Índice
1. Resumo
13 dias inteiros na Polónia em junho e julho de 2024. Helena, Francisco e Tomás (10 anos) a tempo inteiro e a Sara durante uma semana. Estes dias na Polónia integraram-se numa viagem de várias semanas à zona do Báltico que também incluiu a Lituânia, a Letónia e a Estónia.
A Polónia é um país enorme, pelo que nos limitamos a fazer um percurso fechado em aproximadamente 1/3 do território a leste e ao longo do rio Vístula. Apesar de, ao longo dos séculos, o território polaco se ter movido, expandido e encolhido, esta zona fez sempre parte da Polónia durante os períodos em que foi uma entidade autónoma.
O rio Vístula atravessa o país de sul para norte, passando em 4 cidades que visitámos (Cracóvia, Varsóvia, Toruń e Gdańsk). De acordo com alguns analistas, este rio é a fronteira do território que Putin ambiciona ocupar a oeste da Rússia que, além da parte oriental da Polónia, também inclui a totalidade da Estónia, da Letónia e da Lituânia.
Iniciámos a viagem na Polónia em Toruń, fazendo o itinerário no sentido dos ponteiros do relógio: Toruń (A), Gdańsk (B), Malbork (C), Łomża (D), Lublin (E), Cracóvia (F) e Varsóvia (G).
A Sara juntou-se ao grupo no último dia em Gdańsk (que já não chegou a visitar) e voou para Portugal de Varsóvia no dia em que lá chegámos.
Gostámos muito da Polónia. Muitas coisas para ver e fazer, boa comida e um povo simpático e disponível. Para o itinerário seguido, sentimos que nos faltaram 4 dias para cumprirmos os mínimos em todos os locais visitados: 1 dia em Gdańsk, 1 em Malbork, 1 em Cracóvia e outro entre Cracóvia e Varsóvia. Para os dias disponíveis, visitar apenas as 4 cidades à beira do rio Vístula teria sido mais ajustado. Havemos de voltar, até porque ainda há muito território para cobrir.
2. Enquadramento histórico
A Polónia tem uma história incrível, muito em resultado da sua geografia plana, que facilita as invasões, e pela proximidade de vários impérios, sobretudo o alemão e o russo. O facto de ser um estado católico no meio de potências protestantes e ortodoxas não terá ajudado na gestão destes conflitos mas terá sido fator aglutinador da identidade nacional, o que lhes permitiu recuperar a independência depois de mais de 100 anos em que a Polónia não existiu como país e 50 anos sob o jugo nazi e soviético.
Ao longo dos séculos, o território polaco deslocou-se, expandiu-se ou encolheu, ao sabor da evolução dos jogos de poder na região. Em termos resumidos, destaca-se as fases seguintes da sua história:
Reino da Polónia (séculos XI a XIV). As várias tribos eslavas existentes no território foram unificadas por Mieszko I que, em 966, se converteu ao catolicismo. Neste período diversos papas mantiveram sempre uma estreita relação com a Polónia em prevenção de eventuais influências protestantes. No final deste período, apesar das perturbações causadas pelos mongóis e pela Ordem dos Cavaleiros Teutónicos, o território do reino correspondia mais ou menos ao território atual, sem as regiões do nordeste (que fazem fronteira com Kaliningrado, a Lituânia e a Bielorrússia) e com mais território a sueste, hoje pertencente à Ucrânia.
União com a Lituânia (séculos XV a XVIII). No final do século XIV, a Polónia e a Lituânia promoveram uma união de conveniência para ambos. A Lituânia tinha aumentado demasiadamente o seu território e precisava dum aliado para lidar com os tártaros, com os russos e com os cavaleiros teutónicos. Nessa altura, a Polónia passava por uma crise de sucessão a ponto de terem decidido coroar uma filha do falecido rei como “rei da Polónia” (uma vez que lei não previa a possibilidade de rainha mas era omissa relativamente à possibilidade de senhoras como “rei”) e foi preciso arranjar-lhe um marido que não fosse o prometido Wilhelm da família Habsburgo, herdeiro da Hungria.
Esta união durou quase 4 séculos, tendo mais tarde evoluído de monarquia para república de duas nações (monarquia eletiva, mais precisamente), que foi ratificada em Lublin em 1569. Nos períodos áureos esta união dominava um vasto território do Báltico até ao Mar Negro, correspondente à Polónia atual, aos 3 países bálticos, a parte da Bielorrússia e a grande parte da Ucrânia.
Partições (século XIX). Durante 123 anos, as potências vizinhas dividiram o território polaco entre si: o norte para a Prússia, o sul para a Áustria e a zona oriental para a Rússia. Neste período, a Polónia deixou de existir como estado independente; os levantamentos eram frequentes, tendo-se gerado um sentimento nacionalista que preservou a língua e a cultura polacas.
Segunda república (1918 - 1939). No final da Primeira Guerra mundial, aproveitando o facto do território polaco estar sob controlo dos perdedores da guerra (Alemanha), foi possível negociar a restauração da independência da Polónia que durou apenas cerca de 20 anos (em processos semelhantes ao que resultaram na independência da Lituânia, da Letónia e da Estónia). Durante este período, o território polaco estava deslocado para sueste, incluindo partes das atuais Lituânia, Bielorrússia e Ucrânia e excluindo partes nas zonas norte e oeste da atual Polónia.
Ocupações nazi e soviética (1939 - 1989). Este período começou com a invasão nazi, logo seguida da invasão russa, durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, a Polónia foi anexada ao bloco soviético como República Popular da Polónia, com o estabelecimento das fronteiras atuais com os seus países vizinhos.
Terceira república (1989 - presente). Com a queda do muro de Berlim, a Polónia recuperou a independência com o estabelecimento da terceira república que tratou rapidamente de aderir à NATO e à União Europeia.
3. Custos
No geral, a Polónia é um destino bastante acessível em termos de custos, com um índice ponderado de 52 (o país já visitado com índice mais alto e viagem comparável é a Croácia com 80). Comparando com os países europeus visitados até agora, só é mais caro do que a Albânia (43), a Bósnia e Herzegovina (44) e Montenegro (46). Comparando com os países bálticos, está ao mesmo nível da Letónia (51) e é mais barato do que a Lituânia (58) e a Estónia (61).
A alimentação ficou-nos em 19€ por pessoa por dia, com 74% das refeições em restaurante, resultado de termos privilegiado os restaurantes do tipo “cantina”, que podem ser encontrados no Google pesquisando por “milk bar” ou por “bistro.
As deslocações (carro alugado, gasolina, estacionamento, etc.) ficaram no valor mais baixo de todos os países visitados até agora em que alugámos carro: 25€ por dia, menos 6€ do que o segundo mais barato (Letónia) e menos de metade dos mais caros nesta categoria (Montenegro e Estónia com 53€ por dia).
Tendo estado sobretudo em cidades, a componente de atividades pesou mais: 11€ por pessoa por dia. Mesmo assim, o mais barato até agora dos países em estivemos mais tempo em cidades e menos de metade do mais caro nesta categoria, a Croácia com 25€ por pessoa por dia.
O alojamento ficou em 53€ por dia, sempre em localizações centrais, valor mediano na nossa experiência na Europa mas conseguido por termos feito as reservas com 6 meses de antecedência, uma vez que havia pouca oferta para esta faixa de valores.
4. Gastronomia
Nestes dias na Polónia, pudemos experimentar bastantes pratos locais, dos quais destacamos os seguintes:
Chlodnik (sopa de beterraba) - sopa servida fria, presença regular nas ementas mas pareceu-nos ser mais típico dos países bálticos.
Kotlet schabowy (panado de porco) - não percebemos o entusiasmo com este prato mas, aparentemente, é o preferido dos polacos e o consumido com mais frequência. Normalmente é servido com batata e outros vegetais cozidos
Gołąbki (couve recheada com arroz e carne) - muito disponível nos restaurantes do tipo “cantina”.
