crepe de batata) - já nossos conhecidos da Polónia e da Lituânia, estes crepes que fazem lembrar as pataniscas são bastante saborosos. Comemos só com molho mas pensamos que também haverá a opção de serem servidos com carne ou com peixe.
Arenque - é o peixe mais consumido na Letónia, normalmente servido com batata cozida. Na nossa experiência, o arenque estava sem pele (lembrando os carapaus alimados) e também estava acompanhado de requeijão. Muito bom.
Papa de trigo sarraceno com bacon - prato do mais típico da Letónia, onde este cereal é muito comum. Estava muito saboroso.
Pickles - muito apreciados nestas bandas, têm um sabor inesperadamente suave; muito aceitável, mesmo para quem não aprecia pickles.
Maizes zupa - literalmente “sopa de pão”, é uma sobremesa feita com pão de centeio molhado com açúcar, canela e frutos desidratados, com um pouco de chantilly por cima. Top.
5. Diário
dia 1 (18/7), Vilnius - Riga
Apanhámos a camioneta para Riga às 10:45 para mais uma deslocação com duração prevista de 5 horas mas que demorou quase 7 por causa dum acidente que obrigou a camioneta a entrar por vias alternativas, também congestionadas. Depois de chegarmos a Riga e duma caminhada de quase meia hora, chegámos ao hotel que ficava a uns 2km da cidade velha.
Jantámos no Vīgante (5), restaurante de cozinha russa e letã ao virar da esquina, onde comemos uma refeição que merece menção honrosa. A comida estava muito boa e estava-se muito bem na esplanada. Ao final do dia, corria um vento fresquinho que estava perfeito com um agasalho vestido.
Comemos strogonoff de vaca, carne de porco com queijo e frango com caril e queijo azul. A cerveja Tervete era mais fraquinha (nota 3).
Para rematar, pedimos maizes zupa, literalmente “sopa de pão”. Esta sobremesa, típica da Letónia, é feita com pão de centeio molhado com acúcar, canela e frutos desidratados, tudo rematado com um pouco de chantilly. Gostámos muito.
dia 2 (19/7), Riga
Tomámos o pequeno almoço no Cofyz, do outro lado da rua, onde serviam croissants com manteiga de amendoim e banana que custavam menos do que um café expresso. Boa maneira de começar o dia.
Como de costume nas capitais, iniciámos as atividades do dia com uma visita guiada https://www.guruwalk.com/walks/34390-old-riga-free-tour. O ponto de encontro foi a imponente igreja de São Pedro, cuja torre com 120m de altura é visível de toda a cidade velha. Por influência protestante, os edifícios de Riga têm tons mais escuros do que o padrão na Polónia e na Lituânia.
Nas traseiras da igreja de São Pedro, está uma estátua de bronze com um burro, um cão, um gato e um galo empilhados uns nos outros, em alusão ao conto “Os músicos de Bremen” dos irmão Grimm. Tal como no conto, os animais espreitam por uma abertura, colaborando uns com os outros (para assustarem ladrões duma casa em que pretendiam entrar).
Esta escultura tem um duplo significado para a Letónia: por um lado, representa a união, cooperação e esforço coletivo para superar as adversidades; adicionalmente, representa a amizade e a solidariedade entre os povos, uma vez que foi oferecida a Riga pela cidade de Bremen em 1990, pouco antes da independência da Letónia.
Diz a tradição que esfregar os focinhos dos animais dá sorte, sendo visível a maior dificuldade em tocar no gato e no galo por estarem a uma altura mais elevada. Segundo os locais, o esforço de tocar no galo justifica que as mulheres mais altas do mundo estejam na Letónia.
Nas traseiras da catedral, foi construído um parque infantil sobre um antigo cemitério, o que talvez justifique o seu aspeto tétrico.
Mais à frente, há 3 edifícios históricos por serem os exemplos mais antigos de residências em Riga. No conjunto são conhecidos como “Casas dos 3 irmãos”, o que deixa a sensação de se ter perdido alguma coisa na tradução. Cada uma das casas tem o seu estilo: a primeira tem um estilo gótico tardio, com um ar simples e austero; a segunda tem um estilo renascentista, com alguns elementos decorativos dessa época; a terceira com um estilo barroco, mais ornamentada. Segundo nos explicou a guia, as estranhas janelas pequenas dos pisos superiores resultava do facto das pessoas habitarem nos pisos inferiores, funcionando os superiores (com temperaturas mais extremas, sobretudo no inverno) como armazém.
O local é bastante movimentado, ponto de paragem obrigatório de excursões e de comboios turísticos que dificultam imenso o registo fotográfico. É interessante perceber que elas aparecem todas sincronizadas, nos períodos de atuação de dois músicos que aqui estão há 20 anos, faça chuva, sol ou neve. Foi impossível tirar uma foto decente dos músicos durante a sua atuação.