Pierogi (pastéis de massa tenra) - bastante típico deste país, é a iguaria confecionados a pensar no turista. Pelo destaque recebido, poderia pensar-se que os polacos comem pierogi todos os dias, o que não acontece (apenas em momentos festivos). Fizemos umas 4 refeições de pierogi, até ficarmos fartos; incluindo uma das melhores refeições na Polónia e outra em que os pastéis foram servidos com demasiado óleo. Podem ser servidos com uma enorme variedade de recheios, vale a pena experimentar.
Placek (crepe de batata) - faz lembrar as pataniscas, crestado e bastante saboroso. É servido só com molho (de vários tipos) ou recheado com carne, peixe ou vegetais.
Zapiekanki (”pizza polaca”) - street food muito popular, é uma espécie de pizza cuja base é parte duma baguete aberta, com inúmeras opções de cobertura. É saboroso mas torna-se um pouco enjoativo; o pão perde claramente face à base da pizza.
Piernik (biscoitos de gengibre e mel) - típicos de Toruń, são bastante famosos, um verdadeiro ex-libris desta cidade. Na nossa opinião, são saborosos qb e demasiado massudos; gostámos mais da versão “fofa” (menos tradicional).
Uma nota para os gelados, bastante disponíveis, com um nível geral elevado e um preço médio-baixo
Há boa cerveja na Polónia, onde só bebemos do tipo lager. Das cervejas mais comuns, facilmente encontradas nos supermercados, destacamos a Łomża e a Tyskie. Bebemos as duas à pressão e em lata. Ambas são top quando servidas à pressão, mas achámos a Tyskie em lata melhor do que a Łomża. Experimentámos também a versão não filtrada à pressão da Tyskie que deixou saudades. Em Varsóvia bebemos uma Miłosław pilsner à pressão, cerveja artesanal que não vimos em mais lado nenhum e que recordamos como a melhor que bebemos na Polónia; infelizmente, só a provámos uma vez.
5. Diário
dia 1 (27/6), Lisboa - Toruń
O dia começou cedo, antes das 4:00 para apanharmos o voo das 6:15 para Munique, onde fizemos escala para Varsóvia. Aqui chegados, levantámos o carro que tínhamos reservado (um Hyundai i20) e seguimos para Toruń, onde chegámos às 20:30 depois de quase 3 horas a conduzir.
Decidimos comer um kebab no Imbiss Istanbul (nota 3 em 5), no quarteirão ao lado, para nos despacharmos e irmos dormir. Ficámos num apartamento na cidade velha, por cima dum restaurante com barulho até bastante tarde; excelente para terminar este dia comprido.
dia 2 (28/6), Toruń
Acordámos tarde e já passava do meio dia quando saímos para passear na cidade velha. A cidade de Toruń escapou aos bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial, pelo é um dos raros exemplos em que a arquitetura gótica permanece intacta na Polónia.
Começámos pela praça central, dominada pelo edifício do município e pela igreja do Espírito Santo. Em frente à igreja, está a Fonte das Rãs com a estátua de Janko Muzykant (Janko, o músico) que, segundo a lenda, salvou a cidade duma praga de rãs, conduzindo-as para a floresta com a música do seu violino.
Do outro lado da sede do município, está a estátua de Nicolau Copérnico que é natural de Toruń.
A olhar para Copérnico, do outro lado da rua, está um burro de bronze no lugar onde havia um burro de madeira a que os criminosos eram presos e obrigados a sentarem-se numa chapa metálica afiada no seu dorso.
De seguida, espreitámos a catedral, com a sua torre enorme, e continuámos até ao castelo da Ordem dos Cavaleiros Teutónicos. Apesar de estar em ruínas, este castelo construído por esta ordem hospitaleira e militar no século XIII, mantém os elementos de arquitetura medieval preservados, motivo pelo qual é reconhecido como património da Unesco. Atualmente, funciona como um museu sobre os Cavaleiros Teutónicos e o período medieval, merecendo uma visita.
Seguimos ao longo do rio Vístula que veríamos em 4 cidades diferentes nesta viagem à Polónia, antes de voltarmos à praça central.
Decidimos almoçar numa esplanada na Praça central, no Manekin (nota 4), onde comemos crepes recheados com frango e uma sopa, acompanhados de cerveja Perla à pressão (banal). Depois do almoço, enquanto comíamos um gelado, começou a chover. Até aí, o dia estava bastante quente, tendo a chuva sido inesperada; durou uns minutos com alguma intensidade, tendo o calor voltado como se nada fosse.
Antes de irmos descansar um pouco no apartamento, ainda passámos na Casa de Copérnico (no quarteirão ao lado), considerado como local do seu nascimento que hoje funciona como museu dedicado à sua vida e obra. O edifício é distinto, com uma fachada ornamentada e tetos altos, mas as exposições ficaram aquém das nossas expectativas.
Um pouco mais tarde, ainda passámos pelo supermercado para comprar o jantar (saladas e frango assado) e o farnel para o dia seguinte.
dia 3 (29/6), praia de Orlowo
Toruń é conhecida como a capital dos bolinhos de gengibre (piernika), pelo que não poderíamos deixar de comprar uns quantos para experimentar. Para tal, antes de ir buscar o carro (que tinha ficado no estacionamento privado do dono do apartamento, a 10 minutos da cidade velha), fomos à loja recomendada pelo empregado de mesa do Manekin. Comprámos uma 4 variedades que fomos comendo nos dias seguintes. Os biscoitos, à base de gengibre e canela, são interessantes mas não excecionais; o nosso preferido foram os “fofos”, provavelmente com claras em castelo, bem mais agradáveis que os tradicionais que são bastante massudos.
Ficámos a saber, da pior maneira, que o acesso à cidade velha é alterado nos sábados por causa da realização de mercados de rua. Foram algumas dezenas de minutos às voltas a tentar descobrir alternativas no Google Maps que esbarravam sempre em sentidos proibidos ou em cortes de circulação temporários. À 4ª passagem perto do apartamento, lá se decidiu entrar numa rua em contramão para estacionar o carro a um quarteirão de distância. Saímos atrasados para grande stress do dono do apartamento que acabou por compreender a situação.
Conduzimos por pouco mais de 2 horas para o litoral, em direção a Gdańsk, mas só parámos em Orlowo, um pouco mais para noroeste. Localizada na parte ocidental da baía de Gdańsk, a povoação de Orlowo está integrada numa zona de praia bastante frequentada pelos locais, de que também fazem parte as mais conhecidas Gdynia e Sopot.
A praia de Orlowo é acompanhada por uma mata numa elevação de terreno que lhe dá um belo enquadramento. Deixámos o carro a cerca de 1km da praia e fizemos o caminho longo até à praia, atravessando a mata, opção muito do agrado do Tomás. Nesta zona da baía de Gdańsk, a praia está orientada para nascente, pelo que a sombra da mata se vai instalado com o correr da tarde. Estivemos na praia até a praia estar quase toda na sombra.
Apesar de estar um dia quente, com a temperatura perto dos 30°, de vez em quando passava uma aragem mais fresca que, com o passar do tempo, evoluiu para um vento frio menos agradável. A temperatura da água estava surpreendentemente boa, o que significa que não acreditávamos no Google que indicava que a água do mar Báltico ronda os 20° no verão.
Quando saímos da praia caminhámos um pouco para sul, em direção à zona de serviços e de restauração onde há um cais bastante charmoso que merece uma caminhada até à ponta para uma perspetiva diferente da baía e da cidade de Gdańsk, em que se destaca a zona dos estaleiros navais.
Ainda apanhámos algum trânsito até Gdańsk, onde ficámos num apartamento a 10 minutos a pé da cidade velha. O acesso ao prédio era feito com um código na porta de entrada que não funcionava. Depois dum bocado a tentar, sem sucesso, ultrapassar a dificuldade acabámos por entrar com uma senhora que tinha a chave da porta. Aparentemente, o sistema costumava falhar nos dias de temperatura mais elevada (menos de 30° já é suficiente para o sistema falhar!), pelo que o dono do apartamento teve de se deslocar lá para nos entregar uma chave.
Como tínhamos de esperar pela chave, decidimos ir buscar o jantar a um restaurante asiático perto, Huong Era Asia (nota 4).
dia 4 (30/6), Gdańsk
Nas grandes cidades, costumamos fazer uma visita guiada para contexto mais rápido do local. Em Gdańsk, só conseguimos marcar a visita para as 14:00, pelo que nesta manhã explorámos a cidade velha.
Para lá chegar, atravessámos uma pequena ilha no rio Motlawa (afluente do rio Vístula) que, nos tempos áureos de Gdańsk, estava cheia de armazéns onde eram colocados os cereais, a madeira e o âmbar que entravam e saiam deste importante entreposto comercial do Báltico. Vindo do lado nascente, entrámos na ilha pela Porta Stągiewna, formada por duas torres para proteção da ilha na estrada que ligava Gdańsk a Königsberg (atual Kaliningrado). Do outro lado da ilha, a ligação à cidade velha é feita pela Ponte Verde que liga diretamente à praça do mercado, designada por Praça do Mercado Longo (Długi Targ).
Do outro lado da praça, fica o edifício sede do município, onde funciona o museu da cidade que decidimos visitar. Além do museu, interessava-nos subir à torre para apreciar a vista.
O museu é um bocado confuso, com várias exposições aparentemente não relacionadas, sobre o papel de Gdańsk na atividade comercial no Báltico, salas e artefactos históricos, coleções de arte, arquitetura do edifício, etc. Chamou-nos a atenção a pequena sala de São Cristóvão (aproximadamente 3m por 4m) que foi a única do edifício a sobreviver ao bombardeamento da cidade em 1945, incluindo a porta que é conhecida como “a porta mais antiga de Gdańsk”.
A vista da torre era, como de esperar, magnífica, destacando-se a Basílica de Santa Maria onde que haveríamos de ir durante a visita guiada e, também, no dia seguinte.
Almoçámos no Bar Mleczny (nota 5), onde comemos golabek z ziemniakami (folhas de couve com recheio de carne picada e arroz acompanhadas de puré de batata), Bigos z ziemniakami (chucrute com carne e cogumelos acompanhado de puré de batata), panado de porco, sumos e cerveja Tyskie (bastante boa).
Este restaurante é um dos muitos existentes na Polónia e na Letónia (não vimos nenhum nem na Lituânia nem na Estónia) com um funcionamento tipo “cantina”, com comida local e preços mais reduzidos do que os restaurantes normais; em muitos casos, são subsidiados pelo estado, representando uma herança do período soviético que ainda persiste nos dias de hoje. São frequentados pela população local, sobretudo fora dos grande centros. Podem ser encontrados no Google pesquisando por “milk bar” ou por “bistro”, fomos clientes fiéis até ao fim do período passado na Polónia.
Às 14:00, iniciámos a visita guiada (https://www.guruwalk.com/walks/39925-discover-gdansk-an-informative-walking-tour), com o o céu a ameaçar uma tempestade, o que mereceu o comentário seguinte do nosso guia: “Vieram no verão, estavam à espera de quê?”
Mais do que os locais visitados, a visita guiada valeu pelo enquadramento histórico e social de Gdańsk. Em cada local, o guia fazia a ponte para um episódio ou para um facto, desde o papel de Gdańsk na Liga Hanseática no final da época medieval até à greve dos trabalhadores dos estaleiros início da década de 1980, passando pela devastação da cidade durante a Segunda Guerra Mundial e posterior recuperação. Foi também em Gdańsk (designada pelo alemães por Danzig) que aconteceram os primeiros combates da Segunda Guerra Mundial, no dia 1 de setembro de 1939, na estação de correios e em Westerplatte (na foz do rio Vístula).
A cidade tem uma arquitetura curiosa. Alguns (poucos) edifícios foram reconstruídos depois da Segunda Guerra Mundial o mais fielmente possível relativamente ao original, como o edifício da sede do município, a Basílica de Santa Maria ou o guindaste portuário antigo (stary żuraw portowy). Este, uma das estruturas mais icónicas da cidade, era usado tanto como um guindaste portuário (usado para carregar e descarregar mercadorias dos navios) quanto como uma das portas da cidade velha.
A reconstrução da rua Mariacka também recuperou os varandas e as gárgulas desproporcionalmente grandes que indicavam o elevado prestígio dos seus proprietários.
No entanto, na reconstrução do pós guerra, foi decidido não recuperar a arquitetura germânica dominante no período anterior à guerra. Apesar disso, manteve-se a construção em lotes de terreno relativamente pequenos (7,5m de largura por 15m de comprimento), que resulta num vasto conjunto de prédios com aspeto “alto e estreito” visível em toda a cidade velha.
Com a destruição de aproximadamente 90% da cidade velha e a migração dos habitantes para outros locais durante os longos anos de reconstrução, 70% da população atual de Gdańsk tem ascendência na zona sul da Lituânia e nas zonas ocidentais da Bielorrússia e da Ucrânia, de onde vieram a maioria dos novos habitantes da cidade.
Depois da visita guiada, vagueámos mais um pouco pela cidade velha até pararmos numa praça com repuxos onde o Tomás, juntamente com outras crianças, se entreteve a “refrescar”. O tempo estava um bocado abafado mas a tempestade prometida estava cada vez mais perto e estávamos a mais de 20 minutos de casa. Fomos para casa em passo acelerado mas fomos apanhados a meio; apesar de estarmos prevenidos com impermeáveis, ainda apanhámos uma molha (não que tenha feito grande diferença para o Tomás) …
Num período de menos chuva, fomos ao supermercado buscar umas saladas e uma lasanha para o jantar.
dia 5 (1/7), Gdańsk
Saímos de casa com o objetivo de ver a demonstração mecanizada do relógio astronómico da Basílica de Santa Maria que acontece todos os dias às 12:00. No caminho, entrámos na cidade velha pela porta do guindaste portuário, onde pudemos observar o seu mecanismo de funcionamento.
O relógio astronómico da Basílica de Santa Maria é uma peça extraordinária do engenho humano com quase 15m de altura, constituída por 3 níveis: o do calendário (em baixo), o do planetário (no meio) e o do teatro de figuras (em cima). O calendário está dividido em 365 secções, correspondentes aos dias do ano, intersectadas com 22 círculos concêntricos. No conjunto, esta secção contém informação sobre os dias da semana, os feriados e o calendário litúrgico para um período de 76 anos. O planetário indica a hora, as fases da lua, a posição do sol e os signos do zodíaco. O teatro tem as figuras dos apóstolos, de Cristo, da morte e dum conjunto de anjos. No topo, estão as figuras de Adão e Eva perto duma árvore com uma cobra (com cabeça de mulher) que tocam um sino todos os quartos de hora. Construído no final do século XV, o relógio operou até meados do século XVI. Findo este período, não houve ninguém capaz de calibrar o relógio para os anos seguintes.
Em 1944, o relógio foi desmantelado e levado para fora de Gdańsk, tendo, assim, sobrevivido à Segunda Guerra Mundial. Depois da Guerra iniciou-se um processo de recuperação do relógio que durante dezenas de anos ficou condenado ao insucesso, em função da elevada complexidade do sistema que ninguém conseguia compreender na totalidade. No início da década de 80, depois de muito estudo e consulta a documentos históricos, desenhos e fotografias, Andrzej Januszajtis (físico, historiador e restaurador com créditos firmados) voltou a pegar no assunto, tendo conseguido recuperar o relógio que voltou a funcionar em pleno em 1987. Recentemente, com a falha de alguns mecanismos, Andrzej Januszajtis (hoje com mais de 80 anos) foi chamado a intervir, temendo-se que o seu conhecimento venha a perder-se.
No meio disto tudo, os minutos em que as figuras do teatro desfilam antes de recolherem até ao dia seguinte, é o menos interessante. No entanto, é o que efetivamente faz centenas de pessoas deslocarem-se todos os dias à basílica.