Vagueámos pelas ruas de Riga, reparando nas muitas flores e estátuas de gatos. Aparentemente, a Letónia é um país de gatos e não de cães, sendo a sua população bastante supersticiosa; por exemplo, a passagem à frente dum edifício com um gato preto na fachada é normalmente evitada.
Duma praça bastante florida, parte a rua de Richard Wagner, atualmente sobre o antigo leito do rio Ridzene que deu o nome à cidade. Wagner viveu em Riga durante 2 ou 3 anos, tendo fugido de barco para Londres para escapar aos credores. Segundo a guia, a Letónia tem uma grande cultura musical, cujo ensino é disponibilizado a todas as crianças.
Na parte final da visita guiada, vimos a parte da muralha que ainda está de pé. No lado interior fica a rua Trokšņu (que signica “barulho desagradável”), cujo nome resulta dos avisos sonoros para a população recolher à cidade em situação de perigo. Num dos extremos da rua, está uma estátua que pretende ser uma representação feminina da morte. Diz a lenda que uma senhora desrespeitava o confinamento decretado no período da peste negra para ir ter com o seu amado que estava no exterior, trazendo a morte para dentro das muralhas.
Tendo começado a chover, decidimos ir almoçar. Escolhemos o Lido Alus Seta (5) que já tínhamos identificado nas nossas pesquisas e que foi recomendado pela guia. A cadeia de restaurantes Lido oferece uma vasta oferta de comida local, em formato de cantina e com preços reduzidos. Comemos curgete recheada com caril de legumes, salmão grelhado com caril de legumes e frango assado com fusilli. Para a sobremesa comemos rim de chocolate (aparentemente, comum por estas bandas) e voltámos a comer maizes zupa, não tão bom como o do dia anterior. Mesmo assim, estava tudo muito bom.
Depois do almoço, voltámos a percorrer alguns dos locais da visita guiada, a caminho do museu da guerra. Este museu abrange os mais relevantes conflitos bélicos que aconteceram nesta região, desde a Idade Média até à Segunda Guerra Mundial. As exposições têm grande nível, bastante significativo por se tratar dum museu com entrada gratuita.
No piso térreo, estava uma exposição temporária sobre a guerra na Ucrânia, destacando-se logo à entrada a Orlik, no estado em que voltou daquele país. A Orlik (águia em ucraniano) é uma de mais de 850 viaturas doadas pela população letã para ajudar no esforço ucraniano contra a “guerra cruel iniciada pela Rússia contra o povo ucraniano”, conforme descrito perto da viatura. Orlik esteve ao serviço durante meio ano, até ter sofrido danos severos em Bakhmut.
Saímos do museu em direção ao rio e caminhámos até ao mercado. A disponibilidade para ver o mercado era pouca, pelo que seguimos até ao hotel para descansar um pouco.
Fomos jantar a outro Lido, o Ģertrūde (nota 5). A comida estava boa como no almoço mas as funcionárias eram bastante rudes. Quando estávamos praticamente a terminar, faltavam 8 minutos para o fecho, uma delas veio ter connosco a apontar para o relógio e a retirar os pratos; depois seguiu para outra mesa e fez o mesmo!
Ainda passámos pelo supermercado para tratarmos do almoço do dia seguinte.
dia 3 (20/7), pântano de Ķemeri
Repetimos o pequeno almoço do dia anterior e seguimos para o aeroporto, onde levantámos o carro com que andaríamos nos dias seguintes. Tal como na Lituânia, calhou-nos um Hyundai i10, bastante económico.
A cerca de 40km a oeste de Riga, fica o pântano de Ķemeri, conhecido pela paisagem única, cheia de charcos e de lagos, muita turfa, pinheiros anões e vegetação rasteira. Existe uma trilha de madeira com pouco mais de 3km, por onde os visitantes podem seguir sem danificar o frágil ecossistema. O acesso é gratuito mas é necessário pagar 2€ para estacionar o carro.
Quando chegámos estava a chover, pelo que decidimos comer no carro a ver se a chuva parava, o que veio a acontecer no timing perfeito. Iniciámos a caminhada atravessando um pinhal com árvores altas e finas, a meio do qual começou a chover torrencialmente.
No início do trilho de madeira já estávamos ambientados. A intensidade da chuva ia alternando entre o médio e o elevado, tendo durado praticamente até ao fim da caminhada de 2 horas, com breves pausas.
Apesar da muita chuva, não havia vento naquela tarde. No entanto, a forma e a orientação das árvores indiciam ventos fortes de nordeste.
O ruído da chuva adicionava uma dimensão espetacular à paisagem escura e agreste.