De seguida, dirigido-nos para a zona dos correios, onde aconteceu uma das primeiras batalhas da Segunda Guerra Mundial, em que os militares destacados para este edifício só conseguiram travar os alemães durante algumas horas. Logo ao lado, fica o museu dedicado a esta guerra que vimos indicado como obrigatório para quem visita Gdańsk mas que acabamos por não visitar porque fecha às segundas feiras. Entretanto, apercebemos-nos que nos correios também há um pequeno (mas interessante) museu sobre a batalha de 1 de setembro de 1939.
O senhor que nos vendeu os bilhetes perguntou-nos de onde vínhamos. Tendo percebido a pergunta, o Tomás disse PORTUGAL! com um sinal de vitória (nesse dia, Portugal iria jogar para os oitavos de final do Euro 24 e o Tomás tinha uma camisola da seleção). O senhor fez um ar enjoado e comentou que as coisas não estavam a correr muito bem para Portugal, deve ter-se esquecido que a Polónia tinha sido eliminada na fase de grupos …
Antes de sairmos, o Tomás ainda enviou um postal para a professora Cátia que chegou duas semanas depois.
Almoçámos no Bar Turystyczny (Nota 4), onde comemos frango panado, frango no forno e placek po cygansku (crepe de batata, tipo patanisca com recheio de carne, cogumelos e vegetais). De sobremesa comemos ciasto (bolo tipo tarte de requeijão).
Depois do almoço, fomos até à zona dos estaleiros navais, na parte norte da cidade, onde fica o museu do Solidariedade. O movimento Solidariedade (Solidarność) começou como sindicato dos trabalhadores navais de Gdańsk mas rapidamente se alastrou a todo o país no período das greves. Mais tarde, com o fim do período soviético, o Solidariedade evoluiu para partido político, tendo o seu líder (Lech Wałęsa) sido eleito presidente da Polónia, depois de ter ganho o prémio Nobel da Paz em 1983 pela sua liderança na luta não violenta pelos direitos dos trabalhadores e pela liberdade política. Ainda hoje, já octogenário, Lech Wałęsa desloca-se regularmente ao Centro Europeu Solidariedade, onde funciona o museu, e mantém contacto com o povo junto do qual é bastante popular. Como dizia o guia do dia anterior, é o “polaco mais famoso do mundo” (e a concorrência é muito forte …).
O museu é bastante interessante, funcionando num espaço que integra linhas modernas com elementos que remetem para o ambiente naval e fabril de forma bastante harmoniosa. As exposições fazem o contexto da fundação do Solidariedade, com origem nos protestos e nas greves de 1970 que foram reprimidos violentamente com a morte de 42 trabalhadores, e relatam os acontecimentos da década de 80, até ao final do período soviético. Valeu bem a visita.
Na entrada do Centro Europeu Solidariedade está o Monumento aos Trabalhadores Caídos de 1970, com 3 cruzes com 42m de altura (remetendo para os 42 mortos) e âncoras no topo em representação dos trabalhadores, do estaleiro e do mar.
Voltámos para o apartamento e o Francisco foi buscar a Sara ao aeroporto que se juntou a nós durante uma semana. Fomos buscar comida ao restaurante asiático de dois dias antes e jantámos no apartamento, a tempo de ver o jogo da seleção que lá se safou nos penaltis contra a Eslovénia.
dia 6 (2/7), Malbork
Antes de sairmos de Gdańsk, passámos por Westerplatte, península na foz do rio Vístula nos arredores da cidade. Este local, onde havia um depósito militar polaco, foi escolhido pelos nazis como alvo nos primeiros combates da Segunda Guerra Mundial (juntamente com os correios de Gdańsk).
Atualmente, o local tem um cemitério, onde estão sepultados os militares polacos que morreram neste combate que durou alguns dias, com a curiosidade das sepulturas estarem dispostas em círculo. Além do cemitério, há um conjunto de ruínas dos edifícios, algumas placas explicativas e um enorme monumento quase no extremo da península. A visita vale mais pelo significado dos acontecimentos lá ocorridos do que pelo que há para ver.
Com a chuva a ameaçar chegar rapidamente, tirámos apressadamente uma foto ao rio Vístula, com o objetivo de o fazer nas 4 cidades à beira deste rio visitadas na Polónia. Voltámos então para o carro, tendo sido apanhados pela chuva nos minutos finais, e seguimos para a próxima paragem: Malbork (Mariënburg para os alemães).
A ida a Westerplatte não estava no nosso plano de viagem e acabou por nos custar algum tempo que nos faltou em Malbork, onde chegámos à hora do almoço, altura em chovia imenso sem sinais de abrandar, situação que se mantinha quando acabámos de almoçar. Assim, ainda com mais de 3 horas de caminho até Łomża, decidimos não visitar o castelo.
O castelo de Makbork, o castelo com maior implantação da Europa, foi construído no século XIII pela Ordem dos Cavaleiros Teutónicos para ser a sua sede administrativa e a residência do Grão Mestre. Património da Unesco desde 1997, funciona atualmente como museu com exposições sobre a história da Ordem, a arquitetura gótica e a vida na Idade Média. Fica na lista para uma futura viagem à Polónia, em que lhe possamos dedicar o tempo que merece, preferencialmente sem chuva.
O almoço foi no Bistro Torebka (nota 4), onde comemos pad Thai z kurczakiem (pad Thai com frango), orzechami ziemnymi (frango guisado com amendoim) e uma espécie de lasanha de peru com batata.
Ficámos numa quinta em Nowogród, perto de Łomża, local de paragem a caminho de Lublin, para onde iríamos no dia seguinte. Tínhamos a ideia de dar um passeio em Łomża mas, tirando a praça central, não houve nada que despertasse a nossa atenção. Assim, decidimos jantar e voltar para a quinta.
Escolhemos um restaurante na praça central, o Malowane Pierogi (nota 5), pelo nome que incluía um dos pratos típicos da Polónia: Pierogi (que ainda não tínhamos comido). Saiu-nos melhor que a encomenda, tendo sido a primeira refeição na Polónia a merecer um destaque especial.
Os pierogi são uma espécie de pastéis de massa tenra com vários tipos de recheio. Este restaurante tinha uma enorme diversidade; todos os que pedimos estavam muito bons e foram servidos com uma apresentação espetacular. Comemos as variantes Sucylijskie (siciliano, queijo e tomate desidratado), curry (caril de galinha,com queijo e molho rancho), Marakesh (frango, molho de blue cheese e tomate cherry) e a’la chorizo (white sausage with smoked paprika). Para acompanhar, bebemos sumos e cerveja Łomża à pressão (a melhor que bebemos até então na Polónia). Esta cerveja é produzida nesta região e passou a ser a escolha para compra em supermercado.
dia 7 (3/7), Nowogród
Começámos o dia a visitar o museu Kurpiowski Adam Chętnik, fundado por Adam Chętnik e pela sua mulher Zofia Chętnikowa para preservar os elementos etnográficos da região Kurpie (no nordeste da Polónia).
A origem do museu remonta a 1909 quando Adam começou a colecionar elementos da região que vieram a ser destruídos na Primeira Guerra Mundial. Em 1919, depois de ter recomeçado a coleção, comprou um terrenos que ele próprio nivelou, plantou, cercou, etc., tendo conseguido abrir o museu em 1927. Seguiram-se anos de expansão do museu e da quantidade de visitantes até ao início da Segunda Guerra Mundial, altura em que o museu foi completamente destruído. Em 1948, com base em alguns objetos que sobreviveram à guerra, Adam Chętnik fundou novo museu em Łomża que, em 1956, foi transferido para Nowogród (onde se encontra atualmente), sempre sob a administração de Adam Chętnik.
Exemplo de persistência na luta contra as adversidades (destruição da guerra mas também financeiras e políticas), este museu ao ar livre apresenta 25 grandes objetos de madeira (casas, moinhos, etc.) e muitos outros mais pequenos (poços, portões, santuários, etc.). O espaço é bastante agradável, à beira rio, e carregado de simbolismo face ao esforço e empenho necessários ao longo de mais de meio século para o tornar possível.
Depois do museu, optámos por uma refeição rápida numa casa de kebabs para ainda irmos espreitar uns bunkers nos arredores de Nowogród antes de seguirmos para Lublin, a 3 horas de carro.
Nos arredores de Nowogród existe uma série de bunkers construídos no final dos anos 30 do século XX, face ao risco crescente de guerra na Europa, que faziam parte duma linha de defesa mais ampla para proteger a Polónia de invasões. Em setembro de 1939, foram usados para retardar o avanço das tropas alemãs. Depois da entrada do exército russo e durante toda a guerra, estes bunkers foram utilizados pelas duas forças invasoras em fases distintas do conflito.
Atualmente, estes bunkers de betão armado são considerados monumentos históricos e podem ser visitados. Nós vimos 2, um mais pequeno, com capacidade para uma mão cheia de soldados, e outro maior que deveria ter funções logísticas.
Chegámos a Lublin perto das 19:00. Ficámos a 50m da catedral, num sítio super central, o que equivale a dificuldade elevada para estacionar. O nosso Airbnb incluía estacionamento mas a proprietária não nos tinha dado nenhuma indicação. Depois de várias voltas, lá conseguimos um lugar a 10 minutos da casa (sem custos até às 8:00 do dia seguinte); entretanto conseguimos combinar que na manhã seguinte a proprietária da casa nos levaria até ao estacionamento da sua casa, onde poderíamos deixar o carro. Esta cidade foi, de longe, a mais complicada em termos de estacionamento.
Jantámos Pyzata Chata (nota 4). Voltámos a pedir pierogi, desta vez na versão considerada mais tradicional (pierogi ruskie, com batata, queijo e cebola), panqueca de batata com porco guisado (placki ziemniaczane z gulaszem wierprzowym) e panados de porco com batatas em molho de cebola (schabowy z ziemniakami po naleczowsku). Tudo pratos do mais típico que há na Polónia; do que percebemos, o panado é o prato consumido com mais frequência pelos polacos.
dia 8 (4/7), Lublin
No passado, Lublin estava no cruzamento de várias rotas comerciais que ligavam Cracóvia, Lviv e Vilnius. Aqui foi assinado o documento que estabeleceu república de duas nações entre a Polónia e a Lituânia em 1569. Com uma área reduzida, Lublin conseguiu defender-se de pilhagens com a construção das muralhas com mais de 6m de altura e 2m de espessura e do castelo no seu exterior, ambos no século XIV. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi das poucas cidades polacas a escapar ilesa aos bombardeamentos.
Começámos o dia com uma visita rápida à catedral, imponente, onde se destacam um altar a João Paulo II e as pinturas nas paredes e nas colunas que dão uma falsa sensação de pedra mármore, desmentida com uma observação atenta dos seus “veios”.
A entrada principal para a cidade muralhada é feita pela porta de Cracóvia, virada na direção desta cidade, por onde passava a estrada medieval que ligava Vilnius a Cracóvia.
No interior da muralha, com uma área pequena, as ruas estreitas têm um aspeto arranjado e acolhedor.
Numa delas, fomos surpreendidos com uma instalação artística com uma estátua dum malabarista equilibrado num cabo. Aquilo balançava bastante e não nos foi perceptível de que forma se apoiava no cabo, aparentemente apenas no pé esquerdo …
Mais à frente, fica uma praça com uma bela vista para o castelo e, no meio, as ruínas das fundações da antiga igreja de São Miguel.
Estava bastante calor e sentiamo-nos cansados, pelo que voltámos para a casa para descansar um pouco antes do almoço.
Tínhamos comprado bilhetes para visitar os subterrâneos de Lublin às 14:30, pelo que procurámos um sítio onde pudéssemos comer sem grandes demoras. Escolhemos o Capo (nota 3), com olho nas pizzas e nas saladas. Afinal não havia saladas, pelo que a Helena foi buscar qualquer coisa ao supermercado e os restantes ficaram para a pizza que não estavam grande coisa. Salvou-se a cerveja, Zywiec biale à pressão, no top do que se bebeu neste país.
No final, o serviço atrasou-se, o que nos valeu chegarmos à entrada dos subterrâneos, no edifício do tribunal na praça do mercado, em cima da hora depois duma corridinha.
A visita ao subterrâneo foi um flop, só se aproveitou a temperatura. Trata-se duma visita guiada nuns túneis com umas centenas de metros que foram usados como armazém e como prisão ao longo dos anos, que ligam a praça do mercado à outra praça com as ruínas da igreja do arcanjo Miguel. A guia só falou em polaco, e relata alguns episódios da história de Lublin com suporte de maquetes e jogos de luzes. Éramos os únicos estrangeiros e íamos seguindo a história com a ajuda dumas folhas em inglês que não conseguíamos por falta de luz. Não deixou saudades.
A Helena e o Tomás decidiram voltar para a casa, enquanto a Sara e o Francisco optaram por ainda ir ao castelo.
O castelo de Lublin inspira sensações estranhas pelo contraste entre os poucos elementos originais (apenas a torre e a capela da Santíssima Trindade) e a envolvente que foi reconstruída no século XIX, no período de domínio russo. Tem um museu interessante com exposições sobre a história local, desde o paleolítico até ao final do século XX. No entanto, a melhor parte foi as visitas à torre e à capela da santíssima Trindade.
Tendo começado a chover, optámos por ir buscar o jantar ao supermercado.
dia 9 (5/7), Majdanek
Dia de ir até Cracóvia mas, antes, decidimos passar em Majdanek, um campo de extermínio a meia dúzia de km de Lublin. Tínhamos decidido não visitar Auschwitz nesta viagem à Polónia por termos achado ser demasiadamente pesado para o Tomás. No entanto, quando nos apercebemos da existência deste local tão acessível, pensámos dar lá um salto e avaliar a situação. Tendo perguntado na bilheteira se haveria problema de entrar com uma criança de 10 anos, a resposta foi negativa e revelou-se ajustada. Acabámos por entrar; a meio a Sara preferiu voltar para o carro.
Este local foi construído pela Alemanha nazi em 1941 como campo de concentração e de trabalhos forçados, pensado para uma capacidade máxima de 50.000 prisioneiros. Os primeiros chegaram ainda nesse ano, prisioneiros de guerra russos. De seguida, começaram a trazer judeus da zona de Lublin e agricultores polacos suspeitos de não darem o contributo devido ao esforço de guerra nazi. As primeiras mulheres só começaram a chegar no final de 1942, juntamente com judeus da zona da Checoslováquia e presos políticos. O boom de prisioneiros aconteceu em 1943 com as revoltas nos guetos (em particular em Varsóvia), atingindo-se um máximo de 25.000 prisioneiros. Nesse ano, a área do complexo foi aumentada e foram construídos crematórios.
Na primavera de 1944, com a aproximação da frente leste, os nazis evacuaram o complexo, transportando os prisioneiros para outros locais e demolindo infra-estruturas e documentos. O complexo foi destruído quase na totalidade pelos nazis, restando apenas as casernas dos prisioneiros numa única seção (a dos ficaram até ao fim) e alguns edifícios de suporte em julho de 1944 quando o Exército Vermelho passou a controlar o espaço. A maior parte da informação existente sobre a dimensão e a disposição do campo teve origem nos próprios prisioneiros que, entre outras coisas, desenharam um mapa detalhado do complexo à data de agosto de 1943.
Hoje, Majdanek é um museu a céu aberto, podendo-se visitar algumas casernas de prisioneiros, crematórios, câmaras de gás e outros edifícios de suporte com algumas exposições. Tudo isto no meio dum imenso espaço vazio onde antes havia mais casernas e outros edifícios que foram destruídos durante a evacuação nazi.
Embora não haja nada explicitamente chocante, o ambiente é pesado pela simplicidade e pela autenticidade do que se vê, uma vez que houve a intenção declarada de exibir os espaços da forma mais original possível. O único elemento que foi acrescentado é o monumento ao martírio e à resistência, em pedra, enorme e com um aspeto sinistro, instalado na entrada do complexo.