A meio do trajeto, há uma torre de observação, de onde se obtém uma vista fantástica a 360°. Curiosamente, naqueles minutos, a chuva deu umas tréguas, o que permitiu uma visibilidade melhor.
No final da caminhada, com a redução da intensidade da chuva, a paisagem foi ficando ainda mais bonita, fruto do contraste de tons claros e escuros.
Finalmente, parou tudo, a ponto das águas dos lagos parecerem um espelho.
Esta foi a experiência mais marcante de todas as férias. Fomos uns sortudos pela diversidade de situações de pluviosidade que deram dramatismo à paisagem e amplificaram o contraste entre os diversos elementos do ecossistema.
Depois desta experiência, ainda fomos espreitar a vila de Ķemeri mas havia tanta gente que seguimos para o nosso destino sem parar. Passámos a noite numa aldeola, Bēne, a caminho de Kuldīga que iríamos visitar no dia seguinte, onde nem sequer havia um restaurante.
dia 4 (21/7), Kuldīga
Kuldīga é conhecida como a Veneza da Letónia, onde o pequeno rio Alekšupīte serpenteia rente às casas.
O centro tem uma arquitetura pitoresca, com diversos espaços verdes de aspeto muito bem cuidado na zona circundante.
Antes de desaguar no rio Venta, o Alekšupīte passa por uma queda de água artificial de já alimentou um moinho, atualmente em estado avançado de degradação.
A grande atração de Kuldīga, acaba por ser a queda de água do rio Venta, a pouco mais de 100m do outro símbolo da cidade, a Ponte Velha. Construída em 1874, esta é uma das mais compridas pontes de tijolo na Europa, tendo sido construída de acordo com os standards da altura, com 8m de largura que permitiam a circulação simultânea de duas carruagens.
Passámos para a outra margem do rio Venta e estivemos um bocado na praia fluvial, a montante da queda de água. Naquele período o sol apareceu; a temperatura do ar e da água estavam excelentes.
Aproximando-se a hora do almoço, voltámos a atravessar o rio, desta vez a pé pela água, pertinho da queda de água, com a água pelas canelas. A queda de água é natural e tem 240m de largura, sendo a mais larga da Europa. A travessia do rio nesta zona estava a ser feita por muita gente, nos dois sentidos, incluindo crianças muito pequenas, pelo que não podíamos deixar de experimentar. Demorámos um bocado, porque íamos parando para apreciar a vista e tirar fotografias. Ainda houve uma queda de rabo causada pelo piso escorregadio, mas a travessia foi bastante tranquila. Chegados à outra margem, o céu começou a ficar carregado; tivemos tempo para nos calçarmos mas fomos apanhados pela chuva forte (parece que nestas zonas não há meio termo) a caminho do centro da cidade.
Almoçámos no Pagrabiņš (nota 5), onde tivemos a melhor refeição na Letónia. Para ser perfeito, só faltou termos comido na esplanada sobre o rio Alekšupīte mas a chuva não o permitiu. Apostámos em dois pratos do mais típico neste país: arenque (tipo alimado) com requeijão e batata cozida e papa de trigo sarraceno com bacon. Ainda houve bife de frango com mozzarella e pesto mas os dois primeiros é que marcaram pontos, estava tudo soberbo, até a cerveja Duna (Dndukis, de Kuldīga).
Quando saímos do restaurante, já não chovia quase nada. A última atividade do dia foi a visita à mina de areia de Riežupes, localizada a meia dúzia de quilómetros de Kuldīga. A mina tem o maior sistema de cavernas artificiais na Letónia, com cerca de 2 km de túneis cavados na areia. As cavernas foram originalmente escavadas manualmente nos séculos XVIII e XIX para a extração de areia de quartzo, que era utilizada para a produção de vidro.
As primeiras gerações de proprietários exploraram a mina comercialmente, mas a atividade veio a estar nacionalizada durante o período soviético. Depois de restaurada a independência, a família anteriormente expropriada teve de lutar bastante para recuperar a mina mas só o conseguiu a troco de não retomar a extração de areia, podendo fazer exploração turística. Assim, atualmente, a quarta geração retomou a atividade na mina, embora com natureza diferente.
Participámos na visita em letão e em inglês (nós éramos os únicos estrangeiros); a guia era um bocado excêntrica e fartou-se de mandar bocas aos russos: “Tudo é de todos, diziam eles, pensam que somos parvos …”. As visitas são interrompidas no período de hibernação dos morcegos, havendo 4 tipos de morcegos que são hóspedes regulares.
A areia é finíssima, localizada a uns 10m de profundidade, debaixo duma camada de argila e de outra de rocha. O interior da mina tem uma temperatura constante de 8°C que se tolera muito bem. Foi uma visita rápida mas muito interessante.