Decidimos almoçar em Lublin, antes de seguirmos para Cracóvia. Fomos ao Bistro Maja 51 (4); havendo uma grande variedade de pierogis, fizemos mais uma refeição com estes pastéis que não estavam tão bons como os de Łomża. No entanto, estavam suficientemente bons para levarmos para o jantar que era dia de jogo da seleção (quartos de final contra a França) que teríamos de ver em casa. Foi o último jogo da seleção no Euro 24 e a última refeição de pierogis que já estávamos todos um bocado farto de tal iguaria.
dia 10 (6/7), Cracóvia
Às 10:30, estávamos na praça do mercado, para iniciar uma visita guiada pelo centro histórico (https://www.guruwalk.com/walks/33145-krakow-old-town-free-walking-tour-the-most-charming-place). Gostámos muito desta visita, em que o guia utilizou os locais percorridos e o recurso a lendas para fazer um enquadramento histórico e cultural de Cracóvia e da Polónia. No entanto, ao contrário do sucedido noutras visitas guiadas, não ficámos com grande noção espacial nem com referências sobre o que ver na cidade.
Cracóvia foi capital da Polónia durante, pelo menos, 5 séculos. Este assunto é disputado por Cracóvia e por Varsóvia, tendo nós ouvido as duas versões dos guias das visitas feitas nas duas cidades:
Segundo o guia de Cracóvia, o rei Sigismundo III tinha ambições de alquimista e terá destruído uma ala do castelo de Cracóvia com uma explosão. Durante as obras de recuperação do castelo, o rei mudou-se com a corte para Varsóvia, cidade escolhida pela sua localização mais central no território da união da Polónia com a Lituânia. Talvez por este motivo, a corte não mais regressou a Cracóvia e as funções administrativas foram-se estabelecendo em Varsóvia, razão pela qual a fação desta cidade defende que Varsóvia tinha passado a ser a capital de facto desde a viragem do século XVI para o século XVII. O team Cracóvia contrapõe com os factos dos reis continuarem a ser coroados e sepultados aí (incluindo o próprio Sigismundo III) e de nunca ter sido decretada a mudança de capital. Assim, Cracóvia considera que foi a capital da Polónia durante mais de 700 anos, até ao final do século XVIII, com o desaparecimento do estado polaco em função da repartição do território entre a Áustria, a Prússia e a Rússia, e que Varsóvia nunca foi a capital do reino, uma vez que só foi declarada capital em 1918 com a restauração da independência no final da Primeira Guerra Mundial, já como república. Em consequência desta disputa, o rei Sigismundo III é venerado em Varsóvia e desprezado em Cracóvia.
Pela ligação à igreja católica de Roma e pela grande disponibilidade financeira resultante da atividade comercial, Cracóvia tem a maior concentração de arte renascentista fora de Itália.
À hora certa, 24 horas por dia e 365 dias por ano, um trompetista sobe à torre mais alta da basílica Mariacka e toca uma parte da melodia Hejnał Mariacki que era usada na idade média para anunciar o encerramento dos portões da cidade. A melodia é interrompida abruptamente, segundo a lenda, em memória dum trompetista medieval que terá sido atingido na garganta por uma flecha enquanto alertava a cidade de uma invasão. O nosso guia deu uma explicação diferente, segundo a qual a melodia era tocada sequencialmente em vários pontos da cidade para ser ouvida numa área mais vasta, sendo interrompida num local e retomada no seguinte. Atualmente, na Basílica Mariacka, toca-se apenas o segmento relativo a este local.
Na colina Wawel fica o castelo real e a catedral, ambos com o nome herdado da colina. O complexo reflete uma grande mistura de estilos (românico, gótico, renascentista e barroco) que refletem as diversas fases de expansão e de reconstrução. A catedral foi o local de coroação dos reis polacos e de sepultura de muitos deles.
Acabada a visita guiada, decidimos experimentar mais uma comida típica da Polónia: zapiekanki. Este snack, muito usado como street food e bastante consumido pelos locais, é uma espécie de pizza montada sobre uma baguete aberta no sentido do comprimento. Comemos no Okrąglak (nota 3), localizado numa praça com um mercado. O estabelecimento pareceu-nos ser de bom nível, para o género, mas os zapiekanki tornam-se um bocado enjoativos depois das primeiras dentadas; comparado com a pizza, a massa desta faz realmente a diferença.
Bem perto, fica a designada “passagem de Schindler”, uma pequena ruela escondida no meio dum quarteirão, onde foi filmada uma cena do filme “A Lista de Schindler” (facilmente reconhecível no filme). Num dos lados, está uma exposição com fotos e descrições sobre o gueto de Cracóvia.
Voltámos para o apartamento para descansar um pouco. Já com mais energia, voltámos a sair e dirigimo-nos outra vez à colina Wawel, caminhando à beira do rio Vístula que víamos pela terceira vez nos últimos 9 dias, em locais separados por mais de 500km.
Na base da colina de Wawel, do lado do rio, encontra-se a estátua dum dragão (Smok Wawelski) que, segundo a lenda, vivia numa caverna na colina e a aterrorizava a população até ter sido derrotado por um sapateiro chamado Krakus, explicando assim a origem do nome da cidade de Cracóvia. Em intervalos regulares, a estátua solta fogo, o que atrai multidões para a sua volta a tentarem ficar com a melhor foto.
Contornámos a colina Wawel e percorremos a rua Grodzka para norte, cheia de animação com vários artistas de rua. Chamou-nos particular atenção uma cantora lírica em frende à igreja de Santo André (um dos edifícios mais antigos de Cracóvia). Mesmo encostada a esta, fica a igreja de São Pedro e de São Paulo, com 11 estátuas de mármore de apóstolos de Cristo à frente da fachada (Judas não teve direito a estátua). Este cantinho, com as duas igrejas é bastante bonito.
Atravessámos a praça do mercado cheia de gente no final da tarde, e seguimos até à Porta de São Florian, onde está a única parte da muralha que não foi eliminada. Passámos um bocado no jardim do lado de fora da muralha e voltámos para o apartamento depois de parar numa loja de guloseimas para grande júbilo do Tomás.
No caminho para casa, comprámos uns hambúrgueres para comermos em casa.
dia 11 (7/7), Cracóvia
Nesta manhã, atravessámos o rio e fomos para a zona do gueto construído na Segunda Guerra Mundial, onde ficava a fábrica de esmalte de Oskar Schindler. Atualmente a antiga fábrica funciona como museu, com exposições sobre a Segunda Guerra Mundial na Polónia, com foco especial em Cracóvia, sob diversas perspetivas: contexto pré guerra, invasões nazi e russa, administração do território, vida do povo judeu, a fábrica de esmalte e elementos sobre Oskar Schindler. Na última sala antes da saída, estão as fotografias e os nomes dos judeus salvos por Schindler, alguns que reconhecemos do filme, e do próprio Oskar Schindler … imagem poderosa, a compensar o papel secundário dado a este protagonista no resto das exposições.
Saímos do museu e encaminhamo-nos para a zona do gueto, do qual subsiste uma pequena secção do muro que o delimitava.
Mais à frente, encontra-se a praça dos Heróis do Gueto, que homenageia as vítimas do gueto de Cracóvia. Na área da praça, foram dispersas 70 cadeiras de metal (33 no meio e 37 nas bordas) que simbolizam os pertences deixados para trás pelos judeus quando foram forçados a deslocarem-se para outros sítios.
Almoçámos no restaurante Złote Serce (4), de cozinha ucraniana, cujos pratos estavam bons apesar das doses reduzidas.
Para esta tarde pensámos numa atividade do agrado do Tomás para o compensar de tantas atividades nos dias anteriores pouco interessantes para ele. Antes disso, ainda fizemos um percurso para preencher algumas lacunas do dia anterior.
Começámos por ir à basílica para ouvir o trompete mas estava tanto barulho que a música mal se ouvia. Ainda espreitámos o interior da basílica mas só nos deixaram dar 3 passos para o interior.
Apesar de já não termos tempo para visitar o complexo Wawel (terá de ficar par uma próxima viagem a Cracóvia), ainda passámos por lá, desta vez com muito menos gente do que no dia anterior. A catedral já estava fechada mas conseguimos ver os “ossos do dragão” morto por Krakus pendurado na parede esquerda de acesso à igreja.
No coração do castelo, ainda fomos a um dos maiores pátios renascentistas fora de Itália. Projetado por arquitetos italianos, tem 3 andares de galerias suportadas em colunas de pedra. Segundo o guia da visita do dia anterior, foi a destruição de um dos topos deste pátio que justificou a mudança da corte de Sigismundo III para Varsóvia. No meio do pátio, estava a ser retirado um palco que deve ter sido usado nos dias anteriores.
O ponto seguinte no programa era o museu do pinball. Este “museu” peculiar tem uma bela coleção de máquinas de flippers e de outros jogos eletrónicos dos anos 80 (Pacman e outros) que estão funcionais para utilização livre dos visitantes. O Tomás adorou mas só aguentámos lá hora e meia que, às tantas, aquele ambiente fica insuportável.
No regresso a casa, ainda percorremos um dos jardins que envolvem o centro histórico que foram colocados no local exato onde anteriormente estavam as muralhas. Visível perfeitamente no Google Maps, esta linha verde em forma de ferradura (que fecha na colina Wawel) é uma solução muito interessante para este centro urbano.
A caminho de casa, passámos no supermercado para nos abastecermos para o jantar.
dia 12 (8/7), minas de sal de Wieliczka
No último dia passado na zona de Cracóvia, fomos à mina de sal de Wieliczka, indicada como obrigatória para quem visita a região.
Achámos o acesso um pouco confuso; muita gente e poucas indicações sobre como fazer. Percebemos onde era a entrada pelas várias filas, uma para cada língua (a mina só pode ser visitada com guia) mas não era claro se o bilhete deveria ser comprado antes de ir para fila ou à entrada do edifício no final da fila, uma vez que não se via nenhum sítio onde comprar bilhete. Quando estávamos na fila, apercebem-nos que o pessoal tinha os bilhetes na mão, pelo que o Francisco foi à procura da bilheteira que era automática. Os bilhetes foram comprados mesmo a tempo de entrarmos quando chegámos ao final da fila … Não foi a melhor experiência.
A mina é espetacular. A parte visitada pelos turistas está a cerca de 100m de profundidade, atingidos por uma escada interminável logo à entrada (a saída é feita por elevador). Aqui retirou-se sal desde o século XIII até ao ano de 1996; tirando os barrotes de madeira que suportam a estrutura, tudo é constituído por sal: o chão, o teto, as paredes … um sal escuro, acinzentado. Nos túneis e nas galerias foram deixadas esculturas, também de sal, feitas pelo mineiros nos tempos livres. A nossa guia convidou-nos a verificar que tudo é feito de sal, dizendo que poderíamos lamber as paredes mas que não tocássemos nas estátuas. O Tomás, claro, seguiu as primeira indicaçã literalmente, apesar dos muitos avisos para parar …
Em 1493, Nicolau Copérnico foi o primeiro “turista” a visitar a mina por mera curiosidade científica. Em sua homenagem, existe uma escultura de Copérnico numa das primeiras galerias visitadas
Algumas estátuas focam nas atividades mineiras. Por exemplo, na queima do gás que se libertava, atividade executada por trabalhadores especializados.
A religião é outro tema das esculturas, havendo várias imagens ao longo do percurso. no entanto, o apogeu artístico é a capela de Santa Kinga, esculpida totalmente em sal, incluindo as peças dos candeeiros.
De vez em quando, passávamos por uns lagos, cuja iluminação transmitia uma atmosfera misteriosa.
Os bilhetes não são nada baratos mas é, sem dúvida, uma experiência única.
já sem grande folga para deixar a Sara no aeroporto de Varsóvia (de onde ia voar para Lisboa) e para devolvermos o carro, comemos um kebab e fizemo-nos à estrada sem grandes demoras.
Depois das despedidas, a Sara seguiu para a porta de embarque e o resto da comitiva apanhou o autocarro 175 para a cidade de Varsóvia. Ficámos num hotel manhoso a pouco mais de 3km da cidade velha, por falta de alternativas em sítios mais centrais com custo razoável, mas tivemos a sorte de ficar mesmo em frente do Bar 99 (nota 5), onde jantámos.
Neste restaurante vietnamita tivemos uma refeição memorável: caril de pato, gambas com massa de arroz e peixe panado com arroz, tudo muito saboroso, acompanhado duma das melhores cervejas bebidas na Polónia (Królewskie em garrafa). A cereja no topo do bolo foi termos comido na esplanada que já estava na sombra, com uma aragem fresca mesmo no ponto.
dia 13 (9/7), Varsóvia
O dia começou como é normal nas grandes cidades, com uma visita guiada pela cidade velha https://www.guruwalk.com/walks/46782-warsaw-old-town-unesco-area-free-walking-tour.
O ponto de partida foi a praça do castelo, uma de várias praças triangulares de Varsóvia, com uma estátua do rei Sigismundo III, herói local por se ter mudado para aqui com a corte em 1596. Nesta praça, que marca o início da cidade velha, fica também o castelo que foi construído para ser a residência real e não para ter funções defensivas. Por esse motivo tem um ar mais de palácio do que o que costumamos imaginar como um castelo. O palácio/castelo tem um ar bastante desinteressante visto da praça, desenvolvendo-se para o lado do rio. Segundo nos explicou o guia, quando o palácio foi construído, a praça estava ocupada com casas; não sendo possível ter uma vista completa da fachada do palácio, esta foi bastante simplificada, exceto no que respeita à torre (visível de longe) que tem a pompa e a ostentação dignas dum palácio real. Aqui foi assinado o pacto de Varsóvia em 1955.
Até ao século XVII, Varsóvia era uma povoação medieval com pouca relevância, valendo-se sobretudo da sua posição central no território polaco e de ser servida pelo rio Vístula que atravessa o território polaco de sul para norte. Depois do fim da União com a Lituânia, Varsóvia viu-se ocupada ou controlada pela Rússia ou pela Alemanha até à queda do muro de Berlim, com a exceção do curto período em que foi um protetorado de Napoleão (ducado de Varsóvia) e entre as duas guerras mundiais.
O centro histórico de Varsóvia foi completamente arrasado na Segunda Guerra Mundial. Primeiro, em 1939 em que a cidade foi bombardeada pela Alemanha nazi durante a invasão da Polónia. Depois, em 1944, com a destruição sistemática da cidade ordenada por Hitler depois da Revolta de Varsóvia, promovida pela resistência armada polaca e com grande suporte popular.
Depois da guerra, o centro histórico foi reconstruído o mais fielmente possível, o que valeu a sua classificação como património da Unesco. É impressionante apercebermos-nos de que TUDO à nossa volta foi reconstruído nos últimos 70 anos. Um olhar mais atento consegue identificar o aproveitamento de alguns elementos originais, sobretudo nas portas e nas janelas, cujas marcas contrastam com o aspeto imaculado dos elementos reconstruídos.
Além da estátua de SIgismundo III, que sobreviveu apenas com as quebras de um braço e da espada, uma estátua de Cristo na cruz também sobreviveu. Esta estátua foi retirada da catedral no início da guerra e levada para um armazém. Mais tarde, o armazém foi destruído pelos nazis, numa fase em que eles procuravam eliminar todos os edifícios, obras de arte e tudo mais que pudesse ter valor histórico ou cultural. Segundo reza a história, a estátua foi encontrada intacta (embora em mau estado), provavelmente por ter sido confundida com uma pessoa morta; no meio dos escombros, os nazis não se aperceberam de que era uma estátua. O guia mostrou-nos uma foto da altura e, realmente, não é difícil perceber a confusão. Atualmente, a estátua está novamente na catedral.
Na destruição sistemática de Varsóvia, os nazis utilizaram um mini carro de combate não pilotado, designado por Golias. Carregado de explosivos, os Golias eram enviados até aos alvos inimigos, causando grandes estragos. Bastaram dois Golias para destruir totalmente a catedral de Varsóvia. O primeiro “apenas” abriu um buraco na parede suficiente para o segundo entrar e demolir o edifício com a explosão. Na reconstrução da catedral, decidiu-se deixar o ponto de entrada do Golias visível e devidamente assinalado com uma placa.