Ainda voltámos a passar por Kuldīga, tendo parado numa torre de observação para desfrutar duma excelente vista sobre a cidade, em particular sobre o rio Venta, a Ponte Velha e a queda de água.
Seguimos para Liepāja, onde iríamos dormir as duas noites seguintes. Depois de nos instalarmos, num apartamento a 300m da praia, jantámos em casa.
dia 5 (22/7), Liepāja
Dia de mais uns mergulhos no Báltico. Estava uma manhã muito agradável, com temperatura entre 20°C e 25°C e céu limpo. Tal como na Lituânia e na Polónia, pouca gente, areia fina, solo plano (água pela cintura a uns bons 100m da costa), água com uma boa temperatura e nada de ondas. Belo destino de férias de praia, com o único senão de chuvadas imprevistas.
Almoçámos no Kafejnīca Lira (3), onde comemos Jēra gaļas sautējums (ensopado de borrego), uma espécie de bitoque e almôndegas de borrego com trigo sarraceno. A cerveja Užava era boa (4) e comemos crepe com chocolate para a sobremesa.
Depois do almoço, seguimos para Karosta, localizada a norte de Liepāja. Aqui havia uma base naval construída na altura do czar Alexandre III, que foi abandonada pelos soviéticos em 1994, onde fomos visitar uma antiga prisão.
Em 1905, na sequência duma derrota humilhante contra o Japão, os militares da base naval de Karosta envolveram-se nos protestos contra o governo de Nicolau II, juntando-se à população civil na luta por melhores condições económicas, de trabalho e sociais. Neste contexto, criou-se a prisão militar de Karosta com a adaptação dum edifício construído para ser um hospital mas que nunca chegou a funcionar como tal. Esta prisão era usada para penas curtas (alguns dias ou semanas) com o objetivo de disciplinar os desalinhados. A prisão deixou de funcionar em 1997 e, atualmente, está aberta ao público.
A visita foi interessante mas soube a pouco, não correspondendo ao preço carote do bilhete. Há uma tentativa de recriar o ambiente da prisão, por exemplo, alinhando os visitantes e falando-lhes com um tom sério como se fossem prisioneiros, mas que falha por ser forçada e só durar os 2 minutos iniciais da visita. É possível dormir na prisão, havendo também uma encenação das condições em que os prisioneiros dormiam; nós tentámos agendar mas nunca recebemos resposta ao mail que, segundo o site, é o único canal disponível para as marcações. Ficou a ideia de grande potencial limitado pela falta de capacidade para explorá-lo devidamente.
Durante o período soviético, a prisão estava inserida numa cidade onde os militares moravam com as suas famílias. No meio destaca-se a catedral ortodoxa de São Nicolau, rodeada de prédios com arquitetura soviética, num contraste estranho. A cidade pareceu-nos ter um aspeto normal, não nos apercebemos de nenhum vestígio militar.
Dirigimo-nos para a costa à procura das fortificações que defendiam a base militar desde o final do século XIX. Atualmente, estão em ruínas e a ser literalmente engolidas pelo mar.
Depois de vermos algumas destas fortificações em algumas centenas de metros de costa, ainda parámos numa praia. Apesar do tempo não estar muito convidativo, o Tomás teve o seu momento alto do dia, com uns mergulhos perto destas ruínas que ainda aproveitou para explorar.
dia 6 (23/7), Liepāja - Tallinn
Saímos cedo de casa para fazermos os 200km até ao aeroporto de Riga, onde iríamos apanhar o avião para Tallinn. Enganámo-nos a ver a duração desta deslocação, pelo que saímos de Liepāja já sem margem para atrasos. O Hyundai i10 portou-se à altura e chegámos a Riga sem percalços.
6. Curiosidades
Em todas as estradas principais e secundárias em que andámos, há bastantes paragens de camioneta, o que nos leva a pensar que a Letónia tem uma boa rede de transportes públicos rodoviários. O design de cada estação segue claramente um padrão minimalista com 3 elementos: um poste a assinalar a paragem, um banquinho de madeira e um caixote do lixo. É bastante curioso que, num país com neve e chuvadas fortes (como as que apanhámos), alguém tenha decidido que é mais relevante haver onde se sentar e onde pôr o lixo do que ter um resguardo. Nos quase 800km percorridos na Letónia, vimos muita gente nas paragens ao sol ou em alturas com chuva iminente e muito poucas paragens com cobertura, menos do que os dedos das duas mãos.
Ao contrário da Polónia, da Lituânia e da Estónia, não vimos um único pacote de batatas fritas com sal nos supermercados, apesar de terem mil e uma variantes de batata frita (com cebola, com presunto, com queijo, etc.).
Da mesma forma, não conseguimos comprar pão do dia em lado nenhum, só encontrámos pão embalado com uns dias de prazo de validade.