A visita guiada acabou na ainda hoje designada Cidade Nova, zona fora das muralhas para onde Varsóvia se expandiu no início do século XV. Esta zona da cidade também foi totalmente reconstruída depois da Segunda Guerra Mundial.
Seguindo uma sugestão do guia, decidimos almoçar na outra margem do rio, num bairro chamado Praga à procura de comida típica, boa e barata. implicou mais de meia hora a caminhar mas saiu melhor que encomenda.
Fomos ao Rybka Frytka i Żużelek (nota 5), onde tivemos a melhor refeição na Polónia. Curiosamente, a tradução do nome do restaurante para português não é nada interessante: “Peixe Frito e Salsicha” … (Żużelek é uma salsicha local).
Comemos pyza y mięsem (pastéis recheados com carne com queijo, espinafres e torresmos), grzanki pod tartarem wolowym (tártaro de vaca com tostas e bata frita) e dorsz (filete de bacalhau com batata assada), acompanhado de cerveja Miłosław pilsner que foi só a melhor que bebemos na Polónia.
Neste restaurante não havia sobremesa para rematar refeição tão gloriosa mas recomendaram-nos outro restaurante do mesmo dono, a dois quarteirões de distância. Lá fomos ao Pyzy Flaki Gorące (traduz-se como “Pastéis de Tripa Quentes”, outro nome sugestivo) que também merece nota 5, embora só tenhamos comido sobremesas. Comemos Kremowy z maskarpone I orzeszkami (uma espécie de tiramisu) e Sernik na zimno m z owocami w galarecie (uma espécie de cheesecake), ambos indicados como doces típicos do local.
Depois do almoço, fomos para o hotel para descansar um pouco e ao final da tarde voltámos para a cidade velha. Percorremos parte da rua Krakowskie Przedmiescie, a partir da paragem de autocarro, a apreciar os palácios, igrejas e casas burguesas. Chegados à cidade velha, voltámos a passar em alguns pontos da visita guiada da manhã e estacionámos na praça do mercado. Retangular, rodeada de edifícios coloridos em mistura de estilos do renascentista até ao barroco, esta praça é o sítio ideal para estar durante algum tempo, a observar a agitação enquanto o sol vai baixando, resultando numa luz fantástica.
No centro da praça, está a estátua da sereia que, armada com uma espada e com um escudo, é símbolo de defesa e de proteção de Varsóvia que aparece, inclusive, no brasão da cidade. A estátua está no meio duma fonte sem guardas onde a Helena e o Tomás foram molhar os pés.
Chegada a hora de jantar, comemos rapidamente no Pod Barbakanem (nota 3) que estava quase a fechar. Comemos chlodnik (sopa fria de beterraba, muito comum nestas zonas), placki ze łososiem (panquecas de batata com salmão) e placki ze gulaszem (panquecas de batata com carne).
dia 14 (10/7), Varsóvia
Nesta manhã, pensámos fazer uma atividade mais a gosto do Tomás: visita ao museu das ilusões, localizado na praça do mercado. Antes de chegar lá, saímos do autocarro um bocado mais longe da cidade velha para percorrermos uma parte maior da “Via Real” que inclui a rua Krakowskie Przedmiescie (percorrida parcialmente no dia anterior) e a rua Nowy Swiat. Passámos pela estátua de Copérnico, demos uma espreitadela à igreja da Santa Cruz (onde está o coração de Fryderyk Chopin) e não conseguimos pôr os bancos de Chopin a funcionar; supostamente, tocariam músicas de Chopin enquanto lá estivéssemos sentados.
Passámos uma horas no museu das ilusões, grande parte do tempo a resolver uma torre Hanoi em que o Tomás aguentou persistentemente até ao fim. O espaço está engraçado e o Tomás adorou mas não parece valer um bilhete tão caro que servirá, quiçá, para pagar a renda naquela localização VIP.
Comemos mais um kebab na esquina (também havia zapiekanki mas não nos apeteceu repetir a experiência) e voltámos para a zona do hotel onde fica o museu da Revolta de Varsóvia.
Este museu relata um dos episódios mais extraordinários da Segunda Guerra Mundial, em que durante 2 meses (em agosto e setembro de 1944) os nazis perderam o controlo de Varsóvia. A ação foi espoletada pelo Armia Krajowa, grupo clandestino de resistência armada leal ao governo exilado em Londres que lutava contra a ocupação alemã com ideia de restaurar a independência da Polónia. O levantamento recebeu forte adesão popular, incluindo mulheres e crianças. Durante estes dois meses, cerca de 100.000 insurgentes (dos quais, aproximadamente 1/3 eram civis) obrigaram o exército alemão a duras batalhas urbanas, tendo morrido aproximadamente 20.000. Após 63 dias, os insurgentes viram-se forçados a renderem-se, tendo a retaliação alemã passado pela destruição completa da cidade depois da sua evacuação.
Com a informação do avanço do exército vermelho, o levantamento foi iniciado uns dias antes da previsão da sua chegada a Varsóvia. A ideia era dar uma imagem de controlo pelo Armia Krajowa de modo a ter poder negociar no pós guerra. No entanto, Estaline decidiu mandar parar o seu exército e deixar os seus rivais a enfraquecerem-se mutuamente. Ao mesmo tempo, os outros países aliados não apoiaram os insurgentes de forma eficaz, apesar de lhes terem dado algum apoio logístico de forma descoordenada, fosse por dificuldade em atuar a leste da Alemanha, fosse por alinhamento com o aliado russo.
A exposição está muito interessante e bem documentado, apesar de termos tido uma experiência confusa. O museu está tem 4 zonas organizadas cronologicamente da primeira para a quarta: a primeira no r/c, a segunda no segundo andar, a terceira no primeiro andar e a quarta outra vez no r/c. Só nos apercebemos da sequência correta quando chegámos ao segundo andar, pelo que vimos o museu na sequência zona 1, zona 4, zona 3 e zona 2; dentro de cada zona, também não havia um trajeto evidente … uma confusão desnecessária.
Depois do museu, passámos pelo supermercado para comprar o farnel do dia seguinte e fomos jantar no Grill 99, repetindo o jantar de dois dias antes, exceto na parte da esplanada que estava cheia de pessoal a beber cerveja que ainda lá estava quando saímos.
dia 15 (11/7), Varsóvia - Vilnius
Dia de mudar de país, deslocação de mais de 8 horas até Vilnius, feita de camioneta que saiu de Varsóvia às 7:15.
6. Curiosidades
A primeira impressão com que ficámos tem a ver com o terreno plano: não se vê uma colina. Foi a sensação exatamente oposta à que tivemos 2 anos antes nos Balcãs, onde só se via montanhas.
A condução na Polónia é extremamente respeitadora das regras do trânsito, em termos de velocidade, prioridades, etc. Curiosamente, isso foi fator de tensão por nos obrigar a uma atenção extra para não destoarmos pela negativa. Ficámos com a sensação que ninguém reclamaria connosco, os condutores polacos revelaram-se bastante pacientes, mas não chegámos a testar esta ideia.
O mesmo cumprimento das regras era respeitado escrupulosamente pelos peões. Não se via ninguém a atravessar fora das passadeiras nem a atravessar com sinal vermelho, mesmo que não se visse nenhum carro. Recebemos alguns olhares das vezes que transgredimos, pelo que nos juntámos à seita.
Nas duas semanas passadas na Polónia, nunca recebemos nenhum talão na mão nos supermercados, geladarias, etc. Os empregados colocavam-nos em cima do balcão, ignorando as mãos estendidas. Não percebemos se será alguma questão cultural ou se resulta de alguma imposição do período da pandemia, não nos lembrámos de perguntar.
Os apartamentos num prédio são identificados por um número de ordem, dos andares mais baixos para os mais altos.
Segundo nos disseram, é proibido beber álcool em locais públicos. Aparentemente, a polícia é muito rápida a acudir a estas situações …